quarta-feira, 31 de agosto de 2016

BOTE SALVA VIDAS?

Para Henrique Chaves e Marina Póvoa

Tenha soro antiofídico, 
há muita cobra no Congresso!
É do tipo bem vestido,
que se pudesse lhe cobrava o ingresso.

Agem como se não soubessem
que o ingresso lhes demos nós.
Agora só cuidam de si,
e nós que fiquemos sós.

Estamos sós mas não estamos cegos.
As torres são bem construídas,
mas são torres feitas de ego.

Às vezes penso comigo:
melhor dar enxadas aos umbigos,
e extirpar o abscesso.



Em atenção ao golpe parlamentar concluído nesta data, nesta terra.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

VERINVERNO?

Mas faz um verão!
Vou te contar!
Aquele verão!
(e no meio do inverno...)
Verão daqueles!
(sensação à inferno...)

Já não se pode
com este calor.
E se acaso derrete as asas
dos santos anjos do Senhor?!

São criaturas tão ternas!
E são criaturas celestes.
Volta e meia nos vêm à Terra,
mas enfrentarão o Sertão ou o Agreste?

Que verão mais intempestivo!
Diz, Pedro, perdeste o juízo?!
É um verão a desoras!
Vixe, Pedro! Colabora!

Mas não vou mais reclamar
desta temperatura.
Seria muito pior
se a escolhessem nas urnas.
Não sabemos escolher,
mas pra reclamar somos ótimos.
Então guardemos o talento
para quando aumentarem os impostos.

sábado, 27 de agosto de 2016

E LEVO

Erro!
(mas isso é vago...)
Vago!
(mas isso é perda...)
Perco-me,
mas acerto o passo
se preencho o vago
em acerto contigo.

Não digo,
calo!
Sou do difícil "faço!"
(e já agora os calos
são os da ação).

Não me azeito,
não me escondo.
Aceito-me o escrito
e no atrito me impulsiono.

(O impulso é o da alma,
esta alma fanfarrona...)

Vamos no rumo do horizonte!
Vamos! Não é longe...
Vamos! É belo!
Nunca nos chegará,
mas a cada passo estará mais perto.

Floresta, deserto,
o que importa?!
Na minha alma é a fauna que flora!
(tenho estado animal...)

Encarnado,
presa do corpo.
A surpresa é eu agora estar forro!
(alma da liberdade...)

Alma que conhece e parte.
Alma de elevar-me.
Alma que vou levar-te!

domingo, 21 de agosto de 2016

VIGIA LUNAR

Muitos amores!
Diz: Sabores!
Diz: Há lento,
lento labor do tempo.

Não consigo o que não tento.
Não conquisto o que não invento.
Vento nenhum por meu intento,

porque não sei pra onde vou.

E se não sei lá não sou esperado,

e não fazem falta mapas e dicas.
O que não sabe pra onde vai

está visto que é o que fica.

(Fica sonhando distâncias,
mas não as alcança o que não se lança.)

Então pega logo essa estrada
a cujas areias já metes as unhas.
Então pega logo essa estrada!,
ou outra, qualquer uma!

Pega e diz que viaja,
eu te vigio da lua!

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

BOULEVARD

Estou em insensibilidade,
apenas a carne me arde.
Não alcanço o amor.
Cansa-me,
alcança-me a dor.

A maré nunca é mansa
para o insistente remador.
A luta é sempre dança
para o entregue lutador.

Mas espero a espera da vida
boulevar-me a avenidas em flor.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

SOBRE A MEDIDA

Cachorro vira-latas
corre atrás dos carros.
Não serve mesmo pra nada!
(manipanço ou espantalho?)

"Sinto muito, sinto tanto,
no meu canto" que não sei o que digo.
Não espero a colheita do verso,
forço-o a desprender-se do limbo.

Não sei a arte de orar,
não sou do tipo que peço.
Por isso não sei me mostrar,
e sou de minha vontade o inverso.

Em horas mortas vou devagar,
nas que me agradam sou expresso.
Nunca sei o que vou expressar,
mas depois que me digo me meço.

Fico portanto grafado,
gravado para o depois.
Esquecido dos que me elegeram,
e presa inútil do que me depôs.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

LIVRO-ME

Alto lá com esse molde!
Eu sei (e não vou esquecer)
que pra me por nesse seu molde
vai precisar me derreter.

E não é apenas isso,
e não é preciso ciência:
sobro em parte para ajustar-me
e perco essa parte de essência.

Alto lá com essa moldura!
Não harmonizo com suas paredes!
A menos que as possa furar,
e nelas pendurar minha rede.

Fora moldes! Fora molduras!
Tudo que sou é livresco!
E estou livre de sua frescura,
se assim não lhe alcanço o apreço.

Liberdade não tem preço!
Sem liberdade não fico!
Liberdade, nunca é tarde!
E a vivo nos mares e livros!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

DADOS (Obra em curso)

O destino é um dado,
é ocioso jogá-lo.
Já houve definição
(um lado é dado de antemão...)

A vida escolheu o trem;
escolheu até o vagão.
Somos todos passageiros
(não há proveito na aflição!)


Mas aproveito pra lição:
também me é dado livre arbítrio.
Assim posso ser consultado
sobre o que acontece comigo.

Escolho de que lado viajo,
se me sento com um amigo,
se me exponho na janela,
ou se no corredor me abrigo.

O Alto é nosso parceiro,
não estamos sozinhos cá embaixo.
Então mostre do que é feito,
e O leve a bem formá-lo.