segunda-feira, 30 de setembro de 2013

TRIUNFO

Paris, 16 de setembro de 2013 - II

De onde estou sentado, só, vejo o Arco do Triunfo. Mas o que é isso? Não há na minha cidade, nunca se triunfou ali. Ou eu nunca me atrevi a vê-lo assim. Ali muito nos aturdimos, e memos quando sorrimos... Não sei o que há em mim que mesmo quando canta se molha e se salga. É coisa de dentro da alma, e não triunfo nem sobre mim! E o que importa? Do palhaço nunca se exigiu nada além de que estivesse alvi-rubro, estivesse de conluio ou não houvesse mais ninguém ali. Que riam os outros, que gargalhem mesmo se o desespero lhes chega a tanto! Eu nem seco o meu pranto, se for de tanto que me vou  nutrir. Mas do que lhes estou falando? Não se trabalha aqui!

domingo, 29 de setembro de 2013

Paris, 16 de setembro de 2013.

Calhou de eu estar sozinho em um café de Paris, esperando a sessão de cinema. É-se o mesmo em todo lugar. Pelo menos quando se está só de passagem. E onde é que se não está só de passagem? bom, pelo menos sou o mesmo em toda a parte, pelo menos se me grafo em português, e só me grafo em português, esta pátria portátil que nunca me abandonou nem me fez menos estrangeiro. As pessoas que passam são tão diversas quanto lá, mas de um diverso outro. Mas e o que comportam, importam-lhes os outros? Acho que Gessinger estava mesmo certo na cação: "O mundo é muito grande pra quem anda de avião, (mas) pra quem anda sem destino ele cabe na palma da mão".

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

METRÔ

Paris, 12 de setembro de 2013.

No metrô de todo o dia experimentei um inédito orgulho da diversidade  da terrinha, a partir da constatação boba de que todos ali, ou melhor, de que qualquer um ali poderia ser brasileiro. Depois, dentro disso, pareceu-me estranha, surpreendeu-me a dessemelhança que sentia em relação à porção do todo que mais me cativava a atenção. Não demorou muito para ter, num estalo, a percepção de que não era dos franceses que me distanciava, mas dos jovens.
E foi duro perceber que não duraria mesmo muito no chão duro do Champ de Mars, mesmo o vinho sendo francês, nem muito nos bancos duros da Savassi, mesmo muitos me tratando de "você".
É, envelhece-se!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

AROMA

Roma, 09 de setembro de 213.

Eu tenho dito que todos os caminhos levam aroma quando se está perfumado. E não poderia deixar de pensá-lo, na cidade eterna, onde recebendo instruções sobre como fazer como os romanos fica é mesmo patente que a essência que aqui exala é brasileira. O calor, mesmo forte, não é o nosso. O sorvete não é o nosso. A massa decididamente não é a nossa! Mas o meu jeito de os sentir, o meu jeito de os reunir sob a rubrica do diverso, é todo nosso! E aí nenhuma canção italianamente efusiva me ocorre, mas a calmaria do nosso Geraldo: "Fico pensando que por mais que eu ande, eu não consigo me afastar de mim." Que bom! Mas a Fonata Di Trevi é mesmo muito bonita!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

FLUXO


Paris, 06 de setembro de 2013.

A pressa, parece, é a mesma partout. Pas la paresse de ces jours! Há qualquer coisa sedutora na indolência dos franceses que desfrutam qualquer verde que se lhes depare. Estiram-se por todos os jardins, espraiam-se à margem do rio. É a alegria concentrada de quem sabe que a estação  não lhes dura nada. É um afã de perpetuidade. Não sei nada do eterno, mas o terno e simples espetáculo me fica, porque todos somos capazes disso. Pobre do maldito que, numa tarde de enguiço, não sabe desfrutar a alegriazinha besta de uma rede amarela; uma rede para pensar nela ou só para não se estar a trabalho. Uma rede para se estar ao agasalho do sonho, mesmo se desperto. Uma rede, uma tarde... A felicidade anda perto. Vagabundo aqui, vagabundo em Paris, vagabundo onde a sorte me quis. A sorte de andar à toa. Andar à toa é um pouco de infância, o tempo da Samoa. Alma que se expande e dilata. Alma que aquilata que nada atordoa. Só vago, tudo é vasto! Sem tramas, sem embaraços. Minha alma é amplidão!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Au Café

Estou num café parisiense,
e me convém escrever um poema.
Mas só tenho escrito versos de dor,
e nada aqui me faz pena.

Nem mesmo o não estar lá,
naquela terra prometida,
onde numa palmeira esquecida,
nunca cantou o sabiá!

Então deixo isso de dor
e vou andar entre a gente diversa.
É Paris num luminoso versão:
basta andar e já tudo é festa!

Paris, 6 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

NO AEROPORTO II

Lisboa, 02 de setembro de 2013.

Gosto do acento luso, gosto mesmo. Gosto de como canta esta gente de que estivemos tão próximos e em que por ora escolhemos não nos reconhecer. Menos para a leitura de poemas. Não os de Pessoa, pelo menos. Machuca-me saber que o fingidor fingia assim e não como o fingimos nós. Mas não há problema! Cá nós é que estamos com a razão! Afinal, o jeito mais fingido de entoá-lo nós é que o temos! Fingidos...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

NO AEROPORTO

Mais uma vez no aeroporto.Comecei tarde na brincadeira e nunca é completo o conforto. Viagens. O Quintana dizia que eram mudar a roupa da alma. Não é  pura alegria, calma!Há um breve receio. Pra mudar a roupa da alma é preciso despir a que se leva, e eis a alma desnuda. Se eleva? Vejo agora que sempre houve dois dedos de medo em tudo que estimo. Adoro andar por outras partes, mas há um receio em alcançá-las, ou em tentar alcançá-las. Memórias de soçobrado? Pode ser... A alma mesmo desnuda tem aí alguma coisa que a distingue, algum sinal. E às vezes me sinto como intuindo sinais de mais daquilo que me marcou. Viajar é mesmo um pouco como amar. Vai-se tecendo a viagem e sem ter nunca estado pronta vê-se um dia terminada. Mas há um impulso,e tenho que me lançar. Até mais!Até muito mais!