quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

EXPERTO QUEM?

 Então disse a seu irmão:

- A ser esperto melhor ser bom!

Mas seu irmão não o entendeu.

(Era esperto demais pra isso!)

sábado, 11 de dezembro de 2021

FLACK

Ouvindo músicas da madrugada
(Sabe músicas da madrugada?)
Dilaceram a alma,
e fica a alma lavada.

Karaokê no carro.
O carro fora da estrada.
O caminho por cima de quê,
a estrada tendo sido furtada?

Impressões apostas como pegadas.
Talvez com a inconsciência de quem já não aposta em nada.

Apostas dão prejuízo.
São vícios.
Precipícios.
Ciladas.

"De outro carnaval,
com outras fantasias".
De quando carnaval ainda acontecia.

Confetes.
Serpentinas.
Mais de mil palhaços no salão.
(salão de pura alegria).

Mas nunca entendi arlequim.
Como nunca entendi colombina.
Embora só me tenha entendido
através de fantasias.

Mas já me cresce a barba.
Já me está a cara comprida.
Já me distraí de Roberta Flack
e o dia raiará em poesia.

sábado, 20 de novembro de 2021

SONG TO

Do you always forget the rice?
Do you often forget to race?
What's in your paradise?
Is there room for the Human Race?

Secluded?
Do you feel persecuted?
Well, I guess it doesn't matter.
You're not as seen as you imagine.

There are other people.
There's Art.
and there's crime.

You don't need to be worried
just to feel alive.

You can breath.
You can touch.
You can this.
You can that.

You can dream.
And that's where it's at.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

NINDO

Cada lágrima que verto
é uma cicatriz com que me marco.
Asas mortas, já não abraço.
Não tenho membros.
Não tenho traços.

Não me expresso.
Não me aprazo.
Escondo-me.
Trago-me.

Não sou trazido, luzidio.
Escureço.
Calo.

Os ventos sem moinho.
Os dedos que já não calço.
Sem distâncias.
Sem destinos.

Jamais chegando.
Nunca tendo ido.

domingo, 24 de outubro de 2021

ESPERAR

As capitais eram poucas,
muito poucas cidades.
O país, imenso.
O litoral, interminável.
O interior, incomensurável. 

Fiz a canção e queria que soasse
onde o céu fosse mais estrelado.
Pedi a Lupicínio que me indicasse o lado.
Seu gesto fez 360º dentro dos limites do Brasil.

De que importam as luzes da companhia energética?
Nossa luz é genética.
O Brasil incandesce.
Mesmo com tristes palhaços desorquestrando tragédias.
Descondutores-pilhérias.

O Brasil ri em meio ao choro.
O Brasil pede socorro.
O Brasil jamais deixará de ser.
Sempre vai sobreviver.
Pouco importa que lhe sequestrem a bandeira.
Que hasteá-la hoje seja coisa de canalhas.

O Brasil não veste a mortalha.

Sobressalta-se.
Salta-se sobre os cacos de vidro.
Matá-lo é impossível.
O Brasil é a matriz da vida.
Gente-humilde luzidia.

O Brasil prosperará.
Tudo é tempo e empenho
Pra quem desdobra o verbo "esperar".

terça-feira, 12 de outubro de 2021

THE CLOUT (song)

If I had your eyes
If they could cry 
It would make sense tonight

If I had your arms
If they could embrace me
That's how happy I could be

If I had been wise
not to miss on you
I bet you'd be glad too

If we had been brave
As not to drop it
Then maybe we could still feel it

But life is only easy
when you look back on it
As we should know by now

And that is why
I must be going
I hope you've got the clout

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

DOCE SENHOR

 Doce Senhor,
também quero ver-Te.
Quando não alcanço perceber-Te
minha alma plange.

Senhor, sigo-Te como posso.
De joelhos, Senhor, imploro
que eu possa conhecer-Te.

Abre meus olhos, Senhor!
Apresenta-Te!
Dá-me da tua Água.
Dessedenta-me!

Quero, Senhor, vida eterna
que já me apanhe na Terra
e me conduza às alturas.

Senhor, esta tua criatura
quer amor e paz.
O que a tua doçura traz.

O amarás e amarás!

Senhor, sou contigo.
Chega do amargo castigo
de do Senhor me apartar.

Com o doce eflúvio de tuas palavras
faço meu próprio parto
quando, Senhor, reparto
Tua alegria com todos.

Senhor, sou alvoroço,
mas dentro de paz profunda.
Por favor, Senhor, me infunde
tudo de que posso ser portador.

Dispensador do que o Senhor despeja.
Posso ver que minh'alma viceja
e se doa em abraços fraternos.

Obrigado, Senhor eterno,
por nos brindar com Teu verbo
que tudo fez e refaz.

sábado, 9 de outubro de 2021

VIVER

Viver não é vão.
Viver ensina
a sina e a redenção.

Viver é trajetória.
Melhora.
Evolução.

Viver é lapidar-se,
abrir caminha em-si-adentro.
Libertar o anjo detento.
Achar a fonte dos que me são.

Viver é entender a escola
agreste do mundo aqui fora.
O que flora.
O que não.

Viver é olhos abertos.
É Deus pertinho.
São as virtudes no cadinho
se fundindo com atenção.

É ser-se o operador desperto,
sob o céu ou sob teto.
Só é viver a verdade em ação.

domingo, 26 de setembro de 2021

CADA ESTAÇÃO

Cada estação sua beleza.
Nem sempre se vive quando floram as cerejeiras.
Nem todos os dias reproduzem-se as baleias.
Como não tem sentido uma vida pra encher-se de cerveja.

O mundo precisa mudar, 
então talvez a empáfia juvenil tenha sua hora.
Talvez seja útil a fase da soberba,
mas tem a hora do prato principal e a hora da sobremesa.

Chega a hora da doçura,
a hora de ser terno.
Outro tipo de bravura.

A coragem de se olhar.
O esforço de se entender.
A ousadia de deixar o casulo
e nele o medo de crescer.

Cada estação sua beleza.
Assim também a humanidade, 
que também tem sua natureza.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

SÃO

Não são promessas,
são propósitos.
Não são evidentes,
nem são insólitos.
São o céu,
e são o solo.
São o Sol,
e são semente.
São a chuva,
e o broto.

São o futuro
e eu,
alvoroço! 

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

MIM MENOR

 O papel em branco.
A tinta retida.
O que embargará minha retina?
De que a íris se esconde?

O olho, de explorador,
já não ousa lançar-se longe.
Só ousa lançar-se perto,
lançar-se adentro, fazer-se interno.

Pois o que posso mudar está-me.
No aspecto das coisas só posso contemplar-me.
É comigo que vivo.
É a partir de mim que vejo.

(Mesmo se com tanto espetáculo
 eu às vezes não percebo).

Mãos à obra!
Mãos em mim
A ver se, trabalhador devotado,
consigo atingir o fim.

De entender que ao fim não se vai.
Que fim, enfim, não existe.
E que mais ganho em,
me melhorando,

expandir meus limites!

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

É!

 Se as perfeições biológicas, físicas e 
astronômicas pudessem ser obra do acaso,
os melhores poemas seriam os de quem jogasse letras pro alto,
e as melhores músicas, as de quem sorteasse notas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

GREATEST HITS

 1. "Te amo" sincero da mulher amada.

       música incidental: "Também te amo!" sincero.

2.  "Deus te abençoe!" de um crente sincero.

       música incidental: "A nós todos, irmão!" sincero.

3.   Bluetooth

terça-feira, 10 de agosto de 2021

LOST AND FOUND

To Fá.


Been wanting to cry for no reason.
An athlete's victory
A fire's victim
The change of season
The chance to rebuild
A spell canceled
A love concealed

I do think love shines so brightly
It just has to be seen
Only our eyes sometimes just can't.
And that's why our souls have theirs.
It's a matter of silence.
If only we would shut up for a while

Shut the world down.
Breathe in
Be in
Stay tuned
Life is not doomed.
Life is in bloom.
Yes it is!
Until time is through

And then...
Well, then God only knows.
But the Angels have whispered.
From the stars or from the Sun?
Either!
It's a light that even in the night...

Luv ya!

domingo, 8 de agosto de 2021

FAÇA-SE

Para Fá.


Romântico.
Clássico. 
Barroco.
De tudo quero um pouco.

Pra cantar o renascimento do que é tão grande
preciso de telas, aquarelas,
de mais livros do que pode a estante.

Cada instante projetado
portador de valores eternos.
De belezas impossíveis;
jardim de flores imarcescíveis,
de um perfume que cruza os tempos. 

Música de altas esferas,
a mais paciente espera,
pras mais nobres realizações.

Aspirações traduzidas em fatos,
em sonhos de beijos e abraços,
de mãos dadas, proximidades.

Já não preciso de mais nada:
paz, amor e sua presença,
pra cumprir  a alegre sentença
lavrada pelo Criador.

Pois nos lancemos sem detença
ao cumprimento, sem pressa,
daquilo pra que o dia chegou.

sábado, 7 de agosto de 2021

IBIRAYSÚ

 Para Fá.

Deitei sobre o verde e sonhei.
Sonhei que era dia.
Sonhei que era fim de semana
e que ela sorria.
Sonhei que seu colo me acolhia.
Sonhei que tudo se podia!

E porque me atrevi a sonhar
tudo era como eu queria.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

ALIMENTO

 A ilusão não se come.
Não se come mas alimenta.
Confeito na entrada,
adoçante quando se ausenta.

(Amarga em retirada,
doce quando se apresenta).

E olho para os anos já deixados,
a ver o que se aproveita.
Se aproveitaram como passados,
e sem deixar receita.

Nem eu a seguiria,
que não seria remédio pro meu mal.
Meu remédio é viver o presente
(o passado me dá igual).

É viver na mesma direção,
mas no sentido futuro.
Numa travessia sã,
nada de banzo ou escorbuto.

Que nada me escravize;
disposto, vitaminado.
Para plantar o futuro
este é o dia mais azado.

E agradeço a Deus
a oportunidade de abrir os olhos.
E vejo pra onde vou.
(E vou, não soçobro).

Abro as portas às bençãos.
Abro as janelas e até mando tirar o telhado.
E quem diz que amor não alimenta
nem quando come é alimentado.

sábado, 31 de julho de 2021

4.2

Com Fá


42 é meu 6 vezes 7.
O amor desentorpece. 
O amor pede e,
gracioso, concede.

É o mais produtivo tumulto.
É vitória.
Se de verdade juntos
o amor é triunfo (glória!)

sobre qualquer embaraço.
Ao amor não faltam abraços.
O amor tira de si,
enche seu próprio prato.

É sua própria sobremesa.
O amor deslumbra,
é o grande indutor de beleza.

O amor (e isso sem dúvidas...)
é a única certeza!


segunda-feira, 26 de julho de 2021

OUTROS OLHOS

para Fá.

Não sei há quanto tempo te tenho
dentro.
Aqui, onde me empenho.
Onde recolho o calor do Sol
e me recolho do vento.

Porque o ar em movimento
poderia frustrar o intento
da chama bruxuleante.
A chama que não havia antes.
A água pro sedento,
norte pro navegante.

O tempo não me mede os instantes.
42 anos não dizem muito.
O tempo, sim, o sinto,
mas não lhe vou prestar tributo.

Não temos velas sobre o bolo
Mas temos o mesmo bolo.
O bolo-ele-mesmo.
Enfeita a mesa.
Deslumbra os olhos.
Contenta!

Como contenta nossa soma benta.
De cuidado e dedicação.
De entrega.
De partilha.
De olhos.
Mas olhos nos olhos:

Muito amor, 
pouco relógio!

sábado, 24 de julho de 2021

MUSICALL

 Para Fá.


Não sei dizer o que sinto,
mas preciso,
pois não achei canções pra tanto.

Mas só com dizê-lo,
garanto,
você já ouviu o meu canto.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

SORTE

Para Fá


É com você que confabulo.
Em você me incluo,
duo do céu.

Sol, Lua,
que todo brilho influa.
Que tudo flua.

Casa, rua.
Tudo na companhia tua.
Tudo em como a gente sua.

Tudo que a gente soa.
É a canção que o futuro entoa.
Todo tipo de música boa.

(a que eu e a que vc escolha).

E tudo é entrega.
Somos nossa própria regra.
Dias de feira, tempos de férias.

(Vértebra por vértebra)

Suspiro e sopro.
Ar que é alma como é corpo.
Ao cais, ao porto.


(aos mares de nós!)

Barco, navio, escuna.
Tudo que nos reúna.
Tudo que nos embale.

Até quando Deus sabe.
Deus, que agora nos pisca
e faz laços de nós.

E tudo em nós é coragem.
É perdão.
É empenho.

Por tudo nos compensa a alegria
de esta reunião ser alforria.
Euforia e serenidade.

E a gente já não tem idade.
Pois que todo tempo é nosso.
É nosso suporte.

É sorte!


segunda-feira, 12 de julho de 2021

FAZ

Precisamos buscar quem somos:
o lindo ser entre os escombros;
a luz ainda nublada.

Faz isso da vida
ou não fazes nada!

Nada se faz sem essa busca,
a luta lúcida para ser-se.
Ignorá-lo é entorpecer-se.

E estar entorpecido
é esquecer-se!

terça-feira, 6 de julho de 2021

PORTENTO PORTANTO

 "Me perdi, me esqueci, dentro do seu mundo.
 Procurando a vida com você".


Quando alguém nos encanta,
assenhora-se das canções de infância. 
E até da que parecia inata.
O coração se dilata.
O rosto ondula um sorriso.
Algo em nós se adapta, fazendo-nos abrigo.

A alma não quer distância,
quer-se dar.
Tudo se abre e convida,
e tudo quer penetrar.

Queremos a volta por cima,
de não importar estar debaixo. 
Bem mais que posições importa quem está ao lado.
É torvelinho que o carinho faz furacão.

O que às vezes pede distância
pra mais justa contemplação.
E assim, de longe,
vê-se que o belo em verdade é lindo.
E a gente quer se reaproximar.

Já se sabe do que é capaz o vento,
e a gente quer cirandar.
Num aéreo movimento respiro e bailo
e em ti me espalho,
Sorte! Portento!

domingo, 4 de julho de 2021

ESPERO

"Tudo que já fizemos juntos, e o que deixamos de fazer,desaba, alta madrugada. 
E nada faz a menor diferença quando a gente pensa no que ainda pode ser"


Voltar a vê-la rir,
de não conseguir parar.
Vê-la dormir.
Ouvi-la sonhar.
Vê-la disfarçar um sorriso
pras besteiras que sou de falar.
Aceitar reparar na canção
de que sei  que não vai gostar.


Dizer-me francamente um "Francamente!"
a seu próprio modo.
Vê-la adulta e menina,
banhada em águas com cloro.
Ouvi-la não retardar dizer o que a incomodou.
Vê-la ter paciência com tudo que ainda sou.
Perceber-lhe a esperança no que vou mostrando que aprendo,
e que vou começando a ser.


Compartir comigo do plano
de juntos ver-nos crescer.
Aceitar que há dificuldades escondidas no caminho;
que há espinhos na rosa, 
mas que é rosa, e não espinho!


Espero, que a vida é longa,
muito longa,se ainda não acabou.
Espero leve, não sofro,
que é doce a espera no amor.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

PORTAS

Tudo que se vive é prova.
Até o de que se gosta.

É prova como te portas,
e o com que te importas.

É prova o que e aonde portas;
onde e por que aportas.

É prova como abres
e fechas portas.

(E a gente confirma quando se deporta!)

sábado, 26 de junho de 2021

ACÚLEO

Espinhos são muito superficiais.
A seiva interessa-me muito.
A seiva me interessa bem mais!

A seiva bruta, 
mas que se vai elaborar.
Como a larva feita borboleta
soube se libertar. 

(E nunca voou em linha reta
 como marcha um reles militar).

Coragem, que asa não é azar!
Nem inflamação é sintoma.
(Ou é sintoma mas não de doença)
Inflamação não é preocupação,
mas é tua própria emergência.

Conhece-te.
Revela-te.
Oferece-te.

Faz-te celestial,
que o céu te acomete.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

quinta-feira, 24 de junho de 2021

BALÃO

São João
fez balão
das minhas ilusões.

Pula a fogueira,
Ai! Ai!

Um fogo que só queima.
Não ilumina.
Não aquece.

Um fogo que...
Esquece!

sábado, 19 de junho de 2021

QUEM MAIS SE AMA (Lustro)

Melhorei em 5 anos
o que se melhora em 5 anos.  
Ninguém por imaginar asas
vai-se transformar em anjo.

No Recife amo Pernambuco.
De Petrolina espio a Bahia.
Como dos céus plenos de Brasília
gosto de imaginar a linha.

A linha é ilusão.
A vida é novelo.
Quanto mais vivo me revelo
e me tenho mais apreço.

Apreço sem pressa,
já quase sem desespero.
Já penso mais na meta
e atuo com mais desvelo.

Cuidado com onde piso,
que assim não piso em ninguém.
E dou mais atenção ao siso,
sem por isso ser-lhe refém.

Há mais liberdade na consciência
do que jamais houve no doidivanas.
e penso, em perfeito juízo,
que mais se estuda quem mais se ama.


terça-feira, 15 de junho de 2021

MUSA DA CANÇÃO (pleonasmo)

Minha avó passou.
Passaram minha mãe, meu filho,
e todas as namoradas.

Retirada a música,
minha vida reduz-se a nada.
(A do compositor popular,
e a das esferas mais elevadas).

Tapas da realidade.
Poesia que enobrece.
Suprimida a música
nada na vida acontece.

É preciso muito cuidado
com que música se afina.
Há música pra melhorá-la
e música que destrói a vida.

Sons para deturpá-la
ou fazê-la mais evoluída.
Nos bares, nos quartos, nos palcos,
música é a música da vida.

sábado, 12 de junho de 2021

PLENO COMUM (Um Doze)

O sonho é tudo enquanto se vive,
é do que se faz o sonhador.
Ainda bem que jamais me contive
em matéria de amor.

Atento ao impulso,
jamais à convenção.
Movido antes ao pulso
incerto do coração.

Disritmia que não mata,
embala a vida.
A mesma vida versada
e assim jamais esquecida.

Tudo que vivo plasma-se
e entende-se no poema.
Do vivido tenho orgulho.
Nada ali faz-me pena.

Mas o sonho se desfaz,
que não é propriedade de um.
Porque o atributo do sonho real
é o de ser o sonho comum.

Daquilo que só é real se se divide,
e assim se multiplica.
Não digo que esteja triste,
mas é tanto que isso implica!...

O sonho desfeito não é sombra,
ele é quiçá uma pista
que aponta pra de onde assoma,
mas também pra outras conquistas.

Ninguém perde o aprendizado
cravado no coração.
E vou fazer do decantado
supedâneo da construção.

E pouco importa se com palavras,
sou dedicado e me empenho.
E assim só sei do amanhã
que será mais um dia pleno.

terça-feira, 8 de junho de 2021

JE N'AI PAS DE TOUT L'HABITUDE

 "Moi, je crois aux histoires
auxquelles les autres ne croient pas encore"


QUERER é querer.
Querer, não.
Trazer solta a mão.
Querer é temer às vezes
a boca da solidão.

Querer é não querer ser tragado.
Digerido.
Ocultado.
Esquecido.

QUERER é querer ser processado.
Atendido.
Considerado.
Compreendido.

É não ter segredo
por tê-lo de bom grado dividido.
É ver como é rentável
o no quanto se tem investido.

Querer é querer ter certeza
mas estar na verdade confundido. 
Querer é querer saber-se
mas estar-se apenas presumindo.

É querer ter
e deixar o ser impercebido. 
É mania que lhe vem
do muito havê-la aprendido.

Deixe de apenas querer
e QUEIRA ter-se aprendido.


domingo, 6 de junho de 2021

CENTRO

 

#Safrade2013


Eu queria morar num desses prédios do centro mais despretensioso, de nome "Cannes" ou "Mediterrâneo", ou qualquer outro que leve ao contraste de sua deselegância com o presumível charme do originalmente abrigado pelo nome. Ali a efervescência dos dias de feira me soterraria sob seu movimento quando também eu mais funcionasse. E o domingo alçaria a uma perturbação a ninharia do ganido de um cachorro velho; no domingo, quando também eu me sinto vencido.


Eu me sinto centro para além da obviedade de ser o centro de mim. Eu também tenho picos de vida, e também malvivo o ostracismo, quando meus dias não são úteis. Eu também sou mais colorido e agitado quando é assim a gente que me passeia e sou cinza, ou cinzas, quando a maré já não está cheia. Eu também sou num dia o espanto por as ruas serem tão largas e no outro o espanto por não bastarem a tanta tristeza.

E fico sem entender por quê os prédios são tão altos, quando estamos tão rebaixados, e os produtos tão novos, quando estamos tão defasados. Do que se faz um centro, e por que se oferece a todos quando é tão exclusivo o que o orbita? Por que outra gente, aqui tão perto, não sabe o que é estar aflita?

Mas eu sou só uma rua do centro, o que não falta é tribo! Eu sou só ruas do centro, não chego a prédio. Eu sou só ruas do centro, sou tédio. Vou de esquinas a viadutos. A garota-propaganda nunca usa o produto.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

ÁGUAS

Bateu asas e voou.
E pra onde será?
E será que a merece mais
quem agora a vê voar?

Será que lhe aprova o plano de voo?
Será que a ouve aceso por dentro?
Será que percebe que o seu cheiro
tem o condão de parar o tempo?

Será que se pode guiar por apenas o sorriso dela?
Que tem nela agitação de festejo
e silêncio de capela?

Será que com ela tanto faz se campo,
se roça ou se praia?
Tanto faz também se parques
são a viagem que mais a atraia?

Será que nota que as suas censuras
são as mesuras de um cuidado?
E que muito mais fatura
quem saiba estar do seu lado?

Às vezes o futuro me assoma bonito,
florido e constelado.
Mas quando me concentro
noto que contemplo nosso passado.

Assim que noto quedo-me triste.
E o moinho queda parado.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

D'EU

Apaixonado...por ninguém!
Apaixonado (que que tem?)
Pega nada não!
Ninguém tem nada com isso.

(Eu sou a própria exceção)

Meus sonhos não me respeitam.
São campos férteis.
Desleais, me esperam dormir
e a liberdade acontece.

Impõem-me as ideias que querem,
fico prenhe de clichês.
Até mesmo carrosséis
e discutir os nomes dos bebês.

Fico músicas de madrugada
em alternância:
suaves e arrebatadas.

Se essa rua, se essa rua fosse minha
não havia esquinas que você dobrava.
Se essa rua, se essa rua fosse minha
a rua da minha era a da sua casa. 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

DORIDO

Todas as minhas dores são de amor!

Amor pela mãe despida de sua criança pequena.
Pelos pequenos sem pai, sem pais.
Pelas faixas de terra sem paz, feridas, sem gaze.

Amor pelo ódio que se imagina sem remédio. 
Pelos insatisfeitos e os que sofrem tédio. 
Pelos que renunciam à oportunidade da vida. 
Tenham longas barbas ou tragam as caras lisas.

Amor pelo filósofo empolado que não ajuda ninguém a ser feliz. 
Ao que pra ser inteligente é sarcástico, que ainda faz o que muito fiz. 
Amor pelos que não tiveram oportunidade, ou por lhes faltar ou sobrar idade.
Aos que desperdiçaram tempo imaginando deter a verdade.

Amor pelos muito pobres, que não tivemos amor pelos que nos amaram. 
Pelos hesitantes,  pelos que não mergulharam.
Amor pelos que, à beira da vida, não se lhe lançaram para não sofrer.
Pelos que perdem  a vida pro medo de morrer.
  
Pelos que prestam atenção mas não conseguem absorver.
Amor por quem não sabe a que  leva o que traz escondido. 
Por quem sabe censurar mas nunca se melhorou.
Amor pelos que fizemos péssimas escolhas que alguém corroborou. 

Muito amor e merecido a quem sempre sorriu e nunca cobrou.
Amor pelo já falecido e pelo que só começou. 

quarta-feira, 26 de maio de 2021

BRING ONE OF YOUR OWN

 



"REMEMBER IN THIS GAME WE CALL 'LIFE'
 THAT NO ONE SAID IT'S FAIR"


(é que poetas são benfeitoria voluptuária)

INBIÊNIO

Sua voz tentando surgir do riso descontrolado.
Sua voz tímida pra rezar.
Tímida por ter orado.

Sua voz em BH.
Sua voz em São Paulo.

Sua voz de dar ordens
(também voz de chamegar).

Sua voz presa na garganta
da minha voz de lembrar.

terça-feira, 25 de maio de 2021

NINA AOS 3


NANANINANÃO!
NanaNinaSim!
Nina tá cansada.
Nina quer dormir.

Nina tem estrada,
longa estrada pelo chão.
Ou pelo ar, 
pelo mar!

Nina, nessa idade,
tem liberdade pra se dilatar!

Nina, nessa idade,
tem muito com quê sonhar.
Sonhos doces, bonitos!

Nina, nessa idade,
pode querer o infinito!

Nina faz muita arte.
(nem sei se leva pito!)

Se Nina for boa à vontade
ganha até o aplauso do tio.

Nina brinca.
Nina canta.
É feliz sem precisar querer.

Nina, que a felicidade
seja sua por merecer!

domingo, 23 de maio de 2021

O AMOR ESTÁ NO FIM DO MUNDO

O amor está no fim do mundo
e sabem-no no Canadá.
O amor está no fim do mundo,
e eu destinado a estar lá.

(No fim do mundo, não no Canadá).

Sete espelhos quebrados
por alguém que partirá.
Sete anos passados
sete por esperar.

Estou em outro fim do mundo,
como o em que você esteve.
Estou em outro fim do mundo;
vi-o já vinte vezes.

Na manhã seguinte estará tudo bem.
Sabem-no em Porto Alegre,
mesmo se acenam de Estocolmo.

E sofro por tudo que não é.
Ecce homo! 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

COMPASS (Movie Theater)

"So sad"
- I said to no one -
"Will this ever be done?"

Days in the sun
Nights on that star
(Don't even know where you are)

Lands, but no sea.
That ship has sailed.
That ship is lost to me
(not on my fairy tale)

A lady so fair
So far
(And I hide on the stairs to cry)

I think about the car.
I recall the pool.
Will I ever fly?
(and where to?)

For the time being,
and as far as I can see,
there'll be no new beginnigs
on this screen.

COM PAZ

A noite não acaba sem que a alma
exale o doce odor da esperança,
que lembra os dias claros da criança
que brandia sua flâmula limpa e alva.

O estandarte da paz dos dias idos,
em que a calma sempre dominava
as horas em que o medo fustigava
com as lembranças do já acontecido.

Mas a vida é sábia e próspera.
E sabe esperar a cada dia
o ressurgimento do Sol.

Até que o equilíbrio conquistado
seja docemente demonstrado
com paz da aurora ao arrebol.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

P'RECE

 Toda canção de amor
grita o teu nome.
Parece luto.
Parece fome.

Não parece nada
de que se reclame.
Às vezes me aquece,
às vezes consome.

Queria esquecer como te chamam,
e como te chamei.
Já não uso palavras
(abafo o que suspirei).

Que tipo de engano é esse
que, comprovado, me desengana?
Todos!
(corre a fama...)

"Só não erra quem não faz",
dizia a chefe.
E eu fiz minha cota
(é inconteste!)

Vou dormir que ganho mais.
É melhor que chamar.
Ou "quem não chora não mama"?
Já tanto faz!

domingo, 16 de maio de 2021

NADA EU QUIS

Que importa se a desoras,
ou se às onze.
Calo do pouco que se pode dizer
do muito que se sente ( e esconde).

Um mundo ruidoso silente,
em que só soa o que não importa
e emudecem os plenamente.

Não existe encruzilhada,
encruzilhada é escolha.
Às vezes só gente vazia,
só gente muito outra.

E se vaga.
E tudo é acidente.
E quem acha que decide
na verdade não assente.

Assente na ilusão,
e há quem se diga feliz.
Esqueçam tudo que disse
(de tudo nada eu quis).

sábado, 15 de maio de 2021

MADRUGADA

Sábado de madrugada é imenso.
Na madrugada estou fora do tempo. 
ME expando quanto me penso.
(e me espanta não estar detento).

Sábado de madrugada nada me arde.
Não é cedo, não é tarde.
A madrugada apenas está
(e tudo faz-lhe parte).

Minhas memórias doces
são sonhos ainda possíveis.
Não tenho culpa de nada,
não tem disse-me-disse.

A madrugada me redimensiona
e me sinto conectado à toda gente que sonha
com dias mais felizes
e mesmo coisas medonhas.

A madrugada só chora risonha
(a madrugada que não me apaga me inflama).

Da madrugada tudo se aceita,
nada se reclama.
A madrugada me respeita,
respeita o que me chama.

E eu nem sei o quê...
(que coisa mais estranha!)

sexta-feira, 14 de maio de 2021

NÃO.

Foi uma lenta agonia,
dessas que o dia não vê.
Como a da escravidão
que ainda nos desgraça.

A morte dá-se de fato,
não importa que se decrete.
Como com nascimentos
assim também acontece.

Mas se a respiração cessou,
se a janela não embaça,
é melhor livrar-se solto
como a pedra na vidraça.

Que não se sabe se fuga
ou se, no instante, invasão.
A morte queda parada.
A vida que pulsa, não.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

SOME OTHER TIME

 "From time to time" is utterly a lie.
You don't get to experiment it that much.
(Well, not that much).
Time stands still.

And still you dream about a different dimension
(on the illusion of eternal youth?)
But time only stands still when it wants to. 
Time is not a fool.

It distracts you
'till that day you fear the most,
the day with a "too late" sign on.
(can you relate?)

Yes, you can.
Unless you haven't been around that long.
Ever been bored?
Ever got high?

(Man,if you haven't, 
please tell me otherwise!)

Just feel like being equal.
Just feel like being alike.
Just want to feel
(but I'm cold as ice)

In fact I'm so frozen
there might be something inside.
Some kind of creature that
still looks like it used to on a differen era.

I'm getting closer but still
I'm as far as a star that shines on us.
I can't believe I was created that stupid!

But I have proof, your Honor!
And I'll state my case
(some other time)

sábado, 8 de maio de 2021

DESNUDO

Passei pela tua rua.
Essa casa não é tua.
Pisei a calçada às escuras
(esse concreto não me atura).

Mirei tua varanda e a Lua.
Nada respeita minhas ataduras,
tão mais duras quanto a culpa
não é tua da minha casa nua.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

NUNCA A BATINA

 (para essa mirífica psicóloga)


Enquanto meu inconsciente
se organizava em linguagem
procurava entender Lacan.

Lacan, seu maroto!
Você deu o novelo de Freud pro gato!

Arrmaria, Lacan!
Hoje sou um homem mais forte
(nem tenho medo da morte!)

quarta-feira, 5 de maio de 2021

DO PROSCÊNIO

Do proscênio observo o tablado
e me pergunto do meu lugar,
de fora, calado.

Me abrigo no escuro.
Há luzes no palco.
Talentos se desenvolvem.

Há muitas cores e vozes.
Das minhas ninguém sabe nada.
Eu, que me anoto nesta folha pautada.

O Carnaval dura pouco
e muitos o chamam ilusão.
Do que discordo por muito.

Há tanto confete no chão.
Tanta serpentina.
Como pode ser falso o vivido
com intensidade tão bonita?
Com tanta verdade?

A fantasia sendo, de fato,
o de que mais me contento?
E foi nesse espalhafato
que verti o que me ia dentro.

Alegria não tem confim.
Alegria muda de plano.
Columbinas, Arlequins.
A gente segue sonhando.

O sonho é tão vivo
quanto se acredite nele.
E noto que ainda respiro.
(É meu perpétuo lembrete).


sábado, 1 de maio de 2021

COSMO ADENTRO

Tenho tanto amor em mim
que me condena,
que se condensa e choro.

Um copo de água com sal
pra ver se melhoro.
Um pouco de praia em cristal,
um pouco de mar num copo.

E me pergunto por que o borrão
não entra, ao acaso,em foco.
Numa visão clara, diáfana, idílica.
Uma renovação, constelação mirífica.

E me lembro de olhar as estrelas,
de contemplar o cosmo.
E que há cosmos em mim,
e que adentro tudo posso.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

A VERDADE A VER NAVIOS (1988)

Pessoas que dão conselhos
e já os descumprem com dá-los;
como legitimá-los?

E é como estou a alertá-los:
Ouçam o que eu digo:
Não ouçam ninguém.

terça-feira, 27 de abril de 2021

A PONTA

Só sabes de mim parte do que mostro,
mas julgas sabê-lo todo. 

Meu iceberg,
teu soçobro.

Teu preconceito ágil,
mapa preciso do naufrágio. 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

VAI TARDE

E quando, naquelas terras violentas,
um cabra safado morria,
ficava sempre a pergunta:

- Morreu de morte matada
ou morreu de morte morrida?

E era sempre de morte matada,
tamanha era a torcida.

domingo, 25 de abril de 2021

SOMBRA

A Lua não é desculpa.
A Lua é minha como a Lua é sua.
(mas a varanda sem você...é nua).

A Lua some.
A Lua alteia.
A Lua apaga e viceja.

A Lua é de quem sabe de fases.
A Lua está na verdade inteira
mesmo se pela metade.

Mas a Lua tem um lado cheio infenso à claridade.
A Lua não é bem o Sol
mas tem lá sua majestade.

A Lua sente e hidrata.
A Lua é o sonho do astronauta,
que verá secura onde o poeta vê prata.

sábado, 24 de abril de 2021

MAS NÃO É.

As nuvens por detrás do edifício fazem-no móvel.
É só uma perspectiva, gosta quem gosta.
(mal só se fala pelas costas).

Sinto-me à flor da pele
(nada em mim se revele!)
Segredos interessam-me;
são a chave do mistério.
Ou são sua matriz...

Longe de mim querer quem não quis.
Da liberdade tudo se faz.
Às vezes tudo menos livre,
presa de enredos mentais.

"Sempre é inesperado o abominoso".
Salvo quando já desencadeado.
Cadeado ninguém quer.
(quero assento do seu lado!)

quarta-feira, 21 de abril de 2021

ESQUADRA

"O Vento sopra onde quer..." (João).


Aviso aos navegantes:
"Navegar é preciso"
e necessário.

Mesmo quando viver não seja preciso,
viver é necessário. 
Viver doi.
Viver compraz.
Viver não cessa,
porque viver, se acaba,
recomeça.

Viver parece castigo,
mas viver é promessa.
De festa, pelo que atino,
com ensino...à beça.

A criança acha normal aprender.
Tem pressa.
Toca o mundo sem se deter.
Tudo que pode acessa.

O adulto, às vezes,
num acesso de morte,
renega a oportunidade,
perde o norte.

Quer retroceder,
desperdiçar a sorte.
Mas o barco sabe do caminho,
e ignora um tal timão.
As velas acatam o vento,
dirigem a embarcação.

A tempestade dá seu contributo.
E a bonança, se alternando.
Até que o ser se dispõe
a retomar o comando.

E ver que seu belo atributo
é enfrentar a procela.
E que barco atado ao porto
é destino frustro na cela.

domingo, 18 de abril de 2021

M'EMENDES

Ainda somos escravos da máquina e do tempo.
Outras máquinas e, decerto,
outro tempo!

Os tempos são outros!
(sempre outros...)
Isso todos o proclamam,
arautos do legado dos arautos.

Apenas a massa-leviatã parece engolida pelos dispositivos.

Mas ainda ninguém se dispõe
ao contato efetivo.
E mesmo se consagram
ao desprezo recreativo.

A única reciprocidade em voga
é espiar de volta na calada da noite.
Calada no que não tange o ar.
Um muxoxo e pensamentos pouco caridosos.

Mas quem se expõe arrecada outra coisa,
a que sua alegre fantasia ditou.
Triste tempo em que um sorriso não é sequer só mostrar os dentes,
como sempre fez a gente que não sabe sorrir.

Mas que proveito em outros talentos?
O que fazem com tanto dinheiro?
Todo ouro é de tolo.

Antes a resplandescência,
a cintilância,
os arroubos.

Antes os doidos de pedras da Lua,
de crateras da face escura.
Desde que ali sonhem com o Sol.
E esse sonho é já vê-lo.

Esse sonho é que irá devolvê-lo.
Mas pra quem não sabe de luz tudo é eclipse.
Outros tempos...
(e tristes!)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

ATI(M)

Mas sem resposta é a resposta toda!
O tempo despendido à toa.
O coração bem escrito.
O sentimento versado.

O pensar com carinho o passado.
Fica rosa-só-espinho.
Violão-só-corpo.
Não abraça nem entoa.

Não se nota.
Nada se pauta.
Tudo se julga.

O tempo escorre rugas.
Ruas não trafegam carros.
A roda não se inventa.
Tudo se arrasta.

A todos pariu a madrasta.
O pai não tem certeza desde os romanos.
As letras são cifras.

Tudo se enruste.
O sentido que lute!
Mas o sentido não quer fazer.

domingo, 11 de abril de 2021

QUINZE

Não me julgue mal,
isso não é assim o ano todo.
Mas todo ano há ângulos do calendário...

O ponto é: sinto saudades.
Muitas e imensas saudades!
Vou pejado.
E isto não é um erro.

(nem pode ser evitado).

Que dias felizes aqueles.
"Ah, mas..."
Sim! Exato isso.
Ainda com os apesares eles cintilam.

Porque muitos foram os céus bonitos.
As estradas, os parques, o sofá.
Quase não se pode voar
(mas já sou de mim... aéreo).

Os desmantelos, os erros,
até quisera tê-los.
Erramos bonito!
(mas tem gente que erra feio).

Todo erro meu é degrau.
Galgo, mas antes de tornar a errar
contemplo a vista da ascensão. 
Como é bom palpitar tudo isso que leio com a mão.

Sim!
A mão que tange o peito ela não é escudo.
Não me escondo dos defeitos.

Por que a madrugada é tão célere?
Aqui não há ruídos que me atropelem.
A música se pode ouvir tão baixinho
que as notas parece que me querem.

Que poetas são esses, Senhor,
que tiveram minhas ideias antes de mim?
Só se fui esses poetas antes do dia em que nasci.

Se te pareço triste, te equivocas!
Ninguém bate à minha porta,
mas resolvi chamá-lo paz.

Meu Deus, eu vivi demais!
Mas não digo que já vivi demais.
Em mim tudo continua e lhe ajunto novos apreços.

Amanhã acordo cedo,
se conseguir acordar.
O galo já cantou alvorada,
esse bicho precipitado com mania de avisar.

Mas vou lançar-me à tentativa,
que se adormeço sonho.
E é a isto que me proponho:
sempre continuar a sonhar!

sexta-feira, 2 de abril de 2021

SEÇÃO

A noite é dos que dormem como é dos acordados.
Como o dia dos tranquilos e dos sobressaltados.
Como as 4 estações são de todos os aqui lotados.

(7 bilhões, last time I checked)

A França continua decaída e orgulhosa.
A águia destes dias não capta a de outrora.
Sem ademanes e com muitos "uh...uh...."
Hesita. Não inspira ninguém.
Mas fantasia, e essa fantasia todos compramos.

O Brasil cresce em passado e o projetam para o futuro.
Coração do mundo, pátria do evangelho, e seguimos no escuro.
Provam-no números. Provam-no as costas sempre dadas e as mãos recolhidas.
E o Brasil segue vivendo das exceções mais bonitas.
A fé real, caridosa, que não dosa esforços pelos de fora da "ordem e progresso".

O Brasil deriva.
Não tem líder, tem abscesso. 
Precisa de auxílio médico, mas negam.
Metade do corpo não concorda. 
Metade quer morrer, que é mais fácil que lutar.

Mas não sabe. Não sabe nada!
Baba!
Mas o babadouro é lindo: verde-amarelo e estrelado.
Abafa!

Mas queria acordar amanhã!
(e bem longe dessa vara!)

quinta-feira, 1 de abril de 2021

DE MÚSICA

A música junta 
os fragmentos da minha vida.
Aquilo de que já gostava
antes de saber que queria.

A casinfância
e a amadurecida.
E toda a instância
que a sustinha.

A dedicação ao disco.
O desconhecimento da nota.
O acatamento pleno
do quanto se nota.

A aura modificada,
iluminada e expandida.
E a maneira blindada
de suportar a apatia.

De conhecer como se sente
o que a vida não nos brinda.
E como não se ressente
a vida que se quer esquecida.

Não existe vã toada
entoada de dentro pra fora.
E mesmo se nos vem adentro
contribuições de outrora.

A música quebrou o relógio,
cerrou as grades,
derrubou o portão.

A música está em tudo
e no estudo da recordação.
A música me embala agora
e também vai pautar o futuro.

Música, minha alma mater,
minha coragem e escudo.

quarta-feira, 31 de março de 2021

NINGUÉM FALA ALEMÃO

Uns cantam.
Outros filosofam.
A noite é escape.
A noite me escapa.
Da noite ninguém fala.
A noite é navalha.
Corta meu barato,
corta o seu.

A noite é inexata;
nunca acaba
nem aconteceu.
A noite é infinita.
Tudo posso nela.
Mas neste mundo patriarcal
ela é um descanso Dele.


(Ah se o Sol se arremetesse!)

A noite se expande.
Na noite sangro.
Na noite tenho gânglios.
Tenho glândulas.
Tenho muitas dúvidas,
ou talvez não!
(não tenho certeza...)
Vou deixá-las todas acesas,
pontuando a escuridão.

Sou breu.
Não sei o que aconteceu.
Mas senti muito profundamente,
como Janis Joplin rasga qualquer insensibilidade.
A noite vai ficando tarde
até de novo ficar cedo.
Eu a procuro mas não vejo.
Ela e os que não estão.

Alles gut!
Ninguém fala alemão!

terça-feira, 23 de março de 2021

GOOD TIMES (102.1 mHz)

 Vai ficando tão difícil terminar
que melhor nem ter começado.
Ou talvez ficar pra sempre
(não depende de quem sente).

Pra sempre nem existe,
inventou quem quis que existisse.
Inventou os contos de fada
(que nunca contaram pra nada).

Vida de princesa, como tudo,
só deseja quem não tem.
E não tem ningúem!
(que nem tem no Armazém...)

A paz não se compra.
nem se contrai
(como se contraem núpcias).
A paz sozinho se faz.

Isso é assunto de madrugada,
com Good Times na cabeça.
Uns diriam que faltam ideias
(outros que sobra tristeza).

sexta-feira, 19 de março de 2021

ENTREMENTES

"Me abraçam tanto agora
quanto antes de ser proibido".
Meus ouvidos sangraram daquilo;
ouviam recordes na televisão.

"Seu azar seria a sorte de muitos,
e você se dá por vencido".
Mas não caiamos no perigo
enrustido que é comparar.

Nem no de se compadecer,
que só aumenta o sofrimento no mundo.
O melhor é agir junto,
no esforço de transformar.

Mas a realidade desrespeita a esperança
e já não se resgata a criança que tinha a mania de acreditar.

Em tudo.
No coelho da páscoa.
Nos seus pais.
E em que bastassem cheques a quem não tivesse dinheiro.

E já chegou e passou janeiro
e seguimos no mesmo estado.
E até mesmo um novo março
sem nos mudar de situação.

Quem tem castelo chora da torre.
Quem não tem espera o que os poupe.
Quem tem Planalto tem Palácio;
mata e deixa morrer.

Só nos pode salvar adiantar uma era
e sermos o que seríamos no futuro,
quando a bondade nos faria mais puros.

Esse nascituro precisa de ocitocina,
ou precisa de fórceps.
Mas a oficina de cada um é o mais próximo
de o trazer a acontecer.

quinta-feira, 4 de março de 2021

SENTIDO

Conforme a cordiforme esperança
dança a criança que nos vai dentro.
Feita toda de sonhos,
esquecida dos sofrimentos.

O medo é não passar o tempo,
se amanhã é dia de coisa boa.
Mal sabe a criança que espera
que o tempo é ave que voa.

O tempo não espera.
O tempo não respeita.
quem acha que não tem pressa.
O tempo adverte: aproveita!

Porque sem aviso ou suspeita
o tempo, que era ave,
faz-se luz!
E a luz facilmente escapa

(àquele que não a conduz).

Aproveita a ciranda.
Aproveita o recreio.
Mas não descura das aulas
(a vida é o pacote inteiro!) 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

LENDAS

A lenda reza, sim, que a gente nasceu pra ser feliz.
É uma linda lenda. É lenda!

Com o que nascemos é com a possibilidade de sermos felizes.
Alguns com bem menos obstáculos.
Outros com uma chance com cara de frustra.
Cara de natimorta.

Mas é lenda!

Cá dentro uma guerra arde.
A guerra por adaptar-se.
E pra quem nada num mar mais revolto
esse esforço bélico será atroz.

(Pobres de nós!)

Mas há fortes! Não é lenda.
Que "só acaba quando termina" é a verdade suprema.
É ainda lenda!

Essa etapa, acabada, desencadeia nova.
E depois outra, em que as circunstâncias se revolvem.
Posições se intercambiam.
Disposições se renovam.

O ponto de vista faz sua mágica.
E não é lenda.
É da verdade que se fala.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

ENTRINCHEIRADOS

O Carnaval não é triste, Melodia!
O Carnaval não é folia.
O Carnaval não está
(É coisa que se adia!)

"Não me diga mais quem é você!"
Esteja de máscara.
Não até terça,
mas até o mal passar.

Sair não da avenida,
ou do baile,
sair da nossa vida
(que é onde já não cabe).

O Carnaval é da alegria,
estranha alegria de trincheira,
que explodirá por mil dias
de um tempo que a mereça.

Enquanto isso mandam os homens
que nem homens são!
Não são bichos,não são nada!
São lixos!

(Te afasta!)

Mas o tempo do "Sim!" existe,
quando "não é não!"
e o amor incide.

Sobre tudo!
Sobre dores,
sobre festejos
(que até parecem tumultos)

A Esperança é uma virtude...
necessária!
Que aceita a quietude
temporária!

É sempre Carnaval no Brasil,
até quando não há...
ainda!
(Vocês não perdem por esperar!...)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

ESTRÉPITO

A madrugada é uma brecha no tempo
e eu muito me contento
em gastá-la em disparates.

Taxonomista do absurdo,
invento classes para tudo,
toco notas que não escuto. 

Quem tem na cabeça,  em detalhes,
tudo como quer que aconteça,
como um filme de amor,
não precisa de parceiro... mas de ator.

A Estória também se repete como farsa,
a que na mente já se encenou.
É um filme repetido,
já na estreia sem sabor.

Aceite o tumulto.
Aceite algum conflito.
A vida que pulsa faz barulho.
(São os versos mais bonitos!)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

CONTRAFEITO

Quando jovem supunha
que sentia, indistintas,
saudades do que não vivi.

Hoje sei,
autocrítico e contrafeito,
que são saudades do que não vivi...

direito!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

NÃO SEDUZ

Chovia tanto ao meu lado,
que me senti encharcado
sem tomar uma gota.

Mas a sede persistia
e confesso que não entendia
tanta secura na boca.

Porque de onde olhava parecia
que toda água que caia
poderia distribuir-se:

um pouco pra plantação;
um pouco pra aplacar a sede;
ficando parte pra luz.

Mas repartição causa espanto.
Gostam é de tantos e tantos!
(Fraternidade seduz?)

domingo, 7 de fevereiro de 2021

PIANO

Um piano dentro de mim
toca a Sonata 14 em Dó menor.
Toca noturnos em mim (obra 9).
Toca e me comove.

Já não preciso chorar.
O piano chora sem lágrimas.
Vai num mergulho ao fundo d'alma,
não sei se pra me curar.

Cai água lá fora,
aqui dentro a chuva.
Assim que o ouvi entoado
soube que era pra mim.

O silêncio espera por uma nota.
As notas respeitam o silêncio.
Nota-se que há um concerto
no sem conserto aqui dentro.

Me dedilho e me liberto.
Não penso em estar completo.
Mas aprecio a montagem
que me dou em condução.

Aprendi a ser maestro,
a fazer o movimento certo.
E já não é mais abstração.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

É FUMO!

Fuma só quando bebe.
Bebe só quando sai.
Sai sempre que pode.
(Só pode quando não fode!)

Tudo é torcer pra perder
(e a vencedora é a morte!)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

NASSAUM

Para Tom


Queria escrever sobre café,
mas não tomo.
Escrever sobre placidez,
mas não me domo.

Então escrevo sobre ser pontual
como se fosse britânico.
Mas acho que fui holandês
só pra ser pernambucano.

Me encantar com o açucar de Olinda
e com as cores dos africanos.
Curtir o Antigo quando era novo.
(pra quando pude voltar
reconhecer o meu povo!)

Ser pai onde fui filho.
Receber tamanha bênção
na terra em que fui castigo.

Queria saber os detalhes,
mas parece interdito. 
Então só vou degustar
a sorte me ter sorrido!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

SUNBURN FREEZER BURN

Quem se queimou ao Sol
protege-se da luz meridiana.
Está atrás da cortina, 
de pijamas.

Cortinas que não o são tanto
(às vezes nem persianas...).
A escuridão só é possível
quando inteira se derrama.

Quando obsta,
frustra,
escurece.

(Nem se diz "escuridão"
se apenas entorpece).

Como o membro dormente
volta ao tônus,
o sonhador voltará ao sono.

E o sono é campo livre,
livre até do corpo!
Corpo ferrado no sono,
espírito revolto. 

Flashing lights
on the dark side of the moon.
Like kids that can't be seen
holding their breaths in the pool.

Mas o ar, de tanto, ameaça.
E ninguém perde um dia claro
com esquadrilhas da fumaça.

Acrobacias são coisa chata
depois de um ou dois minutos.
É mais feliz quem se grafa
pra entender seu tumulto.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

MILÉSIMO

Não tem como por de volta
o galho arrancado à árvore.
E fica a força bruta atônita
diante dessa simples verdade.

O tempo e a marcha.
A marcha e o detento.
Não se vê mesmo por fora
o quanto se passa por dentro.

As células, o baile.
Ou o quebra-quebra
quando o câncer invade.

(Ou 'aquela doença', nos termos de Minas,
que tenta impor silêncio ao que silêncio determina).

Até o náufrago tem a fé
da garrafa e do bilhete
As cinzas têm fé rediviva
no reflorestamento.

As freiras têm fé compungida
pelos cantos do convento.
Ou pedem com fervor
que a falta de fé se inverta.

Apenas eu,
trancafiado em minhas consequências,
não consigo provar que vivo.

E vão provar pela minha morte
o fato de eu ter vivido.
Até que sacramentado
o tão merecido olvido.

domingo, 24 de janeiro de 2021

ESTRELAS DO CENTAURO

A madrugada é do relaxado
como foi do aflito.
O amor, em albanês,
parece muito mais bonito.

Talvez porque intocável,
porque irreconhecível.
O que conquisto só vejo
bem depois de perdido.

Por isso o que seria do homem
sem o dom da lembrança?
Talvez se fizesse bem mais.
Talvez, se só visse adiante,
se se adiantasse aos percalços.

(Talvez, se adiantasse,
fosse bom negócio).

Mas dizem que de certo
só a hora de nascer e a da morte.
Metade só é certa se nos contam,
metade nem com sorte.

"Nem com sorte!"
O que haveria de bom
em chegar com a partida carimbada?

Só se à zona de guerra,
ou ao campo de concentração.
Essa barbaridade irreal de tão dura.

A nós resta aproveitar os tempos dados,
pois dizem que os há pra tudo!
Até  pro ódio, pra guerra, pra pragas.

(Isso tudo também dá e passa!)

Já dizia o poeta que toda guerra reviu paz.
Sejam as de 30 ou 100 anos,
entre ingleses e franceses,
ou entre gregos e troianos.

Eu não sei de nada!,
escrevo pro tempo ir passando.
Mas não gosto de matar o tempo
(, que na verdade estou namorando).

Até nos desentendermos 
e irmos cada um para um canto.
Eu pro campo do sonho,
ele pro Sol raiando.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

FLUXO

Vai o barquinho do que era
ganhando o horizonte.
E o que começou quimera
já não justifica pranto.

Os problemas não têm relevo.
As brigas me põem a pensar:
"Por quê entreguei-me a elas,
eu que já não era rapaz?"

Não era rapaz mas não jazem
o orgulho e o egoísmo.
Em tudo que agora repasso,
refaço o acerto comigo.

Puxo a voz da consciência,
respeitoso e pequeno nesse Tribunal.
E sei que a má insistência
me atrasa, tolo e banal.

Mas essa tapa tão merecido
é do tipo que é propulsão.
E já não sou o que tinha sido;
abandonei a contramão. 

"O Exército..." desenhado

 Disse (ou gritou?):

"- Não faz! Sentido!
 - Sim, senhor!"

Mas não faz sentido "Sim, Senhor!"

domingo, 17 de janeiro de 2021

URUTÚ-BRANCO

Dentro da situação corrente
não posso queixar nada!
Minhas únicas mazelas
são de amor
(autoprovocadas).

Como Diadorim condenado à tristeza
que não  quer ceder suas lágrimas.
Mas o dízimo do coração
nem podendo eu sonegava.

"O pássaro que se separa de outro
voa Adeus o tempo todo".
Mas também voa a Deus
(o que se pode sempre de novo).

Dê-se brado que o cego
tem direito a não tremer,
que o abundante que arromba a retina
nunca teve direito de ver.

Adormeço preste, se por hora e meia.
A sentinela da madrugada
assente nela
(que é postergada).

REM-REM-REM

Poverello, Chico-cisco, Pontífice Argentino.
E o rio é um Franciso a mais.
Na simplicidade que os animais ensinam.

"Essas estradas de chão branco
dão mais assunto à luz das estrelas".
Você vê o tamanho do mundo?
Pois vê o Lunar, e ao mar, e a fundo!

A fundo! 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Noturno em F#

A noite, imensa,
parece plena, parece que ocorre.
Mas só pra quem não se dá conta
que de saudades se morre. 

(em Gb)

sábado, 9 de janeiro de 2021

LUZES DE NAVEGAÇÃO

Exagerado por traçado astral.
Exagerado!, não faz mal...
Nada excede no dado para esplender
(O acertado ninguém pode deter).

Falta vê-lo!
Falta ver...

Um avião que não alça voo
move-se por ruas a que não se destina,
deixando em cada esquina um pedaço da asa.

Não repara no que é aerodinâmica
Não repara em hélices, motor.
Tem tanques enormes de combustível
e nunca notou.

Farois baixos,
prejudicado,
prejudica sem dar-se conta
tudo que está a seu lado.

Tudo se beneficiaria de sua mudança de curso.
Carros, casas, transeuntes.
Tudo melhoraria
se não destruísse as pontes.

Se decolasse intrépido,
deixada atrás e para a volta
a luz vermelha que o topo do prédio germinou.

Tudo mehoraria sem temer o voo,
sem temer alturas.
Tudo viria a bons termos
reconhecendo sua estatura.

E então poder instruir.
E então poder ajudar.
Então essa luz sobre a candeia
rasgando os céus a piscar. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

NOSSA

Saudade
palavra triste
quando se insiste
na versão sofrida.

Saudade
palavra nossa
e há quem possa
colori-la.

A saudade, engolida,
regurgita.
A saudade, bem dita,
é infinita.

Saudade dá e passa
por cima.
E se a embarcam
é deriva.

A saudade não tem norte,
nem sul, leste ou oeste.
A saudade dá em volta
(peste!)

E o que não mata
fortalece.
(ou engorda o que a saudade
tece).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

SEGUNDA

Na vida limpa-se e suja-se a louça.
Faz-se e desfaz-se a cama.
Toda energia é pouca.
Nenhuma esperança alcança.

Na vida suja-se e limpa-se a louça.
Desfaz-se e refaz-se a cama.
Toda inversão é louca.
Nenhuma Esperança cansa. 

domingo, 3 de janeiro de 2021

INSISTÊNCIA

Estou muitas vezes às portas do choro
como se o desconsolo
fosse a porta não se abrir.

Desamparado,
sem aldraba ou maçaneta,
sem campainha
e pior... sem voz!

Quisera lançar um grito atroz,
mas é interdito ao privilegiado.

Quem pode falar sem peias
não pode bradar "socorro!".
Então um pouco me morro,
num paradoxo crepuscular.

E nesse perdido solto
a nada me entrego
(desespero ou outro),
que conheço o sestro da aurora.

Se recolhe,
empurrado o dia,
mas horas depois que o Sol se retira
já é de novo sua hora.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

REVER

Os derrotados do parque, por serem tantos, com seus jornais a forrar os bancos, sabem o que é a derrota, não conhecem a solidão. O que os cobre já não cobre as notícias, que são adornos de telas, que surgem subreptícias, mas com brilho regulável. 

Eu, triunfante, não conheço pódio. Conheço as podas. A flora que quando vai florescer se acanha, adentra, encasmurra. Meus crimes não posso imputá-los a ninguém. Sou meu próprio refém, carcereiro, habeas corpus. Enquanto outros brandem copos e bridam, brindo-me com tempo para reflexão de uma luz que não é minha. Decerto me ilumina, mas é emprestada a juros, juras.

O filho que eu quero ter eu já tive, minha vida é declive. Não distingue planaltos de planícies. Ao nível do mar ou muito acima o Sol sempre me abrasa, queima, e não extingue o frio. Eu me rio. Sorriso de santo, riso de louco. Nada em mim é pouco! Tudo quer-se explodir.

Quisera espalhar-me em fagulhas. Incendiar a rua de um fogo purificador. Mas este tempo em que nascido macula a pureza. Todo tempo é incerteza. E se é incerto, nada é claro.

Não faz sentido fazer sentido. Basta verter e aliviar-se. E se alguém quiser esforçar-se, o jogo é bom e não dá azar. O que tenho é instrasmissível. Um dia foi falta de siso, ornada de falta de pudor.

Hoje tudo se mistura, a doença e a cura, a lucidez e a ilusão. Mas a desistência a Esperança a sobrepuja. Essa a verdadeira ventura, saber que sempre se pode mais. Daqui nunca se parte sem retorno e toda guerra reviu a paz.