quarta-feira, 15 de março de 2017

DISTRIBUTIVA (Edital)

A Pepa Mujica, o sóbrio.

Faz caridade!
Não é tarde!
Parece atrasar-te,
mas o que te adianta!...

Se almoço um pouco menos,
alguém ganha a chance da janta.
Não existe melhor maneira
de diminuir-me a pança.

Se compras um carro mais simples
(será preciso que tantos te olhem?!)

pode ser que descompliques
como outro se locomove.

Tudo o que desperdiçamos,
por preguiça ou vaidade,
pode ir a bom fogo se atiça
a chama santa da oportunidade.

Segundo disse o Senhor
ninguém vale pelo que tem.
Melhor valer pelo que sabe,
e nesse caso é melhor valer

por saber ser dado à fraternidade.

Todas as forças que conservas
por delas não seres doador,
podem ser forças de trevas
em que te internas como devedor.

Quem não tem dinheiro tem um abraço.

Quem não tem braços pode dar um sorriso.
E quem sorri (isso eu garanto!)
faz no mundo um mundo de amigos.

O poema é mesmo simples,
porque em simples intenção.
Espero que te seja um convite,
pois vai servir-me de inspiração. 


quarta-feira, 8 de março de 2017

MINHA MÃE (Uma mulher)



Minha mãe era tímida.
Ou era "tímida nada!"
Ou talvez, como se disse Clarice,
fosse de uma timidez arrojada.

Minha mãe ia adiante
(era em tudo muito adiantada).
Minha mãe, no susto do encontro,
enchia a timidez de palavras.

Minha mãe era cética,
não tinha a certeza de Jesus.
Talvez, naturalmente ética,
pudesse prescindir da cruz.

Não estava certa nem de Tiradentes,
que dirá de Sócrates!
Platão podia tê-lo inventado
(que filosófica sorte!)

Minha mãe era grande leitora,
obras pequenas e grandes.
Até a menor grande obra:
era leitora de homens.

Até de seu pequeno filho,
rebelado contra a lucidez.
Minha euforia, meu enfado,
tudo via com nitidez.

Minha mãe era Flor que se cheirasse,
flor de nos deixarmos entranhar.
Se não entranhasse o cigarro
o câncer não a ia apagar.

Mas fica o lindo exemplo
do bem-viver a bem.
Essa é a vida mais plena,
pouco importa vivida com quem!

Minha mãe é daqui e de Galápagos.
Da África, França, Ásia.
Só me cobre a esperança,
nunca me cobriu a mortalha.

Seja-se!
E será verdade!
Ainda bem que esse exemplo eu colhi,
antes que fosse tarde!