terça-feira, 27 de junho de 2017

SORRI, PEQUENA!

Para a triunfante Letícia M. Pizato
 
Distraiu-se o anjo,
ficou enferma a pequena.
Sempre um susto pros pais
(só um pai sabe o que pena...)

Correm médicos com exames,
testam a medicação.
E a pequena nem se dá conta
de tamanha comoção.

Desconhece perigos,
ela é toda coragem.
Basta ver mamãe ou papai
e se instaura a tranquilidade.

É uma pequena Alegria,
que guarda alegria imensa.
Eu, quando vi que sorria,
vi que a felicidade compensa.

Sorri sem freio, pequena!
O caminho é longo e as alegrias, muitas.
Confia que as mãos que a seguram
são as mãos dos seus velhos juntas.

Sorri à larga, pequena!
Que todo sorriso é um lume.
Faz, sem ver, favor ao mundo
e com que seus velhos se aprumem.

Sorri confiante, pequena!
Que o sorriso é o anúncio da vitória.
E desconfio que seja uma dica
para se compreender a Glória.

Sorri, pequena!

terça-feira, 20 de junho de 2017

EM JOÃO PESSOA

A noite cai, 
o sol se levanta,
e eu rio!

Eu, rio,
corro para o mar!

O mar é quente.
O mar é qual gente:
tudo questão de saber entrar.

Que defendam que mar é tudo igual,
vai-lhes doer.
O certo é doar-se.

Nesta quarta-feira
o verde quer ser azul,
elevar-se!

O azul quer ser verde,
aprofundar-se,
eternizar-se em marulhos.

As nuvens envolvem o horizonte
de fora a fora,
tarde adentro.
São um convite para a maciez
sabidamente salgada da espuma.

É uma dica para quem a recolha:
os matizes são mais delicados
do que os veem os ditados.
Eu já disse:
E quem gosta de ditados?!

A tarde é toda uma liberdade
e, do meu jeito próprio mas já tão divulgado
amo João Pessoa!

E não nego nada,
ainda que à tarde e sem testemunhas.
João Pessoa só tem uma!,
até que eu lhe volte.

Anote:
Até que eu lhe volte!

João Pessoa, 24/5/2017

terça-feira, 13 de junho de 2017

SCRIPTOR

Quem escreve por necessidade
mas logo toma gosto
é tomado pelo medo de que a palavra lhe falte.

Medo de que nada o arrebate,
ou de que não lhe saiba dar expressão,
perdendo a chance do alívio.

O verso
(e também outras linhas)

é como um grito.
Dá eco à alegria,
dá fim a conflitos,
desvenda segredos,
ilumina a essência.
Protege do vazio
e nos alça à consciência.

E a consciência é um exercício.
Parece-me que seja algo que se pratique,
não algo que se seja.
Algo que desperta
mas às vezes boceja.

E se o sono é,
de certa forma e como já o disse,
uma morte interina,
a consciência  não resiste
ao que assim a elimina.

Mas se a morte é um transporte
o sono desdobra-se numa espécie de sorte,
numa forma de aprofundamento.
Ele é uma eternidade de diferente dimensão.

Cerram-se dois olhos
ou apenas olham para dentro,
como dizia o vovô Major.
Eu nem sei se se dava conta
da extensão do que dizia.

Dois olhos em compromisso
de olhar pra dentro,
e um terceiro, na testa,
bem aberto!

Abro-me pro manifesto:
nada termina onde tudo começa!


(CNF-JPA, 20/5/2017)
 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

À MULHER


A mulher não é da costela.
A mulher não é só do frevo.
Há mais razões na mulher
que qualquer razão que eu concebo.

Foi preciso uma mulher
pra que eu viesse a ser homem.
E também devo à mulher
se me chamam por meu nome.

Diziam que o feminino era o coração,
como se o coração fosse miragem.
Mas esqueceram que o coração
é o próprio centro da coragem.

O filósofo disse,
e disse como coisa patente,
que o homem nasce livre
e por toda parte depara correntes.

Esse "homem" é o ser humano,
pois foi sempre o mesmo com a mulher:
Assim que nasceu, forte e livre,
viu atarem-se-lhe os pés.

Impôs-se a força bruta,
a vantagem corporal.
A um ponto de ser impuro
estupro de sua moral.

Mas o forte nunca é vencido.
A coragem não se derruba.
E onde houve pilhagem
não tardou nascer a luta.

Mulheres feitas mulheres.
Mulheres de sua seita.
Mulheres indignadas,
e não apenas contrafeitas.

Mulheres desejosas
de assinarem seu contributo.
E de superarem a indecorosa
posição de apenas tributo.

Porque tudo que pode "o homem",
pode-o o ser humano.
Também pode, portanto, a mulher,
haurida do mesmo plano.

E se há (e há!) diferenças,
elas nos fazem complementares.
As cooperações e concertos
são medidas salutares.

Mulher, seu nome é luta!
Mulher, não se aflija!
A todo tempo a labuta
transmuta-se em conquista.

Toda força à mulher!
Toda força ao gênero humano!
Da hora de subir
até a hora de cair o pano!