quinta-feira, 31 de julho de 2014

IDA

Se tem que ir vá agora e com Deus!
E leve tudo o que prometeu:
os céus mais fundos, campos floridos,
leve tudo o que não tem sido!

Manhãs felizes, tardes de sol,
felicidade da aurora ao arrebol.
Diversão adulta, sorriso infantil,
e a refrescãncia pouca, contida em cantil.

Se tem que ir, vá agora! Vá já!
Não há motivos para tardar!
O que fui já não sou e o que foi já não vejo,
já não me dou conta se me apercebo!

Mancebo em festa, cabrocha em flor,
um tempo ido que já murchou.
Que dias brancos?! Qual alegria!?
Cesse e recesse a porfia!

Vá já perder-se na imensidão,
nos campos vastos do meu coração!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

COLHEITA

Ah! É um amor que não se consuma
e me consome!
Quer tornar o poeta uma estátua de bronze,
fincada na terra natal...

Mas eu quero é cheirar, tocar, gostar!
Quero ver é de muito perto,
e viver o sonho desperto!

E viver o sonho que desperto,
que o bom não se vive sozinho
(o poeta é movido a carinho!)

Então venha mover-se e mover-me;
Venha (e não tarde) a ver-me,
que escrever já não me aproveita:
é tempo, já, de colheita!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

ACINTE

Às vezes parece-me a vida
um jogo de gato e rato:
consigo escapar à ação,
mas não posso fugir aos fatos.

Às vezes nem me procuro;
às vezes sim, e não me acho.
Não posso adentrar a casa
sem limpar os pés no capacho.

Notícias põem-me pra cima,
notícias me deixam pra baixo.
Às vezes a vida é um acinte,
e às vezes um nó, cambalacho.

domingo, 13 de julho de 2014

ENLEIOS

Não posso ser chamado de seu,
liberdade inigualável
a que Deus me concedeu.

Por ninguém serei chamado de amor,
solidão correspondente
de que Deus me dotou.

Nunca mais primeiros beijos,
nunca mais treino no espelho,
nunca mais paixão.

Nunca mais versos e arpejos,
nunca mais enleios,
prefiro até a solidão.

Solidão ou aquilo que vier,
tão livre quanto eu puder!

terça-feira, 1 de julho de 2014

DE COR

"com" Humberto Gessinger


Espero contra as expectativas;
trago uma fé embutida
que muito me há de salvar.

"As chances estão contra nós",
e os nós que cá trazemos
quem os desatará?

"Igualdade aos desiguais",
também trazem corações
os que não vão bater mas apanhar.

A vida é esta e se expande,
a vida é esta e o sangue
já não se pode estancar.

Então viva mesmo com dor,
viva e saiba de cor
que as coisas vão melhorar!