segunda-feira, 30 de abril de 2012

Do Anedotário Poético Nacional




Entre Aníbal Machado e Oswald de Andrade:


-Mas você é um polígamo espetacular!
-Não! Sou monógamo em série!




Ah, os poetas!

domingo, 29 de abril de 2012

Low Cura


Eu talvez nunca chegue a ser mais que um cifra-a-dor. Mas o que não entendo é como os mais engajados do que eu no que só nos serve (e não forma) conseguem ter tempo pra mais do que inventar-se. É possível outra tessitura?

Já não entendo tampouco por que é que a dor havendo tanta alguém não se ocupe de torná-la outra coisa e se empenhe, se jogue mesmo, em ser decifra-a-dor. O decifra-a-dor, parece-me, está sempre ocupado da dor alheia, o que é uma adição. Comisera-se. A dor própria não se decifra. A dor apenas se pode cifrar.


Psicanálise? Já não sei! Tanto brinquei que me daria a "psicanalhices" que já cismo que é só o que é possível. Embora, é verdade, não me pareça haver problema em querer (tentar, é o que se faz) livrar alguém dos sofrimentos estéreis (dos estéreis, porque "inútil" é apanágio de todo o bem. O útil mal se presta, não me enriquece). 


E vai-se a vida. E se vai-se em vida morre-se nela. Cosa fatta...

"A gravata ainda está meio enrolada ao redor do colarinho que eu tirei".


sábado, 28 de abril de 2012

Ô Monde! Au Monde!




Diz o Mário a esse outro Andrade mais nosso para  não descuidar dos prazeres carnais. E de fato, se se escreve a partir da vida, não para partir a vida (repartir a vida?), ou para a parir. A vida puta nenhuma pariu. Ela está. É? Não! Está! Esta. A mesma e sempre? Não!


Tente! Tanto, tanto, tanto tenta, a atentada, que esquenta e consegue. E comigo segue ou sou eu que distinto de instinto a sigo, instigo, consigo. Mas que enlace o da madrugada!

E tenho sempre preferido o enlace da madrugada. Esse que como este não resiste ao sol de que na verdade precisa para, posto, deposto, dar posto de novo ao que nos dá guarida.



Mas aonde vamos, gente sumida? Qual guarida! Se o que queremos é travar o bom combate e não o que trave a vida! 


Envida então o esforço de deixar, a intervalos, a melancolia mal parida! A melancolia, mal parido. Vou nascer de novo, agora rindo!

Agora indo...


ps: Perder por mais vida só algumas letras. Tornar Oscar really wild e verter Virginia into ferocious Wolf!



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lido


Esta pracinha sonolenta  por que me arrasto lento, lendo sem livros outros interiores. Quinta ainda dura a semana duros momentos até lhes vir a todos folga. Folgo em saber que são sempre os mesmos cães que deitados (dir-se-iam demolidos) extraem do sol o que no sol não há; nula vontade de renovação...

Do alto da colina a igreja ainda está, mas nada vê. É-lhe já passado, há prazos, o tempo do "à vista". Não há templos em que atentos deem-se à contemplação. Querem é ser contemplados. Mas não se fazem mais sorteios, e cada um que cave o próprio azar, ou em fuga de azar impróprio. É livre a escolha sem arbítrio.


Libertas quae sera tamen.

Who will blame him if he does homage to the beauty of the world?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Que portas?



As portas e janelas não dão para o mesmo, não são para o mesmo. Mais portas que guardam e janelas que anunciam ou permitem. E não se defenestra como se deporta. Os deportados não sabiam o que os esperava (porque não os esperava) e querem voltar. Dos defenestrados não se aguarda o retorno. Deles não se guarda o retorno. Não carece; não carecem...

Caros amigos, ... Partamos a cartas aos partidos. Se ao menos  nós tivéssemos brindado com apartes a tempo. Mas em tempo quem é hábil?!

E que janelas portariam percepção? São percepção! Translúcidas, diáfanas, nada as limita. Limitam se opacas, emparedam.


Se opacas emparedas!

E eu que me julgava tão de transparência e nudez tão encantado destas cortinas! Talvez porque só onde as haja seja-me dado descortinar algo.

Surpresa gostar de surpresas.

"...tive algumas apreensões no tocante a descobrir se a minha vida seria bastante para toda a duração de minha existência".   (Kafka, Diários).

domingo, 22 de abril de 2012

Pernambucolismo




Não, Recife. Não te entoo balada. Abriste a porta para um fluxo lento, populoso. O Fab entrou majestoso. Arretou-nos. Sorriu-nos. Chorou-nos. Fez-nos "recifanos", mais bonitos que Recife, bonita por um dia. Talvez um dia torne e me entorne em justiça a ti. Nesta hora mais bucólico me tenho, mesmo diante do mar, em boa viagem ao Arruda! Arruda!

Paul, te amo, Mc! Sem cerimônias!

Recife, 22 de abril de 2012


sábado, 21 de abril de 2012

3- ido: Meu sonho


Penso agora em como deve ser ser criança com o mesmo vivo entusiasmo, com  a mesma sincera curiosidade com que um dia me ocupei de como devia ser ser rapaz. E, sido, homem. Tanto me arrebatam esses pensamentos na madrugada sonolenta do antesonho que muito me divertiria saber como é ser.

Gostaria de despertar para acordar sonhado.



"...my eyes were stabbed by the flash of a neon light
    that split the night"

sexta-feira, 20 de abril de 2012

2-Cresc ente: Meu Mundo



Meu mundo não é perfeito. Meu mundo neura, meu mundo medra, meu mundo apela, meu mundo fecha. Meu mundo cala, resvala, azula.


Meu mundo apruma, meu mundo ruma, vislumbra. Meu mundo canta, meu mundo alcança, plana, meu mundo verda.


Meu mundo é pra quem espera; não pra quem altera, suprime. Meu mundo é "preserva o sublime!".
Meu mundo não oprime, ô pai! Meu mundo é de prime time.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

1-Criança : Meu Bairro


Meu bairro é onde estou no ninho
Meu bairro é de passarinhos
O mesmo em que eles têm pouso
O mesmo em que me repouso


Aqui onde às vezes grito
Aqui onde se agitam
E sua sinfonia soa
Aqui onde a vida é boa


Daqui me afasto a trabalho
Daqui sem voltar não saio
Aqui minha alegria dança
Aqui sou até criança


O sol não tosta
Afaga a tez
Meu bairro é o de Santa Inês!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Eflúvio - Larghetto


Como é bom conversar com as pessoas! Mas conversar! Porque só versar frente a elas é fácil, como a elas nos tornar loucos. Normal mente...só...versamos. A não ser que emitamos qualquer coisa só circunstancial, apenas atada ao momento, jungida ao fato. Se nos contentamos a não falar a partir de nós, desatando-os. Progresso. Progressão...

Com fusas substâncias me semicolcheio ...e a matéria dobra-me; colcheio, coxo. A substância vai semínima. Dobrada a esquina, mínima. Duas, a vida é semibreve.

Sinuoso, não ensino, insinuo...

                                              ...como o rio que pra ser fiel a sua fonte toma a direção do mar.








PS: Agradeço ao menino de duas pontes. Desapontado. Pontiagudo.

domingo, 15 de abril de 2012

Marinado Allegretto


Sempre tive, adjacente a minha casa numerada, sabida e até alguma vez visitada, uma caverna onde me suporiam primitivo ou de outra espécie. Mas espeleólogos não me interessam (não têm o espelho que parecem portar, frustro escambo), filantropos ao resgate não me importam, importunam.

Do que preciso é daquela gente capaz de conceber uma beleza de que nunca terão prova, e de contentar-se (como de mim me alegro) com supor a todos em alguma parte secretos, em alguma fração indevassáveis, em uma sua porção inacessíveis. Algo que não se extrai (pena de trair-se em atrair) e que resta eterna surpresa que não caçamos para não cassar, e cuja delícia habitamos esperança.

Aquém além da conta.

For Giving

Por que é tão fácil achar desculpas pra tudo?
Por que é tão difícil dá-las a todos?

Perda o ser assim.
Perdão!

sábado, 14 de abril de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Uma questão demérito



Eram inseparáveis. Talvez fosse mais justo alcunhá-los comparsas do que chamá-los amigos. Onde quer que uma boa farra os chamasse, acorriam e acudiam-se. Um era mais forte e(o que talvez não espante)abrutalhado. O outro, não propriamente frágil, tinha mais bonitos os traços e era versado na polidez, essa imitação de virtude bastante ao trânsito social.

Eram mais de ação que de expressão; o primeiro em harmonia com o conjunto, o segundo porque, sua beleza não lhe exigindo muito da expressão, acabou levando a que esta já não a pudesse mesmo socorrer.

A oportunidade do fim de semana desses colegiais era um calourada, congraçamento de juristas noviços. Não, juristas não! "Operadores do Direito", em formação em uma dessas casas em que mais de desfila do que se lê. Ali chegados, sem mais delongas (a tristeza musical de um pagode os exasperava) partiram para a ação. O belo, tendo-se-lhe apresentado imediatamente uma chance que impunha a ação unitária, deixou de lado o comparsa que, em apuros diante da inopinada, rara e inconveniente solidão, apurou-se ainda mais:

-Oi!
-Oi!
-Tudo bem?
-Tudo bem!
-Tá gostando?
-Tô. Como você se chama?
-Bretas. E você? Você estuda aqui?
-Meu nome é Lara, mas a caloura é a Claudinha, que abduziu ali o seu amigo. Bandida!... (em invejoso aplauso)
-Hum.
-E você, o que você faz?
-Estudo Direito! (triunfante, o peito arfado da mentira)
-Que legal! Onde?
-Federal! (ainda)
-Que legal!! Cabeção, hein! Em que período cê tá?
-No quinto! (sempre)
-Noturno ou diurno?
-Noturno, é que também trabalho, sabe! (ainda mais).

E eis que a menina, que ele chegara a tomar por tola secundarista, surpreende, à Holmes:

-Uai! Direito, Federal, quinte período, noturno... Você é da minha sala!

É, o cabeção preferia estar no quinto, mas no quinto mesmo! Doravante:

-Meu nome é dotado... anedotado!

terça-feira, 10 de abril de 2012

De Extinto



Não comecei dedicado, mas na dedicada. "Dedicado a Mathias Rust, e sua solitária invasão do espaço aéreo soviético". O exército de um homem só! De saída pareceu-me o exército de apenas um homem. Só depois vi que... Só, depois, vi que era o exército de um homem a penas. 

Camicazes incapazes de ir à luta! E aonde a potência? Giratória! Demolidora! Furtar-se a juízes tornando legais todas as jogadas, sem bandeiras, indistinto. De instinto...

"Ando Só" martelada demais. Só eu sei por onde andei; pra onde ir, ninguém. Mapa dos meus passos? Sem chance! Tchau radar! Em quartos de hotéis espelho retrovisor futuro... Nowhere man...just sees what he wants to see...cego!

Nasce só. Morre só... Só  nasce...e morre. Pó!

Batalhas de ICBEU, lonely x alone. Escala? Diferença qualitativa... Disputada a quem mesmo? Pó! A esmo... A paixão vernacular é que o explicava, é que o explica. A celeuma, barafunda!

Helder, Dourado, Lobo...Devo inscrever-me em uma tradição?! Mas quem ma defere? Quem in? Quem fere?

A vontade besta de distinção que vai em chamarem algo "exclusivo". Que exclusividade na oferta aberta? O positivo que vai em chamarem-no "singular"... A estranheza ainda atrativa em chamarem-no "suis generis", e o patético em chamarem-no "solitário". Só! Pó!

Solitária cresce e te toma a porção mais... o seu mais...intestino! E eclode! 

Mas dizem que quem chama não resta só. Bobagens! Só chama o só. E até quem chama... até quem em chamas... Pó!


"Eu não seria o que sou sem minhas repetições"
                           Nelson Rodrigues
"It's all over for the unknown soldier"
                             Jim Morrison

sábado, 7 de abril de 2012

Segunda Pessoa


Threatened by shadows at night
and exposed to the light

E te enfurnas no quarto diuturna e taciturna a mente e constróis represas que o dia não presa e irrompe e arrebenta e água jorra, jorra, jorra! E olhos aquosos e quebradiços se dilatam espanto e ouvidos não alcançam e se fecham mesmo se as orelhas não, hão de negar-te abrigo. És.


You raise the blade, you make the change

You re-arrange me 'till I'm sane

You lock the door

And throw away the key
There's someone in my head but it's not me.


E quantas vezes (não contas? Não contam!?) te relacionas com quem não se relaciona contigo mas com a distância a que estás de com quem, julgam, deviam se relacionar! As emendas oferecem-se a ti, que não tens emenda! E emendas aos que não têm emenda são, sabes, como remendos juninos de esfarrapados. Esfarrapados e puros, mas a isso não se volta; ou se permanece ou se perdeu! Te perdeste? Te entornaste! Em ti tornaste?

Perto desses, espertos, ex perto, longinquas... Loquazes ou quase em desbaratino e o louco o trazes tu! Tu!? Tu!? Tu!?

Não há beleza se te adiantas. E não adianta se ao depois te retardas, que não há deixar-se estar. Não os há parados, só os há em progresso! Progredidos? Crônicos! Agudos! Agudos!

There must be some mistake
I didn't mean to let them 
Take away my soul
Am I too old?
Is it too late?

Where has the feeling gone?
Will I remember the songs?
The show must go on

O barco partiu, partiu-se, nanotitanic? Não! Não e não! Essa é a cena vista de lá! A vista aquela. E o de lá ninguém sabe. Au-delà é encenado. Aí é antes de lá! Antes! Não há regresso se o egresso não partiu (nem se é partido...) 
Ao largo! Ao largo! Não há pró-cura!

Nobody knows where you are
How near or how far
Shine on you, crazy diamond!

Estiveste?
Vou restar em segunda pessoa.
Uma é pouco!
Três são "dê mais!" demais!
Tri pálio?
Tripálio!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Na Montra





Parfois
la méchanceté du monde
m'empêche de lever la front
et rate mes chance parmis
les gens qui font sourir


Mais on ne peut pas
tuer la bonheur
Elle sera lá, mon frère
comme à tout à l'heure


Parce que la montre nous montre:
C'est l'heure de vivre!

Dejà!

Encore!
Toujours!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cancioneta

E eu lá sei
aqui comigo
mais do que vê 
o meu umbigo?


Esse terreno
pra leste o'este
é intangível,
é o agreste!


Terreno outro
de sul ou norte
é oferecer
a ocaso a sorte


que nos tocou
sem ter tocado
o que excede
nosso Bocado


Que sorte é essa
de ter raiz?
Melhor é vida!
Só! E por triz!


Te destino
a estar isolado
Tão protegido!
Ensiencerrado


Sipericia
Ensipropicia
Larga janela
De ver a vida


Vim ver a vida
e o que não fiz
ali do alto
do meu  nariz


Ao calcanhar!
se isso é ter
olhos num chão
a se mover


Direção solta
caminho torto
se arriscando
a ser mais que morto!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Deca Dance



1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, pim!

Ela está aqui. É aqui. É esta? Dormir demais é intervalar a vida. E quem quer levar a vida entre valas, jogá-la em valas? Deixar a vida estar de cama, inválida? Valas só saltá-las, diminutas, por minutos, e olhe lá!... a vida que nos reclama.... acordados!

Acordamos nisso? Acordamos pro que qui-sermos, se bem quis-ermos.



Ele diz que se os índios não retribuíssem os espelhos aqui falariam a dos franceses, no Nordeste a dos holandeses. Seriam outros pequenos países! Mais prósperos? De outros poetas! Tétricos!

Os poetas criam-se no amor: ou do amor, ou para o amor. As águas rolaram e o discurso do Águas rebate qual onda que quebra, arrebentação! O sentido de tudo é o amor! A direção de todos é o amor! Apenas não sempre todos no mesmo sentido, porque uns do contra-sentido, outros no ressentido.


A natureza des-pré-fixa: os dois irmãos, em atrelagem fraterna, terna, sempiterna, e em diferenças de abrigar, não de brigar. Um em vidigal conturbação, outro em condensada vegetação.

O amor é a direção, mas e o sentido? A coisa da vida é o medo de amar! Mas a vida... A vida está em outro lugar!

Muité nada!