quarta-feira, 29 de julho de 2015

UMA LUZ

Eu às vezes chovo e não molho.
Às vezes chovo meteoros
sobre a sua superfície pálida.

Chovo generoso.
Chovo por sua graça,
praça sem contentamento.

Torno a dizer:
não há tormento.
É uma incandescência.

Às vezes é preciso
iluminar sua ciência,
mas é preciso olhos de ver.

Olhos, traga-os abertos.
Olhos, para estar desperto,
é "luz, muito prazer!"

terça-feira, 28 de julho de 2015

CHOVO

Dia em que a vida não deslancha.
Sinto-me andando na prancha.
E que capitão fará o gancho
disso a algum entendimento?

Era apenas um dia chuvoso,

não era meu nenhum tormento.

domingo, 26 de julho de 2015

PEÇA

Disse-me a moça apenas
que eu era uma "peça rara!".
E disse-o mesmo sorrindo,
direto à minha cara.

E se assim fez me parece
que a coisa fosse um elogio,
porque ofensas não se tecem
tão livremente, ou é desvario!

E tampouco tenho a impressão
de que alguém aspirasse a ser comum.
Pra isso não é preciso intento,
é o natural talento de qualquer um.

Então não vou gastar com isso
as minhas horas meditabundas.
Se o encaro como elogio
a felicidade abunda.

E quem escolheria outra coisa?
A amizade é o que nos apruma!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

CADEIA

Sinto, às vezes,
que o amor é tanto,
tanto que me rompo.

Rompo-me e me espalho.
E acho que assim, entoado,
dou abrigo, agasalho.

Porque o amor é mais forte
quanto mais gente atinja.
É cadeia obrigatória,
e o pouco que se sabe se ensina.

Aproximemos então as carteiras,
e formemos turma de classe.
Classe só de estudantes
que fazem felizes sua parte.

Todos a nada reservando,
partilhando seu quinhão.
E que a todos vá contagiando
essa mesma inspiração.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

AMIGO

Eu te quero comigo.
Eu te quero de mim.
Eu te quero meu

sol que sempre brilhou
o céu que assim se acendeu.
Nada teria sentido
sem um sorriso teu.

Eu te quero o carinho,
eu te quero justinho
esse que Deus concebeu.

Amigo, fique tranquilo,
até no escuro está claro:
sou teu!

sábado, 18 de julho de 2015

DO POVO

Se livre me quedo
até me caio.
Melhor eu não me saio!

Se a queda é livre,
o melhor é cair.
E se aqui se oprime
caio fora daqui!

Porque há terras outras,
terras tantas,
terras sem guerras santas!

Os que nos querem apagar
cobram caro:
elegem seus Bolsonaros.

Era a liberdade o que se perseguia,
a que agora arde
e já era antes tardia.

E nos lançam à cara
argumentos exangues
para tirar nosso sangue!

E até querem ajuda,
e a chamam "tributo",
mas aos que querem ser livres:
sepulcro!

Apegados ao gesso
em tudo veem fratura,
mas o que não entendo
é o que assim se fatura!

E disfarçam seu pleito
sob o nome de "cura",
mas o Brasil não tem jeito:
é mistura!

(E rejeita essa ditadura!)

Daqui eu não saio.
Daqui não me movo.
O Brasil é de todo o povo!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

OUTRO AVAL

Pra que tanto dedo em riste?
De que se acusam? Que triste!
Onde a tal fraternidade?
Isso é o desconforto do mundo.

E acho que passamos da idade!

De serenar, de acabar
com as guerras e todo o furor
belicoso, beligerante.
De delirante só quero o amor!

É melhor, da tal carnificina,
tirar a sina, que é seu mal,
e dar-lhe novo sufixo
e ficarmos fixos no carnaval.

Porque não briga quem celebra,
ou pelo menos o penso em meu canto.
E acabou falar de problemas,
falemos de novo o esperanto!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

VIDA BREVE

Meu querido amigo,
sei que a vida nem sempre é boa, 
mas é preciso investir no talento
de ser feliz à toa!


Porque a tristeza, às vezes,
parece ao triste um estardalhaço:
tem-lhe o dedo na cara e em riste,
e ele nada mais vê no palhaço.

Mas o palhaço bem nos representa,
que é uma figura híbrida:
tristeza lhe ocupa trinta por cento,
setenta por cento, a alegria!

Mas como a vida se boa é breve,
e se triste nos parece comprida,
é melhor a vivermos leves,
que é a forma melhor de cumpri-la.

sábado, 11 de julho de 2015

DOURADA ESTAÇÃO

Os amores são dores,
nos seus estertores.
São-nas também no início,
quando induzem ao vício.

E os que amam são compositores
que não sabem que som vão compor.
Mas é certo que é música sacra,
sacra sem tirar nem por.

Tudo que o amor toca
é sabido que vira ouro, 
ainda que pareça ao tocado
tratar-se de ouro de tolo.

Tolo mesmo é o que nada compôs,
relegando a vida ao depois.
O tempo passa, não há remédio.
E o amor não nos mata, mas ao tédio.

Em que vida sem amor há festa?
Festa é feliz perturbação.
E se quer dançar, dê-se pressa:
a vida corre, estação em estação.

Só amando vive-se à beça.
Todo outro caminho é vão.


Santa Inês, 2014.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

CAMPO ESTELAR

Dei a cara a tapa,
na esperança de afagos.
Veio-me à intensidade da força:
eu sou um soldado raso!

Vejo faltar no mundo carinho,
o que me deixa preocupado.
E me deixa com vontade
de ser um ser alado.

Ou de ser franco ao seu lado,
pessoa francamente boa,
que só vê em eu ter errado
motivos para rir à toa.

Cato estrelas do chão
e apontam para minha mão.
E não me desapontam nunca,
e a isso não chamo ilusão.

A isso chamo a vontade
de uma vida melhor e a bem.
E você, que está ao meu lado,
está na senda luminosa também.

terça-feira, 7 de julho de 2015

VOO (A mando do coração)

O amor está em nós,
desatemo-lo!
Desatemos em pleno voo,
em pleno plano terreno.

E dizem que há perigo,
mas eu outra coisa digo:
Quem é que alça voo
já pensando em cair?

(E se for morrer de amor,
morro antes de rir!)

E abelha criando mel
melhor criou se criou voando.
E só pode afirmar que viveu
os que vivemos amando.

A mando do coração,
o benfazejo tirano!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

UNIVERSINHO

Não sei como você vai,
mas quero saber como vem.
E quero a notícia expressa
de que nada a detém.

Ao coração, que muito apanha,
quero fazer saber
que mesmo se é coisa estranha
o seu nicho é bater!

Do seu habitat já não falo,
é um mistério profundo!
Já se testaram tantos espaços
que talvez não seja no mundo!

Mas há de ser no universo,
que é coisa maior e mais bonita!
E também me serve o menor
universo que te habita!

CEGAR E SEGUIR

Vamos indo.

Se o visual é belo,
e os viajantes serenos,
não há porque nos preocuparmos
com tamanhos de terrenos.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

DE REPENTE

Enquanto você emoldura
as palavras alheias,
eu vou escrever dúzia e meia.

Não serão tão boas,
nem talvez tão claras,
mas terão muito a minha cara.

Talvez seja só vaidade
querer escrever-se.
Não vai ser vendido,
nem ver-se.

Mas se as coisas me ocorrem
e lhes presto atenção,
e caneta e papel estão a mão...

Por que não lhes dar tinta?
Ver o que pintam?
Talvez depois, lidas,
me sirvam!

Talvez iluminem 
o que me vai dentro.
Dando cores a um quadro
cinzento.

E se as cores que levo
também as levam outros,
talvez sirvam até
mais um pouco!

Mas o que estou dizendo?
Servir a outra gente?
E ficam as minhas alheias
assim, de repente!


Santa Inês, 2014