segunda-feira, 27 de junho de 2022

LIBERTAS

 O catavento percebe, recolhe, aproveita.
A biruta se perturba.
(mas a dica fica feita...)

Não aproveito o vento para nada,
mas o enfrento para tudo.
Como para arremeter o avião,
minha matéria de estudo.

Para aprender a voar apesar do peso.
A planar apesar do tempo.
A entender quanto me dizem,
e também quanto invento.

Com fazê-lo não me amoldo ao mundo,
mas mudo o mundo para mim.
Desejo um mundo mais livre,
que me possa ser mais afim.

Liberdade é a palavra mais bonita!
E como soa feio "sujeição".
A liberdade não tem de ser consentida.
É nascida amplidão.

É a beleza nata,
e se não é dada é preciso buscar.
Sem ela o mundo não é nada!
Nem adianta voar.


Ouro Preto, 25/6/2022.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

TOM e SEMITOM

A beleza não é de passagem.
A beleza por onde passa
tá feito já o milagre.
O olho que acendeu.
O sorriso que sulcou a face.
Afagos não são ilusão,
abraços são a eternidade.
"Olhos de ver" a tempo
e a gratidão eterna
por ter podido estar atento
a tuas dicas tão ternas.
Não sofrer quase,
sorrir "sem ter por quê".
A vida não é mais que fase
do quanto se pode tecer.
Cada um agora em seu plano,
e o Plano segue mistério.
E se hoje sou tão mais humano,
é obra do teu ministério.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

ENFERMIDADE

A vida segue sempre com
seus traços firmes de caneta azul.
Que saudade de poder apagar!
Saudades de  ter borracha.

Mas já nem tenho material escolar.
Em qualquer lugar a vida me acha.
Nunca se guardam os lápis no estojo.
Tudo são despojos de guerra.

A vida está sempre presente.
Sem envelopes, sou carta abeta.

E ela me abrasa com seu sinete,
tudo são cartas ao rei,
em mensagens que todos devassam.

Porque tudo que fiz o corpo revela.
O disfarce não tem espaço.
Assim nas guerras como no Céu,
quando nos deixar a matéria.

E faço votos neste papel
de não ser banido da Terra.

terça-feira, 14 de junho de 2022

CANSA

Tudo cansa!

Cansa o que canta.
Cansa o que rança.
Cansa o que tem medo.
Cansa a esperança.
Cansa o torpedo.
Cansa a dança.


Às vezes cansa o adulto
(cansa desde criança)

Cansam-me os versos meus.
Cansa o que os inspirou.
Cansa o amor que feneceu
e o sonho que expirou.
Cansa todo tipo de deus
e todo seu redentor.

Só o pensamento não cansa
e agride.
Com o que o pensamento alcança
a paranoia progride.

Não é nada pra psiquiatras
(embora seja pro 'Deus me livre!')

Cansa todo o embalo.
Cansam aclive e declive.
Cansam todas as estações,
a que mal tenho e as que nunca tive.

Tudo que se sabe cansa,
como cansa duvidar,
ou aceitar simplesmente.
Como cansa ser perdoado!
Como cansa ser penitente!

Cansa pra ser digitado.
Cansa pra ser proferido.
Cansa tentar lembrá-lo.
Cansa! Melhor esquecido.