quarta-feira, 30 de setembro de 2015

CABO FRIO

Cabo Frio,
eu já me fio
em que tu também me amas!

Eu já amo a gaivota,
nas voltas que sempre adorei.
Se molho os pés ganho a costa
de um estrangeiro em que sempre fui rei.

200 milhas, 
não me humilhem!
Eu as desconhecerei.

"Tanto céu e mar num beijo azul"
que ouvira cantada e agora eu sei.
Cabo Frio, nem pelas costas
tu apostes que te esquecerei.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

PEDACINHO DE PAPEL

Que desfaçatez!
Ela disfarça a tez
de alva em clara.

(ou a disfarça em morena,
se há tempo de ir à praia)

E o marido tampando o umbigo
com o chapéu que não vem a nada,
disfarça-lhe a calva!

Que casal mais esquisito!
Devem ser de outro planeta,
e astronautas!

Queria invetar a estória,
mas deu-se o ocaso,
e falta pauta!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

SERVENTIAS

É descendo a escada que se torce o pé,
mas quem vive só de subidas?
Quem só deseja ascendências
desconhece a substância da vida.

Quem quer só sombra e água fresca
não sabe, acho, que empobrece
vivendo sem a vitamina
D, que o Sol lhe fornece.

E a falta que faz a água,
em rota de ebulição,
pra fazer a alegria do banho,
no frio, até que venha o roupão.

Quem quer viver sem chuva
duvido que se hidrata,
e talvez não se dê conta
de que a falta de água o mata!

A dualidade está instalada,
e, pra gente inconformada,
a velha porta da rua
ainda é a serventia da casa!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

EM TRÂNSITO

Ela diz "há lento",
e esse lento sou eu.
À lentidão sou propenso,
é como um fomento a minha duração.

Não vejo motivos pra pressa,
as peças serão as que estão.
Não vejo motivo pra pressa
nem preciso dela para a imperfeição.

Os dias também "correm lentos",
contraditória expressão,
como é também contraditório
este transitório coração.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DE RUA

Leio até me arderem os olhos
o livro do Pessoa que chora,
com os olhos ardidos de outrora
ter lido o livro de Cesário Verde.

Vê-se a quê vamos,
a que desvãos?
A que vamos,
se é vão?

O que há de belo no que chora?
A vida está toda lá fora,
livre de pautas e margens.

A vida está toda lá fora,
e não cabe em nossas imagens.

Nossos olhos tão ardidos
ficariam comovidos
vendo o Sol arder.

É dele que isso é próprio,
nós ardemos no vulgo.
Fecha o livro e ganha a rua

é a ordem que ora intuo!

sábado, 19 de setembro de 2015

MULTIPOLAR

Alegre, triste e poeta.
De Cupido, a flecha.
De Midas, o toque dourado.
De todo o sentimento do mundo

o pobre estou encarregado!

Não há natação que fornecesse
ombros de uma tal largura
que bastasse a suportar
tão estridente tessitura.

Teço o lamento de mulheres
esquecidas com seus terços,
rogando proteção celeste
pra cafajestes desde o berço.

Teço a alegria de homens
rodeados de mulheres,
sonhando rabos de saia
todas as tardes, sem férias.

Teço o festejo das crianças
vendo mudar a estação,
munidas de baldes e pás
para abençoar o verão.

Só a mim não abençoo,
a mim que me entoo
sempre que entoo um qualquer.

Mas sou feito e refeito de versos,
pode vir o que vier!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

CASA

Os dias passam
sem que eu sinta sua substância.
Não há rogativas,
não há instâncias.

Nada faz com que eu me esteja,
sou sobremesa sem refeição.
Sem cadeiras,
sem comensais.

Sento olhando as paredes,
os dias parecem banais.

Sonho o apelo do amor,
sua chamada bendita,
capaz de fazer florescer
a semente mais perdida.

Nada fica recôndito,
tudo o amor acessa.
Até se parece incômodo
que ele nada me peça.

(Ah! Benfazeja intromissão!)

Cupido,
sem cupidez!
As flechas necessárias à graça!

Amor, eu não sei onde andas,
mas eu habitarei tua casa!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O ANTIFUNES

Não fui o primeiro,
mas sou eu que porto seu cheiro,
daqui até não sei quando.

Não mergulharei no seu passado,
nunca me dei com escafandros,
que nem estariam em meu vocabulário ativo
se não fosse pelo Chico.

(não gosto do esporte...)


Mas pra mergulhar fico aflito,
se depende da sorte.
E não é que não tenha conhecido
situações de quase morte.

Mas eu tenho preferido as profundezas
em que a vida não se encobre.
Não me obrigo a saber a história
nem do mundo que habito há bem mais.

(Passados de amor se parecem,
quase nunca originais...)

Então vou do presente ao futuro,
o passado é escuro
e não há tempo a perder.

Se algo pede pesquisa
é algo obscuro,
que quero alijar do meu ser.

Limpo o convés, 
vou à proa,
só me preocupa o que vejo do mastro.

E é o trecho de mar logo à frente,
o que me pede o meu braço.
Não sou Funes, o memorioso,
só Borges podia pensá-lo.

Só registrarei o mais precioso:
o que me acontecer do teu lado.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

EXTRAVIO

Ela cansou das minhas luas,
das minhas ruas,
das minhas fases.

Cansou de eu ser de lua,
de eu ser de rua,
de sermos capazes.

Cansou de sermos brutos,
de sermos unos
e fazermos as pazes.

Cansou da minha lira,
das ressonâncias,
das aliterações.

Cansou!
Acabou a pilha, 
e sem reposições.

E fiquei feio,
fiquei feito
obra sem feitio.

Fiquei perdido,
fiquei distante,
fiquei extravio.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ESTADO

"Não interessa o que diz o ditado",
o que é ditado não me faz feliz.
Fico feliz soletrado,
e as letras são as de "aprendiz".

Não interessa o que diz editado,
o editado já não me condiz.
O editado é uma praça triste,
removidos os infantes e o chafariz.

Não interessa o precipitado,
embora acidentes os haja felizes.
Eu prefiro o meditado,
meu eu mais profundo é o que mais me diz.

Milongas, rocks, fados;
meu eu mais feliz
é meu eu reencontrado.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

UM ADULTO

Sorri e chora um adulto.
Ilumina-se-lhe a face.
Limpa os dutos.

O adulto é o reduto
do medo e da esperança.
Um adulto é uma criança!

Do berço ao sepulcro,
aceita o alegre tumulto.
A dúvida é de nós!

sábado, 5 de setembro de 2015

AMPLO SENTIDO

Às vezes,
por forço do muito carinho,
sou ser alado.

Às vezes sou descaminho,
festa sem convidados.

É quando melhor me ouço,

ecoado no imenso salão.
Quando sozinho exploro
meu despovoado coração.

Vejo sombras que remetem
a moças do passado além.
Canto escuro em que não canto,
porque cantar já não convém.

Bailo no embalo da modificação,
e nos amigos esbarro,
e o contato redunda em clarão.

Eles são os que não me vêm,
e não me vêm porque me estão.
E são os que não se veem,
como não se vê a canção.

Então os bendigo: Amém!
Era do amor a amplidão!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

MOLTO ALLEGRO

Quero viver molto allegro!
E vou avançando,
não emperro!

(Mesmo se há vida perra!)

A vida é compartida.
Há nela também o que fica
protegido da beleza.

Sim! 
Há o feio,
há o freio,
tudo no esteio do "não!"

Mas se vai ficar compartida,
partilha!
Repartição!

Divida a alegria e o choro.
É tão humano fazer coro!
Somos criaturas gregárias.

Às vezes quero ser ilha,
minha diferença me humilha,
e é difícil aceitá-la.

Mas sou diferente igual aos outros...
Então fico feliz de novo!
Esta vida é melhor enfeitada!