domingo, 31 de março de 2024

FLORAÇÃO

Enquanto a ilusão é possível,
desfrute-a.
Na frutescência da desilusão.

Elas se encontrarão brevemente,
e se despedirão.
A sentidos opostos, da mesma direção.

Nesse momento, tenha coragem.
Acene a ambas com cortesia,
e as despeça igualmente.

Há tempo para que outras frutas se apresentem.
Há estações, constantemente.
O trem que se vai... nem tente.

Essa linha não se fez para pés,
fez-se para o ferro.
Você que, de carne, em carne se sutenta,
aguenta!
 

sexta-feira, 29 de março de 2024

terça-feira, 26 de março de 2024

CLÁUSULA PÉTREA

Sim! Para frente é que se anda,
"para a praça, ver a banda passar".
Mas os seus erros passam recibo.

Ou assinam nota promissória,
um qualquer compromisso.
Vozes não são tortura, não são loucura.
Talvez vozes sejam procura.

Onde estão, de onde vêm?
Já estão, quando as ouço,
tão caladas quanto apagadas
as estrelas que vejo?

Nada tem volta, não tem jeito!
A lei de destruição é do arcabouço perfeito.

(Como também a do recomeço...) 

sábado, 23 de março de 2024

SAL

Choro, não mostro.
Lá fora não cai água alguma.
Cá dentro a chuva inunda.

O Sol recusa seu calor,
e as estrelas maiores tão distantes. 

Sozinhos um e antes.

quarta-feira, 20 de março de 2024

SE DOA (edit)

Não puxo muito o fio.
Respeito o tempo do novelo,
mas confesso que gosto de vê-lo
desfiar-se em lentidão.

(Novelo não desfia à toa,
ele se doa à confecção) 

segunda-feira, 18 de março de 2024

MA NON TROPPO

Jogos tortos,
pódios inúteis.
Como lhe são importantes
as coisas fúteis.

E quando pensa em si mesmo,
vê apenas o corpo.
Depois me perguntam como
me tornei misantropo.


domingo, 17 de março de 2024

DO CANTO

Canções de amor podem ser absurdas,
como o erro de um iluminador que foca a porção vazia do palco.
Como procurar a fala depois dos dois pontos e do travessão e só haver espaço.
Ou se perguntar que ponto final de fato encerra o assunto.

Canções de amor deviam ser proibidas na madrugada,
quando me sinto defunto.
Quando o corpo está desalmado e o espírito é foragido.
Canções de amor cruéis, sobre o que não tem acontecido.

Sei que são feitas para outros,
mas parecem falar comigo.
E guardo-lhes as dicas: o amanhã nunca sabe
(vamos ver como é que fica).

sexta-feira, 15 de março de 2024

RETROVISOR

Quando tudo eram flores
nos atínhamos às armas.

E quando tudo era livre,
vigiávamos as amarras.

Era flagrante a fragrância
que eu, então, não senti.

Não via o que era vivo,
e, ao que vejo, morri.

segunda-feira, 11 de março de 2024

FORTALEZA

Sentir-se forte
e ser o fraco de alguém.
Ou sentir-se em ponto de bala
e ser o ponto fraco de alguém.

Uma debilidade transferida,
uma fortaleza adiada.
Como agora estão indefesas
as portas da minha casa! 

domingo, 10 de março de 2024

NA MANHÃ

De um sábado à noite
já ninguém espera nada.
Sou apenas uma alma
insistindo em estar acordada.

Talvez estivesse melhor
dando a vez ao sonho,
ou recebendo instruções
para além deste plano.

Mas a música soa.
Alterna afagos e tapas.
Consola e caçoa.
Deixo tocar as ruins
e faço repetir as boas.

Essa gente que compõe
é feita do mesmo material.
Tem hora que sofre,
hora que encanta,
e hora em que soa mal.

Mas  madrugada é mágica.
Parece até um pouco o amor:
não acaba por se gastar.

Então invisto na madrugada,
para ver onde vou chegar.  

terça-feira, 5 de março de 2024

SOLZIM (Que cê conta?)

Ninguém está por sua conta,
e ninguém as pede a você.
Você paga as suas todas
(e a vida parece à toa...)