sábado, 26 de junho de 2021

ACÚLEO

Espinhos são muito superficiais.
A seiva interessa-me muito.
A seiva me interessa bem mais!

A seiva bruta, 
mas que se vai elaborar.
Como a larva feita borboleta
soube se libertar. 

(E nunca voou em linha reta
 como marcha um reles militar).

Coragem, que asa não é azar!
Nem inflamação é sintoma.
(Ou é sintoma mas não de doença)
Inflamação não é preocupação,
mas é tua própria emergência.

Conhece-te.
Revela-te.
Oferece-te.

Faz-te celestial,
que o céu te acomete.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

quinta-feira, 24 de junho de 2021

BALÃO

São João
fez balão
das minhas ilusões.

Pula a fogueira,
Ai! Ai!

Um fogo que só queima.
Não ilumina.
Não aquece.

Um fogo que...
Esquece!

sábado, 19 de junho de 2021

QUEM MAIS SE AMA (Lustro)

Melhorei em 5 anos
o que se melhora em 5 anos.  
Ninguém por imaginar asas
vai-se transformar em anjo.

No Recife amo Pernambuco.
De Petrolina espio a Bahia.
Como dos céus plenos de Brasília
gosto de imaginar a linha.

A linha é ilusão.
A vida é novelo.
Quanto mais vivo me revelo
e me tenho mais apreço.

Apreço sem pressa,
já quase sem desespero.
Já penso mais na meta
e atuo com mais desvelo.

Cuidado com onde piso,
que assim não piso em ninguém.
E dou mais atenção ao siso,
sem por isso ser-lhe refém.

Há mais liberdade na consciência
do que jamais houve no doidivanas.
e penso, em perfeito juízo,
que mais se estuda quem mais se ama.


terça-feira, 15 de junho de 2021

MUSA DA CANÇÃO (pleonasmo)

Minha avó passou.
Passaram minha mãe, meu filho,
e todas as namoradas.

Retirada a música,
minha vida reduz-se a nada.
(A do compositor popular,
e a das esferas mais elevadas).

Tapas da realidade.
Poesia que enobrece.
Suprimida a música
nada na vida acontece.

É preciso muito cuidado
com que música se afina.
Há música pra melhorá-la
e música que destrói a vida.

Sons para deturpá-la
ou fazê-la mais evoluída.
Nos bares, nos quartos, nos palcos,
música é a música da vida.

sábado, 12 de junho de 2021

PLENO COMUM (Um Doze)

O sonho é tudo enquanto se vive,
é do que se faz o sonhador.
Ainda bem que jamais me contive
em matéria de amor.

Atento ao impulso,
jamais à convenção.
Movido antes ao pulso
incerto do coração.

Disritmia que não mata,
embala a vida.
A mesma vida versada
e assim jamais esquecida.

Tudo que vivo plasma-se
e entende-se no poema.
Do vivido tenho orgulho.
Nada ali faz-me pena.

Mas o sonho se desfaz,
que não é propriedade de um.
Porque o atributo do sonho real
é o de ser o sonho comum.

Daquilo que só é real se se divide,
e assim se multiplica.
Não digo que esteja triste,
mas é tanto que isso implica!...

O sonho desfeito não é sombra,
ele é quiçá uma pista
que aponta pra de onde assoma,
mas também pra outras conquistas.

Ninguém perde o aprendizado
cravado no coração.
E vou fazer do decantado
supedâneo da construção.

E pouco importa se com palavras,
sou dedicado e me empenho.
E assim só sei do amanhã
que será mais um dia pleno.

terça-feira, 8 de junho de 2021

JE N'AI PAS DE TOUT L'HABITUDE

 "Moi, je crois aux histoires
auxquelles les autres ne croient pas encore"


QUERER é querer.
Querer, não.
Trazer solta a mão.
Querer é temer às vezes
a boca da solidão.

Querer é não querer ser tragado.
Digerido.
Ocultado.
Esquecido.

QUERER é querer ser processado.
Atendido.
Considerado.
Compreendido.

É não ter segredo
por tê-lo de bom grado dividido.
É ver como é rentável
o no quanto se tem investido.

Querer é querer ter certeza
mas estar na verdade confundido. 
Querer é querer saber-se
mas estar-se apenas presumindo.

É querer ter
e deixar o ser impercebido. 
É mania que lhe vem
do muito havê-la aprendido.

Deixe de apenas querer
e QUEIRA ter-se aprendido.


domingo, 6 de junho de 2021

CENTRO

 

#Safrade2013


Eu queria morar num desses prédios do centro mais despretensioso, de nome "Cannes" ou "Mediterrâneo", ou qualquer outro que leve ao contraste de sua deselegância com o presumível charme do originalmente abrigado pelo nome. Ali a efervescência dos dias de feira me soterraria sob seu movimento quando também eu mais funcionasse. E o domingo alçaria a uma perturbação a ninharia do ganido de um cachorro velho; no domingo, quando também eu me sinto vencido.


Eu me sinto centro para além da obviedade de ser o centro de mim. Eu também tenho picos de vida, e também malvivo o ostracismo, quando meus dias não são úteis. Eu também sou mais colorido e agitado quando é assim a gente que me passeia e sou cinza, ou cinzas, quando a maré já não está cheia. Eu também sou num dia o espanto por as ruas serem tão largas e no outro o espanto por não bastarem a tanta tristeza.

E fico sem entender por quê os prédios são tão altos, quando estamos tão rebaixados, e os produtos tão novos, quando estamos tão defasados. Do que se faz um centro, e por que se oferece a todos quando é tão exclusivo o que o orbita? Por que outra gente, aqui tão perto, não sabe o que é estar aflita?

Mas eu sou só uma rua do centro, o que não falta é tribo! Eu sou só ruas do centro, não chego a prédio. Eu sou só ruas do centro, sou tédio. Vou de esquinas a viadutos. A garota-propaganda nunca usa o produto.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

ÁGUAS

Bateu asas e voou.
E pra onde será?
E será que a merece mais
quem agora a vê voar?

Será que lhe aprova o plano de voo?
Será que a ouve aceso por dentro?
Será que percebe que o seu cheiro
tem o condão de parar o tempo?

Será que se pode guiar por apenas o sorriso dela?
Que tem nela agitação de festejo
e silêncio de capela?

Será que com ela tanto faz se campo,
se roça ou se praia?
Tanto faz também se parques
são a viagem que mais a atraia?

Será que nota que as suas censuras
são as mesuras de um cuidado?
E que muito mais fatura
quem saiba estar do seu lado?

Às vezes o futuro me assoma bonito,
florido e constelado.
Mas quando me concentro
noto que contemplo nosso passado.

Assim que noto quedo-me triste.
E o moinho queda parado.