domingo, 31 de dezembro de 2017

SUAVE (Caminho)

A Felicidade é suave!,
bate às vezes sem alarde,
mas preferimos dormir
(e a porta não se abre).


Às vezes perdemos até as janelas;
passamos batidos por elas,
distraídos do caminho
(e aquele pássaro canta sozinho).

Às vezes não pomos sentido 
nos balões vermelhos do Amor,
insistindo em não sermos meninos
(e a vida perde sabor).

Porque não há maior alegria
do que a do menino com doces e desejo:
o sorriso lhe sulca o rosto
e a satisfação lhe suja os dedos.

Eu escolhi outra senda;
vou fazendo meu próprio caminho.
Eu me atrevo!, não se ofenda,
mas é melhor seguir comigo.

Eu me distraio é dos problemas,
e não atrapalho meu destino.

sábado, 23 de dezembro de 2017

EM TEMPO

Vai dormir, meu bem!
Vai deitar e nos sonhe!
É só o que posso pedir,
estando de si tão longe!

Mas muito posso esperar
enquanto espero passar o tempo.
Posso radicar na Esperança,
meu mais belo livramento.

E com chamá-la tal em vez de "sonho",
não me censuram o tê-la acordado.
Mesmo com a cara de bobo
de quem a tivesse sonhado.

Fogo, o que desejo,
é que vá queimar-se na praia.
Que queime este mineiro,
que agora por aí se espalha!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

OSHO - Amorável (Primeiro Septênio)

Como ajudar uma criança
a crescer sem interferência
em suas potencialidades?
Ajudá-la é maldade!

Criança quer amor,
não ajuda!
Basta regar a planta
que ela se transmuta. 

"Under the name of 'help'
everybody interferes
with everybody else"


Tanto nos ajudam,
jogam-nos tanta tralha,
que o peso sobre os ombros
é o Himalaia!

Não seja tenso!
Seja ameno,
aberto,
terno!

AS crianças são todas tão únicas!
Como, para ajudá-las,
veste-se a mesma túnica?

(túnicas francesas pro Brasil...)

À cabeça provêm desculpas.
Tudo os pais pensam
por medo de alguma culpa.

"Sem ajudá-lo vai cair!"
Sim! E com sorte!
Cair em si!

A vida vai em septênios,
como o dia em 24 horas
e 365 dias são anuênio.

Não me pergunte por quê.
Não o digo porque não o entendo.
Apenas aceite o fato
de que crescemos em septênios.

Os sete primeiros anos são fulcrais.
Por isso nos caçam com afinco
pra vestir-nos vestes sacrais.

Para sempre estaremos confusos,
porque esses sensos difusos
nublam os potenciais.

Acenam a constrição
com camadas de poeira
sobre mente e coração.

Crescemos e questionaremos
tudo quanto há,
mas nos distanciaremos
do que "nos nasceram" já.

A primeira prova de amor
dada ao no primeiro septênio
é deixá-lo a mais livre flor;
não lhe impor nada nem com acenos.

Nada de conversão.
O mais amoroso afazer
é deixá-lo pagão
(com o contrário se disfarça um grilhão)

Por que tanta impaciência?!
Que contraproducente ciência!
As respostas antes das perguntas
em abuso de inocência.

Perguntando-nos sobre Deus,
mostremos as versões todas.
Tudo que se cometeu!
Não gostando que seja ateu!

Deus não se prescreveu.
Não está escrito.
Quem disso o convenceu
está proscrito.

Não há necessidade intrínseca
de crença em algum Deus.
Muitos viveram sem isso,
antepassados seus.

Nem há necessidade
de muita concordância.
Impor a visão dos pais
é assassinar a infância.

Se todos concordassem sempre
com o paterno quinhão
estaríamos na porta do Éden,
pelados de mãos com Adão.

Não me parece difícil.
É condição da evolução.
Para a humanidade melhorar
são necessários "nãos".

(Mas os pais gostam de obediência,
fecham ao rebelde o portão...)

Com atos livres e constitutivos
devemos livrar os cativos
de pais, pregadores, professores,
apenas liberemos os livros.

Cerque-os livres.
Cerque-os de carinho.
Remova as ameças, 
mas deixe-os andarem sozinhos.

Feito isso,
serão seus próprios,
não os invadiremos
com os nossos micróbios

que apequenam pequenas vidas.
Nossos medos, covardias,
todas as nossas fraquezas:
de pais, avós e tias.

Com essa fundação
constrói-se, a si, um forte.
Não teme nenhuma sorte,
nem ventos do norte, tufões.

Uma fundação fraca
é a estampa do medo.
Habilita-se o adulto
para dar-se ao desmantelo.

Não segura sua onda
nada em que acreditou.
O quarentão vestiu o terno
e seus cabelos cortou.

Chamam a isso 'maturidade',
não vê por quê o cortou:
é medo da sociedade,
qualquer padrão o torou.

Não interfira na criança.
Não lhe ensine o medo.
Ela é a filha da Esperança.

Deixe-a tatear no escuro.
Pode parecer difícil,
mas vai render-lhe doces frutos.




Casa Sublime, Alto Paraíso, 10/3/2015.

domingo, 17 de dezembro de 2017

CAPIBARIBE

Para João, Clarice e Olga

Num ansiado cruzamento de líricas,
beijo João Cabral
e o Capibaribe entra em minha mística.

Águas por que tentaram Severinos
uma realidade menos crística.
Onde a faca não os cortasse,
aliviados de forma híbrida:

Nem cabo,
nem lâmina,
só a vida e sua rixa.

Capibaribe que viu Clarice
viver sua meninice.
Descobrir encantada Lobato
e o que em livros se descobrisse.

(Livrar-se do tormento todo
que se sofre o que não se disse...)

O Capibaribe e tudo em que aporto
obriga-me à expressão.
É talvez mais um São Francisco
que deságua em meu coração,

que embora não tenha visto a seca
precisa de fluidez.
E a chance se aproveita
e eu do rio sou a tez.

A parte que o importa
e cospe de volta ao mundo.
Esquina em que Severino
me encontra e a meu Raimundo.

(Sempre a serviço da rima,
nunca da solução...)

E pra que procurar se o mar
não melhoraria o Sertão?
Este mundo não é coisa certa,
é mundo de transição.

Não falo de ir a verde
a deserta vegetação.
Falo da gente mesmo
que ri e chora sobre este chão.

E da moça e de seu rapto,
do rio que no mar se salga
pro que deságua em minha constelação.


Recife, 17/12/2017

sábado, 16 de dezembro de 2017

AUTOAJUDA

O amor é algo muito importante, 
perdido dentro de casa. 
Acha-o mais fácil o distraído 
do que o da procura desesperada.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

PRESTAÇÃO DE CONTAS (700)

700 poemas publicados.

Uns me parecem feios,
outros complicados.
Outros me têm no enleio
de ter-me decifrado.

Uns distraem alguns,
outros oferecem um atalho.
Ficam aí para o tempo:
meus sorrisos, meus retalhos.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A BEAGÁ (íntegro)

A Belo Horizonte, por ocasião de seus 120 anos.

Beagá, Biririzonte,
não te cantei em meus louvores.
Sede dos meus deuses lares,
tocada de meus amores.

Nascida pra abrigar o novo
e corresponder ao plano.
E não tardou a demonstrar
que confins são ledo engano.

O melhor é estourar os limites,
engolir a Contorno.
Tornar-se abrigo ditoso
d'um crescimento buliçoso. 

Nossos estados e cidades num sentido,
nossas tribos e índios no outro.
E ruas que cantam poetas,
que cruzo pelo que percorro.

Cidade Jardim um dia,
reduzida a cidade canteiro.
Mas resistem ruas verdes,
que habitamos como viveiros.

Raul Soares, marco zero,
sem marcas que o apontem.
Salvo o mercado, bem perto,
onde mineiros matamos a fome.

Fome de tudo que seja,
que ali não falta nada.
Ou de fígado com cerveja,
ou de doces, queijos, cachaças.

Do alto das Agulhas Negras
abençoou-nos o Papa peregrino.
Só vejo as marcas da passagem,
dada quando era um girino.

Mas já me perfiz anfíbio,
pra explorar seus ambientes.
Sejam as manhãs e seu néctar,
sejam as noites e seus nutrientes.

Ou o que as ligue em ponte,
como A Obra e os rocks todos,
que nos distraem enquanto o horizonte
veste a aurora de novo.

Eduquei-me em teu primeiro Colégio,
depois sofri outro sistema.
Mas esta é uma terra de fortes,
a cicatriz é meu emblema.

Subi Bahia, desci Floresta, 
tanto, e por tanto,
que minha fronte é de luz,
trago um sol na testa.

Belo Horizonte não se esconde,
querem achá-la, ela está aqui!
Ressuscitou o carnaval,
pra brilhar-se como sempre quis!

No Maletta o meu Q.G.:
é minha e do Lucas a Cantina.
O filé e o talharim em disputa,
e o vencedor da peleja me anima.

Temos a Savassi, quase um centro,
de 'perambulância' diversa.
E a Pampulha que, distante,
mais parece secreta.

São cavidades do meu coração,
em que me formo e dissipo.
Jamais deixarei os aviões,
mas pra cada estação um "volto!" e um "fico!".

E me preservo no Santa Inês,
dos recônditos à tona.
Ora me mostro, ora me cifro;
sou as parcelas e a soma.

Belo Horizonte,
cento e vinte anos!
Eu te celebro e me entrego!

Te conheço os demônios e os anjos
e, também duplo,
te integro.

domingo, 10 de dezembro de 2017

INVERSO

Não me custou muito notar que eram aversos ao verso e não o podiam pronunciar. Não o podiam! Essa crueldade que se crê simpática, empática, poupadora. Esse grito mal dissimulado de que não me era dado dar-me por essa forma. Que deformados só o podiam fazer se o faziam em muito mais bela forma. Eu não conhecera a fôrma por que se compuseram esses compositores aptos a darem voz a esses  apreciadores expertos. Eu de nada sabia. De nada nunca procurara saber, como se daquele veneno do conhecimento jamais me pudesse morrer. A ignorância é que era a bênção, dizia-se por aí afora. Nutrir-se do que outros organizaram era a mais escura forma de aurora, pra um novo dia que de novo não tinha nada, que era mais uma forma da forma de outrora. Era uma eterna véspera. E do quanto sabia todos tinham tido a mesma via, os cafés, os predecessores, a dissecação. Salvo aquele liberto que se pusera a salvo dessa comunhão. Mas eles não o podiam saber, porque seguiu-se-lhes no tempo sem os seguir a essa campa. Outro mais maldito, diferentemente maldito, disse que preferia um banquete de amigos à gigantesca família. Onde isso ou aquilo? Pra que ser compreendido? Outros protegeram-se disso. Ela claramente protegera-se disso. Outra evadira-se da vida antes que pudesse atrever-se a essa compreensão. Minha mãe nutriu-se disso e me pariu. Como vêm essas coisas à luz? Fazem-se na madrugada? Fazem-se quando não se faz nada? Outros tiveram rotinas matinais em que martelavam seu ofício. Roíam os ossos do ofício (e como se não se perdessem em carnes...) Mas a carne é a etapa mais reduzida, e a única que se conhece. E me veio o grande esclarecimento pelo qual fui jogado de novo e sem defesa à mesma ideia de que a ignorância é que é a bênção, e que se dá de presente. Mas não essa ignorância presente e que tem sido a de sempre, não a de que nos queremos livrar pra já não precisar dessa outra. Faço-me entender? Claro que não! E pra quê? Pra que ganho? Pra que ganho, aliás? Eu não quero o risco do engano, embora já tenha desejado sua certeza, providenciado-a até. Não, Mallarmé! Eu e outro. Eles só veem o reboco, porque não lhes é dado penetrar. A luz que os guia é a de fora, a que se permitia. Do contrário era muito o trabalho. Pra que tanto? Pra que pranto? Educandário de mais recreio que lição? Desconheço! O duro é aguentar-se enquanto as incógnitas montam a sistemas, não é mesmo? O que os veicula se arrasta e a lombada os oprime e aprisiona, para sempre, no mesmo trecho da estrada. E é bem como não se vai a nada. E são mesmo dessa raça, essa extração, que só querem o outro que é eu, deles. E eu o que quero é aniquilar-me noutros. A cabeça do dragão o demanda, e as boas demandas não as resolvem os tribunais. Disso nem vale a pena que falais.... Falaz sim!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

S'ABRACE

A boca da noite não tem dentes,
não me parte.
O Sol parte mas em outra parte
não deixa nunca de brilhar.

(Amo os 24 horas...)

Não temo os recessos,
pois é dos recessos acabar.
Tenho hiatos da felicidade,
como se de costas pro mar.

Mas mais pra dentro tenho um rio,
e não se foge do Destino,
sei aonde vai-me levar.

Salga-se a água do que chora,
mas a água salgada é pro que quer-se curar.

Nunca jogue a toalha!
(a tolha se pode trocar...)
E não a faça de mortalha
(a morte pode esperar...)

Tudo tem seu tempo,
tudo se concatena.
Deixe o pranto e tome tento,
não finja que não sente a antena.

Vai-lhe dentro, palpitante,
um alarme em cada contexto.
Abra-se! Abrace-se!
A felicidade tem seu endereço!