segunda-feira, 27 de novembro de 2017

VOU

E deixo o Nordeste,
com a certeza de que vou voltar.
Minas é logo ali
pra quem gosta de voar.

Minas é uma catapulta 
que me assusta para o mundo.
O mesmo susto de um parto,
a cada vez que vou partir.

(Mesmo se a experiência
comprova que vou sorrir)

É um sofrimentozinho
bem menor que o impulso.
Coisa de alma velha,
que sabe que a vida é percurso.

Vou e volto,
que é a melhor forma de tornar a ir.
Nunca retorno, isso é certo,
o mesmo que parti.

Volto mais rico,
mesmo se deixei dinheiro.
Porque volto com a clareza bonita

de ter-me dado por inteiro.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

PRA MAIS UM POUCO

Cubo de gelo ao sol,
sou pra só mais um pouco.
Nutriu-me um sorriso estranho
a lágrima que desceu pelo rosto.

Você me ensinou o que fazer,
mas eu fui feito o oposto.
E não pude mais me fazer
a matéria do meu desgosto.

Pois tenho estado comigo
pelos séculos sem fim.
E sei que não há acaso
no terem-me feito assim.

E me destino a voos altos,
pelos céus de onde os vejo.
E o que pra mim é assombro
pra você é "não percebo!"

Percebo o que não realiza,
faço por prosseguir.
Sinto falta dos seus beijos,
mas meu desejo é conseguir

altear-me além dos desejos,
completar a contento a etapa.
E talvez alcançar um tempo
em que você não faça falta.

Não por ter sido nula,
que o quanto me empenho não o permite,
mas por ser época de pura
sorte que não nos limite.

Nem nos aparte,
cada um crescido a seu modo.
Eu agora me sinto completo,
meus defeitos não ignoro.

Mas sei que farei deles
a plataforma do meu impulso.
E traga de volta seus beijos,
que já não me vejo sem seu concurso.