domingo, 28 de junho de 2020

ALISTADO (É!)


O sonho é evanescente.
Ou bem se o vive,
ou mal se o prende
ou verdadeiramente se perde.


O que se pede é quimera,
consciente ou distraída.
Um sonho é coisa outra
Ou só te mente
ou é coisa vivida.


O sonho é concreto,
não é apenas abstrato.
O sonho... trata-se de plano
real e não só esquemático.


Pro sonho conte com o concurso
de muitos outros sonhadores.
O sonho ou é coletivo
ou coletânea de pendores. 


O sonho pra começar
é arregaçar as mangas.
O sonho é sair da sombra,
é pôr-se ao sol, é prana! 


Sonhemos, pois, então.
Pernas, mãos e olhos.
Meu sonho é acontecimento,
passado o tempo do ilusório.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

AMEM

Para Tom, meu pequeno pugilista.


Minha poesia me confessa para além de mim.
Para aquém.
Para dentro.
Para o magma sob as praias
de idílico portento.


Para a incandescência,
o calor das ideias que antes fossem indecência.
São fusão.
Dão-se a forjas que escapam
à minha predileção.


Mas o fogo não se pode ignorar.
É apenas queimar-se nele
ou só vê-lo crepitar.
Eu não detenho o conhecimento ígneo,
mas para algo se deve prestar.


E não faz mal se as tectônicas
não se tentam ajustar.
As praias cariocas têm mar gélido.
É mistério se me ponho a pensar.
(faço muito...).


Minhas praias são outras.
Ainda que mesmo as urbanas,
minhas praias são paraíba
ou são pernambucanas.

O mar é tépido.
O beijo é verdazul.
O céu me engole inteiro
como jamais fez no sul.


O povo soa tão bonito
que só posso ser contente.
Se dali fui mais pra trás
também posso ser mais à frente.


(O destino às vezes se tece
ao arrepio da gente.)


Então vou pensar no meu filho,
pra sempre o tenho e amar é agora.

E o tesouro que trouxe dentro
eu não vou levar de volta.

sábado, 13 de junho de 2020

PRÉSPERA

A vida lega
o inestimável bem da beleza.

Não é romantismo!
(nem é certeza...)


Certeza mesmo
só o pensar.
Pensar infirma qualquer coisa
que se pretenda afirmar.


Firmeza,
(mas firmeza mesmo!)
é só o tempo passar.


Não adianta correr,
nem faz falta esperar.
Só o que muda algo é ocorrer.


(se ocorrer prosperar)

sexta-feira, 12 de junho de 2020

FLÂMULO

"O céu morria uma morte turquesa"
enquanto me precipitava de paraquedas
sobre sonhos prontos.


Nomes, condições, pontos cardeais.
Tudo que não seria sobrescrito jamais.
Tudo sobre o que não imprimiria minha marca.


Tudo pra que não fosse reino,
pra que não fosse pátio.
Tudo pra que não houvesse recreio,
irretrátil.


Apalpava-me, insubstante.
Imponderável de antes.
Antes que eu fosse.
Antes, portanto, que soubesse.
Antes da evidência de que o que sobe desce.


Projétil, projeto não.
Nada é ordenado pelo toque da minha mão.
Que não sabe afagos e tapas,
Apenas sabe tocar, timorata.


Saber que evolução existe não desenvolve.
Assim como aspiração não modela ou colore.
Formulário sempre à mão,
apenas nunca preenchido.
Por não achar que se pudesse
contratar o destino.


Não assumo as roupas do irmão mais velho,
que não o tive do mesmo gênero.
E nem tento respirar profundo
falto de oxigênio.


Que alimenta as células,
como alimenta as chamas.
E por falta de haver brasão,
vou recolher minha flâmula.

terça-feira, 9 de junho de 2020

MONTURO

Nada me é adequado.
Eu estou ao contrário
de mim e em mim.


Meu guarda-chuva
não me guarda do que evita.
E nem sei de quê.
(Eu não vi).


Já sublimado sou ainda líquido,
e me precipito sem irrigar.
Mesmo desgastado sou quadrado.
Não pareço feito para rolar.


Pareço pedra fundamental
mas não erijo.
Educador mas não me corrijo.
Musical e não faço canção.


Só sou verso porque não sou prosa,
pois que nada em mim se entrosa.
É tudo desarrumação.


Livro que não se edita,
sem encadernação,
essa soltura não é liberdade.
Parece ser apenas gastar-se,
perder-se sem proveito.


E não aproveito o ensejo
pois que não tenho intuito.
Então deixo-me estar entulho
até eu vir-me recolher.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

BALANÇAR-SE

Como castigo por ter-te doído
estou preso, recolhido,
no preâmbulo da dor.


Como a expectativa é melhor que a festa,
também a angústia é maior que esse detestado furor.


O ponto de ônibus paralisa,
tão pior que caminhar ou balançar-se no lotação.
A Estação, onde nunca se está seguro
nem detrás da linha amarela,
onde o medo faz de tudo queda,
aquela de estranha fascinação.


"A noite tava fria".
"Era o meu corpo que caía".
De tudo soube antes,
mas o tempo não assegura prevenção.


Se a chuva for pouca tiram-se as roupas do varal.
Se há tempestade nem a casa é abrigo
e está-se melhor na rua.
Mas a rua está interditada
e não alcanço nenhum outro planeta,
embora Júpiter me faça muita falta.


Tanta falta!
Não se escreveu ali a "Ode à Alegria"
nem foi Jesus a alegria dos homens,
mas é aonde nos alça a flauta mágica.
Onde o réquiem não se perfaz.
Porque morrer a cada vez
é não morrer nunca mais!


O mais triste,
a dor em sua própria concepção,
é precaver-se da vida.
Um concepto do intelecto
de uma vida adoecida.


Mas eis que surge o Sol
e com ele mais um dia.
E vou tratar de tratar minha vida
como coisa luzidia.

domingo, 7 de junho de 2020

TRIAL

Despautério
a vontade na noite
do climatério.

Inversão do passado
fazê-lo presente
no desazado.

Nada se repristina.
Na noite ou no dia
há neblina.

Nada se recupera.
Dá igual se esteja
acima ou embaixo da terra.