quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

domingo, 27 de dezembro de 2020

UTOPIA

Para Tom.


Dei chance ao azar
e deu sorte.
De onde eu sou não é tão sul,
pra onde fui não é bem norte.

(Umas zonas intermédias
bem mais vida do que morte).

A vida encerra seu fim,
e seu fim torna-a outra.
São coisas tão metafísicas
que não será da minha boca...

Mas o velho tema do amor ressurge
do âmago de si mesmo.
Brotando de onde havia
ou implantando o desvelo.

Nada como parecia,
e muito bom de todo jeito.
Como toda e qualquer companhia
vai-nos tornando perfeitos.

Aquele destino que nunca chega
mas aponta a direção.
E não passo mesmo disso,
que me falta muito chão. 

sábado, 26 de dezembro de 2020

À FRANCESA

O amor não acaba,
desacontece.
Quando o que o tecia
arrefece.

O amor não sabia;
eram pérolas de chuva
do país que não chovia.

O amor aquecia,
mas o fogo mal nutrido
esfria.

Não houve guerra,
nem jamais haveria.
Não havia canhões
ou artilharia.

Havia flores,
umas em botão,
outras só de espinho.

Mas o amor,
cego recente,
não enxergou o caminho.

O amor não acaba;
o amor eu trago comigo.
O amor aqui sou eu
e tudo que avizinho.

O amor não se reparte,
o amor decola, 
arremete.

O amor sobrevoa.
O amor paira.
E quem no amor não investe
do amor se separa.

TÊM MEDO

 O medo os alcança, súbito.

Têm medo de dormir
e já não acordar.

Têm medo de, dormindo,
acabarem acordando.

E de tanto medo já não dormem...

E nunca acordam!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

FOMENTO

 Não é sem motivo
o abrigo que te dou.
E nunca te contei
o que seu riso confessou.

Nem temores.
Nem avisos.
Nem nunca um riso frouxo
foi vitrine de algum siso.

O riso é um estandarte plúrimo.
Flâmula da insânia.
Painel da alegria.
(Nem percebeu sua dor
 o que morreu porque ria).

Nada de boca às escâncaras,
que num arco se continha.
Mas aqueles olhos num brilho
capaz de acender o dia.

Isso tudo ia eu pensando,
atravessando a pandemia.
E pensando em qualquer plano
que nos adiantasse a vacina.

Mas nem apenas dela se trata
num mundo ainda pejado do mal.
Num país desgovernado
sob um mentecapto, um boçal.

A realidade não tem modos,
não tem respeito pelo sonho.
Nem pelo que sonho acordado
nem pelo que vejo em outro plano.

Mas ao Amor tudo é possível.
(Foi o Amor que falou)
Difícil é disseminá-lo
sob essa espécie de torpor

que é nevoeiro para os homens
mas não chega a iludir o tempo
de nos dedicarmos aos homens,
que só precisam de fomento.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

À TOA

 Não domino métodos
mas escrevo versos
(como vivemos sem saber).

Prescindo assim de licença
quando cismo de escrever.

Se a ideia me parece boa, divido,
o que resulta em multiplicar.

E isso me parece bastante
à liberdade de criar.

LUSCÍNIA

 Na madrugada,
sem sono,
choro de felicidade.

Choro em louvor da oportunidade.
Inclusive da de saber enxergá-la.
Quem passa pela vida sem vê-la
vela-a, quando deveria criá-la.

Um sol por dia,
e cada posição é única.
Não vale mais a da túnica,
nem a do escritório,
nem a do pincel.

Vale tanto quanto outro
qualquer trabalho sob o céu.
Todos são chance pro autotrabalho
e pro trabalho em prol.

Não canta menos a formiguinha
porque audível o rouxinol.
Onde estão seus ouvidos de ouvir?

Há pernas de ir-se,
pernas de vir.
A oportunidade sagrada da deambulação,
do movimento.

Há chances imperceptíveis
como há chances de portento.
Amigo, eu só aviso:
Não deixe passar o tempo!

sábado, 19 de dezembro de 2020

SÁBADO

Receia o trovão
mas a pura chuva a deslumbra.
Esconde-se.
Arruma-se.

Não se agasta a gata
mais do que precisa.
É voltar a brisa
e ela já se espalha.

A música é a musa da festa,
que a espia pela freta
de uma pequena grande alegria.

A de estar vivo.
A de também ser leonino
e poder ver nascer o dia

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

DELÍRIO

Sonhei conosco
e éramos outra gente.
Como num alvoroço
de final de expediente.

Em que se celebra
não se ter o quê nem onde.
Uma minha parte confusa
em que a alegria se esconde.

Ou sou todo confuso
e a alegria uma incerteza.
Nunca terá sido pura.
Nunca terá sido inteira.

Eu tento despertar
mas não possuo essa destreza.
(Quando o sonho é necessário
não se pode virar a mesa).

Não há saída,
nem é lugar de morar.
No sonho a vida é solta,
é de escorrer ou sublimar.

Quando acordo não é que foi nada,
é que foi "apenas".
Os símbolos já não estão lá,
não há nada que me renda.

Nem eu me rendo a nada,
na ilusão de ser livre.
E este sonho, que não lhe contei,
foi igual a outros que tive.

domingo, 6 de dezembro de 2020

ALGO RITMO

 Algo em sua maneira de falar
dispensa acordes
mas a canção soa.

Algo em sua maneira de sorrir
dispensa versos
e  o poema se entoa.

Faz meu coração trabalhar
enquanto fico à toa.

Sou rede,
brisa,
abolição do siso.

Sou uma alegria por dia
mas o dia todo nisso.

Sou Paraíba desde Minas.
Sou fogo
(mesmo depois de cinzas).

Crepito.
Ardo.
E palpito que não tardo
em banhar os pés no mar.

(a devassar a retina o Oceano!)

Imagino que a pandemia é de sabor.
É de cheiros.
Do tato do corpo inteiro!

De gozos misteriosos.
De doces mistérios gozosos.

Mas mais que adivinhar eu faço!

(E deixa a vida consentir
 procê ver se não parto!)



quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

NICHTS

Fugiu poesia.
Fugiu verso.
Eu agora não falo
o que calado converso.

Bandeira de time
sobre o caixão do poeta.
Prestes à combustão
o que antes fora atleta.

Moro nas asas do tempo,
perto da cara do meu filho.
Nunca sei o que tento.
Apenas sei se consigo.

E os dias escapam
de onde nunca estiveram presos.
Só não escapam nos calabouços,
onde prendem os dedos.

Só a imaginação é forra,
nascida livre e rica.
Faz abrir a cabeça
sobre o coração que palpita.

Há vida há esperança,
mesmo pra parede cinza.
Cores vivas e desrespeitosas
vão derramar-se-lhe em cima.

Eu com minhas cismas, Baleiro:
"Pra que os trilhos se não passa o trem?"
E este poema não diz nada,
que é só o que digo até ano que vem.

domingo, 29 de novembro de 2020

PÃO

Com Cristo conquisto labores
a que jamais me entregaria.
Com Cristo pergunto-me sempre
o que Jesus faria.

Mas não me toca fazê-lo.
Eu já muito me alegraria
se pudesse compreendê-Lo.

Se pudesse alcançá-lo.
Se um dia alcançasse vê-Lo.

A Deus não me revelo.
Conhece-me já.
A Deus os meus projetos
quisera recomendar.

Ou saber que são os Seus.
Saber que os faço Dele.
Assim nunca faria
nada que me comprometesse.

Nada que me pudesse perder.
Apenas larga abundância
do que me fizesse crescer.

Alegra-me vê-Lo dessedentá-los.
A todos os crentes sinceros
que se alegram em acompanhá-Lo.

É o pão e a vinha.
É boníssima nova!
Caminho, verdade e vida!

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

WO?

 Fecha a porta.
Abre a janela.
"Feche a porta,
esqueça o barulho".

Deus entende o mar
e entende o marulho.
Enquanto homem e mulher,
aturdidos, desconhecem o próprio som.

Na esquina de "walk" com "don't walk"
são americanos em Paris em plena Nova York.
Mas as coisas mudam, nem sempre devagar.
York ou Amsterdam às vezes tanto faz!

Até sem saber onde estamos
estamos no lugar certo.
E filtrar nosso som do ruído
é certeza de sucesso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

40 anos no deserto.

 40 anos no deserto
tropeço
na areia por cama.

40 anos no deserto
é decerto
o que a alma reclama.

Tentada
Abrasada
e resistente.

40 anos no deserto
fazem muito (observo)
à gente.

Até que sofrimento e meditação
trazem oásis.
Até que a dor traga suas lições
luminares.

Não pode trazer prejuízos
o alto sol meridiano.
Apagam-se à noite as luzes:
hora de ponderar sobre os planos.

(Não dura mais que um dia
 tudo o que falsificamos).

A areia é muita
mas o tesouro subjaz.
Cavar parece eterno
como eterna será a paz.

Paz laboriosa,
operante.
(Paz é bem melhor
do que o tumulto de antes). 

Já tendo sido satisfeitos
todos os banquetes dos sentidos,
a mente tira novas consequências
dos mesmos banquetes de signos.

Essa saciedade abre um novo tempo,
tempo de edificação do meu próprio templo.
Em que nos atendemos, os amigos em elevação.
E fica lavrado este ato com feitio de confissão.

40 anos no deserto,
a Humanidade pode tudo:
Basta o amor por projeto e material de estudo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

BAILADO

 Pressinto no que já fui bom
pelos gostos que me ficaram
na intensidade de uma saudade.

Pela impressão de que quase se chega a poder
quando todas as tentativas foram infrutíferas.
Pelo gosto de ver os feitos dos que naquilo triunfaram.

No consolo que depois assoma notando na pausa outras escolhas.
Novas dedicações.
Para conquistas inéditas ou para ultimar as começadas doutra vez.

Alguém, alhures.
Essência metida em outros acidentes.
Quiçá mais bonitos.
Talvez mais bem aceitos.

Os defeitos mais discretos.
As janelas mais cerradas.
Mas aqui respira-se muito,
mostra-se muito a cara.

Vincada de erros
e acesa de esperanças.
E a menina dos olhos...
dança!

terça-feira, 22 de setembro de 2020

A(O)LADO

 A gata olhando para o céu e pra mim,
pra mim e para o céu,
como a me cobrar o sol
neste súbito dia nublado.

Coisa que talvez já não se lembrasse que existe
tantos têm sido os dias claros.

Olha-me súplice.
Olha-me indignada?
Olha-me triste
não sei ao certo!
(Não há dedos que possa por em riste)

Mas quer o sol!
Quer quiçá me atiçar
pra que faça algo fantástico,
como quando abro a janela e venta.

Neste momento abre mão do seu garbo
e vivemos um contra-Egito.

Ninguém é Deus nem endeusado.
Ninguém á amo, apenas amado.
Porque estamos
simplesmente
lado a lado.

sábado, 12 de setembro de 2020

M'USA

 Não sei o que a música faz em mim
porque não sei o que ela é.
Mas sei que seus doces efeitos
transcendem os da mulher.

A música dá-se sem peias,
é sua tão logo a ouça.
Pouco importa a quantos se dá,
aos ouvidos e às bocas.

A música transforma sem perder-se,
transmuta sem degenerar.
A música é parte do mapa.
A pista mais fácil de achar.

Porque antes de falar, canto.
Soo de uma formas imprevistas.
Nascida a música comigo
não posso chamá-la conquista.

Não faço dela o que bem quero.
Ela é que me tem feito.
Não sei explicar (bem se vê)
mas é o namoro perfeito.


segunda-feira, 31 de agosto de 2020

COM O VENTO


 

Quem me dera se francamente
eu não desse a mínima!

Mas posso enlouquecer me importando,

se Deus não em ilumina.

Mas Ele faz!
Amanhã é outro dia,
folha em branco.
E até lá...merecemos descanso!

Entre uma existência e outra,
entre insistências.
O descanso é necessidade,
não precisa muita ciência.

Preciso é o refazimento,
a restauração das forças.
O futuro não perde em nos esperar,
e que desde o presente nos ouça.

O intervalo é dádiva,
tomar distância é bênção.
Pra amanhã, num salto maior
outro locupletamento.

Lícito,
merecido até.
Com nossa força de homem,
nossos brios de mulher.

Um tempo pra perspectiva
ajustar-se à realidade.
Com a calma de quem sabe
que amanhã..não, não é tarde!

Haverá amanhã,
e ele há de ser melhor.
Essa lição, com empenho,
já vou sabendo de cor.

De cor e não salteado.
Os dias um por um,
lado a lado no calendário.

O tempo é matéria da vida,
não podemos desperdiçá-lo.
Não nos é dado.
O tempo nos é emprestado.

Ele é uma ostra,
e pra saber o que lhe vai dentro
não precisa ser nenhum gênio.

Mas me desculpe a mentira,
a ostra em verdade é você!
O tempo de agora é ajustado,
você que não trabalha pra ver!


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

MAIS UM DIA

Paralisia da alma,
petrificação do pensamento.
Deprimido, a depressão
não é senão tormento.

Os olhos se turvam.
O paladar ignora.
Tudo antes tão vivo
apresenta-se morto agora.

Porque o entorno faz-se de mim,
que sou insulamento.
Faz-se de mim,
distraído em afogamento.

Preso a correntes,
não aproveito a correnteza.
Não me lembra ter talentos,
não percebo a gentileza.

A vida não me é grata,
não tem motivo ou valor.
Minha estação é estática,
padeço frio e calor.

Pareço infenso à melhoria
e só o que se me apresenta
é uma estranha alforria,
torto desejo de libertação.

Mas algo dentro de mim
denuncia a ilusão:
Não se escapa à vida,
ela é o tudo de todos.

A alma que se crê fugida
já está nela de novo.
Ou está nela ainda.
É uma escola obrigatória,

(e pro insurgente é reformatório).

A vida só melhora com o amor,
é inútil ter-lhe ódio.
É inútil o desgosto.
É inútil detestar-se.

Só o que é útil na vida
é o intuito de melhorar-se,
o esforço de ascensão.
Na reluzente escola da vida
até bomba é recuperação.

O aprendizado dá-se e
a quem não recolhe impõe-se.
A vida é esta escola hoje,
a mesma que já era ontem.

E eu tenho dito sempre:
toda escola tem mais lição que recreio.
E não o digo pelo prazer de pregar-te
mas por ser de fato no que creio.

Então recolha suas penas,
que pelo resultado são outras tantas alegrias.
Recolha toda chance, grato,
e vamos a mais um dia!

terça-feira, 4 de agosto de 2020

MANCHEIAS

Não me desmancho,
o manche é meu!
Seu foi o aeroplano
que arremeteu.
Não sou kamikaze;
enfrento a ferida,
gozo a gaze.

Ela é cura,
é recuperação.
Meu plano segue reto
para a retificação.

Meu plano é ascendente.
Sonho nas nuvens com pés no chão.
Meu sonho desata correntes
contra a corrente do aluvião.

Meu sonho vigia a meta,
vigiando minha intenção.
Vigiando meus processos.
Ao senhor doidivanas, se retire!
(Eu lhe peço!)

Nada de escola da incúria.
Nada de pra se molhar
fugir da chuva.
Nada dessa precipitação.
Aqui vivemos como se deve:
adequados à estação.

De nada me serve ver neve no Sol
ou galhos secos nas frutas.
Não vive nenhuma verdade
o que ao cuidado se furta.

A vida real se perscruta,
admira, entende.
A vida tem suas verdades,
se isso te surpreende.

Quem não tem coragem não se esforça.
Retaguarda é atenção.
E na vida a mais bela atitude
conserva-me o manche na mão.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

domingo, 2 de agosto de 2020

IMENSA

"Estamos bem
na medida do possível",
essa medida que queremos tanto ampliar
e a vida posterga.

Nega-nos a festa,
impõe a reflexão.
Mal sabia a vida sabida
que faço festa clandestina
no solitário coração.

Mantido sempre limpo
pra caso ela apareça.
Está com tudo enfeitado
e os talheres sobre a mesa.

Ornado com música que comove,
brilho nas janelas da alma,
e uma Esperança que ignora a morte.

A Esperança sorrida que sabe
que o futuro é um mistério
mais bonito que as lembranças.

Porque lá longe vem a angelitude,
tão mais fulgurante
que a esmaecida decrepitude.

Nem museu vive de passado,
mas dos futuros visitantes.
E são convidados pra minha festa
os presentes circunstantes.

Vão comigo pelo caminho,
este em que nunca nada é à toa.
A canção inspirada por um
este outro é que a entoa.

E a vida nunca fez segredo
de que a possível é que é a boa.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

DEVOTO

Aquém e além de nossa fragilidade
há uma questão de postura.
 
Há os que lamentam o sol
sem deixar de lastimar a chuva.
E há os que dançamos no campo minado
e nos parece melhor assim
até do que se fôssemos alados.
 
Os que não tememos nenhuma explosão
e até desejamos alguma.
Os que cantaríamos no palco
não mais que na rua, sob o poste.
Os pra que qualquer clarão
vale a luz de um holofote.
 
Os que vemos na vida o papel em branco
receptivo às tintas de que dispomos.
Para pelo menos tentarmos
dispô-la conforme os planos.
Tendo a coragem de os formular
mesmo se não têm muita chance.
Sabendo que a vida acontece
a seu revel e a cada instante.
 
Mas vamos contar essa piada para Deus
porque seu sorriso é nosso propósito.
E porque da vitória que coroa o empenho
é que queremos fazer-nos devotos.+

domingo, 26 de julho de 2020

CASÁGUA

Está-me um domingo com cara de sábado.
(Digo mais pra senti-lo do que pra frisá-lo)
O velado não revela

nem ninguém vela o revelado.

O sepultamento dá-se precípite. 
Porque é um julgamento sem arrazoados.
O martelo pesa-lhes tanto
que não pode ser sustentado.

A cada segundo desaba seu peso

sobre o que era amadeirado.
E nem se fosse diamantino

o teria suportado.

O golpe é muito insistente

pra que seja amortecido.
Ou talvez o véu fosse mortalha

e eu me tivesse esquecido.

Ninguém devia discutir acessórios.
Fazem a falta em batizados que não fazem nos velórios.
Nem se deviam discutir acidentes.
É da essência que se faz o que mereça a alcunha de gente.

Mas a quem tal não importe não importa nada!
E tudo que não importa é deixado ao limiar da estrada.
É isso ou o atropelo.
(o que é de novo o acidente valer mais que o desvelo).

Mas é apenas uma madrugada
("não é barro nem tijolo").
Mas a cada vez que derrubem a casa

hei de erguê-la de novo.


quarta-feira, 22 de julho de 2020

TRÊS CAVALEIROS

Sua expectativa
veste de derrota meu triunfo.
Tira da aorta ventrículos.
Faz terra rasa da edificação. 
 
Os olhos não percebem.
As mãos não tocam.
Os pés não pisam
o que da devassidão fez meu juízo.
 
Faz devassa no meu íntimo.
Inquisição no carnaval .
Autópsia no nascituro.
Finados no natal.
 
Desafinados
Esperança e desânimo,
Rogativa e inclemência.
silêncio e Cântico. 
 
Mas o coração segue pulsando
o seu nicho de bater.
Mesmo se pra bater apanha.
Mesmo se batendo se derrama.
 
A distância percorrida é tanta
que já não penso na fita vermelha
da chegada mas na do presente.
Eu que sou tão crente
 
que duvido de duvidar!
Nenhuma dúvida me embrulha
mas a certeza de incertezas,
flor sem estação 
 
Espécie de sempre viva
no jardim de quem se procura.
E não há tristeza que obstrua
o meu sestro de cantar.
 
Ou de me encantar com o que descubro.
Mesmo ou até mais quando resvalo,
piso em falso mas já não caio,
que a vida gosta de me levantar.
 
Como se levanta o sol sem perder de vista
Eu lhe peço que não insista
em a tristeza se instalar.
 
Como dizia Baba Yaga,
"saber demais envelhece antes do tempo".
Todos se querem deslumbrar
mas sem estarem presas do portento,
 
sem invocar excessivamente o numinoso.
O encanto silencioso está em dar-se conta
de que há coisas que só Deus pode saber.
 
Pouco importa embaralhar
o negro, o vermelho e o branco.
Só porque caio em noite me levanto
E me levanto ao me raiar.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

SORTE



A sorte não se compra.
A sorte não se vende.
A sorte se desvenda.
À sorte a gente se rende.
A sorte é a chance de construção.
A sorte é ter as mãos.
Tijolos, cimento,
coragem!
A sorte pode ser um lume
ou às vezes explode em alta voltagem.
A sorte sorri, chora.
Fere, fere-se.
Mas a sorte se coleta,
afere-se.
Aprende.
Ensina.
Reinventa-se.
Disciplina-se.
A sorte é o esforço
pelo bem que empenho.
A sorte é o cuidado
com o efeito do intento.
A sorte é o dia voltar
sem detença.
A sorte é eu não me curvar
nunca a nenhuma sentença.
Com sorte vou desafiar
o martelo do juiz, o vaticínio da bruxa.
A sorte é não desistir
jamais do que se busca.
A sorte é que vou sorrir
sempre do resultado.
Porque na minha vida o azar
foi sempre sorte ao quadrado.

domingo, 28 de junho de 2020

ALISTADO (É!)


O sonho é evanescente.
Ou bem se o vive,
ou mal se o prende
ou verdadeiramente se perde.


O que se pede é quimera,
consciente ou distraída.
Um sonho é coisa outra
Ou só te mente
ou é coisa vivida.


O sonho é concreto,
não é apenas abstrato.
O sonho... trata-se de plano
real e não só esquemático.


Pro sonho conte com o concurso
de muitos outros sonhadores.
O sonho ou é coletivo
ou coletânea de pendores. 


O sonho pra começar
é arregaçar as mangas.
O sonho é sair da sombra,
é pôr-se ao sol, é prana! 


Sonhemos, pois, então.
Pernas, mãos e olhos.
Meu sonho é acontecimento,
passado o tempo do ilusório.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

AMEM

Para Tom, meu pequeno pugilista.


Minha poesia me confessa para além de mim.
Para aquém.
Para dentro.
Para o magma sob as praias
de idílico portento.


Para a incandescência,
o calor das ideias que antes fossem indecência.
São fusão.
Dão-se a forjas que escapam
à minha predileção.


Mas o fogo não se pode ignorar.
É apenas queimar-se nele
ou só vê-lo crepitar.
Eu não detenho o conhecimento ígneo,
mas para algo se deve prestar.


E não faz mal se as tectônicas
não se tentam ajustar.
As praias cariocas têm mar gélido.
É mistério se me ponho a pensar.
(faço muito...).


Minhas praias são outras.
Ainda que mesmo as urbanas,
minhas praias são paraíba
ou são pernambucanas.

O mar é tépido.
O beijo é verdazul.
O céu me engole inteiro
como jamais fez no sul.


O povo soa tão bonito
que só posso ser contente.
Se dali fui mais pra trás
também posso ser mais à frente.


(O destino às vezes se tece
ao arrepio da gente.)


Então vou pensar no meu filho,
pra sempre o tenho e amar é agora.

E o tesouro que trouxe dentro
eu não vou levar de volta.

sábado, 13 de junho de 2020

PRÉSPERA

A vida lega
o inestimável bem da beleza.

Não é romantismo!
(nem é certeza...)


Certeza mesmo
só o pensar.
Pensar infirma qualquer coisa
que se pretenda afirmar.


Firmeza,
(mas firmeza mesmo!)
é só o tempo passar.


Não adianta correr,
nem faz falta esperar.
Só o que muda algo é ocorrer.


(se ocorrer prosperar)

sexta-feira, 12 de junho de 2020

FLÂMULO

"O céu morria uma morte turquesa"
enquanto me precipitava de paraquedas
sobre sonhos prontos.


Nomes, condições, pontos cardeais.
Tudo que não seria sobrescrito jamais.
Tudo sobre o que não imprimiria minha marca.


Tudo pra que não fosse reino,
pra que não fosse pátio.
Tudo pra que não houvesse recreio,
irretrátil.


Apalpava-me, insubstante.
Imponderável de antes.
Antes que eu fosse.
Antes, portanto, que soubesse.
Antes da evidência de que o que sobe desce.


Projétil, projeto não.
Nada é ordenado pelo toque da minha mão.
Que não sabe afagos e tapas,
Apenas sabe tocar, timorata.


Saber que evolução existe não desenvolve.
Assim como aspiração não modela ou colore.
Formulário sempre à mão,
apenas nunca preenchido.
Por não achar que se pudesse
contratar o destino.


Não assumo as roupas do irmão mais velho,
que não o tive do mesmo gênero.
E nem tento respirar profundo
falto de oxigênio.


Que alimenta as células,
como alimenta as chamas.
E por falta de haver brasão,
vou recolher minha flâmula.

terça-feira, 9 de junho de 2020

MONTURO

Nada me é adequado.
Eu estou ao contrário
de mim e em mim.


Meu guarda-chuva
não me guarda do que evita.
E nem sei de quê.
(Eu não vi).


Já sublimado sou ainda líquido,
e me precipito sem irrigar.
Mesmo desgastado sou quadrado.
Não pareço feito para rolar.


Pareço pedra fundamental
mas não erijo.
Educador mas não me corrijo.
Musical e não faço canção.


Só sou verso porque não sou prosa,
pois que nada em mim se entrosa.
É tudo desarrumação.


Livro que não se edita,
sem encadernação,
essa soltura não é liberdade.
Parece ser apenas gastar-se,
perder-se sem proveito.


E não aproveito o ensejo
pois que não tenho intuito.
Então deixo-me estar entulho
até eu vir-me recolher.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

BALANÇAR-SE

Como castigo por ter-te doído
estou preso, recolhido,
no preâmbulo da dor.


Como a expectativa é melhor que a festa,
também a angústia é maior que esse detestado furor.


O ponto de ônibus paralisa,
tão pior que caminhar ou balançar-se no lotação.
A Estação, onde nunca se está seguro
nem detrás da linha amarela,
onde o medo faz de tudo queda,
aquela de estranha fascinação.


"A noite tava fria".
"Era o meu corpo que caía".
De tudo soube antes,
mas o tempo não assegura prevenção.


Se a chuva for pouca tiram-se as roupas do varal.
Se há tempestade nem a casa é abrigo
e está-se melhor na rua.
Mas a rua está interditada
e não alcanço nenhum outro planeta,
embora Júpiter me faça muita falta.


Tanta falta!
Não se escreveu ali a "Ode à Alegria"
nem foi Jesus a alegria dos homens,
mas é aonde nos alça a flauta mágica.
Onde o réquiem não se perfaz.
Porque morrer a cada vez
é não morrer nunca mais!


O mais triste,
a dor em sua própria concepção,
é precaver-se da vida.
Um concepto do intelecto
de uma vida adoecida.


Mas eis que surge o Sol
e com ele mais um dia.
E vou tratar de tratar minha vida
como coisa luzidia.

domingo, 7 de junho de 2020

TRIAL

Despautério
a vontade na noite
do climatério.

Inversão do passado
fazê-lo presente
no desazado.

Nada se repristina.
Na noite ou no dia
há neblina.

Nada se recupera.
Dá igual se esteja
acima ou embaixo da terra.