Os anos arrombam as portas a qualquer vida.
Para o tempo não existem vias impedidas.
Existem preferências e faixas exclusivas.
Tudo ao Tempo,
que precede e sucede a vida.
Os anos arrombam as portas a qualquer vida.
Para o tempo não existem vias impedidas.
Existem preferências e faixas exclusivas.
Tudo ao Tempo,
que precede e sucede a vida.
Floresceram artistas sob todos os regimes,
e flutuando em todos os índices.
Sob e sem censura.
Onde integravam a cultura.
Para ressoar ou inaugurar um som.
Escrevendo ao gosto do povo, ou o ilegível.
Revivescentes canhões líricos.
Guardados no baú, indo ao ar.
Cavando seu lugar.
Pintou-se sob toda luz.
Esculpiram-se os deuses,
os demônios,
e os êxtases que dão.
A fome. O fruto. O pão.
Produzem entre os solstícios.
Com o Sol a pino, no escuro.
Dois dois lados do muro
(e só aos lados).
A arte pulsa.
A arte é imparável.
O figo acontecido em torno do inseto
tem mais substância do que eu nesta hora.
Mais simples,
e de muito mais propósito.
Mas sigo
(incompreendido e insólito).
Sim, é verdade!
Se você está no topo,
daí é só ladeira abaixo.
Mas relaxe!
Sem angústia.
Sem azáfama.
Os 15 minutos só se contam
para muito piores safras.
Noto que a Lua nos entende,
lado claro, lado escuro.
Não nos chega de repente,
mas com aguardado apuro.
A Lua nunca deixa na mão o lunático.
Nem o esfuziante,
nem o sorumbático.
Não há iminência de catástrofe.
O êxtase é pleno.
A Lua é o fiel farol
do homem nem tão terreno.
Já eram muitos os degraus em demanda do tobogã.
"Eu sei que vou te amar", atrás.
"Eclispe oculto", atrás.
"Nuvem", atrás.
"Olhos nos olhos" atrás.
Tantas crianças precisando da aventura
te tiram não a coragem, mas o direito de desistir.
Agora um pano qualquer, contra a resistência
de uma superfície que pouco importa (pois será vencida)
devolvem-lhe a certeza de estar viva.
Medo, zelo, frio na barriga, euforia, alívio,
tudo saltitando em um rearranjo que te devolve matéria prima.
Apure-se, agora é "Construção".
Em nada importam ao rio, ao mar, à baía
a nau e o naufrágio.
Nem sequer à tempestade,
que pode parecer a promotora deste último.
Pouco lhe importam embarcação e embarcados.
A fúria é a dos elementos organizados.
Assim também a vida ignora os vivos.
Pouco lhe importa que se sucedam,
e que sejam malsucedidos.
Pouco lhe importa que soçobrem,
sobrevoem, ou escasseiem.
A vida não precisa do que a recheie.
Ela existe na ideia,
tal como pensada pelo Criador.
Ela é uma tese que a si sempre se confirmou.
Não precisa de banca,
de sábios e especialistas.
Não precisa que a patrocinem,
nem que a revistam.
Afirma-se.
Estende-se.
Sobrepaira enquanto abriga.
Essa Vida seja o modelo
de tudo que ainda respira.
A terra esturrica.
Plantas amarelam e caem.
Nenhuma roupa é de conforto.
Velhinhos morrem trancados em casa,
com seus móveis e pisos intactos
(que algum sobrinho ingrato herdará).
Uns gemem.
Alguns se abanam.
Outros se mandam abanar.
Há os que se mandam, alhures.
(não o alhures das catástrofes da TV).
Eu...deliro!
Tudo tem sua serventia.
E gira o Sol
até haver lírios.
E sem a necessidade de qualquer nova meditação, e portanto sem comprovar se me escutava ou não, disse:
"Deus sabe o que faz; sabe o que leva, sabe o que traz".
E o disse não como quem declamava um dogma, mas com uma inflexão de fé sincera, contra a qual não tive defesa.
Quem oporia resistência a uma resignação tão bem trajada de esperança, de confiança nos ciclos?
Desde então pude ter certeza que a janela certamente não se abre para o mesmo lado da porta que se fechou.
Ali na fotografia nunca deixou de ser bom.
Mas as canções pensam diferente.
As canções pensam diferente de si mesmas.
As canções têm variados juízos.
Ah, essas canções não têm juízo!
Disse ter finalmente alcançado o equilíbrio
e, completamente inapetente,
deu início a sua carreira na ficção erótica.
Ouviu-se um estrondo;
no que pareciam explosões coordenadas,
patrões de direita e esquerda se chocavam
com o aumento do salário mínimo.
Vê-se:
o que sente é existente
e se ressente de amparo.
É real, mas não tem de quê,
em quê, nem para quê.
Se já não existe o a quem era aplicado.
Intrinsecamente autor.
Réu se não houver escolha.
Terceiro interessado...tô fora!
As coisas já não são mais as mesmas.
Aliás, desde que me entendo por gente,
elas estão entregues ao seu ofício, porfioso,
de não serem jamais as mesmas.
Por isso o menino que queria morar com o filósofo indagava:
"Mamãe, por que as coisas estão sempre mudando?"
(Ele nem desconfiava que nele morava o filósofo).
Por isso gosto tanto da madrugada.
Ela não existe desde que me entendo por gente.
(Nela raramente me entendo ou há gente...)
Mas desde que fomos apresentados ela tem sido a mesma.
Infinita, plena de possibilidades.
Meus gritos ensurdecedores não perturbam os vizinhos.
Eu sequer os ouço, apenas os adivinho.
Mas porque, na beleza da madrugada,
nada é tão nada assim, nem há tudo que se complete...
Há gatas.
"...as crianças enlouquecem em coisas de poesia..."
Como num dia de verão arrependido,
assomou sem calor nem frio.
Nada falou e
de fato nada foi ouvido.
Mas calou fundo (e até muito fundo)
a impressão aos sentidos.
Mas não que houvesse lógica
no que era percebido.
Havia a arma, a fumaça e até o estampido.
Tudo parecia certo, nuca fora dado o tiro.
Não foi preciso perícia,
e o legista bastou com ser visto.
As sorveterias estão repletas de casais.
Os cinemas, as praças.
Muitos nos shows, nas esperas dos aeroportos.
Alguns nas portas das escolas. Nas praias.
Nos restaurantes, nos ambientes em que se dança.
Nas livrarias, não.
Desde que partiste, parto.
Vou-me embora pra Pasárgada,
Desapercebido.
Pego o trem para Jaçanã.
O último.
Embarco em 9 3/4, em King's Cross
(ainda que trouxa).
Tomo o armário para Nárnia.
Nada, nada, nada me leva a nada.
Now that's me on the last train to London,
or leaving on a Jetplane
(never to come back again)
Nem há palmilhar a Terra-média à cata de preciosidades...
Quem vai, já vai tarde.
Mas quem chega...
Ah! Quem chega
sempre chega aprazado!
Black...and Blue...
And who knows wich is wich
and who is who?
Não me conheço tanto quanto penso,
mas me penso bem.
Você não se enxerga.
Nâo me enxerga.
Não vê.
Ignorâncias.
Cegueieras.
(E pra quê?!)
Aqui uma bifurcação,
habeas corpus acidental
(ou não...)
A vida sabe tanto quanto vê.
A vida nos enxerga.
A vida conhece os trâmites.
A vida se encarrega.
Não quero mais ser encaixado,
nem o encaixe mais gozoso.
Sob uma capa de prioridade
e em verdade melindroso.
Fecundo até a página 2,
em que assoma a culpa.
E acabado na página 4,
em pletora de desculpas.
Parece brochura,
mas é folheto.
Mais ganho em dedicar o verbo
ao próximo livro (inteiro).
A vida não é terminal,
é estação.
É preciso tê-lo claro para não nos enganarmos
com o fim da excursão.
A expedição termina,
não é filha única.
Mas nunca acaba essa pesquisa
que tanto nos tumultua.
A distância percorrida nem se mensura.
O deslocamente não é jamais igual a zero,
mesmo porque esta estação já não é aquela.
As tintas firmam-se nas aquarelas,
perpetuam-se os papiros do Egito,
e ainda vivem os do Mar Morto.
Mas a evolução pede outros.
Pede que o gravado na pedra esteja aperfeiçoado no papel.
Na tela tudo parece que se deleta,
mas há a nuvem,
há o expresso do inconsciente, trem bala.
Onde tudo se guarda, mesmo o que, parece,
já não se resgata.
Por isso é preciso o sonho.
Entende?
Pois entenda-os. Tudo se estende.
A água viva é promessa do Senhor
para que jamais tenhamos outra sede.
As minhas retinas, cansadas da vida,
não precisam de artefatos para ver-te,
têm já o teu formato.
A vida é um continente muito instável
para abrigar certezas.
A vida põe o momento na mesa
e o serve com convicção.
Sabe que ela mesma faz-se
e farta-se desse pão.
Todo pedido é teu,
de toda lâmpada.
E todos iluminam este fato:
Nada precisa estar guardado
do que já me integra.
E porque estou assim tão bem formado,
tenho em mim prova do teu ser e do teu estado.
Para o que desenhamos não há borracha,
não pode estar mais entranhado.
Nada é mais inevitável do que perceber-te ao meu lado
e querer-te sobre mim, querer saber sobre ti.
220 números, 20 minutos,
tudo isso a coragem cobre.
A coragem prata.
A coragem ouro.
A coragem de não ser nenhum outro
senão aquele arrebatado por uma timidez audaz,
de audácia altiva, secreta e bonita.
Não me serve o que serve
nem o que desserve.
Interessa-me o pleno
(o que já não se descreve).
Meu tribunal não é de pequenas causas,
só a própria vida pode ser decidida.
Ali onde o detalhe decide o jogo.
Não há tempo para cases e estojos.
O concerto não termina
(ou termina o todo).
A vida não é um surto,
embora às vezes demente.
A vida é corrente.
Não faz conta.
Não tem quem aguente.
(mas só me interessa quem tente).
Às vezes me pergunto se estou aqui,
embora as pessoas me atendam (se solicitadas)
e sejam gentis.
A música que me move não fiz.
Toca-me e não sei tocá-la.
O que eu escrevo não move, paralisa
ou espanta ninguém.
Mas, num segundo olhar,
viver não é para quem.
Não é para que nem aonde.
Viver é como.
Como se Deus existisse e
a justiça fosse plena (extraterrena).
Como se o amor fosse o modo,
a moda e fizesse sentido.
Como se não nos apegássemos, tanto,
a isso do "não preciso de nada disso".
Como se fôssemos a mais.
Como se qualquer um fosse capaz.
Como se a suposta exumação do Cristo interno
se revelasse resgate.
Como se para o paraíso não se precisasse de reserva,
passagem ou ingresso, mas da imitação sincera dos bem-aventurados.
Como se herdar a Terra não fosse açambarcar a herança alheia.
Como se pudéssemos nos alegrar com o retorno do extraviado mais
do que com quem nunca errou.
Como se estivéssemos certos (mas certos)
dos sinais e do que sinalizam.
E sobretudo como se soubéssemos estarmos,
pela escassez do tempo, de sobreaviso.
Espero que tenhamos a certeza.
E que mantenhamos a lâmpada acesa.
O nosso talento é brigar.
Não por um sistema mais justo.
Não para não displicentemente
enterrarmos nossos talentos.
Não porque fomos injustiçados.
Para havermos.
Para que nossas substâncias se movam,
se envolvam,
produzam.
Um produto interno bem bruto,
e uma imensa dívida externa.
I had a dream there were
clouds in my coffee,
clouds in my coffee....
Como sísifos contemporâneos,
vivemos na eterna consciência
de que o tempo nos escapa,
de que nos faltará.
Eternamente desinventamos o relógio.
Não no belo sentido de vivermos nosso tempo
livres inteiramente de mensurá-lo,
mas no trágico sentido de ignorá-lo.
Não damos mais do que temos,
mas sem saber se ainda temos,
o que ainda podemos,
do que precisamos.
Mas nos embelezamos.
Como se a virtude sendo impossível
sua aparência bastasse.
Retiramos as pilhas do relógio
para que nada mais acabe.
Agiam como pais distraídos
que não veem os filhos degenerarem.
Não ouviam o que lhes diziam.
Não se interrompiam.
Fiéis apenas ao desperdício do tempo,
à frustração da oportunidade,
ao adiamento a uma próxima idade.
Não se atentavam aos minutos que sangravam,
às horas que transcorriam em branco,
ao banco em que os "quase" iam se depositando.
O relógio, implacável, seguia sua marcha
de amigo que avisa a cada segundo.
Nem no melhor dos mundos
isso seria assim impunemente.
Estamos postos para nos fazer gente.
Choro porque é sexta-feira
e não tenho motivos para chorar.
Não há nada errado
porque nada há.
A vida não me leva
não me deixa
não me beija
não me constata.
A vida não me acolhe
nem me desacata.
Estou esquecido,
mas por quem?
Nada me vai,
nada me vem.
Nado porque não sei me afogar,
não sei tentar não respirar.
Me nadam.
Nado, nado
e nada há!
Há um mapa que ensina
por onde caminhar.
O negócio não tem erro!
(mas como eu sei errar...)
Um tiquinho de açúcar é melhor
que qualquer tanto de adoçante.
Prefiro o que ainda é um pouco
ao que já não era antes.
Melhor a ausência do que o holograma,
o busto, o quadro.
Melhor a falta que a presença do enfado.
Quero o palpável, o sensível.
É do vibrátil que sou devoto.
(E, dito isso,
gosto de foto!)
De pensar que, desde a faculdade,
já transcorreu tempo assaz
para tornar um menino um rapaz
pronto para escolher com equívoco um curso...
sei que a vida é breve!
Para tomar esse curso
tive o concurso de muita covardia.
O desejo de garantia,
a ilusõa da permanência,
os honorários,
tranquilidade.
(e muito pouca ciência!)
Segurança?
Ainda assim a vida de desandanças.
Ainda assim o verso e o reverso,
repetidos até perderem o sentido que nunca tiveram.
Tanta gente me instruindo no que eram
e eis que já nem eram.
Sim, o tempo voa
e sou seu passageiro.
Passa por tudo tão rápido
que sempre se é estrangeiro.
Sempre!
Recolhi-me tanto que
já ninguém me recolhe.
Noto que estou largado
sobre esta calçada pobre.
Insisti tanto sobre o ponto
que finalmente o compreenderam.
E o meu quadro é a antítese
do ponto, que acolheram.
Agora sou res derelicta,
e testemunha do processo que movi.
Sou presa do livre-arbítrio;
ninguém me livra daqui.
Moça, você joga damas
com o enxadrista.
Tenho rainhas e torres
contra suas peças lisas.
E com os remédios que tomo
também vejo lances no teto.
Somos a estudante primária
e o arquiteto.
Mas sei que, terminado o jogo,
voltamos todos para a mesma caixa.
Proponho o anteciparmos,
ainda esta noite, lá em casa.
Encho o filtro
com água do filtro
e não purifico nada.
O juízo não vive em minha casa.
Dizem ser medida profilática anti-condenação.
Dizem-no e me condenam de antemão.
Não apelo.
Não conhece de mim a instância superior.
Nem de minhas preliminares.
Nem de meus fundamentos.
Pareço-me livre,
mas sou detento.
Meus olhos são represas
em cujas redondezas
ninguém se atreve a viver.
Nem os já afogados,
nem os que, de tão sedentos,
acreditam que beberiam o mar.
Meus olhos são represas
cuja segurança eu não meço,
não atesto,
não desafio.
Meu coração é um prédio em ruínas
em que ninguém se abriga.
Nem os flagelados da seca.
Nem os flagelados da chuva.
Ainda menos os flagelados
que nunca ousaram correr perigo.
Meu coração não tem estrutura,
mas se abala.
Meu coração não tem sutura,
sua cura é criar asas.
(E a esta hora o ar me falta;
os pulmões já não dançam esta valsa).
Nunca ninguém antes
nem tampouco depois,
quando faz-se tarde.
Por isso todo ciúme
é mero alarde.
Já ninguém mais cabe
neste que me bombeia.
Nada importa a lua cheia.
Nada importa o sol a pino.
Não importa o ambiente marítimo,
a praia,
o cais,
a ponte,
Só me traz o horizonte
aquilo pra que tenho olhos:
os seus que, meus, me olham
sem jamais me entender.
Ainda bem que a vida é eterna.
Ainda bem que amor não cansa.
Ainda bem que um verde lume
é um farol da esperança.
Acampa na campa desde o berço
Não sabe do mundo mais que o endereço
Não sabe da vida mais que alegorias
Não sabe da festa mais que o adereço
Não sabe do beijo mais que o desejo
Não sabe do amor senão a lenda
Não sabe do serviço senão o soldo
Não sabe da chuva senão o toldo
Não sabe da liderença senão a prebenda
E ignora que só o tempo é prenda
(do soneto só viu a emenda).
Reconheço:
tenho sido enganado.
Mais por timidez
do que inocência.
Mais por preguiça
que displicência.
(A vida é uma farsa burlesca!)
A poesia que há nos dias e nas horas,
em deixá-los transatos e rememorá-los
com as cores que adoras (as cores de agora)
e chamá-los eras.
Poucos fusos no mapa
alguns compassos na canção
vinte minutos a outro bairro
(e a coragem sem invenção)
Da felicidade não queremos abrir mão.
Bem, não tem de quê.
Faltou-nos a coragem de visitá-la
com bilhete só de ida,
como quem soubesse que quer
estabelecer-se.
São descaridosos os que compõem canções perfeitas
para serem ouvidas de madrugada trinta anos depois.
But you can say "Babe,...."
Sigo vendo as horas às 17:17,
sem alarme e sem me alarmar.
Mas se isso é sinal de sorte,
Por que custa tanto a chegar?
Disse um poeta sempre amigo
(nunca falto de razão):
Para quem anda sem destino
o mundo cabe na palma da mão.
O mesmo mundo infinito
para quem anda de avião.
(Mas vejo que se pode voar sem destino
e pervagar a imensidão.)
Sem ter um sexto das lembranças de Funes
carrego as minhas como se fosse Atlas
(e não lembram o céu nem de longe)
às vezes se retraem
às vezes se expandem,
mas sumir não é seu ofício
e sendo obrigatórias como são
(até que alguma demência as leve de roldão)
tento contemporizar:
não mais me fustigam
e não mais as tento matar
Não é que a sofisticação seja outra coisa e dispense cerebração.
Tampouco que a elegância seja outra coisa e dispense certas mesuras.
Nem é que sejam nada cortes e costuras.
Não é que o sucesso não exista e que o ser dispense coisas, ou não se meta em roupas.
É que a coisa é outra.
Nada temas, companheiro!
O que mataria os cinemas já pereceu
e as salas do Belas seguem cheias.
Hoje ouvi um poeta dizer que vale menos o que dispensa o amor.
Ninguém precisa de amor para ver em Bach o rei do contraponto.
Não é necessário amor para achar Drummond gigante (muitas vezes sem o ter lido).
Qual a necessidade de amor para reconhecer em Chaplin a paternidade de tanta gente boa?
Não carece amor para achar a Dua Lipa linda.
Embora de tudo isso algum amor possa brotar.
O amor até se cultiva, mas não se pode improvisar.
E você? Vai dispensar?
Plantei uma árvore
Fiz um show
Escrevi um livro
Tive um filho
(Espero que a árvore esteja visível).
O jeito certo de ser lunático é,
aberta a semana, mirar os problemas
da Lua.
E até o fim da semana,
contemplar Vênus também de lá,
sem intromissões.
Ainda algo em mim sonha sem despertar;
sem apanhar a senha que dão os anos,
os arquétipos, os intrometidos.
Algo retrovertido, cíclico, autoanalítico.
Algo por fora do juízo, dos juízos,
processos, cartórios.
Invisivelmente meritório, decifrante.
Algo por sobre o que já era antes.
Algo que não termina, burila.
Algo que não burla
(porque nem adiantaria).
Algo de olhos abertos para o interno.
Algo interino e lentamente angelizante.
Algo que muito me cresce
(e alguém só quando desperte).
A quem (acha que) pensa que a vida é arte marcial,
ou que é bala, pedra e pau,
eu ofereço distâncias.
A quem entendeu que a vida é para o amor
ofereço minha faixa laranja.
Os que marcaram a minha vida ao ponto do musicalmente,
não menoscabo com joinhas
esses mais que excelentes.
A quem me ensinou a navegar
a vida que em verdade conduz,
ofereço a minha pira,
minha flama,
minha luz.
Tenho mais juízo quando brilha o Sol.
Quando a natureza trina, silva, pia, e brinca.
Quando nas escolas se aprende
e a lua descansa de mim.
Preciso afeiçoar-me à cotovia,
que a coruja já muito me perdeu.
Deixar a luz bater nas janelas translúcidas da alma
e assim tê-la mais clara.
Deixar sem realização certas intensidades
próprias de quando é tarde.
Asserená-las até que se acalmem.
Deixar-me estar cá.
Deixar estar-me
e deixar.
E se só amei quem me amou
e muito menos?
E se tudo não passou de investimento?
E se a culpa era parte do tormento,
da tormenta,
da chuva que fiz cair?
Meus Deus! O que foi que eu não fiz!?
Para quem não sabe existir de manhã
a madrugada é refúgio.
Na madrugada se pode ser lúcido
sem se ser claro.
Sem se ser, claro!
É passada já a manhã
quando o refúgio se desfaz.
O sol vai alto.
Nenhuma bruma me toma de assalto.
O calor tem foros de definição.
A tarde é distração
e dita o aspecto da noitinha.
Até as sombras se fazerem espessas
quando tudo recomeça.
O leite,
nutriente,
não serve como água.
O leite não me limpa,
no leite não se nada.
O leite,
ingrediente,
não é matriz.
O leite não está lá
antes do que Deus diz.
O leite está
porque a água quis.
Também a água derramada está perdida
Porque derramada poluída
E se sobre ela só se chora
Pouco se salga
Nada se limpa.
Formulara-lhe proposta arrevesada;
não queria recebê-la
e custava-lhe recusá-la.
A vida pode ser divertida
sobre ser trágica.
A inspiração tarda e falha.
A copa farfalha sem frutos.
Nada revela a Newton lei alguma.
Mas os estudantes de Letras precisam
estudar a escritura.
A poiesis e a não poiesis.
E eu lhes sirvo de tédio.
Para quem se ressente
o amor não se sente no plural.
Amores se assentem
no pretérito, sequentes.
Aos havidos, se pouco,
o calabouço.
Na censura,
a sepultura.
Dos amores nada se pode saber,
nada recordar.
Mas os amores são como os mártires
que em se matando só se podem avivar.
Escada
Rampa
Teleférico
Nenhum meio revela o mistério
da ascensão à queda.
Porque, na matéria,
a ascensão é à queda.
Rei morto, rei posto.
A ciranda é cega,
mas a dança dá-se.
Rei posto, rei morto.
Era o neto ou o avô o zigoto?
Era o pai ou o filho o cádaver?
Tem bem pouca raiz
e parece árvore.
Seus parâmetros amesquinham minha vida.
A minha vinha.
O meu suco puro, que nunca será vinho de rótulos campeões.
Minha mesa farta de pães e livre de brioches.
Não estou falto de nada.
Nem de quem me aprove.
Para quem teu dom é sintoma
não oferece tuas pérolas.
Deliram que pertencem ao que não existe.
Fecham a porta para que a loucura não entre.
Concentram-se em sua sanidade a fim de perpetuá-la,
mas esse próprio delírio demonstra a carência de criá-la.
Identificam-se com um mito;
separam 6 de meia dúzia,
chico de Francisco (ou se adornam em Pacos).
Abrem mão do mistério para criar curiosidades.
É uma postura
(e covarde!)
Tantos passos quanto inventem as pernas,
a vida tem a urgência que lhe dermos.
Há passos em falso
e passos mais meritórios.
E há peças que caem
e outras ficam no repertório.
Há muito temos sabido que navegar é preciso
e viver, não
(embora sejam ambos necessários).
Saibamos que, sim, é arriscado,
e que riscos muitas vezes se consumam
(sem nos consumirem, por força).
A deriva é uma possibilidade,
mas muitos se resgatam da deriva.
E para uma vida de proveitos que só alcançam
os que estiveram para perdê-la, para perdê-los.
Para quem sobrepôs-se ao medo,
mesmo que pelo acidental concurso alheio.
Falha a bússola como falha o astrolábio,
ou orientação de outra base.
Só não se deixe estar falto de vontade.
Abre as janelas do quarto.
Niguém te deu a asfixia por missão.
Para o que não mereça respirar,
aquela serventia da casa.
Despeja o que de inútil te ocupa as gavetas.
A outros servirá.
Aí de há muito virou invasão.
Retoma a posse de ti
antes que o tempo venha consagrar o erro,
endireitá-lo, torná-lo solene.
De que te vale o silêncio?
A vida segue infrene e renuncias
a lhe dar sentido (nesta direção fixada).
A liberdade não é lá tanta,
mas se se renuncia desnatura em servidão.
Não reclames que o tempo corre,
porque já quando parar não haverá que fazer.
Um tupi tornado limoeiro, iluminado por Ponciano Coelho e por Nossa Senhora da Apresentação tornado artista.
Brota a vida, à vida leva. E da vida outras levas, todas leoninas.
América, Bélgica, Pádua, Belo Horizonte. Tudo Gerais de que tudo mina.
O pretérito não se afirma, adivinha-se (mas não se confirma).
É bom aprender com os erros alheios. Quantas vezes são os nossos! Sejamos lá os que formos.
Conforme o Nogueira grande,
belo é o rio de que sou navegante.
Não é o da tela.
Não é o dela.
Não é o de lá.
O rio só me integra se o puder singrar.
O rio imenso, mais que o penso.
são águas que experiencio.
Às vezes me lavam.
Às vezes me tragam.
Sempre se me oferecem.
Aquelas mais belas águas
em que tudo acontece.
Senhor, dá-me a castidade,
agora!
Isto é idade em que nada aflora.
E o que insiste em estar brotado
feneceu e não se dá conta.
A hora tarda, o Sol aponta.
A pretensão desarrazoada presta contas.
Senhor,
tudo foi fraqueza.
Nada foi afronta!
Versa quanto sofre
Grafa quanto versa
Sopra quanto grafa
Venta quanto sopra
Tudo isso sobra
Mas o Sol ninguém inventa.
No circo provecto (e portanto já não nefasto),
a irradiar sua decadência sobre a península,
minhas ilusões se despedaçavam,
e de seus despojos postes tétricos se acendiam.
As ilusões são vestígios em rota de fuga
de um museu que já ninguém visita.
Nota-se o que eu não digo,
mas o que não sinto,
de tão escondido,
jamais encontrei.
Está perdido comigo
e tudo mais em que,
por faltar-me o sentido,
não reparei.
Tropeço ou arremesso
isso de que se vai ao chão
e a vontade de levantar-se é
lassidão?
Cai-se de si em si,
mas a obra jamais se completa.
Parecia-me sonhar,
já que, de lá,
ouvi:
-Desperta!
Nem carnaval,
nem semana santa.
O tempo é desandança.
Retrovisores partidos,
e pelo para-brisa não se vê nada.
(mas acostamento não é estrada).
Não sabem o que pedem
ou o que oferecem, em absoluto.
O resto da vida pode ser nada
(certamente já não é tudo).
O passado não é certo
como matéria de estudo.
("incerto" é o outro nome do futuro).
Não tem sentido pressa,
nem tem sentido detença.
(e não faz sentido a vida suspensa).
Olhos que buscam outros,
que os recebem a meio do caminho.
Não acontece contigo nem comigo.
Acontece aos que não se preocupam,
tanto,com o destino.
A vida doce não prescinde
de certo desatino.
Não medir tanto os passos,
desfrutar o caminho.
O amor estiola do muito raciocínio.
O que espera algo deste dia
vê assomar a alvorada.
Eu vejo o dia romper,
na dissolução da noite.
Ainda e sempre aquele açoite.
Não é ancorado que se avança.
Progredir (volta e meia) pede distâncias.
O porto sei-o de cor.
Nada nele me alcança.
A vida pede instâncias,
é como está disposta.
E se o farol já se apagou
que me importa esta costa?
Jesus, pendente da cruz, rogou a Deus que perdoasse seus algozes.
A Igreja, por dois mil anos, se vingou da humanidade.
De nada nos adiantam os santos sem os seguirmos de verdade.
A madrugada quando não é profunda
é, claro, rasa.
Eu me pergunto o que os bêbados estão fazendo de interessante,
ou o quanto seu estado lhes infunde essa ilusão.
De cá, sinto que não cumpro algo
(e não é me intoxicar).
Nos supomos tão sóbrios,
tão lúcidos,
tão letrados...
e não sabemos o que está escrito.
É madrugada.
Socorre-te do lápis e lança à própria cara tudo que não merecerá a eternidade.
Suas aflições que não são nada diante das daqueles a quem falta o pão.
Os seus falsos cuidados que em nada se comparam aos de quem ama.
As suas quase companhias que não veem suas frases chegarem ao fim.
O sacrifício de abster-te do que para ti carece de valor.
A coragem que não chega para por nas coisas todas as letras,
ou para arrombar as portas entreabertas do coração que se sonha às escâncaras.
Não te chega para andar na prancha, limpar o convés, consultar os astros.
Toda coragem pouca chega tarde.
Cedo apenas o bastante para descobrir no tempo a voragem, a passagem, a estiagem, a pausa.
A pausa.
A música que falta saber mais para reconhecer.
A lousa dos melhores dias da vida
é areia da praia.
Só leu o seu recado quem também o escreveu.
Jamais as ondas se deteriam tanto que permitissem uma testemunha honesta, quer do vivido, quer do relatado.
O segredo foi escrito
e está lavado.
Mesmo o muito doce há muito foi salgado.
Essa é sua conservação,
é o que minha memória consente.
Nem tudo se rememora.
Algo se revive.
Nada se ressente.
Algo é deixado,
algo é combustível do presente.
Ao futuro, aonde mais?!
Ao duro, ao leve,
a tais!
Alarme, cúmulo do silêncio.
Silêncio, repouso do alarme.
De onde Deus não está
tudo se evade.
Ó que não consta que o nada exista
(em realidade).
O amargo para saber do doce,
o doce para saber do amargo.
Quem já não o tivesse sentido
poderia achar que eu tinha inventado.
Ninguém foge aos conselhos da madrugada,
despertos ou adormecidos.
Os conselhos da madrugada têm algo de intrometidos.
(Ainda para os abstêmios é como se houvessem bebido)
Nada parece pequeno, tudo se vê expandido.
Qualquer decisão que se avente parece selar o destino.
Mas o dia raia sobre a loucura como raia sobre o siso.
E sempre trará o querer ter ou não ter cometido.
A conversa mais transcendente que se pode entreter
numa quarta-feira de cinzas é com divorciados.
Sabem que a ressurreição existe.
Tiveram a coragem de desfilar.
Enfrentaram o rigor milimétrico da apuração.
E recolheram-se, muitos, sem nem faixa de campeão.
Às vezes a euforia dura quatro dias por ano,
às vezes quatro anos
(às vezes é só enfermidade).
Mas transcendem.
Mesmo se o carnaval não foi uma escolha tão consciente.
Era bloco pra todo lado, aderir a um ou ser arrastado.
E tomem serpentinas e buquês e muitos figurantes,
de abadá ou "enternados".
Depois que passa parece um sonho,
ou talvez até pesadelo.
Não sabem se "nunca mais!"
ou "nos vemos em fevereiro!"
As madrugadas dos feriados parecem blindadas
contra até a passagem do tempo.
E têm um fermento distinto,
como se delas pudessem nascer poemas,
problemas, vergonhas ou projetos vitoriosos.
Mas madrugadas é que são os tempos faustosos!
Nada me alcança.
Nada me atormenta.
A campainha não soa.
A companhia repousa.
O mundo está onde pertencente: lá.
E mesmo lá posso buscá-lo, num passo,
como me convenha.
Ser criador é uma ótima ideia,
embora seja velha.
É um poder irresistível;
os personagens nascem e morrem
(conforme saiam dos trilhos).
Criar é liberdade,
e liberdade, um perigo!
Então deponho a caneta
(como ora convém ao livre-arbítrio)
É uma vela que por mais que se sopra
não se apaga.
Porque de um velório sem morta
ou de festa sem a convidada.
Não se apaga e se não se apaga
não se realizam os desejos.
(Talvez porque sejam os ecos
de já tão apagados festejos).
Alegrias em que... ainda se vive?
Resta a questão filosófica pura:
a espera é sobrevida
ou é morte prematura?
A página completamente branca
é o infinito das possiblidades.
E precisar de pauta ou formulário,
um diagnóstico de banalidade.
Eu conversaria comigo
se soubesse o que dizer-lhe
(a este que é livre entre quatro paredes).
Poderia consolá-lo se não suspeitasse
de que é o autor do mal de que padeço,
do quanto faço por merecê-lo.
Ele é isso
ou é comigo?
Nem tráfico nem tráfego me o fariam rico.
"Luxo é ser compreendido".
Em nenhum folclore encontrei cantos
que dessem conta do teu encanto sobre mim.
(Em nenhum folclore,
e consultei-os por aí...)
Marujos e suas belas em terra firme
Caixeiros-viajantes e suas damas nas janelas
Poetas e suas musas
Lunáticos y sus lunas.
Nada nesse formato
Nada nesse tamanho
Nada tanto!
(E não o estranho).
Tudo inesquecível
(de cardinal a fixo).
O que o paraíso sabe
sabe a mistério
(e não o esclarece nenhuma batismo).
É preciso o coração aliar-se ao juízo.
Dizem
E que te digam!
O que dizem não te maldiz.
(Ninguém tem força para te fazer infeliz)
Dizem que queima
mas não que nutre
que racha
mas não que supre
dizem que mata
mas não que é condição da vida.
Falam muito do astro
(e sua estrela fica esquecida).
No primeiro dia em que chorei na sessão, disse à terapeuta
que meu pai não gostava do que eu escrevia.
E o corte foi este:
- Mas seu pai gosta de poesia?
Sem saber se minhas palavras e seus olhos iam-se avistar
não falei muito
mas foi muito falar.
Sábado e sou de novo o senhor do tempo.
Sou senhor contra quaisquer argumentos.
Nenhuma senhora me acompanha.
Nada me remunera ou se assenhora de mim.
Sou livre para fazer e afazer, enfim.
Sem grilhões ou cadeados.
O tempo diante de mim espera ser desafiado.
Espera jamais ser vencido.
Jamais! (eu afirmo)
O tempo não é oponente
O tempo que temos é senhor da gente.
E os passáros criados livres
sabem que voar é uma oportunidade?
Sabem em que os adianta
(ou ficará para mais tarde)?
Tinha o recado
sem o destinatário.
E apesar da falta
trabalhava nele
com todo o cuidado.
Revisava-o muito
(com muito esmero).
Investia-lhe todas
as horas de tédio.
Trazia-o sempre consigo
pois "Nunca se sabe!".
E sabia-o muito
(sabia-o todas as tardes).
A janela ficou sendo moldura
ora de sorrisos
ora de lágrimas.
E ela senhora de si
e agora senhora de idade.
Aquilo já não era
o que ainda se ama
nem peixes
nem escamas
nem imensidão oceânica.
No aquário
a luz e a luta
são mecânicas.
Estou sozinho nesta sala.
Nada me impele.
Nada me cala.
A liberdade chegar a dar-me
a impressão de asas.
E ainda o voo solitário parece invasão.
Ninguém pode ser, sozinho,
dono de uma imensidão.
Por isso existe o eco
e o vácuo é só impressão.
Nada valem as horas que não terei
pelas que desperdicei.
Nada vale o tempo que não será.
Em seu âmbito nada se opera.
O seu âmago é o avesso da espera.
Querer é uma certeza bruta
que sabe ser delicada.
Quem não sabe o que quer
não quer nada.
Talvez queira querer,
queira saber o que é isso;
que é algo que não se transmite,
nem ao saudável nem ao enfermiço.
Não se decide estar arrebatado.
Quem sabe o contrário disso
pode certamente saber-se errado.
Pode haver abertura,
mas também se abrem buracos
(e a própria sepultura).
Primeiro se é tomado.
Depois a tessitura.
Amar é a inflamada
incandescência da ternura.
Mas o amor não é teorizado
(é experiência pura).
Não minto para você,
mas você ouve as mentiras que me conto.
Jamais demandaria altares
nem toleraria ser o último ponto.
Se essa verdade me desfavorece,
é nessa verdade que me reencontro.
E reunido a mim trafego melhor,
e se incandesço me vejo brilhar.
E a noite é sempre a infinita
noite em que você nunca está.
Acabou janeiro, sem pedidos de prorrogação.
E muitos até lamentavam a sua extensão.
Ô mês quente!
Tão quente que impulsiona.
E de modorra
(tanta que estanca).
O céu desaba obrigado pela estação.
O céu desaba porque não é habitação.
Há quem veja em janeiro o posfácio do Natal.
Também há quem veja nele o prelúdio do carnaval.
Neste ano não tem função:
o carnaval é em março, e o prelúdio, em fevereiro.
Restou-lhe ser interlúdio
(passageiro).
Navios naufragam e o mar segue lindo.
E os portos não ficam mais interessantes por isso.
Os portos são o necessário abrigo,
o refazimento.
Sua excitação mora na espera.
Dos portos se parte.
Esses ventos favoráveis ainda nos levam a Marte;
nos levam a Vênus.
Praza a Deus que os portos não nos faltem,
nem neles nos demoremos.
Nenhum medo pode ser tão grande
que faça o mundo pequeno.
Quem tem medo da própria altura não cai.
E não cai porque rasteja.
Não vê a copa que viceja
e nem por isso vê raiz.
Quem tem medo da própria altura
decretrou que será infeliz.
Não consegue porque não tenta.
Não soluciona porque não inventa.
Quem tem medo da própria altura
está em prisão de insegurança máxima.
Confunde coragem com empáfia.
Não procura e tampouco acha.
Falta entender-se e estender-se.
Conquistar a dimensão, habitar essa altura.
Uma voz que o repercuta.
(É preciso esse pouco de loucura).
Cai a noite na razão
e o dia não raia sobre o juízo.
Nada parece sob controle
neste mecanismo.
A madrugada não é alta
nem se rebaixa.
Tudo é solto nesta engrenagem
(como se feita de graxa).
Os olhos não veem,
mas parecem ouvir.
Como se fossem de lá,
embora estejam aqui.
Nada se remete,
nem há quem o receba.
Como se não houvesse em mim
quem o perceba.
São coisas de sonho,
mas sem categorias de inconsciente.
Nada se entende
(mas tudo se sente).
Mundos colidem.
E se colidem, explodem.
E se explodem, há luz?
Quero luz.
Tenho luz nos olhos.
Que sejam bons!
Meus olhos estão com você.
Deles vejo a paisagem,
e é por eles também que se entra.
Não digo porque os brilho:
Você está convidada.
Não sou vampiro de capa
e me antecipo ao convite pressentido.
Eis que estou à porta e bato;
sou esse outro senhor.
Esta vida não pode ser eterna,
mas pode ser eterno o amor.
É o que de melhor se pode fazer dela:
Bela!...e de amor.
Velejo, vejo, desejo
e espero.
Há terra à vista
neste hemisfério.
Vejo passarem paralelos
e meridianos.
Sem nomeá-los ou numerá-los
eles vão me acompanhando.
Não estou sozinho
nem habito o sonho.
Tem cheiro e textura
o que estou experimentando.
É um afago, um abraço,
um ardor.
É expansão, dilatação,
é calor.
Então sinto bem
o bem que isso faz.
Nunca fez menos sentido
voltar atrás.
Um apocalipse é sempre o anúncio
de grandes acontecimentos.
E podem ser maravilhosos
pra quem sabe olhar o advento.
O que risca o céu.
O que convulsiona o mar.
E traz estrelas aos olhos
só de aportar.
O que coroa a mudança.
Remunera a boa espera.
O que faz da Terra
muito mais que a Terra.
O que encurta distâncias
e não acontece em tempo real.
O que tem marcha própria
(sobrenatural?)
Não sabia pelo que esperava,
o tempo é de compreensão.
Este Tempo não tem pressa.
É tempo de construção.
O dia há muito apagou-se
(como, aliás, lhe compete).
Eis que a noite me acende:
- Reflete!
Já contei 99 ovelhas
e até fui atrás da perdida,
que me olhou com desdém
(estava de saída...)
Não tem chá.
Não tem melatonina.
(Mas tem hora que parece mesmo
que o Universo encaminha.)
Não vi do que tinha vivido,
ou talvez tivesse sonhado.
Talvez o taxidermista
me tivesse operado.
Tudo se movia
e eu ali,
parado.
Sem eixo.
Sem rotação.
Sem traslado.
Um objeto móvel
e contudo fixado.
Parado no tempo,
no intento,
no tramado.
A vida é breve, breve!
Como cortei tanto o cabelo
e fiz tão pouca greve?
A vida é um instante;
tenho tempo para sorrir,
mas não para reenovelar o barbante.
A vida é tão rápida!
E é muita pulsação
para ter a cara pálida.
A vida urge, escuta!
Vez ou outra haverá tempo
de verificar a biruta.
A vida tão!
A vida tanta!
A vida nunca diminuta.
Mas segue a incompreensão da pauta
e o mistério da batuta.
Nem atômico
nem subatômico.
A forma de ser minúsculo
é tentar ser grande.
Grandeza é um ser
que não deriva
de tentar ser.
Das boas coisas que me aconteceram
uma foi perder a pressa.
Não estou certo de que já tive pressa.
Talvez de crescer, quando criança.
Ou de ter idade para dirigir, beber,
ou ultrapassar incólume a apresentação ao exército,
o vestibular.
(Decerto não tive pressa de casar)
Hoje não tenho pressa alguma.
Sei que tenho a eternidade para crescer.
Mas não ter pressa não é perder tempo.
Estou ou procuro estar atento.
Não sei o que perguntaria
a Deus, se tivesse a oportunidade.
Talvez apenas ouvisse, afinal,
Ele não precisaria que eu falasse.
(Deus fala com os mudos e os tatibitates)
Será que Ele me brindaria com uma resposta espontânea?
Talvez a esteja dando suficiente na natureza.
Talvez a tenha dado bastante na palavra de seus emissários,
missionários, de seu Cristo.
A esses tenho escutado,
e me esforçado por entendê-los.
Não tenho pressa nem deixo pra depois.
Esse processamento é o meu feijão com arroz.
Não é neve, é chuva.
Não é neon, são uvas.
Comem-se sem se pisarem.
O ano virou
(obrigado por avisarem)
Agora estarei atento.
Agora serei refeito.
Agora talvez esqueça
este ou aquele defeito.
Talvez agora me ligue
a esta ou àquela virtude.
E refaço o plano do empenho
em reajustar atitudes.
Algumas ideias novas,
mas as melhores de há dois mil anos
(infelizmente talvez inéditas)
Retomo o compasso.
Talvez entenda a bússola
ou descubra o astrolábio.
Agora tudo de frente,
nada de soslaio.
Agora à plenitude.
Agora a agora.
E o futuro segue sendo
matéria das próximas horas.