sábado, 29 de dezembro de 2012

CÊ MENTE



Diz-me semente de mim,
mas sinto-me completo assim.
Onde há alguém que aquilate
que já este coração bate
suficiências?

Bate e se debate com ingerências,
mas do coração não há ciência.
Pobres cardiologistas
sobre os nossos debruçados!
Não conhecem as guerras,
as santas, os cruzados!

Não fujo combates,
não temo abates,
sou um coração.
E bate!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

INCLINAÇÃO



Coragem para debater-se
com as agruras da noite escura
sem deter-se nessa espécie de tintura.

Pintar-se do verde da esperança;
vestir-se dessa cor, a das crianças.
Saber sonhar o mais que não se tem
sem fazer-se do desejo refém.

A questão se resolve pelo foco
e resolvo até o problema que não toco.
Tomar a senda clara da luz
"difusa, confusa explicação".

(É que há o que se sente,
como nos inclinamos, e que não
pode padecer explicações...)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Ocaso


Gosto do ocaso e acaso
não me despertam amanheceres.

O que fazer se me vestiu
o dia desses afazeres?

Não faço mistério do mister:
entender-me é profissão de fé
(Que só comungue comigo

quem de verdade quiser!)

Perigoso transe no trânsito
e meu Português faz-se sânscrito...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Inacabado

Eu bem que lhes disse
que o mundo não se acabava
sem que eu os revisse!

Há ainda muito "aaaaaah!"
E quem a estar vivo resiste?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

BATO-ME (AÇOITE)




No meio da noite
o açoite
de uma vontade de não ser.

Mas como obtê-lo
por meio
diferente de morrer?

A não ter nascido
não me arrisco;
não, não o posso obter!

Então me bato com o
mundo arisco,
e de dobrá-lo
vou viver!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

INTERAÇÃO





As palavaras,
minhas estrelas,
são a interação mais bela!

Pois vejo,
ao escrevê-las:
fazem de mim
o que eu delas!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Partícula(r)


Movemo-nos num mundo em que há sombras, 
procurando as frestas de luz. 

E as há, azar para o que em nós só quer planger! 
Por que não se implantar o novo se não há bem em remoer? 

Luz!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

À Deriva



O que sinto é que neste mundo não fiz nada às escâncaras, e que se cansam sem que me alcancem. E sou, na melhor das hipóteses, uvas postas no alto; na pior, passas.

E dos que passam guardo a ternura que lhes nutri, ainda nutro talvez, por mais que os dias sejam tais que não nos possam ver juntos.

Junto então ao meu o seu quinhão e somos já coisas diversas. E quem precisa de unidade?! Cada um se vale das medidas de que se pode valer (por que mais se vale...), e o metro não ultrapassa a condição de mera convenção. A muitos não lhes basta, é pra outros excessivo, e os ultrapassa. E vamos todos aos derivados.

Uns derivados, nós todos!

sábado, 4 de agosto de 2012

Tinteiro



                                                                                                                        É preciso estar atento e forte.
                                                                                                                       Não temos tempo  de temer a morte.
Não há tempo
de fingir-se a  vida.
O perigo assoma e
nos arromba; ferida.


Baldado o esforço
de proteger-se;
os caminhos se cruzando,
é perder-se!


Sei do conforto de casa,
como sei!
Mas mais cresce (é da Lei!)
o que à estrada se larga!


Não se tema a solidão,
se for a condição andar sozinho.
Seguir picada pronta é vão!
Dê-se asas! Ao caminho!


A vida me suja,
me lanço ao chuveiro.
A tinta recolho,
alimento o tinteiro.


Corpo e alma limpos,
mergulho-lhe a pena.
E a alma, vertida,
só assim se faz plena.




(147)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Orquestra do Acaso


Meu doce é tempo de cama,
que amanhã é temprana a labuta!
E d'agosto o projeto  perfeito
do teu filho; não fujo à luta!


Meu filho 'inda me ouve dizer,
quando estiver de mim chateado,
e lhe direi com oportuno prazer:
Foste o acidente mais buscado!


Acidente (quem não sabe?!)
de relevo,e te concebo para a liberdade.
Não te projeto (como tantos) para espelho,
nem te protejo, dura ou doce,
da verdade.




(150)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Corte



Acho muito duras
as pessoas duras.
(Compostura!)


Acho muito fortes
as pessoas fortes.
(Porte!)


E quanto duro
sem medo da morte,
mas medo da faca,
sangrando do corte?




(43)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Um Bonde Chamado Desejo II (Pra quê os trilhos se não passa o trem?)

                                                                                                               
                                                                                                              Cabe pois num vagão
                                                                                                              toda a nossa viagem.
                                                                                                             Mas é cinza e carvão
                                                                                                             amor, e sua imagem.


E me perco,
como atrasado no bonde,
e nem há, à vista,
janelas que almejar.


Mas a vista se derrama
porque a rua é já ali.
E o que desejo se esconde
para não o alcançar (descobrir?).


Atônito, desejo no bonde.
E os que nele me veem
"Faz por onde!"
Mas por onde, mãe?


Ferros via...






                                                                                                                                          Eis que range nos trilhos
                                                                                                                                         uma forma de adeus.
                                                                                                                                        Os cuidados são filhos
                                                                                                                                        da tristeza de um deus.




(20)

domingo, 29 de julho de 2012

Raízes ao Ar (cancerianas)


                                                Eu olho o mundo da janela
                                                Eu vejo o filme além da tela
                                                Os dias passam como por encanto




Pouco me inspira tanto
quanto o desfile desajeitado
de uma mãe inciante.
Vem de alimentar o mundo,
e tenta alimentar o infante.


Esqueço-me a olhar da janela
sem coragem de descer a um tal pátio.
É que isso reclama concurso,
e obtê-lo mata-me de enfado!


Mas já não sendo eu mesmo criança,
convinha, talvez, engendrá-las;
ou importá-las, quiçá, que me bridem
bagunça na minha sala.


É, eu já não sendo criança,
impõe-se-me produzi-las,
que vida que supera a infância
fica da vida esquecida.


= : )




(148)

sábado, 28 de julho de 2012

Copas Subterrâneas


Queria folga.
Preciso inspiração.
Mas o trabalho assoma,
inundação.


Sei! Eu sei, Minas,
Beagá é o lugar!
Mas, ossos do ofício,
tenho andado Sabará.


Tudo cheira a mofo.
O gatilho soçobra.
Só sombra de alvoroço.
Liberdade 'inda demora.


Igrejas esquecidas,
arrefecido turismo.
Fé esmaecida, 
presente sem futurismo.


Aqui tudo é pretérito,
apetite esquálido.
Na maternidade não se dá à luz.


O vento não infla.
A pluma não apruma.
Lugar em que só se plantam
tumbas.


Fogo fátuo.
Falta de ar.
Raízes sem terra:
Sabará!




(146)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Spieler



                                                                                                                                     Wie Kinder waren wir
                                                                                                                                     Spieler
                                                                                                                                    Nacht für Nacht


Wenn Sie nur wollte!
Mas ela não volta!
Miséria porca
a vida em só um


Por que mo deste?
Era vidro e se quebrou!
Agora sem cenas de ação,
sozinho no filme de amor.


Fiquei João sem Maria
Pássaro verde, cadê Alegria?!
Ficou imenso o quadrinho
sem pão marcando o caminho.


Agora eu era o rei,
era bedel e era também juiz.
Desordem no reino,
bagunça na sala,
do crime infeliz,
tudo fui eu que me fiz!




(144)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

É o posto!



Faço o que posso!
A vida? Adoço!
A porta? Não forço!
Convite? Me coço!


Nada disso está mal, 
está mais pra natural.
Mas, se lembra?:
Sou humilde poço;
nada de muito alvoroço!


Nada mais conforme à ordem.
É procedimento escorreito:
não seco os dias que chovem,
nem o nascido torto endireito.


Tanto ele cuida sua rota!
Paga, poeta, o preço da aposta!


(143)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Apenado



Ai, Carlos!
Ai, Drummond!
Se ao menos eu te seguisse a lição,
e pelo caminho deixasse
os versos que ali vão,
sem volição ou remissão!


Que mania a de salvador!
Que atração pelo caído!
É que serve à expressão da dor
o verso (como o poeta) combalido!


E se não os posso harmonizar,
não penetrasse o reino das palavras!
E deixasse estar em dicionário
o que, extraído, não me extirpa 
o "solitário".


Mas a pena, parece,
foi-me imposta.
E não parecer haver juiz que possa
dar indulto, perdão, alforria;
ou prestidigitador que mova
a dor em alegria.


O que aceito é minha condição.
E, executada, nem me dou à escansão.
Não conto versos
ou metrifico o que desponta, 
que torturados não se prestam contas!




(56)

domingo, 22 de julho de 2012

Em quê estão?


O amor tanto se disfarça,
ou, cego, não o vejo?
Escondendo-se maltrata, 
ou, covarde, não percebo?


Quiçá é passado há muito,
desde quando "ainda é cedo!".
E que hora é-lhe ajustada?
Hora séria ou de recreio?


Hora que ora, oração?
Ou hora pagã, libação? 
Perdeste a hora Isolda, Tristão!
Te deixaste Hamlet, caveira não mão,
indagando ao amor, cego e surdo,
extemporânea questão!


O amor nasce pronto!
Não há intentá-lo,
não há meditá-lo, editá-lo,
conformá-lo!


Conforme-se!




(141)

De Novo-Velho Francisco



Já tive mina de prata.
Libertei jazida que jazia.
Mas nunca vi,
isso ao Chico dizia,
mina de menina de ouro!


E se eu for deputado,
já tudo se acabou!


Que alforria na Loucura!
Veio e me levou...






(45)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Campos Abranjo


Não há como, na vida,
aproveitar as cabeçadas de outros,
que me vão passando seus chapéus?


Se também minhas cabeçadas,
humildemente e contanto que queiram,
vão servir a outros, e talvez até
melhor pro que de nada serve!?


Vévi, dotô,
a dor na pele!
E escreve o de chorar ou de rir!


O campônio,
não leia ainda o que escreves,
vale-lhe, ainda é-lhe graça,
haja sensíveis!


E que errem!






(58)

sábado, 14 de julho de 2012

Zanzão



Dizem-me "coração inconstante"
Mas eu não concebo essa razão!
Do contrário como haver tanto sangue
Percorrendo tanta extensão?!


Sangue que a tudo dilata
Sangue bom que aquilata
A força desta pulsação!


E se pulsa sempre um instante
A que seguem de perto outros tantos
Sempre é vital!
Nunca exangue!


É vital que, pois, não se zangue
Se com tanta pulsação eu me zanze
Por aqui, agora
E lá depois!



(119)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

In verso


Já me é tão difícil
A esta altura
Quando da escrita me inverso!


Como me dói!
E dói-me a fundo!


Ter de avaliar o verso...

domingo, 8 de julho de 2012

Cronoterapia



                                                                                                What is this thing that builds our dreams
                                                                                                yet slips away from us?"

Tudo que já vivi,
tudo isso me forma.
E o que quero acontecido,
que me importa se demora?!

A vida não se derrama

toda em uma só hora.
Já o disse em outro ensejo:
É perpétua senhora!


Tudo que já passei,
trago 'inda vivo em mim.
Então também o que passarei,
suspeito que seja assim!


O tempo, passado, futuro;
O tempo, claro, escuro;
só existe no presente,
que é quando a ele me curvo!
Que é quando dele me turvo,
dele me curo,
nele me apuro!


Tudo posso nele,
que me fortalece!


E que bom que seja assim!
Descoberto isso tudo, há tempo!
Estou contente de mim!

sábado, 7 de julho de 2012

Há Deus, Dúvida!



É, se em dúvida,
O que mais existe!
Sem esforço.
Sem alarde.


Sobrevindo o pior, Sua sapiência.
Supervindo o melhor, Sua bondade.


Queria prostrar-me,
Ao invés de apostar
Em que nade!


Mas tudam-me dúvidas,
E toldam-me a alma,
Que arde!


Mas há Mozart e sua arte e
De Beethoven e outros provêm
Encantos tais e tantos,
Que sou levado, inflamado,
A postular o sobre-humano!


Em que Da Vinci soubesse tanto,
Em que Chico se comunicasse,
Há, superposta à razão,
Expressão de outra parte.


Mas se tampouco me conheço.
Se me vejo tão ínfimo.
Aceito que haja O Senhor;
É o mínimo!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Palavra! (Ok, nevermind!)


Todos pensamos palavras
Ideias não têm outro esteio
Mas tenho em conta que é mais corrente
Pensarem bem mais em dinheiro!


Por que por dinheiro labuto
Se de palavras me  nutro?
Se facilmente percebo
Que lhes dou melhor emprego?


Nunca financiei, estou certo
A felicidade alheia
Mas por palavras prefiro
Que haja quem me bem-queira!


É com palavras que invisto
Contra alguma tristeza
E com elas travisto
O que deparo de beleza!


São palavras que mais rendem
Se com palavras as rendo!
Mesmo se (tenho notado)
Às vezes me arrependo...

As palavras são lucro certo!

Capitais pro coração!
E com elas dou-me ao sestro

De crescê-las em orações!


Palavras, frases, parágrafos!
Textos, coletâneas!
Tanta letra misturando
Minha vida em miscelânea!


Palavra que me detenho!
Palavra que o tempo urge!
E que não desperdiço seu tempo
Palavreando o que me aturde!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Pórtico

          


                                                                                                               Inesquecível o passado, o ranço
                                                                                                               Que mudanças? Como me avanço?


Pra que esperar a hora da morte
Tão banais quanto já fomos
Tão banais quanto dá foram
Tão banal quando já forros?


Quanto a isso serás só pó!
Se a isso te deixas, só
A pisar diligente o passo impresso


A impressão que te dou
Te confirmo
Sou confesso:
Não sei pra onde vou!


Só sei que sou
E que me gastarei
Com me tornar o que não sei
Mas é que sinto!

Mas não há tristeza

Ainda Inês morta!


Não com saber-te aí
E que te importas!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Balada do 404


                                           Ao que subjaz


Sabes quando falo
Sabes quando cozinho
Sabes quando me calo
Sabes porque me avizinho!


Sabes o que banho
Sabes o que limo
Sabes que não durmo
Ouves quando rimo!


Sabes que festejo
Sabes se lamento
Sabes perder a chance
De escutar o vento!


Sabes se sobem a mim
Sabes quando há carinho
E adivinhas se dos mais soltos
Pelas garrafas de vinho!


Sabes se sempre a mesma
Sabes se me vario
Sabes, mas sem certeza
Que vivo do desvario!


Sabes que saio à trabalho
Sabes que não o faço tanto
Porque bem melhor me ocupo
Com estudar esperanto!


Sabe?! Que te inspire!
O que faço, do que me espanto!
E faço trégua no condomínio
Com só reclamar neste canto!


Sobre vizinhos veja também:




sábado, 30 de junho de 2012

Tremeluz


                                               Ao que vai chegar


E um filho é um desafio!
E não sei por onde o desfio
No emaranhado em que estou
Eu, que nem me organizo!


Mas um filho num mundo impreciso!
E que me leve, certo, a precisar!
E precisar não quero! Isso já digo!
Deus me leve longe esse pesar!


Mas sinto em mim uma alegria contida
Capaz de por a termo muitos "ais"
E que, sinto, só será vertida
Por sobre quem me possa chamar pai!


Mas pra ver tremeluzir essa estrela
Que, frágil, me demandará certezas
( num mundo tão carente de beleza)
É preciso ter bem boa quem me acuda
Ao transmudar em alegrias as tristezas!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

"Sic" Atrizes


                                                                                                                             "E as crises e cicatrizes
                                                                                                                             Não 'as' deixam ir além"

Não sabem o que são
Não sabem a que vão
Não sabem o quão...


Dão-se, então
Ao papel que têm à mão
Não carece de fomento
Nem de solicitação
É caminho pronto e vão!


E vão, vão, vão...


E tardam
E calam
E cala fundo na alma do que estou
Em marcas que não se veem
Marcas que
Pra se terem...


Sick atrizes.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Liceu





                                                  As janelas quadradas... não quero nem deixo que me enquadrem, prendendo     meus olhos em um quadro tão limitado! Quero viver segundo aquilo em que acredito, quero tentar ver mais do que o quadro apresentado, mesmo que incomode alguns.


                                                                                                                                                       Para Alice
Alice!
Peraltice! 
Quem foi que te disse
Pra avançares mais que eu?
Não podes, visse!
(Não pode! Entendeu?)


Vive ainda dez anos
Confusos
Soturnos
De breu!


Minto!
Não é o que sinto!
E que bom que me omito
Quanto ao mito do que enfrentarias.

Mas deixa lá
Que já vai tarde
A "gente careta e covarde"!

Sou velho liceu de Alice
Alice "Li seu" de mim

Te cuida.
Te escuta.
Sê feliz!

A  vida, Alice
'É por um triz!'