sábado, 31 de dezembro de 2022

PARAOANO

Para o ano, Mãe,
que se incentivem todas as sementes. 
Que o afeto se diga,
e que o dito se implemente.

Para o ano que a criança sorria,
e que o velho não esteja cansado.
E que se estampe na cria
o prazer de haver criado.

Que A Deus seja mais rota
do que tem sido despedida.
E que haja mais gente achada
do que coisas perdidas.

Para o ano um novo impulso,
e que os que pairam em águas rasas
se atrevam a mergulhos profundos.

Para o ano melhoramentos
pelo esforço de sanar-se.
E que os novos empreendimentos
sejam dignos de se lembrarem.

Para o ano o festejado começo
de um quadriênio mais feliz;
Inclusivo, diverso, superlativo até!
Um tempo dos mais propícios para as realizações da fé.

Para o ano as cores da flâmula francesa
em todo bioma brasileiro.
Para o ano a compreensão
de que, em verdade, não há estrangeiros.

Para o ano que a verdade se diga
sem desculpas para a brutalidade.
A franqueza existe e é bonita,
se existe em suavidade.

Para o ano que eu comece a ser tudo o em que anuí
num contrato misterioso em esferas mais altas que aqui.

Para o ano 365 degraus
e chances de evoluir.
Para o ano um "Tudo de bom!"
pra vocês e pra mim!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

DE NOVO

Na madrugada, atento,
eu mesmo penso as feridas 
que penso. 

As que crio.
As que passam pelo meu crivo,
cravejado por dardos de nada.

Pulsa minha veia criativa
a maternidade de minhas feridas.

Foram a minha âncora.
Hoje são minha catapulta;
me lançam a minha forma mais pura.

A minha melhor versão,
esta em elaboração.
O que faço com grande denodo. 

E amanhã a esta hora
de novo!

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

DEMO

Tonitrua a voz docente
em laivos de Constituição.
Legalidades incompreensíveis,
ademais ínfimas,
para quem não as aplica.

Lá fora o sol não brilha,
mas a temperatura é clemente.
Lá embaixo é onde há gente,
e onde a beleza acontece.
Sobretudo silente.

Sim!
Todos são mais bonitos calados,
e o seu discurso é inventado.
Dita-o o meu bel-prazer.
E falarão o que eu gostaria,
lido, de ouvir.

Não sou tão democrata quanto julgava
(ou nem julgava tanto assim...).

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

RWW

Havia um destino que não se cumpriu.
Na escolha abortada.
Na opção frustra.
Na definição revogada.

E assim se vive como se não
(em nenhum sentido da direção).

É círculo.
É vertigem.
É a terra culta
voltar a ser virgem.

Reverter o fruto.
Impedir a flor.
Devolver a semente
ao semeador.

O que Deus pensaria
se precisasse pensar?
Se arrependeria
de nos criar?

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

DEDENTRO

Para Fafá

 A caneta impõe a escrita nas horas em que te espero,
nesta sala sem visita.
Sem visitas mas que abriga visitantes,
todos loucos pra voar.

Talvez alguns com medo ou pânico,
como os tais pássaros criados em gaiola
que acreditam que voar é uma doença.
Nunca se perguntaram por que têm asas;
para eles é apenas um estranho adereço.

Mas parece que não é assim.
Deus faz tudo perfeito,
ou pelo menos predestinado.
Como nós, um dia anjos,
embora jamais alados.
Mas amando (e amados).

Quer melhor que isso pra voar?!
E o amor já nos é dado,
nem precisa implorar.
Mas precisa construir
casa pra ele morar,
base pra não ruir.

O amor não é feito de esperança só.
Ele é feito de trabalho.
O trabalho é muito da Lei.
Mas você pode escolher.
E depois da escolha feita
sempre terá de responder.

Tenho dito isso sempre,
como se fosse novidade:
a contraface da liberdade
é a responsabilidade.

É a sua contrapartida.
Deus não dá ponto sem nó.
A cruz conforme as costas,
o curativo pras feridas.

É preciso por reparo
para poder reparar.
Porque Deus faculta o erro
mas enseja o consertar.

E a chuva segue nos lavando a todos,
até aos que se julgavam limpos.
Os que se sabem na Terra 
e os que se creem no Olimpo.

As manhãs seguem nascendo para justos e injustos.
Rogai por nós, pecadores.
Venha a nós o vosso reino.

Eles que procurem fora;
Eu procuro dentro!


Confins, 19/11/2023

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

NINGUÉM PRECISA ENTENDER

A manhã é maravilhosa!
O sol no retrovisor enquanto se define a rota.
Esse tom que não se sabe laranja ou rosa.

Mesmo que as memórias fiquem longas e a vida encurte.
Mesmo que os braços cresçam porque os bolsos se aprofundem.
A escolha feita é perfeita, 
um edital pra quem se comprometa.
Não existe comparação.

Pensar que Shakira, Gisele Bundchen, Rodrigo Hilbert
ou gente que se lhes assemelha, gente que nem é sua
seria melhor companheira?

Minha vida pode ser estranha.
Pode ser mesmo confusa:
Vou pegar um avião para ir ter ao trem.
"Mineiro!", diriam, ou "mineirim!"
Pra caramba (e nem tanto assim).

Eu estou é no mundo.
O preço da passagem me limita,
mas no pensamento sou ubíquo.
Nisto a minha divindade.

Pouco importa se essa gente diz
que não sou poeta de verdade.
Eu sei lá o que é isso!
Eu só sei que não sou o Drummond,
nem sou nenhum Vinícius.
Mas sou uma pessoa,
e vou escrever mesmo assim,
mesmo depois de tudo isso.


Ninguém liga mas preciso
Ninguém vai pagar pra ler.
Não lerão nem de graça.
Ninguém perde por não esperar
e meu poema já passa.

Ele não se alonga, nem vai deixar tradição.
Mas talvez deixe muita saudade
em quem me chama de irmão.

É, a vida é curta!
E o dia está por fazer.
A vida é curta e a arte é longa
e ninguém precisa entender.

A vida é boa,
mesmo a vida mais dura.
A vida é plena,
mesmo na fase escura.

A vida uma hora arrebenta
e o poeta desconhecido.
A vida sempre se aproveita
(até se o poeta melhor não ter sido).


quinta-feira, 17 de novembro de 2022

DEBAIXOACIMA

Cuidado com o que divisa
Cimento, tijolo e cuidado 
Ela tem de ser construída
A vida não é pra empilhar
Mas o texto testifica
O texto não é tão bom
Ou nem assim tão comprida
A vida pode ser longa
Assim se edifica
É assim que se constrói
Pouco importa a rima
Pouco importa a estrutura
Viva de baixo pra cima

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

NAU (and then)

Nenhuma disciplina confina meu pensamento.
Nenhuma doutrina limita meu entendimento. 
Apenas me determina aquilo que vou vendo.
Com estes olhos expostos (ou outros olhos mais adentro).

Não ter limites (acredite) transcende o sofrimento.
Abrigo-me em qualquer mundo incrustado no firmamento.
Minha nau prescinde de mares, de ares, de ventos.
Minha nau é abstrata, refratária aos sentidos.
Minha mau não conhece a morte,eu sempre nela estou vivo.

Assim estou certo até se me encontro perdido.
Meu navegar, como viver, não é preciso.
Embora seja necessário, inevitável até!
Vou navegando por tudo até quando Deus quiser.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

WATCH

"São as tragédias que definem a vida",
diz a série que estou vendo.
A tragédia mais explícita:
Não temos tempo.

Então você tem um relógio elegante,
máquina pesada, cravejado de diamantes.
E ele pode marcar o tempo
sem lhe acrescentar nada.

A vida ninguém sabe quanto dura.
É a verdade mais simples,
a realidade mais pura.
O tempo pode ser marcado,
mas não se conta, não se apura.

A contagem não seria progressiva,
nem regressiva.
Seria ilusória, excessiva.

Excessiva porque não se aproveita.
Melhor seria a conversa 
sobre a semeadura e a colheita.

A vida vai se definindo
conforme as escolhas feitas.
Algumas melhores que outras
(e nenhuma delas perfeita.)

Tradu-la o esforço.
Modula-a a energia.
A vida o conjunto de tudo:
tristezas e alegrias.

Melhor olhar por onde anda.
Melhor não pisando em ninguém.
Melhor não quebrando nada,
ou estragando alguém.

A vida são águas passadas.
A vida são águas que vêm.
Não faça águas paradas
das águas que ninguém detém.

sábado, 5 de novembro de 2022

A2

Para Fafá

Não sei por quanto tempo pensei,
mas o que agora sei 
é que você é o conjunto.

Você é a hora para os minutos.
A semana para os dias.
A década para os anos.

E porque eu te amo
o tempo é imperceptível.
O tempo que passo contigo
não me prende, dilatta.
Não demora, passa.
Flui.
Corre.
Socorre.

É tempo para que me melhore.
Tempo ganho, nunca perdido.
O que eu aprendo contigo
é uma ciência muito antiga.

É essência, não é acidente.
É o que nos torna gente
enquanto nos cura de sê-lo.

Eu digo o que percebo:
os pés que vão por esse caminho
um dia terão asas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

EXTRAÇÃO

Não me importa tanto
nem aqui, nem em Santos, 
o que Pedro fez por Domitila.

Mais nos vale o que Diotima,
escolhida por Zeus,
fez por Sócrates.

O feito por ele 
é feito por nós,
patrimônio do tempo.

Como saber que o mestre
é na verdade parteiro.
Tira do ventre humano
o que ele traz inteiro.

Parteiro, eu digo;
O que vai dentro vem vivo.
Não precisa ser inumado.
Não precisa ser criado.
Precisa ser extraído.

Quem não acredita nisso,
não tem ânimo extrator,
vive cativo da dúvida,
em fantasia de dor.

A mania de descrença.
A distração do âmago.
A ilusão de encontrar pronto
o anjo nunca sido humano.

Mas toda luz principia em fresta,
e a boa festa tem preparação.

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

CINEMA

A fraternidade é vermelha.
Não tem peias,
não arrefece.
A fraternidade ninguém freia,
permeia o que a gente tece.
A fraternidade não apeia,
ninguém a enfraquece.


A fraternidade enfrenta.
A fraternidade à frente.
A fraternidade é da gente,
não é de coisas,
de coisos,
de coice.

A fraternidade não tem foice,
tem "foi-se!".
Tem coração,
viola,
abraço.

A fraternidade no nosso regaço
e nosso passo
o da imensidão!

sábado, 29 de outubro de 2022

ARCA

Eu escrevo maus versos,
mas preciso.
Então os jogo pro Universo.

E o Universo sabe encaminhar tudo,
até os meus maus versos
pro Gabriel do futuro.

Ou um Gabriel do futuro;
os futuros podem ser tantos,
e eu, por encanto, também.
Então prefiro libertar-me
a tornar-me meu próprio refém.


Adentrar-me.
Descifrar-me com bravura.
Aproveitar o tempo que tenho
do embrião à sepultura.

Escrevo.
Assino embaixo.
E só não canto porque não sei cantar.

Mas vivo o que preciso.
Não tenho medo, nem me dura o pesar.

Vejo.
Me assombro.
Me recolho.
E me reponho.

E noto que atravesso lúcido
esta espécie de sonho.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

CANTADO

As pessoas não sabem sob que trilha eu as avisto. 
Já não há a luz vermelha do walkman,
e eu não lhes aviso.

Já não sabem, de suas expressões,
o quanto alcanço, neste põe-óculos-tira-óculos
a que, pela idade, me lanço.

Eu não quero saber o que pensam para facilitar-me amá-las
como se não houvesse amanhã: sem amarras.

AS canções sabem tudo.
Quem canta, fala.
E as notas às vezes distraem
das verdades mais pesadas.

O medo é natural e é péssimo conselheiro.
Não esconda o seu amor
(te canto do fundo do peito.)

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

ORTÔNIMO

 "...é solitário andar por entre a gente",
"mais solitário que um paulistano".

Mas o pano não cai.
E a peça prossegue, o proscênio.
E ali há piores que eu.

Piores para quem pôde ver.
Você pode nem vir a saber,
contente, pipoca e cinema,
com o ex que outra lamenta
sem saudades, ou até com alívio.
(Ele também já esteve em cena...)

E a vida tem mesmo seus apartes,
ou nos seria muito covarde.
Pesada demais sobre nossos ombros sem natação.

Mas na próxima haverá acertos.
Talvez até conte azulejos!
(e os ombros quiçá me cresçam...)

Tudo na vida é exercício.
É um implantar no ser eterno,
numa marcha para o infinito.

E o que era lote vira edifício.
Dos cimos a vista é bela,
de onde já menos se erra.

Fui Navarro, fui Castela.
Fui Nogueira sem ser Fernando António.
Já fui até uma pessoa!

(Olha só como o tempo voa!)


domingo, 23 de outubro de 2022

sábado, 22 de outubro de 2022

PERSISTE

 "Le dije a mi corazón,
  sin gloria pero sin pena
  no cometas el crimen, varón,
  si no vas a cumplir la condena."

Chegar em casa logo antes da chuva
parece sorte pra quem quer que fuja.
Mas quem quer fugir? Quem tem medo de molhar-se
quando pode ser tão bom e tão fácil secar-se?

Menos se vamos encharcados.
Se imersos,
se totalmente tomados.

(Fico pensando se num tal caso
não seria melhor exorcizar-nos.)


Mas o tal brilho eterno de uma mente sem lembranças,
sobre ilógico, é pobre.
De que é feita a esperença senão
da estrada que se percorre?

Não lamento os passeios, segredos,
nem as risadas por nada.
Eu ainda vou cheio de quanto nos inspirava.

Vou cheio e de tal forma pleno,
que talvez o imperfeito não se justique.
Mas melhor o puro e simples
presente pro que persiste.



quinta-feira, 20 de outubro de 2022

TUDO OU NADA?

Tudo voltou à desimportância
de que eu me distraía: 
os quadros nas paredes,
os livros nas estantes,
os ítens sobre a pia.

Tudo era muita coisa
e eu de nada carecia
como carecia do que me faltava:
tua companhia.

É como o Sol raiar na Terra
e eu não me dar conta,
estratosférico, sideral.

O americano que perde o baile,
criança que não tem Natal.
Todos instados a sermos fortes
e dando pinta de bravura.

Dando prova de ignorar
a nossa própria tessitura.
Não sabermos do que vamos feitos,
o que nos vai bem.

Só no espelho retrovisor,
em estrada sem acostamento.
Com fome.
com sede
(tormento!)

No sentido errado,
o único já possível na direção.
Pistas lotadas,
mão e contramão.

Será preciso tanta certeza
de pra onde se vai quando nos lançamos?
Talvez seja a fé a mais
que me faltou, profano.

Agora, convertido,
me pego com Deus no escuro.
E às vezes lamento o passado
sem nem por isso temer o futuro.

Tenho os olhos habituados
a essa espécie de escuridão.
Mas não me faltam outros sentidos:
tateio estrelas na imensidão.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

MESOFÁCIO

Não existe um poema definitivo;
o que fizesse o poeta deixar de escrever 
depois de tê-lo escrito.

Nasce o sol e não dura mais que um dia.
E outros sois vêm, ou o mesmo,
relativamente diferente e suas alforrias.

Amar o perdido deixa confundido este coração.
E o coração segue. Ele não desiste da carreira.
Não tomba, bomba. Bombeia!

As coisas findas, muito mais que lindas,
essas ficarão.

E tudo se metamorfoseia.

Eu amo tudo que foi.
E sim! Até a fé, jamais errônea,
que faz de toda dor impulso,
nunca coisa medonha.

O ontem que dor deixou.
O que deixou alegria.

E eu nem sei o que já se foi
E hoje já é outro dia.

Como dizem os poetas o que eu diria!
E tudo foi sempre assim.
Mas e o poeta?
Seu ofício é sentir.

domingo, 16 de outubro de 2022

PRAÇA

 Mas claramente!


É praça depois do cinema.
É Belo Horizonte, mas podia ser Amsterdã.
Ou Amsterdão, se o dissesse de Lisboa.

Tem cachorro mas não tem gato.
Tem crianças, tem namorados.
Tem pipoca, tem sorvete.
Tem perdidos e tem achados.
Tem algodão e as próprias nuvens
(que não fazem o dia nublado).

Tem um cheiro doce, doce.
E tem muitas folhas no chão.
Tem algazarra de passarinho 
e poeta de bloco na mão.

Tem o banco e está liberado.
Mas não tem a morena
(e eu fico pardo...)

Pardo mas ensolarado.
Um cachorro até sentou do meu lado.
Ele não é muito de latido.
Não pergunto seu nome por medo de não ser respondido.

É bonito, o danado!
E toda essa língua é simpatia.
(mas simpatias não vão me ajudar.)

Mas a música, sim!
Em toda ocasião.
Música de paz, de sono ou paixão.
A da praça é de plenitude.
E praça é de uma alegria incompatível com a quietude.

E o cachorro é mesmo simpático.
E fica chamado Platz.
E o supermercado não tanto me apraz,
mas é mesmo necessário.

Adeus, coreto!
Adeus, passantes!
Já não tenho longos cabelos
mas os sinto esvoaçantes!

sábado, 15 de outubro de 2022

MECÂNICA CELESTE

Para Fafá

A vida é mesmo um sonho
de que não se acorda mas se pode embelezar. 
Trazer perto "quem" de verdade importa,
que "que" é adorno.
Não importa tanto nem se enche o olho.


Canopus, Sirius, Antares.
E tudo avermelha 
todos os meus andares.

Não "ando meio desligado",
ando em sintonia, canalizado.
Não preciso pensar-te às 23:59 para mudar o dia.
Nem às 17:17 para pensar-te com alegria.

Tudo que acalento é verde.
Tudo se ativa.
É tudo doravante.

Em algum museu o passado ainda está acontecendo...
Mas quem vai ao museu senão em terra estrangeira?
Vida mesmo é dia de feira.
E os meus são teus, segunda a sexta.

Como os dias que os separam
e nos reúnem mais.
Aquele tempo-espaço que a tudo se presta.
É tempo de carinho e pode ser tempo de festa.

Como a da retina se te vê,
enquanto os olhos marejam se te perdem.

O futuro é uma terra bendita, mágica,
que vai-se tornando presente conforme se palmilha.
Para o futuro há picadas e trilhas.
O futuro, quando é perto, está a milhas!

Minha preferida miragem.
Um quadro pra que se olha desde o "aqui e agora"
e mais se embeleza quanto melhor se vive.

E o que é viver senão dedicar-se?
É a pessoa,
é uma causa,
e os reúne o amor.

Sim, o amor!
Amor, a incubadora da evolução.
O amor é a esperança,
não a ilusão.

Para ele a conjunção é viável,
abrem-lhe as portas todos os horários.

E eu?

Bem, meu bem,
eu lhe sou favorável!


terça-feira, 11 de outubro de 2022

AQUÁRIO

Às vezes acho que sou o que serve
para você valorizar o próximo.
Às vezes acho que não sirvo:
sou tóxico!

Talvez tenha sempre sido,
antes mesmo de o termo pegar.
Ou talvez seja tudo só medo
de nada mais esperar.

O que tá pegando é que sofro
em turnos de choro (em revezamento).
E às vezes me pego sorrindo,
como se em contentamento.

"Como se" é o que não é.
Mas de quem tem certeza duvido
(meu estranho ato de fé).

Deus está comigo
porque não tem remédio.
Deus está comigo
na inspiração e no tédio.
Deus está comigo;
(Ele até mora neste prédio.)

Mas agora me espera vestir-me.
Espera-me melhorar-me.
É Ele que espera por mim,
conforme Jesus vem falar-me.

São livros.
São preces.
É vigilância.
E um dia me sai natural
a constância.

Deus está comigo,
mas me faltam sentidos para provar.
Deus está comigo!
e remediado está!

sábado, 8 de outubro de 2022

JANISCITA

Gosto quando o humano sai!
Gosto porque o humano volta.
Gosto do som da garagem,
gosto do do abrir da porta.

Gosto de ouvir meu nome.
Gosto de massagem nas costas.
Gosto da ração completa,
goto da água reposta.

Gosto mas não dou na cara.
Gosto, mas não façam aposta.
Gosto muito! E gosto também
de quem acha que não me faz falta.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

PRA MAIS!

Para Fafá

Passam os dias,
o tempo morre.
Sem cores.
Sem sorte.

Passam os dias
ou é só o calendário?
Avançam as horas
ou só muda o horário?

Muda o confuso.
Muda o paralelo.
O que me responde não soa
(É interno!)

O inconsciente grita sombras.
Grita ânimas, animais.
Muda o meridiano
ou jamais?

A pesquisa se pronlonga.
Estende-se o entendimento.
E o entendimento me muda,
contentamento!

Há de se saber olhar.
Há de se saber ouvir.
E pra quem sabe o silêncio
nem é tão mudo assim.

Às vezes me esclarece
mais que o sol a pino.
E esclarecido me alço
ao divino!

Tenho vida,
tenho paz.
E tenho esperança
(pra mais!)

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

QUINTAL (Singalong)

Para Fafá

Crianças brincam no meu quintal,
é uma escola. 
Como todo quintal é uma escola:
o que se planta se colhe.

(mãos à obra!)

Crianças brincam no meu quintal,
é uma escola e isso me alegra.
Como toda escola me alegra:
errando se aprende

(e vivendo se erra)

Mas não se deve viver de errar,
se esse tem sido seu erro.
Erro bom é tentando acertar,
e quem tenta conquista o recreio.

Crianças brincam no meu quintal
e não têm a vergonha de serem felizes.
No uniforme assumem sua condição:
são perfeitos aprendizes.

Eternos e eternamente.
A vida não passa, só muda.
Transmuta.
É alegria e é sofriento

(Viver é seu próprio fermento)

"É o sopro do Criador
numa atitute repleta de amor".

A vida é uma linda canção.
Afinem-se!

Verão!


"Mas isso não impede que eu repita..."

terça-feira, 4 de outubro de 2022

INIMIGO MEU

Inimgo meu
Criado em mim
O que foi que te fiz
para criar-se-me assim?

Inimigo meu
Portador do meu mal
O que foi que me fiz
para criar-se tal?

Inimigo meu
Refletido no espelho
o que eu me farei
para mudar-te inteiro?

Se assisto às lições,
como se em recreio,
como vou te inteirar
de ter sido meio?

Meio egoísta
Meio orgulhoso
Meio feio
e muito curioso:

Se o mal que não quero faço
E não faço o bem que te quero
Onde o Todo Poderoso
quando desespero?

Enemigo mío,
dentro suyo,

Onde está você?
Ficou tão escuro!


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

INGENTE

Fez-se tarde.
O Sol cedeu a vez a outras estrelas,
que pediram socorro demasiado tarde.

Ninguém sabe, ao ver a luz,
se alucina ou brilha de verdade.
Os próprios olhos que se acostumam à penumbra
creem-se, com o tempo, em ambiente iluminado.

Mas a luz que os sutenta vem de dentro,
do intocado, do que jamais foi visto.
Daquilo que se esconde e é em verdade mais bonito.

Luz intestina, aflita, ainda bruxuleante.
Luz-semente que encerra o diamante.

O diamante veraz,
aquilo de verdade para sempre.
Aquilo cujo futuro é anjo,
mas cujo presente é gente.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

DE(S)FEITOS

 Ardam janeiros e julhos,
cada um com seus centígrados,
cada um com seu barulho.

Cada um na luz que lhe é própria.
Cada um com contras e prós.
E nos julgamos imunes a eles

(e agora o que é feito de nós?)

domingo, 25 de setembro de 2022

ISSO ME SOA

Moro na canção, que me abriga,
ou briga com meus impulsos.
Moro na madrugada.
Moro no lusco-fusco.

A canção me revela
para além do que procuro.
Mostra-me o que escondo
(Mostra-me tão obtuso!)

A canção, posso ver,
não é um lugar seguro.
A canção é um risco,
mas na canção me apuro.

À canção estou ajustado.
Da canção não há parto.
A canção é só gestação.
Sou da canção inato. 

sábado, 24 de setembro de 2022

CHICOTE

O que se chama justiça humana
é o protótipo da inexistência.
E dar-se a um sistema o seu nome
é o outro nome da indecência.

O chicote nunca foi cego.
O chicote tem preferências:
De pele.
De bolso
E insistências.

A verdade eloquente não muda,
conforme dada de antemão:
"A melhor vista do chicote
é ter-lhe o cabo na mão".

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

ESTA

 A vida é dada por presente
que não se pode retornar.
Bem...não se deve.
Não é de bom tom.
Não tem proveito.

A vida é dada por presente
que, retornado,
será refeito.

A vida não é só festa
(tem lá os os seus defeitos...)
A vida não é só bela,
mas temos cá nossos recreios.

A vida é de se aproveitar.
Não em parte mas por inteiro.
A vida concede descanso,
mas da obrigação (primeiro).

A vida requer direção.
À vida tem de se dar sentido.
"A vida tem sempre razão".
E o que ela quer comigo?

Talvez colaboração;
que eu não seja meu inimigo.
A vida oferece expansão
e um temporário abrigo.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

SE HÁ PROVEITO

Senhor!
Eu te falo tal qual é meu coração.
Que ele se infiltre não é opção,
é invigilância.

Senhor!
Podias ter-me feito de constância.
Mas não me fizeste o firmamento
mas o vulcão.

E eu o diviso, o firmamento,
e no máximo mudam-se-lhe as cores.
Mas mudam-se por padrão;
a sua insconstância é constância,
quando vista à amplidão.

E eu?
O que a ampliação faz de mim?
Fluido nos detalhes,
escorrido em células.
Só a vontade é minha cela,
e a ela não ouso romper.

A vontade é indelével como a vontade de a deter.
E dessa briga fazem-se os dias;
as noites fazem-se dela.
E o cavalo do desvario passa luzidio e selado.

Monto e me fico ao lado,
a observar como conduzo.
Fito-me com tal cuidado
que eu a mim me confundo.

Senhor!
Do que vou feito?
Parece sorte mas é defeito.
Não sei se me curo ou há proveito.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

LIBERTAS

 O catavento percebe, recolhe, aproveita.
A biruta se perturba.
(mas a dica fica feita...)

Não aproveito o vento para nada,
mas o enfrento para tudo.
Como para arremeter o avião,
minha matéria de estudo.

Para aprender a voar apesar do peso.
A planar apesar do tempo.
A entender quanto me dizem,
e também quanto invento.

Com fazê-lo não me amoldo ao mundo,
mas mudo o mundo para mim.
Desejo um mundo mais livre,
que me possa ser mais afim.

Liberdade é a palavra mais bonita!
E como soa feio "sujeição".
A liberdade não tem de ser consentida.
É nascida amplidão.

É a beleza nata,
e se não é dada é preciso buscar.
Sem ela o mundo não é nada!
Nem adianta voar.


Ouro Preto, 25/6/2022.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

TOM e SEMITOM

A beleza não é de passagem.
A beleza por onde passa
tá feito já o milagre.
O olho que acendeu.
O sorriso que sulcou a face.
Afagos não são ilusão,
abraços são a eternidade.
"Olhos de ver" a tempo
e a gratidão eterna
por ter podido estar atento
a tuas dicas tão ternas.
Não sofrer quase,
sorrir "sem ter por quê".
A vida não é mais que fase
do quanto se pode tecer.
Cada um agora em seu plano,
e o Plano segue mistério.
E se hoje sou tão mais humano,
é obra do teu ministério.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

ENFERMIDADE

A vida segue sempre com
seus traços firmes de caneta azul.
Que saudade de poder apagar!
Saudades de  ter borracha.

Mas já nem tenho material escolar.
Em qualquer lugar a vida me acha.
Nunca se guardam os lápis no estojo.
Tudo são despojos de guerra.

A vida está sempre presente.
Sem envelopes, sou carta abeta.

E ela me abrasa com seu sinete,
tudo são cartas ao rei,
em mensagens que todos devassam.

Porque tudo que fiz o corpo revela.
O disfarce não tem espaço.
Assim nas guerras como no Céu,
quando nos deixar a matéria.

E faço votos neste papel
de não ser banido da Terra.

terça-feira, 14 de junho de 2022

CANSA

Tudo cansa!

Cansa o que canta.
Cansa o que rança.
Cansa o que tem medo.
Cansa a esperança.
Cansa o torpedo.
Cansa a dança.


Às vezes cansa o adulto
(cansa desde criança)

Cansam-me os versos meus.
Cansa o que os inspirou.
Cansa o amor que feneceu
e o sonho que expirou.
Cansa todo tipo de deus
e todo seu redentor.

Só o pensamento não cansa
e agride.
Com o que o pensamento alcança
a paranoia progride.

Não é nada pra psiquiatras
(embora seja pro 'Deus me livre!')

Cansa todo o embalo.
Cansam aclive e declive.
Cansam todas as estações,
a que mal tenho e as que nunca tive.

Tudo que se sabe cansa,
como cansa duvidar,
ou aceitar simplesmente.
Como cansa ser perdoado!
Como cansa ser penitente!

Cansa pra ser digitado.
Cansa pra ser proferido.
Cansa tentar lembrá-lo.
Cansa! Melhor esquecido.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

QUATRO FOLHAS

Jesus, acalenta!
E Jesus acalanta.

A marcha é lenta,
mas a marcha é dança.

E amar, a ciência
da esperança.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

GENUFLEXO

O que nos diziam
era que não sabiam
do que vinham feitos.

Como se ignorá-lo
fosse, de todos,
o pior defeito.

Mas o que me contristava
era que se desperdiçava
o real proveito:

o de perceber o reflexo
e se postar, genxuflexo,
diante do (que é) Perfeito.

quarta-feira, 16 de março de 2022

EXTRAÇÃO

Onde estivemos à noite?
Quem nos trouxe?
A noite é passada.
O Sol, mais que destrui-la,
veio depurá-la.

Nada há que da Luz se esconda.
A luz é sempre percebida.
A luz é como a onda,
que surge e desaparece mar.

A luz não se pode evitar.
Para fugir à luz só fechando os olhos.
Para fugir à luz só ignorando o mundo corpóreo.

Mas nem assim.
Se me distraio um pouco da matéria
posso fazer luz em mim.

Olhar para dentro.
Pesquisar com coragem o passado
que antes me tinha detento.

Vem outra noite,
e nela mergulharei outro.
Se soube aproveitar o dia.
Se fiz o sacrifício.
Se realizei a pesquisa.

Se encarei meu percalço.
Meu vício.
Meu porém.
Se pude procurar em mim
a forma de ir além.

Realizar a altura a que sempre estive destinado.
A desenvoltura tão leve que parecerei alado.

Não se trata bem de pressa,
mas é preciso dar mais um passo.
Vamos, que o tempo espera,
mas não conhece retardo.

Há misericórdia infinita,
mas inexiste distração.
O diamante já dentro nos brilha;
o trabalho é de extração.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

DEU A HORA

Toda arte que me toca me abraça.
Digo-o de coração!
(sem chalaça...)

A Arte que excele me excede a resistência.
E me parece um processo óbvio
(do que dispensa ciência).

Coisas que muito se sentem
e muitos querem é entender.
Matam a flor em botão
(como dá pra perceber...)

Escandir, enumerar,
ou outra fórmula qualquer.
Prefiro a inspiração legítima
ao que o fórceps trouxer. 

"Ora, ora.."
Ora nada!,
que só ora quem quiser.

Sem querer enfada!
Genuflexo sem fé.
Bainha sem espada.

A madrugada vai alta,
e eu nem tanto assim.
E o mais do que me vier
melhor guardá-lo pra mim. 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

VIVE (k.22:2.Andante)

O tolo pensa ter direito a ser feliz
pelo fato simples de ter nascido.
A felicidade (desconfio)
é preciso tê-la merecido.

Há tempo para merecê-la.
Escolhas, boas e más,
esperam quem possa fazê-las.

Invista em meditar
o tempo gasto em reclamação.
É desperdício o mumúrio e,
mais que isso, prisão.

Te ergue.
Fita o horizonte.
A felicidade existe
(e não existe tão longe).

Mas é preciso caminhar
(muito) para que apareça.
É preciso caminhar sem medo
de que antes de vista feneça.

Portas a centelha.
Foi-te dada já de saída.
Sabe que o medo de buscá-la
é o próprio medo da vida. 

Do medo nada brota.
O medo é o féretro.
Só com coragem e força
se pode vencer o tédio.

Levanta.
Anda.
Desata-te
e vai.

E nunca estará sozinho
o que sabe ser filho do Pai.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

CORDIAL

O coração tem razões
e as arrasa.
O coração despeja quem quer
de sua casa.

O coração não tem de suas
só cavidades.
O coração é que tem vontades.

Quem muito pensa
não pensa
que é o coração quem sabe.

O coração tem cor.
Tem oração.
Tem profundidades.

Pulsa codiforme minha vontade.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

DESBANIMENTO (Versailles)

Nem tudo assombra que volta.
Olhe ao seu redor!
(E olhara a sua volta...)

A Lua se vai e retorna.
A ausência do Sol bem pouco se nota.

Se morde.
Se assopra.
Às notas sucedem pausas.

"O passado ainda está acontecendo".
À porta do museu. Cimento.
Aquele mestre já não soube seu talento.
Foi um faminto a quem nenhum cabedal se destinava.

Agora adivinha o passo seguinte
(da estrada).
Um passo!
E já me basta.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

UMA VEZ MAIS

Muda-se tudo o que não se muda de plano.
Ou até mudar-se.
O plano era mesmo esse. 
(era de esperar-se).

Muda o mudo
e o que precisa falar-se.
Muda-se muito
do muito falhar-se.

Do já não se achar
que o mundo que se emendasse.
Ou que a culpa segue sendo dos outros.

Do já não se pensar em círculos,
ao ponto de ficar louco.
O que é bom é circular.
Outros tempos pra viver.

(não pra só esperar).

Tudo bem
visto
pensado
vivido
Melhorado.

Os anos me ultrapassam
sem deixar-me pra trás.
Os anos me jogam ao alto
(nada é tão fugaz)

E não é vão.
Viver não fica.
Viver é impulsão.

A evolução é lei.
Já vou trabalhar agora.
Pra depois trabalhar
outra vez!

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

OVER(ALL)

Sonhava.
Nada era como o cinema ditava. 
Nada ali se ostentava.
Nem se podia reproduzir.

Oníricos só a sala escura,
e uma certa aparência de fumaça.
Espécie de inconsciência
que assim se projetava.

Queria nada disso.
(nem daquilo)
Escapava-se,
espantadiço.

Queria apenas um sono sem sonhos
em que o mundo se supendesse.
Em que tudo deixasse de acontecer
(ou pelo menos não percebesse).

A vantagem grande de um vácuo
em que nem se envelhecesse.
Em que nem o mais belo violino se atrevesse.
Nem passarinhos.
(Nenhum deleite).

O avesso de tudo o que se aproveite.
Tanto faz se antecâmara do prólogo,
se contracapa em tapa ao epílogo.
Só o que quero estar...

é tranquilo!