quarta-feira, 25 de abril de 2018

NÚMEROS

Queria parar o tempo,
estacionar nesta semana.
Colher antes meu quinto,
danem-se o quinto e a derrama.

1ª a 4ª não me dizem nada!
Eu quero a 5ª, a estrada!
Eu já folgo na véspera.
A quinta é dia de festa!

Queria voltar às três!
Não ser responsável por vocês!
Ou pelo menos sê-lo de verdade,
com selo de identidade.

À mentira: Já vai tarde!
À verdade: Muito prazer!
Faço muito gosto em te conhecer,
tarde antes que nunca!

A dúvida é uma espelunca
onde se vive mal demais,
num clima dos mais opressos,
sem direitos laborais.

É golpe!
Os tempos são tais!

A moeda foi atirada
sem torcida por cara ou coroa.
Agora é secar o pranto
e sentir que canção se entoa.

terça-feira, 24 de abril de 2018

LIMPO (Graças!)

É incrível por que mares vai minha escuna.
Gosto de sentir a espuma.
Gosto de regular a água.
Gosto de que seja abençoada,
e de evitar o desperdício.

Gosto desse como de qualquer serviço.
Como da própria nobreza de trabalhar.
Como da sutileza reciclável
de ver tudo se limpar.

Deixar atrás a sujeira.
Renovar o instrumental.
Internar em mim o bem,
renunciando sempre ao mal.

Não gaste mais que um momento
para entender o que digo, moça!
Falo de escolher bem o alimento
e ter prazer em lavar a louça.

É, visto de perto,
um momento de meditação.
Hora propícia a se conectarem
a cabeça e o coração.

Que benção a casa de se cuidar,
tanto o edifício quanto o corpo!
Se os tem dê graças já!
E engrosse comigo o bendito coro!

segunda-feira, 23 de abril de 2018

DO SOM

Não é bem isso,
mas tem disso.

ROLANDO BLUE

O amor me chegou embalado em vermelho.
Embalava-me o sono
o desassossego. 

Porque o quis dissecar,
pesquisar, compreender.
Eu quis acautelar-me na torre,
para que o que em si fosse mau
não me atingisse a fronte.

Mas qualquer castelo,
medieval ou mais moderno,
que decrete, à perpetuidade,
o levantamento da ponte
já não a tem levadiça mas enguiço.

(E quem quer isso?)

O amor se não flui não é.
A mente mente se rente não traz o coração.

Este a depura e nada salva,
que o cérebro é um labirinto.
Não é novo o que digo e não minto,
aceite a massagem sem palpitações.

É meu palpite.
É meu alvitre.
São minhas felicitações.

domingo, 22 de abril de 2018

EDIFÍCIO

Não descanso!
O ranço não me deixa.
Roça-me o ódio sórdido
dessa espécie de seita.

Pensam que não me atingem,
mas sou irmão do quanto se odeia.

Sou judeu.
Sou negro.
Sou mulher.
Sou gay.
Sou trans.
Sou palestino.

O que não me vem à face
revolve-me, intestino.
"Intestino"não sabem o que é.
Não sabem do que está dentro.

Não sabem, pois,
se nos odeiam,
sobre do que estão feitos.

São feitos do mesmo que nós.
São feitos do mesmo,
apenas em nós.
Nós de marinheiros que não sabem seu ofício.
Navegam no preconceito porque amar é-lhes difícil.

Mas não vamos odiá-los,
descartá-los,
olvidá-los.

Com as pedras que nos atiram
vamos edificá-los.
Melhorá-los para todos,
para todos nos habitarmos.

A Escola tá pronta,
o programa já foi dado.
Só falta nos aplicarmos à lição.

E se não querem lhes damos cola,
que cola de Amor é perfeição.

sábado, 21 de abril de 2018

SE-QUER-Ó

Acabaram-se os palpites!
Sou Dercy desde já!
E não vou esperar os 90,
tão distantes,
para o decretar.

Sou Rita Lee,
ainda se menos amado.
E não sou artista de vendas,
sequer me importa o mercado.

(Só o que há dentro de mim 
eu quero ver exportado.)

Eu quero saber de mim
e não sei como me meço.
Então vou sair ao jardim;
não preciso pedido expresso.

Olhar a casa de fora,
depois olhá-la de dentro.
Deitar-me à noite nas telhas
e apenas sentir o vento.

Vou ser o Snoopy nas pistas,
ou Charlie Brown, se me aprouver.
Ou serei Woodstock
e o chão nem verá os meus pés.

Santo se me recolho.
Louco se me analiso.
Médico se peço cura.
Poeta quando me inspiro.

Cabelos longos se quero,
ou anéis e colares.
Botas do Axl de 87,
ou outro qualquer badulaque.

Ou só uma flanela velha,
se apenas o frio me importa.
Não importa o que pensa a velha
que me espreita atrás da porta.

É tempo de liberdade
em todos os seus estados.
Sou floresta, não muda ou mudo.
Eu não caibo no seu vaso.

Às estrelas!
Ao Sol!
Ao Léu!
À vida, se quero,
se não, ao papel!

quinta-feira, 19 de abril de 2018

ESPATIFADO

No meu estar apaixonado
é vontade do estado o que há.
Não se transfere vivo
da sala de parto para a de estar.

Só para a de mal-estar,
que sinto cócegas próximas a dores.
Já sabia a canção popular
que esse é o destino dos amores.

Se bem me quer,
se mal me quer,
eu no fundo nada sei.

Nada sei do meu estado,
mas já previ, titulado,
como morrerei:
          !

quarta-feira, 18 de abril de 2018

EIS TUDO!

Sorri a morena,
lampejam os olhos da nega.
Seu calor me abrasa se assoma,
como se deitado na grelha.

Todo me desnaturo,
proteína, os átomos todos.
Como viver neste estado?
(E é só no que pensa o povo!)

Todos falam de amor,
e falham em esconder o que sentem.
É um troço de si clamoroso,
demorado ou de repente.

É a hora de uma verdade
que já nem devia causar impacto:
diante do amor, essa força,
mesmo o mais forte é frágil!

Duma fragilidade de indefeso,
que pensa gozar liberdade
estando em verdade bem preso!

Não que lhe dê sentença,
ou sua execução,
a criatura em que tanto pensa
e não lhe deu mais que a mão.

Mas é que o amor é o senhor do tempo,
senhor do humano e do espaço.
A tudo recobre em espalhafato,
mas infenso a qualquer estudo.

Já ia dizer que nos consome,
mas na verdade consome-se em tudo!

FLORA AFLORA

A vida não tem script.
Não um que se conheça.
Não um que se forneça.
Até o que o astrólogo diz...

Há que se ressalvar!
De repente ficou batucando
e se esqueceu de pensar,
de ouvir a letra.

(Um bom menino do Acre
há de ser do Rio Grande do Sul...)

Por isso gosto é de flores!
Voltaire estava certo.
Quando se cansou de disputas
voltou-se para as flores.

Estava certo em muito!
(a meu pouco quer parecer...)

Como pode haver o relógio
sem que haja o relojoeiro,
sem que o relojoeiro aja?

"As flores de plástico não morrem"
porque nunca viveram.
Onde quer que estejam
cá-ti-veiro.

Eu sou muito livre pra isso,
e não quero saber de banalidades!
Só quero flores de onde flores floresçam,
quero-as em cachos,
quero-as em que me encaixo.

Aneladas,quiçá!
Profusão!

"Eu gosto é do gasto",
mas do gasto de ar!
Tente poupá-lo pra ver!
Há de se arrebentar.

Eu quero de dentro afora,
de fora adentro.
Estou que não me aguento!

A professora só diz disparates.
Eu quero disparar-me ao jardim.
Vestido solto,
boca carmim.
Moça-só-sorriso.

Senhor, de nada preciso,
mas de viver o que se apresenta.
Vivo à corda do relógio Vosso.
Faço sempre o melhor que posso,
na corda-há-bamba.

Eit'hora de ser feliz!
Flora aflora,
pletora da flor que me quis!

domingo, 15 de abril de 2018

D'ESTRELAS

Mulher de Compostela,
quando me choveu essa Luz?
O céu é um campo minado
de cujo brilho jamais dispus.

Esperando um sinal preciso
de que fosse tempo de me acender.
Vejo agora cinco pontas
me avisando de você.

As paralelas se acompanham
até se cruzarem no infinito.
Em Recife, em Beagá,
ou mesmo sítio mais bonito.

Onde se possa plantar,
quer seja Clarice ou Tom.
Quando for tempo de me limpar
dos obstáculos pr'esse dom.

O amor é uma aposta
com que nada jamais se perde.
Você não saiu de minhas costas
mas é uma bênção que não se mede.

Portal daqui pra lá.
"lá" sendo o futuro.
O tempo de realizar
que sou melhor se a si me misturo.

Então sejamos a fonte
de se mudarem as frequências.
Confio no filho do Homem,
e sejam bem-vindas as intercorrências.

MANHÃ DE DOMINGO (Azáfama)

Azáfama?
Asa fama?
O que importa o assento
pra quem vai é deitar na cama?

Saio do banho em atropelo
pra grafar o que Alceu inspira.
Anuncia-o a um nu em pelo
que mal sabe o que anuncia.

Mas suspiro de anjo a gente ouve.
A palavras angélicas damos guarida.
Porque sabe quem quer instruir-se
de onde lhe vem o mapa da vida.

Aceita a dica do cartógrafo,
mas não faça dela profissão de fé.
Pois ele falou bem do alto
do que é melhor visto a pé.

Toda ajuda é bom recurso,
se de ajuda de fato se trata.
A melhor é a que vem do pulso,
que tanto bate quando fala.

Fica com Deus, meu amigo!
Mora o Alto em você.
Trate-se com carinho.
Muito bom dia e namastê!

sábado, 14 de abril de 2018

ÍGNEO

Preocupada com o peso?
Só me pesa o desejo.
Rebola no meu pau
milhões de calorias, cal.

Tudo o mais perfeito caos,
da desordem do bom.
Quem precisa de edredon
para noites assim?

Edredon nem mais pro fim,
que brincadeira assim não acaba.
No máximo a intervala
a infância que nos vem com brincadeiras outras.

Quer saber de uma coisa?!
Conservo o o talento de ser feliz à toa!
Mesmo nosso à toa sendo-nos tanto.
Infinito nosso canto,
e a alegria o cantar de nós.

Coragem para a descoberta
do que pede a curiosidade.
Do que está diante de nós
e do que bem mais tarde.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

EM POSIÇÃO

De que me vale a madrugada
senão para o canto?
De que me vale agitar-me tanto,
a tantos?

A paz faz-se convulsa
por estes cantos.
A paz que não espera tanto,
derrama-se caudalosa pelos nortes todos da bússola.

A paz vai de Marte à Rússia,
tudo tão beligerante!
Tudo pelo sabor inédito do instante

(e ainda assim tudo com'era antes?)

Separaram-se Céu e Terra?
Não o enxergo!
Talvez por eu ser cego
(e por ser nisso confesso)

Mas de um vê-se o outro 
o tempo todo.
Não se vê mesmo outra coisa.

Um desejo que se impõe não é escolha!
E a imposição mata a coisa toda.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

VERDAZUIS

Dias verdazuis na orla paraibana.
Pacíficos.
Limpos.
Lindos.

Uma paz que não se pode desejar,
que desejar tenciona.
Uma paz em que só se pode fluir,
intuir facetas bacanas.
Uma paz que dá mais que rock,
mais que samba.

Uma paz que é bamba,
bamba de tão descansada.
Uma paz que não pode ser transportada,
mas me transporta, transforma,
vai-me dentro.

Uma paz que é meu fermento,
me quer crescente, crescido.
Uma paz que jamais se ofende,
quer-me ver esquecido de tudo que me caça,
tudo que me cassaria a paz,
tudo que não me compraz.

Paz, 
moro-me nocê,
vou-me dentro.

Este é o melhor momento,
todo momento é este
e é paz!
Paz, rapaz!


Cabo Branco, 18/3/18.

terça-feira, 10 de abril de 2018

CINEMA (da Augusta)

Gosto do escuro do cinema,
em que salta a projeção.
Em que me assalta o sono
se após a refeição.

Gosto da luz do cinema,
em que protegido me projeto.
E abandono-me a mim
como se no deserto.

Gosto da penumbra do cinema,
em que o pensamento inconfuso
me estiola da lucidez
da fantasia que me infundo.

Gosto do silêncio do cinema,
da falta do grito do teatro.
Eu o abandono à tensão
e você o premia com o tato.

Gosto do conjunto do cinema,
de ser 'réalisateur'.
De dirigir-nos prali
sempre que se puder.



São Paulo, 8/4/2018.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

NAS NUVENS

Como quando criança,
procuro formas nas nuvens.
Procuro formas na Lua
e procuro formas de,
na rua, não me deformar.

Molda-me o Tempo.
Moldam-me circunstâncias
e moldam-me, um pouco, instâncias
de meus colegas detentos.

Mas o que quero é livramento
de tanta conformação.
Eu quero achar o sustento
na minha recordação.

Tudo já estava na criança
pedindo burilamento
que se confunde com o que,
no tempo,
quer me descaracterizar.

E olha que, sim, me mudo.
Me mudo do que me fere,
mas não me calo,
que quem me cala não consegue
ouvir o que quer-se confessar.

Não me confundo com distração,
refundo-me na convicção
de que atrelado ao melhor de nós
vou deste para o melhor.

O melhor que me é dado ser.
E como o futuro é na União, 
conto muito com vocês.

Abraço.
Regaço.
Concurso.

Tudo fica mais fácil 
se todo mundo quer junto.

domingo, 1 de abril de 2018

DIFERENTES (Esperança)

Aceita, menino!
As pessoas são diferentes.
Umas, de tão diferentes,
são já outras e coisa.

Não é motivo pra que se recolha.
Vá a embarcação em seu garbo,
com as bandeiras hasteadas,
a dona do mar.

O mar escolhe quem vai abençoar.
O mar não o singram sem os deixar.
A deriva é uma possibilidade
das muitas que podem assomar.

Permita-se, garoto!
É o mar a te chamar!
Foi lindo o tempo do rio,
mas é o do rio dar no mar.

Não te espante a espuma.
Não te espante o marulho.
Firme, que é firme a escuna.
Não naufrague em águas de orgulho.

Alterne procela e bonanças,
e rogue a benção dos céus.
Aprenda a ter esperança,
e nunca estará ao léu.


10/12/2017