terça-feira, 31 de julho de 2018

ALMOCIM

Para Tom

Gosto da atmosfera da beterraba,
de sentir escapulir-me
essa coisa colorada.

Gosto do tubérculo batata,
tão apreciada, certeza.
Tão feia se desenterrada
e disputada quando à mesa.

Gosto da cenoura,
de vitamina A.
De que faça bem pras vistas,
pra que eu tudo possa olhar.

Gosto do tomate,
e de que na verdade seja tão pouco.
E que não cansem de amá-lo
os muito chegados a um molho.

Mas não gosto de repolho,
fica sendo coisa de alemão.
Sei que traz o bem em seu bojo,
mas me maltrata a visão.

Verdes que vos quero verdes,
como vos quero amar!
Mas só com alface e brócolis
é que gosto de cear.

Não sei porque falo disso,
deve ser hora do almoço.
Então largue a caneta, menino!
E faça seu próprio alvoroço!

SELF SERVICE DE FELICIDADE

Santíssima Trindade das aspirações:
Ler, escrever, ouvir canções.

domingo, 29 de julho de 2018

TRANSLÚCIDO (Astrais)

Para Pepe Mujica


Atento ao que debatem os astros,
alvejando-me de branco em translúcido,
pergunto-me quando foi que tive
sorte no amor.

Ou será que  a tive até desperdiçá-la,
e que era certa toda aquela profusão de moças?
Se era certa a profusão fiz certo,
andei bem!

Pergunto-me se terei tido sorte no amor.
Que posicionamentos o garantiriam
se não tive a melhor posição?
Se não adotei a melhor postura
como aliviar esta muita contratura?

O mais culpado dos músculos,
o mais ingrato, que nunca se voluntariou,
esse não se fadiga!
Garante que o espetáculo prossiga,
apague-se ou acenda-se a luz.

Que senda mais te seduz?
A de andar sob o sol ou a de se enganar sob a lua
fingindo que é outro o belo lume que te ajuda?

Nada há de belo em caçar borboletas,
porque nada há de belo em caçar.
Nada há de belo em colecionar selos,
que não há beleza em colecionar.
Nada há de belo em amealhar.
Não sente?
Fulgura!
Faz triste figura o possuído das posses!

(A leveza é melhor sorte.
 Aceita esse suspirado toque!)

Fui, sim, brumas,
até meu sol brilhar.
Até meu sol me brilhar,
lapidar, sol-estação!

Não se gabe do que te orbita.
tudo é concêntrico,
ou correspectivo!

Ser exclusivo não é bonito,
só desculpa pra avareza.
A beleza é o comum a todos.
É ninguém ter estojos.
Tudo ser útil e só ser útil o necessário.

Pra que o voluptuário?
A gente mais canhestra faz as regras,
e a que finge não sê-lo as aplica.
Ninguém atina!
Ninguém cogita
do grande mal que há nisso.

Volte a ser menino,
mas esse menino já formado.
Menino aceso, consciente.
Uma vida é tão de repente!,
só retenha as cores.

E se as retivermos faremos aquele branco.
Você se lembra?
Aquele velho manto branco
que é o belo manto da paz.
O branco de todas as cores,
de todas as cores astrais.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

BELÉM

Belém, c'era tão longe!
Muito, muito pra lá!
Mesmo Manaus já vista
não contava te encontrar.

O que é égua ter pai?
Por que comer tanto filhote?
Por que tanto açaí tão cedo?
A gentileza é seu esporte.

Trago o corpo cansado
de vê-los dançar a quinta.
Cansado de invejá-los;
não sei dançar nem dou pinta.

Por que tanto rock sentado?
Só pra ouvir não se levanta?
Como é gostoso estar do outro lado!
(A diferença me encanta!...)

Mas ela nem é muita,
basta cavar sob o sotaque.
Basta alguma atenção
e é diferença de araque!

Só as estações são opostas.
A gente é hospitaleira.
E é gente tão bem disposta
que bem podia ser mineira!

Belém, ainda te volto,
e pra Salinas, Santarém.
Ali nascem tão bonitas!
Quem sabe me nasce um bem?!

quarta-feira, 25 de julho de 2018

MARAJÓ (800)

Marajoara!
Que gentil gentílico!
O zebu é tão bonito!
E o ceramista também!

A cerâmica presença.
A cerâmica vestígio.
A cerâmica descende
de antes de antes do índio.

Dois rios e um oceano.
Muita água, nenhum plano
e tudo a se desdobrar.

O salva-vidas não consentiu
em que me arrastasse a correnteza.
Vestiu-se de gentileza
para chamar-me... "siri".

"Logo que te avistei pensei:
'o siri tá caçando arraia!'".
Deus me livre dessa falha
de afetar coragem!

Eu tava entregue à bobagem!
A minha mesma de sempre,
de soltar internos
"como isto é bonito, gente!".

Marajó, dois dias são nada,
nada sei de ser ilha.
Mas sei que a gente já partilha
algumas predileções.

Vou enviar-te muitos dos meus,
do tipo mais aberto.
Do tipo mais bobo que esperto,
pra aproveitarem os céus seus.

ESPINHO

Amorzinho,
vou-me indo,
muito trabalho no caminho!

Mas como te deixar
é espinho,
uma rosa com muito carinho!

domingo, 22 de julho de 2018

DE BELÉM, DE NAZARÉ

Por filho me adotou.
Recuperou-me antes ainda
que eu demandasse à saída.

Soube, de mim,
que era bom!
Disse que não me afligisse,
que o tateio é o começo de tudo.

Que a luz vai-se fazendo no estudo,
e o estudo vai-se fazendo prática
o que, na prática,
é a perfeição!

A perfeição que se pode!
A que agora abriga
o que nos obriga
a mais esse passo.

O tal primeiro da caminhada,
o que parece levar a nada,
mas é a nada que conhecíamos,
e é a lição do dia.

(E cada dia tem a sua,
 garanto!)

Obrigado, Maria,
por seu manto!
Sobre nós sempre estenda o seu véu!
Sobre os que estamos sob o céu,
mas sem deixar de o fitar.

Obrigado, Maria!
Quem tem mãe tem tudo!
E tem, sobretudo,
de já se lançar!


sexta-feira, 13 de julho de 2018

FEITO PAUTADO (Passou-me)

Parte de mim vai.
Parte de mim cai
sob a impressão de que
me despedaço.

(Lar, eu sei que só vou
 pra voltar ao seu regaço).

É necessário ir.
Algo me impele.
Uma vontade enorme
que assim que volto me cresce.

Como eu,
aumentado por tudo que encontro.
Tudo é tão formativo!,
vejo que nunca estou pronto.

Salvo para gozar
outra etapa de exploração.
Tudo que vejo no mundo
explica-me meus desvãos.

Beagá, Recife, Belém, Marajó.
Como se lançado pelos arcos dos mutáveis.
De todo passado prescindo
(passados não são restauráveis!)

Mas todo passado é professor,
todo o passado, lição.
E entendê-lo sem receios,
necessário à progressão.

E o progresso é a Lei!
Isso já não discuto.
E sei que melhorarei 
no presente absoluto.

Um presente que me faço,
que te faço e ao mundo.
Não desista de voltar,
a pauta é nossa!: estamos juntos!

sexta-feira, 6 de julho de 2018

INTERESPACIAL

D'apres Sapacecake

Não é você!
Sou eu!
O desdobramento não surpreendeu.

Sou eu.
São meus olhos.
São meus ouvidos.
São minhas estas folhas!

Como culpar alguém
pelo que escrevo a minha escolha?
A expectativa é mãe da decepção;
mais nos vale fazer!

(Fazer nos dá uma pouca escolha
sobre o que vai acontecer).

Ninguém controla as intempéries,
mas escolhe as sementes
e a terra que com elas fere.

Aos astros os lábios disparam beijos.
Escolho a rota até se não percebo.
Os acidentes são a ilusão.

Chamar "azar" à imprevisão,
à imprudência.
A tudo cujo efeito se sente
e nos escapa à consciência.

Abra os olhos!
Nada de alma de janelas fechadas.
Nada de aspirações mudas,
e a coragem pra escutá-las!

quarta-feira, 4 de julho de 2018

AFÉLIO (Per Aspera Ad Astra)

Afélio,
é por estar tão distante,
tão distante quanto possa,
que te coça a vontade de voltar.

Que te caça esta minha Luz,
ousadia estelar.
Petulante basculante 
de o cômodo se iluminar.

Afélio,
que tédio te afastou?
Cansou-se deste seu espelho
que reflete sobre o Senhor?

Não procure a escuridão,
ela não é coisa sua.
Nada demande à treva,
não é nada em que se inclua.

Afélio, quero seu bem,
mesmo se bem longínquo. 
Que haja sempre luz,
mesmo se não a deste vassalo.

A vê-lo na escuridão
te prefiro apoastro.
Tão vasto o Universo!
Tanto, mas tanto espaço!

E se também o Universo se curva?
E se mesmo se afastando
se reúnem as criaturas?

O Universo é nosso terreno,
do nosso concurso um prédio.
Afélio, eu te despeço com eterna gratidão!
E honro todo periélio que tome a difícil missão!

Faetonte, o movimento
faz-se todo música.
Faz o dia, essa Alegria,
e nenhuma alegria é única!


Centro Oriente, 4/7/2018.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

MAGMA

A Terra gira sempre a mesma,
sempre as mesmas dimensões.
A Terra gira sempre a mesma
e essa é sua perfeição.

A minha é errar sempre outro,
mas sempre inexatidão.
Essa é toda a minha sorte,
ou é todo o meu azar.

(Porque meu mundo expando-me tanto!
 Quem o poderá vasculhar?!)

E que bom seria se ao mundo sobrasse coragem!
pra vasculhar minha loucura,
sondar minha intimidade!

Juro que gostaria!
Juro que nisso consinto!
Juro mas ninguém decifra
o idioma que me permito.

Não é forja dos demais,
mas permeável a barbarismos. 
Sonha ser língua franca
das ideias do paraíso.

Sorvo toda a música que posso,
e não fui feito musicista. 
O talento, mistério ou negócio,
pede que se lhe insista.

Ao que me vem estou atento,
artes antigas em modernidade.
É nelas que me detenho
para lhes dar liberdade.

Se Alquimia ou Química,
pouco se me dá.
Mais me importam usos
que a mania de rotular.

Olha o que te mostro,
mas vê o que desvelo!
A crosta tem serventia,
mas o núcleo é bem mais belo!

E vou seguir explodindo
onde ninguém me vê.
Que quero manter tudo vivo
para mim e pra você!

domingo, 1 de julho de 2018

LAMPARINAS

Não ando à cata de nada
e muito me cai em cima.
Essa chuva inopinada
é a de que a gente precisa.

E de reconhecer a sorte,
pra gente não se por a abrigo.
Reconhecer os instrumentos
mesmo sem ver o amigo.

O amigo não preciso vê-lo.
O amigo posso intuí-lo.
O amigo não acho fora,
eu o trago comigo.

E vou vendo a estrada,
e sabendo que a vou fruindo.
E que a bússola é-me inata.
(vou relembrando o caminho).

Relembrando sobretudo
a que lugares não demandar.
E retorno antes do trevo,
antes de me entrevar.

Sei que nunca estarei vencido;
nunca se perde a guerra!
Só se perdem batalhas,
é a regra na Terra!

Salta sobre mim o invisível
e reparo que vem de dentro.
Meus olhos são lamparinas,
é o que estou aprendendo.