sexta-feira, 30 de setembro de 2022

INGENTE

Fez-se tarde.
O Sol cedeu a vez a outras estrelas,
que pediram socorro demasiado tarde.

Ninguém sabe, ao ver a luz,
se alucina ou brilha de verdade.
Os próprios olhos que se acostumam à penumbra
creem-se, com o tempo, em ambiente iluminado.

Mas a luz que os sutenta vem de dentro,
do intocado, do que jamais foi visto.
Daquilo que se esconde e é em verdade mais bonito.

Luz intestina, aflita, ainda bruxuleante.
Luz-semente que encerra o diamante.

O diamante veraz,
aquilo de verdade para sempre.
Aquilo cujo futuro é anjo,
mas cujo presente é gente.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

DE(S)FEITOS

 Ardam janeiros e julhos,
cada um com seus centígrados,
cada um com seu barulho.

Cada um na luz que lhe é própria.
Cada um com contras e prós.
E nos julgamos imunes a eles

(e agora o que é feito de nós?)

domingo, 25 de setembro de 2022

ISSO ME SOA

Moro na canção, que me abriga,
ou briga com meus impulsos.
Moro na madrugada.
Moro no lusco-fusco.

A canção me revela
para além do que procuro.
Mostra-me o que escondo
(Mostra-me tão obtuso!)

A canção, posso ver,
não é um lugar seguro.
A canção é um risco,
mas na canção me apuro.

À canção estou ajustado.
Da canção não há parto.
A canção é só gestação.
Sou da canção inato. 

sábado, 24 de setembro de 2022

CHICOTE

O que se chama justiça humana
é o protótipo da inexistência.
E dar-se a um sistema o seu nome
é o outro nome da indecência.

O chicote nunca foi cego.
O chicote tem preferências:
De pele.
De bolso
E insistências.

A verdade eloquente não muda,
conforme dada de antemão:
"A melhor vista do chicote
é ter-lhe o cabo na mão".

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

ESTA

 A vida é dada por presente
que não se pode retornar.
Bem...não se deve.
Não é de bom tom.
Não tem proveito.

A vida é dada por presente
que, retornado,
será refeito.

A vida não é só festa
(tem lá os os seus defeitos...)
A vida não é só bela,
mas temos cá nossos recreios.

A vida é de se aproveitar.
Não em parte mas por inteiro.
A vida concede descanso,
mas da obrigação (primeiro).

A vida requer direção.
À vida tem de se dar sentido.
"A vida tem sempre razão".
E o que ela quer comigo?

Talvez colaboração;
que eu não seja meu inimigo.
A vida oferece expansão
e um temporário abrigo.