quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Flecha Preta



O brando Zéfiro, 
matéria imaterial a outros poetas tão cara,
afaga-me na tarde sem fechar-me as chagas.

Onde achou o ciúme lança 
que pudesse empunhar tão firme?
Não acho ciência ou devaneios
que o determinem.

Arrombam-me a tarde
canhões de arrufo e,
absorto, vejo-a encerrar-se
em soluços...

                    ...água e sal.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Da 241 (um chamado)



Se tivesse mais do que me revestir,
revestia-me!
Mas só tenho a tarde...
(e enfastia-me!)

Vendo a chuva cair adivinho,
no Rio, o estio!
Por que só mandar-me a chuva
estando por lá o que mais aprecio?!

Manda-me, Rio, a moça!
Não vês que é o envio correto
pra não ser mais a tarde tão insossa?!

É inútil demandar!
A Maravilhosa é-me surda às exigências!
Pouco lhe importa a tristeza!
Pouco lhe importa a carência!

Mas e se mais firmo a voz,
e faço soá-la em urgência?
Não me fio do resultado,
mas a alegria compensa:

Pois agora, moça! Agora!

domingo, 27 de janeiro de 2013

Às vezes alto demais


Insinua-se a chuva e me ocupa
em dedilhar mistérios.
E não toco com as mãos
o que só aos dedos é dado tocar.
E as coisas não se entregam
por eu as adivinhar.

Fez-se o mundo do que não sei
e nem se me impõe pesquisar.
Viver, ainda com sorte,
é um jogo de azar!
E com que terão sido brindados
os consortes em que gasto o olhar?!

Medito neles o que não me atrevo
a eu mesmo experimentar!
Habito o beco, é meu jeito
de não me encurralar.
Não é defeito embora o preço
esteja alto e a pagar.

Apago-me.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Gema



É uma alegria circense,
picadeiro-coração,
ver a moça fluminense!

O de que preciso,
não faço suspense,
é de transmissão imediata,
imediata do quanto eu pense!

E a rua se arvora em fofoca:
A menina dos meus olhos
é a moça carioca!





"No corcovado quem abre os braços sou eu.
Copacabana, esta semana o mar sou eu..."

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Por Palavras



Batizo o que não conheço,
faço-me, por palavras,
o sacerdote do avesso.

Algumas vestem-me a alma,
são do mais-eu adereço;
outras a mais não me servem
que a expressões de apreço.

Disserto sobre o que calo,
adorno o que desconheço;
fúteis ou necessárias
palavras animam-me o peito!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CANTINHO SÓ

Eu queria querer dessas coisas
que só se querem ruidosamente,
como ser um cantor popular...

Mas só canto no meu cantinho,
um cantinho só!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

São Vicente



Entrar no mar de apenas
um santo vigente;

Entrar no mar distraído,
displicente;

Entrar no mar e cobrir
de marulhos a gente...

Entrar no mar é sentir-se maxima-mente mínimo!



São Vicente, 03 de janeiro de 2013