sexta-feira, 17 de outubro de 2025

LADEIRA

Como sísifos contemporâneos,
vivemos na eterna consciência
de que o tempo nos escapa,
de que nos faltará.

Eternamente desinventamos o relógio.
Não no belo sentido de vivermos nosso tempo
livres inteiramente de mensurá-lo,
mas no trágico sentido de ignorá-lo.

Não damos mais do que temos,
mas sem saber se ainda temos,
o que ainda podemos,
do que precisamos.

Mas nos embelezamos.
Como se a virtude sendo impossível
sua aparência bastasse.

Retiramos as pilhas do relógio
para que nada mais acabe.

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