terça-feira, 30 de janeiro de 2018

NUNCA NADA (Nada nunca!)

Me perdoa, meu Senhor!
Eu enterrei gente viva!
Não suportei a derrota
de uma vitalidade tão fria!

Me perdoa, meu Senhor!
Eu abusei dos dons!
Notei que era a mortalha
o que lhes correspondia ao tom!

Me perdoa, Senhor!
Não sei quem sou!
Ainda não entendi o roteiro
mais certo pro que estou!

Mas posso pedir-lhe, Senhor,
pois sei onde quero estar.
E vou seguir caminhando
até reconhecer-me lá!

Não paro, Senhor!
Sou peregrino!
E não vou deixar nenhum tumulto
desandar o meu menino!

Guardo a pureza, Senhor!
E aprendi a salvaguardá-la!
Daqui sei que nada levo,
mas nunca o que se aprende é nada!

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

NÃO SOLTE

Sou solto, solto, solto.
Solto do solto perdido.
Preciso entender o que faço
pra entender o que faço comigo.

Libertar-me do constante embaraço
de já ver o não ter conseguido.
Tão distraído nesse não-passo,
que não percebo o que de fato conquisto.

É-nos dado, se vacilamos,
pedir o afastamento do cálice.
Mas erramos quando paramos
ao invés de reforçar a coragem.

O mundo é nosso estágio,
palco dado à evolução.
Se a mente vier de traquinagens
que prepondere o coração.

Peito aberto com brandura,
e a força doce da Luz.
Na confiança imperiosa
ensinada por Jesus.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

INEXATO (O Fato Encontra o verso)

Você é todas as cores da minha paleta.
Não é minha costela,
nunca foi minha costeleta.
É toda a minha barba e o rosto todo que a ostenta.

É o riso que o convulsiona,
e a lágrima que o esquenta quando aparece o lamento.
Não é minha fome,
é o meu sustento.
É o meu sol raiando o fim do céu cinzento.

É topar no que nunca soube que procurava.
É descer do trono que não percebi que ostentava.
É a humildade de perceber que dias se fazem mais bonitos.
É perceber em você o planeta e me aceitar meteorito.

É deixar de me medir e perceber a grandeza.
É notar que não é a coroa que faz a realeza.
É entender finalmente que tanto não é tudo,
e tudo é só o começo!

É festejar o fato incontroverso
de que terei exato o que mereço.

domingo, 14 de janeiro de 2018

+ LEVE

A esta altura,
na altura em que estou,
não há vertigem:
só me dou!

Subiu-me às alturas
essa estranha dedicação.
Não me distraio com nada,
nem se passa avião.

Embarcação de dois,
de vista panorâmica.
A química é dona de si,
comanda sua própria dinâmica.

Não se teme a combustão,
o fogo é da essência.
Gera muita inspiração,
mas não o explica a ciência.

Quem se der à alquimia
não pensará em risco.
São os tais "escravos da alegria",
senhores dos mais ricos.

É um tesouro que trazemos todos,
mas falta às vezes quem o revele.
Eu não me farto com pouco,
mas mesmo com tanto me sinto + leve.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

CASA DE BAMBAS (Samba)

Para Olga

Levou-me ao samba
e minhas pernas de bambas
passaram a doces.

Eu dancei como se também fosse
dono de todos os ritmos.
Num sô dono nem de mim,
como previsto em nossos signos.

(faz o que quer comigo...)

Nasceu dona da festa,
quando nesta Festa se instalou.
Minha vida, de quase funesta,
fez-se festejo que nunca acabou.

Larguei o Tejo.
Larguei Itabira.
Do Rio, a Orla comprida.
Já não é cego quem falou.

De que me importam versos
se a Poesia me assomou?
Se neles pedia graças 
e com a filha da Graça estou?

Só me congraço com a Alegria,
faço cangaço da apatia
e a cravejo de balas,
como Maria Bonita.

Maria Bonita sabem bem:
É Olga!
Ao verso e a vocês chega a folga.
A mim, ao pé dela, 

função!

domingo, 7 de janeiro de 2018

FOLGA (Primeiro de Janeiro)

Para Olga

Estou bambo!
Bambo do bambo bom!
Bambo de ter manchado o colchão,
do esforço que não se sente.

Do esforço que planta a semente,
esforço em que dois se entendem.
Esforço do corpo lasso,
esforço seguinte ao abraço.

Daquela energia empregada
em nos deixar renovados.
Da que não se fala nos noivados,
mas está nos entrementes.

O fruto do efusivo.
O doce que flui lascivo
e move todo um universo
(ou move dois...).

Entenderam e não me alongo.
Lá dentro me esperam pro banho, 
e só posso voltar depois.