terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

NEBULOSA

Quem se apaixona, apanha.
Apanha a rosa. 
Depois apanha DA rosa.
(ou dos espinhos).

Quem se apaixona está com tudo
e muito prosa!

Tanto faz o crepúsculo,
a noite, a madrugada,
a aurora.

(Se tudo é da própria cor da rosa).

Depois vem o tempo do azul.
O movimento das ondas dá lugar
a profundidades oceânicas.

A beleza do jardim
assume uma tristeza pântana.

Mas tudo eu vejo à distância.
O azul talvez não seja tão intenso assim.

Ah, mas o rosa...
Eu o quero sempre pra mim!

sábado, 25 de fevereiro de 2023

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

AOS COSTUMES DISSE...

Saudade
dá e passa. 
E volta.
É torta.
É em volta.

Envolta em tudo,
em nada se mascara.
Saudade dá na cara
(afaga, mas é tapa.)

Saudade é etapa
necessária.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

DEVOTO

O sorriso tomando impulso
não é coisa de músculos. 
Gosto da mobilização
(mas não gosto de números).

Gosto de os olhos se apertarem
ser na verdade distenção.
De os lábios se arquearem 
ser expandir-se o coração.

Gosto de quem os oferece.
O sorriso pode ser mudo,
mas cala fundo quando acontece.

O sorriso alastra.
O sorriso salva.
O sorriso é prece.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

PESS

O coração, à noite,
porque penso, 
para. 

Meu coração na madrugada
não trabalha.
A travessia para o dia 
parece impossível.

Parece reclamar concurso
(um que não redescubro).
A coragem do coração é 
a falta de alternativa.

Só poderia escrever missivas,
e missivas ninguém lê
(se nem os manuais, úteis).

Todas as preocupações são fúteis,
não adianta a solução antecipar problemas.
Mas a língua tem seus truques e,
se eu pudesse, me antecipava aos problemas.

Mas nunca de forma a perder um encontro com Cecília.
O instante existe (e claro que me motiva).

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

BAILE DE MÁSCARAS

 Lá fora como aqui dentro
todo mundo é uma ilha,
mas num arquipélago.

Arguipélago ilimitado
e que nos limita por todos os lados.

Não é preciso que a bomba nos una
para notar-se a ligação, a implicação,
(complicação menos ainda).

E você vai fingir independência
(ainda por cima?)

Só se não for o amor será a bomba,
como diziam os ferreiros.

Isso não tem como se rearranjar.
E não há como habitar a ilha vizinha.
A ilha vizinha é turismo,
lar é labuta.

Mas pensa você um pouco na minha,
enquanto penso um pouco na sua.
E enquanto se revezam "Preocupa!",
"Desfruta!", "atua!".

Não digo que seja fácil,
e fingi-lo tampouco ajuda.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

ÓPERA DE SABÃO

O barco ainda flutua,
e todo mar parece nunca antes navegado. 
Tem mar que é rio.
Tem mar que é lago.

(Desde o tempo do Senhor
isso era um fato geográfico)

Essas "dores que ninguém nunca sentiu".
muitos e muitos sentiram antes.
Ninguém legou um manual,
e manual ninguém lê.

Todos fazem como deve ser:
observam, experimentam.
Se não é desse jeito,
volte duas casas.

E por aqui, será que é?
Isso é porta ou é janela?
(Não sei se escrevo um conto
ou se isto já é novela).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

COMO É?

Em tudo um travo amargo.
No suco que há pouco era fruta,
no chocolate feito para ser doce.

A vida não é como se queria que fosse.

O samba consolador desalenta.
O carnaval  parece uma tarefa imensa.
A vida não é mesmo a que se quer.

Mas restar querer-se a vida
(a vida como ela é).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

HÁ SIMETRIA

 Toda vez que toca o telefone
O telefone já não toca,
mas toda noite de insônia
nunca sai de moda.

Deixa essa lógica mercantilista de achar 
que o mercado da música precisa dos amantes.
Eu já falei que o dinheiro não importa
(ou como antes).

O ponto é: o que seria dos amantes
se a música não provasse que isso nunca matou?
Todos sobreviveram para escrever
suas canções de estar-se a morrer.

Tantos e, no entanto, meu pinho,
Tantos mas noto que é ridícula a minha vingança.
Tantos esquece o que não tiver perdão.

E o dia?
Não se adia
(como não se adiava quando tudo nos dividia).

Uma noite a menos, um dia a mais.
Um dia a menos, uma noite a mais.

Dorme.
Sonha.
Grava ou não grava?
(a terapia de férias...)
Agrava!

O coração doi à noite,
de dia distrai-se de bater.

Scarlett, meu filho!
Ah! Amanhã eu penso nisso.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

BANSHEES

Parece triste:
o mar tá lá,
mas a praia não existe.

Os barcos não têm velas.
As rodas estão paradas
(estragadas, deitadas).

E nada disso estanca
minha sangria desatada.

Nem mesmo essas pessoas
de ares tão honestos,
e no entanto vagarosas
vendo meu mal tão presto. 

Tivesse olhado mais rápido
e nada disso se via.
Mas a mal formada cena
agora é minha companhia.

E esse padre, 
rezando de costas e em latim?
Parece custar-lhe esforço,
mas nada disso é pra mim. 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

EM AQUÁRIO

Mercúrio em aquário
e quadro direto ao ponto. 
Aberta a temporada de descontos.

Nada de decoração de Natal.
O recado infenso à folia
dos enfeites de Carnaval.

Carro alegórico-só-carro
e adio a alegoria,
mas conservo alguma tristeza
e muito mais alegria.

(Como quando algo me pedia
que morresse e eu não morria.)

Apenas a arte de viver
o quanto se possa, até que se possa.
E colhendo sempre o progresso
de quem acertou nas apostas.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

SENTINELAS

Música é minha vida toda 
e eu não sei fazer. 

Este mesmo a quem minha mãe dizia:
"Você tem dois ouvidos e uma boca,
é melhor escutar".

Este mesmo a quem minha vó dizia:
"Você tem dois pés esquerdos",
porque eu nunca soube dançar.

Mas estou melhor que essa outra gente
que não sabe expressar um raciocínio,
ou desenvolver uma ideia que preste,
mas está sempre atenta a uma "Sinderela" com "s".

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

PLUTOCRACIA

Os "i" se pingam, sim.

Paulo Freire tem razão:
Não existe evasão escolar,
o que existe é expulsão.

Darcy Ribeiro ainda está certo:
a crise da educação no Brasil não é crise,
sempre foi projeto!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

...ou PEGA PRA CAPAR

Gosto do cheiro do que flora.
Gosto do cheiro da beterraba quando se corta.
Gosto de ouvir estourar a pipoca.

Gosto de ver explosões no mar
e sonhar que não há dano.
Mas não gosto de quem passa pano,
salvo se é da limpeza.

A vida é bonita mas abrutalhada
por muita gente-quase-nem.
Gente por culpa de quem
muita outra gente chora, pena e espera.

Gosto da ideia de que a Misericórdia Divina
é infinita;


é infinita mas não é cega!  

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

DO QUE SE PASSA

As minhas melhores fotos foram tiradas com amor.
As melhores fotos de mim também.

Felizmente, se o amor passa 
(tem gente que acha que o amor passa,
e o sorve pouco como quem sorve cachaça),
as fotos seguem lindas.

O meu sorriso não remenda o que rasgou.
Minha alegria não se esavai com quem se foi.
O voo que alcei ainda plana,
que eu de lá não me desabalei.

O carnaval ainda pula.
O show ainda soa.
A selva ainda deslumbra
e o mar é ainda tépido.

Nada muda se a lembrança é distante
ou se é de perto.
Eu antes de saber do perispírito 
já sabia que tudo me ficava.

Não!
Nada do que se dá, passa.
Nada do que se passa.
  

domingo, 5 de fevereiro de 2023

10:20 da manhã

Nado costas sonhadoramente
como o Sol no geocentrismo.
Vejo a imensidão do azul e a cruzo.

Por que o professor primário nos ensinou a rir disso?
Se olhavam para o céu e viam o Sol a cruzá-lo
que sistema seria mais atrativo?

O privilégio dessa imensa estrela (de quinta)
a nos voltar dia após dia numa espécie de fidelidade
deconhecida da Humanidade?

Mas o sol é o centro, Copérnico,
e é melhor sermos fiéis a nós mesmos.
É melhor transladarmos, por nós, ano após ano.

Ah, mas me agrada conduzir o carro, como Faetonte,
e trazer o dia sobre os horizontes.

Mas soou o alarme.
Uma chegada de peito e estamos liberados.
De peito aberto, como a vida deve terminar.

Mas conta outra!
Eu só estava mesmo contando azulejos.

E agora vou embora chocado com os que se gabam de saber
que o Sol é o centro do sistema portanto chamado solar,
mas se riem de haver muitas moradas na Casa do Pai.

Só há vida na Terrinha?
Giram humildemente em torno do sol,
mas, "com H maiúsculo e dourado" acham o que o Universo existe pra sua contemplação.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

PLAYLIST

Às vezes a vida soa.
E a vida às vezes caçoa.

A vida pode ser Elvis Presley cantando "My Way"
de forma mais sentida que Frank Sinatra.

Pode ser Cazuza cantando "O Mundo é um Moinho"
mais sinceramente que o próprio Cartola escreveu.

ou...

Pode ser Freddie Mercury rasgando "The Show must go on",
porque não se tem de parar porríssima nenhuma!

Piaf, Cássia Eller e mais explicativamente Bethânia
cantando "Je ne regrette rien".

Canta, vai! Há algo de escolha nisso.

Balayé les amours,avec leurs trémolos...
Je repars à zéro!




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ARMA QUENTE É UM ABRAÇO

John estava certo.
Era bruto, magoado, ressentido,
mas enxergava claramente as profundidades do amor.

E era hino do natal,
hino de uma nova era,
receita simplíssima de tudo o de que precisamos.

É fácil!


Não tem nada que você possa fazer
que não possa ser feito.
Não há nada que você possa cantar
que não possa ser cantado.

Todos aqueles lugares tiveram mesmo seus momentos,
com amores e amigos vivos na mente e no coração.

E quem disser outra coisa nunca os teve, nunca esteve.
Amores não morrem, mudam de vibração, de dimensão, de endereço.
Amores me fizeram um bem danado!
E um bem eu não esqueço, um bem eu não mato.

Um bem deve ser cultivado,
e é conforme à doutrina do Cristo.
E seguirei doador de abraços
(tudo abraço merecido!)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

CORDIAL

Quando minha mãe morreu,
muito nova para morrer mas não para ser avó,
não tinha netos e estava morta.

E eu só pensava na sorte da minha avó,
morta pouco antes,
que quase deu azar pior do que o da minha mãe
(que perdera a mãe)
e muito maior do que o meu
(que perder uma avó é supostamente bem mais natural...)

Então pensei: "Perdi minha avó. Perdi minha mãe.
O que pode ser tão pior? Só se perdesse um filho."
(o que me parecia quase impossível)

Mas doze anos são nada na vida do distraído,
e lá vieram as lapadas do tempo com seu poder demolidor.

Agora já perdi minha avó e minha mãe,
únicas as duas.
Perdi meu único filho,
e vários cachorros da família
(que já os teve 6 simultâneos).

Depois de tanto coração partido
já não conto tragédias para o tango.
Conto a vocês que tenho mais corações
do que um gato tem vidas em inglês.