quinta-feira, 29 de março de 2018

SUPERSUN

Como o cabelo que fica bonito
no dia justo de cortar,
hoje acordei sem pensá-la
porque você estava lá.

Estava mas eu não estava.
Não sei a que esferas me recolhi.
Mas tive a certeza vergastada
de que meu lugar não era ali.

Como se não fosse em nenhuma parte,
ou não ao lado de alguém.
Talvez só me dedique à arte,
como o de que me aproximei.

Mas não quero ser triste,
não é minha perspectiva.
Talvez apenas me dedique
a um'alegria mais coletiva.

Talvez a propiciá-la.
Mais do que a gozá-la, até.
Mas não estou a planejá-la,
é meu artigo de fé.



Belo Horizonte, 4 de julho de 2017.

terça-feira, 27 de março de 2018

COM QUEM

Quero repousar sobre quem me mereça.
Sob quem faça com que eu não só pareça,
mas seja...
merecedor de si.

Quero repousar a quem perceba
que há Nós.
Que a nós se reservam delícias
que não gozaríamos sós.

Quero repousar com quem se dê conta
de que o que conta é o trabalho.
E de que só haverá Amor
onde houver dedicados.

Quero errar com quem se esmere
na direção do acerto.
Que saiba que o de se melhorar
já é o Caminho perfeito.

Quero trilhar com quem me inspire
a suspirar do percurso.
Que prodigalize sorrisos
e outras Graças sem custo.

Quero avançar com quem se permita
permear-se de Júbilo.
Com quem saiba perceber
que já não sou o que capitulo.

Quero escrever nossa história
com quem saiba que não tem fim.
E saiba que tropeço,
mas me restabeleço em mim.

Quero felicitar-me
com quem saiba que se há de ser grato
pela Oportunidade
de preponderar sobre os fatos.

Quero associar-me com você
que nota que se vai a mais
anotando pelo trajeto
o que é objeto do projeto de Paz.

Vem, vou e sigamos
pela Escola em que mais valemos
pelo amor que nos ensinamos.

sexta-feira, 23 de março de 2018

ESTIANDO

O Oceano é imenso
e O defronto.
Lanço-me todo a seus pés,
não há confronto.

Como espanta à criança que indaga,
está aberto 24 horas e tudo traga!
Que me traga paz!

Traz!
Tenho-o dito sempre.
Por todo o tempo em que aqui estou,
desde que me entendo por gente.

O Oceano é uma dádiva,
pois está sempre presente.
No Seu lamento-marulho,
que é lamento-contenta-a-gente.

O Oceano é um deslumbre!
Ultrapassa-me tanto!
E só Lhe vejo o mar,
que é só Sua franja.

Nada que me constranja,
que é assim pra todos nós.
Cada qual um mar,
ou apenas suas ondas.

O que é a onda,
que nasce já contemplando sua morte à beira-mar,
pra entender o Oceano?

Ele é muito mais que águas,
Ele responde a um plano.
Há tanto! Tanta vida!
Muito mais que experimentamos!

Nossos pobres olhos,
tão míopes!
Cegam-nos o Sol.
Cegam-nos o mar.
Cegam-nos até o que lhes protege a pele!

Não há o que Se Lhe altere,
o Oceano é a perfeição!
Tudo o que empreendamos será apenas emendas ao soneto.

Do mar só vemos o gueto.
O Oceano só imaginamos.
O mar é uma pista que as ondas afirmam ao passar.
Ao passarem sempre.
Ao passarem por todo o sempre,
ao nos beijarem as pernas e os ventres.

Senhor,
só quem ama Te entende!

terça-feira, 20 de março de 2018

A UM TALVEZ (Tom I)

Para Clarice ou Tom, Olga, e pra mim.

Nina nem chegou e não se detenha!
Há mais gente na espera.
Tom ou Clarice vem à Terra,
com muito pouca surpresa.

Vem sempre quem se empenha.
Vem sempre quem é empenhado.
Vem sempre quem ouve o chamado.

(O espírito não se faz de rogado.)

É essa a chance de descer ao planeta.
Como é bom que se comprometa com toda a disciplina que prometeu cursar,
mesmo se não se lembra da matrícula.
Os pais são seus maiores alunos.
A cara de mestres é só película.
O que mais têm é a aprender, sem precisar de quadro e caneta.
O tablado ao bebê.

Que talvez saiba mais sobre a paz.
Saiba ser sem demonstrá-lo.
Não precise de coisas a embaraçá-lo.

Talvez tenha um sentido mais apurado de fraternidade,
mesmo se não lhe dermos irmãos de sangue.
Talvez saiba que é o laço mais exangue.
O mais forte, o do espírito.

Talvez até seja mais bonito nos belos a que nos lançamos.
Talvez escreva melhores versos, cante mais a contento. Pinte melhor ou toque piano.

Talvez tudo seja ledo engano!
Talvez o que nos ensine seja a tocar os corações dos próximos, comensais no banquete da Terra.
Filho, te estamos à espera!

quinta-feira, 15 de março de 2018

A MAR NO RIO



Na calada da noite escura
calaram quem endurecia com ternura.
Na calada da noite, escura.
Ns calada da noite, mulher.
Na calada da noite, negra.
Na calada da noite, inteira.

Como podem calar os pleitos?
Como invadir um peito e lhe extrair um coração 
que bate um país inteiro?

Vão bater-no até lhes doerem as mãos!
Aqui ninguém vai deitar no chão.
Com tanto não contem
contanto que a gente banque!

Podem vir de fuzil!
Podem vir de tanque!
Podem vir com tudo
que vieram antes!
Sempre há os que aprendemos a sangrenta lição da História.
Sabemos de que lado está a escória.

Não importa com quantas flores teremos de bater!
Não será o medo a nos tolher!
O tempo não marcha,
desfila ao lado de quem tem alma.

(Demora mas a besta achará sua jaula...)

Mãos dadas.
Cantos.
Tantos!
Posição.

Sem fuga.
Com luta.
Irmãos.

Nenhum passo atrás,
no verdadeiro progresso.
Não imaginem que as baixas
lhes darão recesso.
A força se faz a cada revés!
E chegará o dia de nos estarem aos pés!

domingo, 11 de março de 2018

CANCIONEIRO

Haurido de mim, 1berto Gessinger, Guns N' Roses, Nirvana, Metallica, Sepultura, Queen, Sá & Guarabyra, Titãs, Drummond, Cecília, Machado, Vinícius, Herberto Helder, Lô Borges, Beatles, Hilda Hilst.




Tudo que amei terei pra sempre
na vastidão sem paredes da memória.
Na amplidão sem peias da gratidão,
com a detença que me franqueie a sentença infalível do tempo,
essa tela linda em que me desenho no traço que posso.

O exército de um homem só,
mesmo se detesto exércitos 
e só pratico a solidão a tempos e por escolha.

A Cidade Paraíso,
de grama verde e garotas bonitas,
mesmo se não acredito que o paraíso seja isso,
que não me confino no pasto.

Achar amigos na minha cabeça,
acender a vela de mim,
ou içá-la em deslumbre por ter-me encontrado Deus.

Saber que há o que seja triste mas verdade,
e absorver o peso do compasso,
girá-lo a círculos mais bonitos.

Ver o mundo velho, velho.
Morto, morto.
E saber que renasce e renasço
e já tudo pode ser novo.

Notar que não sucumbi à pressão que parecia esmagar-me,
esmagar-nos.
E que o amor é uma palavra velha e demodé que merece todas as chances e será nossa última dança e nossa redenção.

Fugir com o circo, nos braços do palhaço, cheio de paixão,
ou trepar em pernas de pau, num panorama,
porque lá do alto deve ser bonito.

Lançar-me à diversão à balé, 
mas saber que será sempre o que a vida quer,
mas que estou inscrito desde sempre como seu parceiro
para todo a ser escrito, em pautas e solturas,
e em suturas até. 

Saber que as Minas são mais bonitas vistas de longe,
mas porque é de lá que lhes volto, devoto,
e com os olhos cheios de cores e a alma expandida.

Saber que o instante existe e a minha vida se completa,
se completa sem cessar.
Que o poeta nem alegre nem triste não precisa se entregar ao pesar,
pesar-se.

Valer-me da pena da galhofa, da tinta da melancolia.
Mergulhar uma na outra para que a minha tristeza sorria,
nessa curva que sabe que sobe,sabe que desce
e o aceita com sabedoria.

Saber que sonetos se fazem da fidelidade,
da separação, e que não preciso ter-lhes o fôlego
ou saber-lhes a escansão. 

Saber que todos os lugares são no estrangeiro
e todos os estrangeiros têm pátria em mim.

Que homens se fazem de sonhos e sonhos não envelhecem.
Basta que o fiador cumpra a fiança e saiba que são seus
porque sempre os tece.

Saber que há lugares de que me lembrarei toda a vida,
malgrado muito se mudem, às vezes em meu desagrado.
Que os amores estão mortos e vivos,em aclive e declive, 
e que não são meus porque nunca os tive,
foram sempre foro livre,reinos de movimentação.

Saber que sou Gabriel e só anuncio minha própria verdade,
tanto quanto a conheça,
tanto quanto permita que aconteça.
Que não existe dedo em riste em lição que não se esquece
que diga, melhor poeta, que poesia não dá camisa,
pois o que importa é que aquece!

E te olhando me olhar
te vi vendo,
vivenda da paz.
E escrevendo
hás!

sexta-feira, 9 de março de 2018

FAMILIAR


A tez ouro da família,
que resplandecia mil sóis em um só sistema.
O brilho dos que somos sós.
A família que se ia escolhendo na trilha.
A família do descarrilamento.
A família dos sentimentos que sobrepujam a razão.
A família do pão e do vinho.
A família que se vai fazendo no caminho.
A família do que me avizinho de toda a sua soltura.
A família que nos une na loucura e nos pede seu rebento.
A família que nos somos no momento.
A família que não tem paredes nem teto.
A família que não arquiteto.
A família sem plano nem projeto.
A família que humilha pretensões de correção.
A família que abençoa os tornados.
A família que é encontro e é achado.

Estou com o fuso da doidiv-Ana.
O fuso que é central pros desta flâmula.
Vem, desarrumada!
Vem e me desarruma!
Chove no meu molhado!
Nenhuma tempestade é pecado.
Nenhuma castidade se permite e toda fúria se proclama.
A fúria que aqui se decl-ama.
Traz-me seu volume em cacho.
Encharca, repito, meu molhado.
Eu, que sou louco certificado.

Rasga este diploma este que te ama sem por-lhe peias e sem detença.
O amor não prolata sentença,
subscreve a liberdade.
Inscreve-me em seu corpo com vontade.
Vamos! Que é cedo pra ser tarde!

quarta-feira, 7 de março de 2018

DINDO (Nina I)

Para Carol, Diogo e Nina.

Mi nina ainda está
na barriga da cunhada.
Pouco sabemos sobre como
escolheu a primeira casa.

Só o que sabemos
é que escolheu-a bem.
Escolheu-a casa de amor
e de cuidados também.

Vai crescendo pouco a pouco
desde que se insinuou.
Na forma secreta e divina
que ninguém sabe que sonhou.

O nome é curto
e tudo vai-lhe dentro.
O nome está tão prenhe
como prenhe dela o ventre.

Vai poder fazer dele
tudo que o céu permitir. 
E conta com tanta ajuda
que, espero, possa pressentir.

Espero que nos tenha escolhido,
como nós acolhido a ela.
E aproveite o primeiro quartinho,
que há muito o que fazer na Terra.

segunda-feira, 5 de março de 2018

BILHETIM

Para Carol Careta

Carol,
não sei se Maria ou Ana.
A insônia me expulsa
confuso da cama.

Idade
por volta de trinta.
Pé (todo do meu)
por volta de trinta.
Altura
a volta toda.

(Atordoa!)

Cabelos
cacho.
Cachos,
acho.

Ouro Preto Planalto
(Confusing!)
Perna de pau e bate um bolão
(Confusing!)

Não sei quem sou
ou sei muito
mais que antes.
À vontade
alarme constante.
Aventura à romance.

O futuro não é nada
pra quem tem presente.
O futuro não é nada
até que se apresente.

Grato, gatos,
pelo presente.
Volto nesta estação.
A corrente!



Brasília, 5/3/2018.

quinta-feira, 1 de março de 2018

INCARDIO

Para Olga

Todo carnaval tem seu fim.
O deste foi o de nós dois.
Por que interromper a folia?
Por que não deixar pra depois?

Um calor de agonia,
como intensa falta de ar.
Não há forma mais aflita
de deixar-se acabar.

Não soube dar passagem
ao que em si era tão libre.
Cedi a minhas miragens
e minha brutalidade, ao declive.

Agora notas não me socorrem,
não me embala nenhum tom.
É uma vida de quase morte,
que não tem cor, gosto ou som.

Apenas tem cheiro,
um cheiro a vidas passadas
que não percebi, contrafeito,
que passei a esperá-la.

Agora até a próxima!
uma mais próspera edição,
em que o Senhor deixe de troça
e me dê melhor coração.