sexta-feira, 30 de agosto de 2013

TENTA!

Abortar a sessão desinteressante
ou descalçar o sapato apertado;
tudo isso que não se pode fazer com a vida,
a vida aguente-a calado!

Ou então impreque, moleque!
Há todo um leque de opções.
Mas eu respondo pela garota:
a estrada será uma prisão!

É então esta busca aflita,
ou uma busca apenas atenta,
por tudo que liberta;
amor, dizem ter dito o profeta...

Tenta!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

POEMA DO SEM DISFARCE

É certo que tenho
as palavras e o tempo.
Mas faltam-me certas mãos
(e o tal sentimento...)

E nenhum anjo,
torto ou reto,
me cingiu.

Então vou ser direto:
E agora?
Puta que pariu!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

PRRÉ PÁ RI

Paris estará a meus pés...
ou estarei aos pés de Paris!

(pouco importa a ordem os fatores...)

Não me acorre ser triste,
só me ocorre ser feliz!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

KINDER OVO

Muito "mar" no maracujá.
Muita "anja" (anja existe?) na laranja.
Muitos alpes no alpiste (comida só de passarinho).
Muito "amor" na amora (ou talvez apenas carinho)."

Muita "mão" no mamão.
Muito "mel" na melancia.
Aqui e agora no "cá já!",
e agora parei de brincar.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

MUDA NADA!

Muda o rosto
e, um pouco,
muda a alma também.

Fala a alma;
muda nada!
Dá à voz outro alguém.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

OLHAR

Não me toca a toga,
não me toca o morteiro.
Só me toca o que me toca
o corpo inteiro!

Por sonhos sou absorvido,
habito seus campos incertos.
E mais não me ocupo, portanto,
do real que não está bem perto.

Sofro o real adjacente,
e sonho lonjuras e distâncias.
E desperdiço tantos pedidos
com o que não se obtém por instâncias.

Devo cessar de desejar e realizar,
tornar palpável o que só a mente sente.
Tornar concreto, certo, palatável,
aquilo a que aspiro: outra gente!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

PESSOA

Leio embevecido os versos de Pessoa,
e me censuro por estar feliz
de ter o moço estado triste,
por ter o moço andado à-toa!

Se tivesse amado a contento!
Se não andasse cismado!
Se não olhasse pra dentro!
Se não se tivesse ensimesmado!

Que versos nos ficavam perdidos!
E como nos teriam faltado!
E me alegro, confesso, com isso
de à vida não se ter entregado!

Tudo bem! Sou moço bom!
Era já tudo fato consumado!
Minha alegria com o produto
não concorreu pro resultado!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

SIMPLÓRIO

Sou poeta simplório,
que não domina artimanhas.
Por isso, vexado, lhe imploro
que me dedique as manhãs.

E eu lhe dedico as tardes,
sem que você mo suplique.
E a pouca arte que trago
pode ser que lhe aplique.

E à noite nos encontramos
em alegrias de portão.
E nunca o tempo investido
terá sido tempo vão.

E da madrugada já não digo
como a história se completa.
E já o tempo transcorrido
terá sido tempo de festa.

sábado, 10 de agosto de 2013

PASTOR

Nem um beijo hoje alcançou, Musa,
este pastor que por ti espera.
E sinto assim que a sorte me abusa,
e não tenho mais o que fazer na Terra.

Porque não gosto de entregar-me ao pranto,
nem a ninguém faz gosto que produza lágrima.
Melhor eu faço esquecendo-me em meu canto,
e escrevendo produzo, intruso, mágica.

E encantado eu te alcanço nas lonjuras,
e a surpresa te ilumina o rosto.
Então te entrega à alegria, criatura!
E me premia assim o ter bom gosto!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

ANIVERSÁRIO (MINHAS CARAS CARAS)

Meu poema é um bilhetinho engarrafado,
lançado ao mar e deixado à deriva;
vai-lhe dentro um grito dobrado,
redobrando a vontade de vida!

Mas a solidão de náufrago é cena,
tenho uma vida assaz frequentada:
toda hora é um amigo que acena,
ou pro profundo, ou pra não dizer nada!

E quem se deixa estar sozinho
é quem de verdade naufraga;
a senda luminosa é o caminho do carinho,
que fazer fita que nada!

Então, no dia dos meus anos,
quero pôr a cara na rua,
e tê-la a iluminar-se, arrebatada,
vendo assomar-se-lhe a tua!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PESSOA E OFÉLIA

Prefiro viver e amar!
E, se o tempo me sobrar,
algum verso...

E ainda neles
amar é o que peço!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

GENTE

                             

Nem vidas intervaladas,
nem vidas que se interfiram;
vidas que se intervalham
são as vidas que prefiro.

Nem gente contingente,
nem gente que atordoa;
prefiro esta outra gente:
a gente que ri à-toa.

Nem gente que plange a vida,
nem gente que no regaço chora;
a gente de abraço forte
é a gente que a gente adora!

sábado, 3 de agosto de 2013

SUGESTÃO (CARTA A PERNAMBUCO)

Moça, eu te convido:
Morde!
Morde ativa!
Morde e mata em pachorra
a modorra da minha vida!

Vem na raça!
Me abraça!
Me abrasa!

Há brasa de sorte
sorteando incêndio
entre você e tu.

Com te esquecer eu
não te contentes;
fosse ainda esse o meu querer,
és meu sonho recorrente!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

VIDAS PARALELAS

Queira vidas paralelas!
Vidas imbricadas são complicadas,
ainda quando belas!

Por que seria menos eu,
se foi a mim que quiseste?
Por que serias menos tu,
se foi a ti que me deste?

Não há sul sem que haja norte,
leste sem que haja oeste!
E porque estou meridional,
podes restar nordeste!

E a gente que faz diferente,
será que não percebe?
Não veem que o que disse 'inda agora
é a verdade inconteste?

Verdades! Tantas são boas...
Cada um tem a sua,
são a matéria da escolha!

E a vida? A vida juntos?
As vidas juntas e boas!