quinta-feira, 30 de abril de 2020

RESUMO ESCOLAR


Eu vim a ser a poesia
em que reparava enquanto crescia.
Fiz-me na estrada do exemplo do Cristo,
mesmo crendo em Astrologia.


Creio no intercâmbio
entre este mundo e o do "já vem".
Creio que posso tudo,
e não duvido de ninguém.


Sou todo inteiro música,
com um pouco de espaço pro futebol.
Eu sou filho da Lua,
mas com tudo nascido no regido do Sol.


Não alcanço toda a bondade,
mas vou trabalhar em seu prol.
Minha terra não tem mares
mas faço versos com ares de os ter.


E quem entenderá as ondas
que toda noite inundam meu ser?

sábado, 25 de abril de 2020

NOTAS E PAUTAS


O conúbio entre o Sol e a Lua
é esporádico.
Ela é errante,
ele é errático.


Só um olho muito nu
pretenderia fixar-lhes as rotas.
Não vendo-os mudarem-nas um pouco,
bem mais soltos do que notas na pauta.


Só há concerto do que não está sobreposto,
mas se pode preferir o concreto:
tijolo sobre tijolo.
(O selvagem não tem na selva desgosto...)


Tudo é flora,
e muito delicada,
a que cresta o Sol muito forte
e afoga a chuva pesada.


A elipse é a terceira.
Na segunda é impossível a vida,
na quarta tampouco viceja.
(Ó bela flor medianeira!)


Não se muda o soneto
saído pra ser perfeito
das mãos de seu criador.


O que melhor se faz ao soneto
é lê-lo para descobri-lo
naquilo pra que se criou.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

TELEFONE DE DISCO


Éramos crianças,
e as roupas só precisavam ser confortáveis.
Também não podiam ser caras,
para vestir tantas.


Éramos crianças,
e muitas vezes tínhamos medo.
Mas em muitas outras
tínhamos esperança.


A avó era boa,
para uns menos um tanto.
Dava-lhes muitas balas
e chocolates a outro no canto.


Éramos crianças,
não sabíamos de geladeira ou fogão.
Apenas que o que nos vinha
nos vinha de coração.


Não sabíamos o preço de nada,
nem talvez mostrar apreço.
Mas para o caso de nos perdermos
decorávamos o endereço.


A escola era a segunda casa,
mas era também ameaça.
A escola nos era muito cara,
e sabíamos que não era de graça.


O uniforme era a toga do tédio,
mas nos protegia do erro.
Como não fazia no prédio,
em que nos vestíamos com desmazelo.


Éramos crianças,
e o telefone tinha lugar de destaque,
o que muito pouco o protegia
de minhas ligações de araque.


Éramos crianças,
e ligar só se fazia tendo o que dizer.
E agora sinto muitas saudades,
mas não sei exato de quê!

domingo, 19 de abril de 2020

INSÍDIA







https://img.estadao.com.br/resources/jpg/5/2/1579699361925.jpg

#verdelume
#Safrade2020
#Covid19I


A insídia é mais leve que o ar.
É menor que a vista.
E bastou por-se a se espalhar
para extinguir o turista.


Para cassar o passeio.
O vírus vai menosprezar
o que nos vai adentro:
o orgulho que agitava a garganta,
a presunção que arfava o peito.
O vírus veio anunciar
um tempo em que estamos presos.


Ai de quem não se libertar,
não souber explorar o cosmo de si!
Esse vai desperdiçar
a oportunidade rara de ser livre.


O trabalho a distância segura.
O porto seguro ao pé de si.
Cada um com o a que se conjugou,
como suas canções e seus livros.


Mas mais do que doença ou temor
transmitimos também Esperança.
A solidariedade em flor,
como ensinou a criança.


E o tempo a transcorrer,
sempre o senhor de tudo.
E nada vai-nos proteger
de alcançar o futuro.


Que nos encontre transformados,
cada um o melhor de si.
É minha mensagem, meus bem-amados.
A gente se vê por aí!

terça-feira, 14 de abril de 2020

PRO ALTO

#verdelume
#Safrade2020

Para minha vó Terezinha

Como do papel que me tem sabido
o suspiro que te ocultei.
Fosse antigo era papiro
e eu talvez fosse rei.


Mas como?
Se perdi a majestade,
consta então que nunca tive
essa ou outra potestade.


O que tive foi tempo de sobra,
de que muita vez fiz eu nada.
Então digo desta hora:
"Mãos à obra e pé na estrada".


"Não tá morto quem peleia ".
"Um filho teu não foge à luta".
Eu não tô pra brincadeira.
Embora não esteja pra disputas.


Pro que estou é pra ver nascer
outro dia de muito Sol.
E prometo que o vou viver
da aurora ao arrebol.


Então sem mais enredo,
que do samba sempre fui falto.
Digo apenas ao medo:
"Sigamos avante e pro alto".