quinta-feira, 30 de agosto de 2018

RENTÁVEL

Minha poesia é canção popular.
Faltou-me o talento de embalá-la.
Vai embalada no vácuo da minha fatuidade.
(Vai embalada no vácuo,
mas marcada por gratuidade.)

Nunca nada recolhi
com o que distribuo.
É com o fato de distribuir
que me congratulo.

A nem todos tocará a Graça
de fazer por amor
e distribuir nas praças
o que é seu valor.

Mas todo o bem está no vento,
como nele a própria floração.
Todo bem emana do tempo,
mas já me faltará a visão.

Nem todo bem se vê.
Nem todo bem se tem.
Bobo o que não perceber
que todo bem nos rende.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ADOLESCENTES DA CONTRAPRATA

com Ana Luiza

Trabalho, livro,
música, punheta.

Ideia, ânimo,
folha em branco,
caneta.

De que precisa o homem
se quer ser feliz?

Precisa aceitar as circunstâncias,
pensando no mundo como sempre quis.

Diferente do que vê,
descentrado do capital.

O amor é a força-motriz.
Quem não vê qu'é anormal!

sábado, 25 de agosto de 2018

LOUCO?

Louco?
Não sei!
Importa como é.
A classificação, pouco.

E que fiquem,
os que quiserem,
de gritá-lo
roucos!

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

DIZENDO QUE SIM!

Para Sá & Guarabyra

Que amor eu sinto por meus contemporâneos!
Ver o Caetano compondo,
ver o Slash tocando!
Ver Sá & Guarabyra serem os rurais do rock;
festejar o sincretismo contido nesse veio de sorte!

Ver as cinzas de Drummond
darem à luz tantos tão outros poetas!
Ver em cada semente as árvores que nos vêm.
Suas frutas de puro deleite,
e sua sombra também.

Tudo os mais belos e sinceros
ornamentos do paraíso!
Fruo o quanto posso e dá-me dó dos críticos,
aprisionados à maldição de a tudo dissecar.
Para de secar, meu irmão!
Regue!

Tudo é flor em botão!
Nada de bomba "H",
é tudo "nous allons!"

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CRISPIRA 39

Para Christiano D'Assumpção

Estimado Crispira,

Parabéns pelos 39 anos desde que,
pela mais recente vez,
decidiu enfrentar a Terra.

Parabéns por ter sido belo,
ter tido humor.
Parabéns por ter sido um brincalhão sério!

Por ter brilhado no Colégio,
ter-me ensinado que "doldruns" vale tédio,
a procurar no livro a resposta da questão.
Por ter passado algum carnaval em Divinolândia.
Por só não ter podido lavar a louça mercê da alergia nos dedos.
Por ter sabido, tão sábio, que a vida não é brinquedo!

Por não ter guardado o segredo,
ter divido seus tesouros.
Por ter-me inspirado a ser bom fiho.
Por ter rido muito, de mim e comigo.
Por ter conseguido cativar,
até mesmo, o vovorocoçu do papo amarelo.

Por ser amigo de terno e de chinelo.
Por ter-me ultrapassado no violão,
provando que tudo é querer de verdade.
Por ter tudo a humildade
de convergir para a melhor rota do seu irmão.

E me perdoa por, deprimido,
não ter visto o que a vida nos roubava.
Achar que a partida era o que te invejava,
que partir é que era bom!
Hoje sei que a vida é uma joia!
Sei que o mundo é escola,
e que o Professor bate dentro de nós,
"um alvo muito fácil".

Obrigado, Crispira, por ser fantástico!

(Mas da próxima goste de macarrão!
 É barato, é fácil, e é refeição!)

terça-feira, 21 de agosto de 2018

ELE NÃO!!! (17 vezes não!)

Ninguém transfere mais do que possui,
mas o Tabelião dá a fé que não tem.
O Pastor duvida do que prega
(e do que prega duvido também!).

Duvido do que se faz por prata,
se travestido de outra coisa.
O professor que não ama saber
não sabe o que escreve na lousa.

Quem quer paz pela guerra,
quem é pacífico armado,
quem só pensa em conflito
é (garantido!) desalmado!

Extremar-se dos irmãos que vêm
mas ser visitante constante de outros.
Ter visto a estes os bens
e àqueles negar-lhes porto!

Eleições são tempo difícil,
em que nada quase está claro,
mas é cada vez mais nítido
o candidato do que vem ao caso.

domingo, 19 de agosto de 2018

CALEIDOSCÓPIO

Inspiro-me num caleidoscópio de gente.
Tantas cores no meu manto!
(Não podia ser diferente...)


Uns são santos.
Outros são vadios.
Uns são outros,
de nada me privo!

(Não entenda,
 nem tente!)

A nossa vida é muito da gente.
O que fazer da vela,
missa na capela,
ou colher vento para a embarcação?

Há vida sem batismo,
como há vida sem extrema-unção.
Mesmo sem unção dos enfermos.
Há vida por todo recanto!

(Só canto porque percebo!)

Essa luz que me disparas,
eu tão cristalino,
reparto-a nas cores que levam
a cobertura e o mezanino. 

Pedra sobre pedra;
as de um,
as de outro.

É assim que se vê da Torre
bem melhor que de um calabouço!

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

SURTOS (Eu for ia)

Para Hilda Hilst

No passado que avisto
quando o olho do futuro
todos os meus amores
foram na verdade surtos.

Surtos de euforia!
Assim encapsularam
a matéria da minha alegria.

Se me iludi,
se a elas,
nada sei!

Sei que dei a elas
o mesmo de que gozei.

Dias claros.
Madrugadas.
Intervalos.
Alvoradas.

Tudo se preenchendo
com o de escolha.
Tanto caules
quanto folhas.

Muita seiva!
Muita vida!
E quem rotula
tem só a língua comprida!

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

CLARA IDADE

A vingança é prato que se come frio,
iguaria de todas as mesas.
Baixaria na baixa plebe,
baixaria na realeza.

A vingança provém do barbarismo.
Vestem-na de nobre honra
vergastados cinismos.

Abandone a inspiração funesta.
Mais vale a fraternidade,
em cores vibrantes de festa!

Olho por olho,
dente por dente.
Banguelas cegos vagueiam
no passo infirme dos penitentes.

Expie menos!
Espie e verá
que sua disposição
ao bem te pode reformar.

Toda luta é inglória
se se trava pra uma derrota.
É no seu reerguimento
que se guarda a vitória.

Ao trair o primeiro traído é você!
A morte de seu puro extrato.
O abalo é tão odioso
que se sente pelo olfato!

Ainda que Judas me beije
tanto as faces quanto a testa
não vou deixar de querer
que se reincorpore à Floresta.

Bosques são melhores que pântanos,
são onde todos podem estar.
Com plantas de todas as cores,
viceja o que se plantar.

Há que escolher a semente
e o momento de fecundar
a terra tão bem escolhida
que o amor nunca deixa de arar.

Nada de duelo!
Nada de arenas!
Tanto faz se de areia,
tanto faz se de antenas.

Ponto de honra
te desonra em verdade.
Estampa na sua testa
o selo da vaidade.

Mundo paralelo,
só do que não existe.
Esquizofrenia etiquetada
com a estampa do requinte.

Apresente sua outra face,
a face não violenta.
Face que não viu o tapa,
a face da benemerência.

Limpe os dutos.
Limpe-os com ou sem choro.
Estenda sua própria mão.
Dê-se esse nobre socorro!

Duele suas imperfeições.
Duele suas vaidades.
Duelo que nos pode trazer
nossa redentora verdade.

Não é contrariar a natureza,
o inimigo tão perto que lhe vá dentro.
O que não nasceu para estar-nos
pode ser-nos veneno.

Apenas não lhe guarde rancor.
Apenas não se dê em vingança.
Com o cuidado que viver inspira
revista-se de esperança.

Dê-se proteção,
consinta-se amabilidade.
Precate suas mãos,
mas que operem de boa vontade!

Deus deu-nos o sol a todos.
Detestável coisa elites.
Também luz e calor ao mau
(não contrarie Seu alvitre!)

As provas são fermento.
Há crescimento na dificuldade.
Trabalhe em vez de queixar-se.
(vai perceber hoje ou mais tarde!)

Entender em detalhes a lição
é garantir que não se repita,
mas para aqueles que teimam
será o aguilhão de uma vida.

Conduzir-nos todos ao Bem
só o pode a claridade.
Não nos façamos de rogados,
há muito estamos na idade!

terça-feira, 7 de agosto de 2018

HÁS

Que poeta que se preza
preza a moeda?
Que poeta que se preza
preza o soldo?

(Soldo é coisa de soldados,
 e armados são coisa de tolos!)

O poeta não teme ver-se.

O poeta não se traveste de canhão.
O poeta quer entender-se.
(Só nem sempre confessa a intenção).

Ao louco que é dê lira.
Ao pouco que quer, canções.
Faz música da pauta do dia.
Dos dias, inspirações.

Os olhos de ver são dados.
Não desfaça do presente.
Basta não fechá-los.
Basta não estar-se ausente.

Habite-se e orbite a Alegria.
Exorbite os limites.
Nada desata sangrias
no peito do que se permite.

Sorte, amor e paz!
Tudo ao que se fortalece.
E verá como será o ás
de ser vestir do que a vida entretece. 

domingo, 5 de agosto de 2018

MANGUE

Moça, você é um anjo!
E se não for será o céu!
Só se me apliquem pecados
derramados desses lábios de mel.

As delícias que entrevejo
eu nem as posso nomear!
Sinto que a idade é um peso
pois tenho medo de o ar me faltar.

A mais bela flor do mangue,
ambivalência dos circunstantes,
que passam fingindo calma,
disfarçando sonhos delirantes.

Vejo-te espiar-me
e sinto a felicidade à espreita.
Mas apesar de vigiar-me
sei que a moça nem suspeita

da claridade dos meus olhos,
de meu retumbante coração.
De tudo de que me infiltra
sua remota visão.

Nada vale a distância,
jamais fiz caso dela.
Na ânsia de encontrar-te
cubro os raios da Terra!

Refaço todo o diâmetro,
alcanço suas circunferências.
Recendo à felicidade
desta vontade intensa.

E já não sei se mar,
já não sei se terra!
Só vejo a ventura instalada;
infeliz de quem espera!

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

CARTA AO TOM 2018

Para Tom. Para Olga.

Tom, meu filho,
você começou na minha seiva,
guardada no receptáculo
guardado na mãe que te aceita.

Você une revoluções
de diferentes latitudes.
Une gente diversa,
de diversas atitudes.

Você foi feito na forja do amor,
em formas de perdão,
para uma vida de esplendor.

É seu alcançar!
Você alcança!

Toda cor tem um tom
o da sua é o da esperança.

Todo maestro dá o tom
quando quer chamar a música.
A sua é uma bela canção,
com uma estrutura única.

Sei que traz muito do seu,
então dê muito de si!
Não vou te acompanhar por muito,
mas enquanto puder fico aqui.

Tô aqui pro seu concurso,
na direção que nos acolha.
Por entre o outono de mim,
e por sobre o caminho de folhas.

Mas Deus sabe tanto o que faz
que te deu mãe de verão mutante.
E que já vai te aquecendo
desde agora, gestante.

Sabe, meu filho,
Deus nos olha bem do Alto.
Vê-nos, portanto, pequenos,
e nos cobre de cuidados.

Filho, eu gostaria que O imitasse
e, conforme fosse crescendo,
a nada se apegasse
e cuidasse dos pequenos.

Eu entendi esse toque,
que de todos os lados me veio.
Não sei se cheguei a aplicá-lo,
mas você poderá aprendê-lo.

Todo poder te mata à toa, menino!
Poder é coisa pros bobos!
Escuta o poeta de POA:
seu poder é sobre si
(É bem outro!)

Eu vou queimar a largada
e te dar luneta-microscópio:
em você moram todas as galáxias,
você é seu próprio negócio!

Expanda-o em ventura.
Trust me, just hold Love.
É o melhor cartel que se pode.
Que seja sua vida doce!

Por hora, meu filho,
são as palavras que trago!
E te acalma que aqui fora
te esperamos para o abraço!

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

NIÓBIO

Era dessas pessoas que se assustam
pelo lixo ter cheiro de lixo.
Ao descobrir que um mito é só um mito
e perceber aonde os ratos vão.

Era dessas pessoas que sentindo calor
não sabem de onde lhes desce.
Não sabem que resplandece 
justo o que não podem ver.

Era dessas pessoas que investem em veículos.
Não notam o vento e seu currículo
de fazer tudo florescer.

Era dessas pessoas que não sabem
pra que servem as abelhas.
Só veem espinhos, não veem a cera,
nem a geleia real.

Era dessas pessoas que não veem as flores,
só veem os agricultores
e suas armas letais.

Era dessas pessoas sem doce e com bala,
do tipo que menoscaba
uma vida qualquer.

Era dessas pessoas exclusivas,
que distinguem pela cor da pele,
sem notar seu problema de vista,
e que o preconceito fere.

Aliás preconceito mata!
Cesse sua bravata!
Você não volta aqui,
aposto!

Não o digo sendo-me apóstolo,
mas por ver que aqui não afinam
suas ideias de beócio.

Vá ter aos brutos e volte mais tarde,
ao ter deixado de só se opor.
E fica um pouco mais fácil à Terra 
adiantar-se ao seu destino de Amor.