sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

SUNBURN FREEZER BURN

Quem se queimou ao Sol
protege-se da luz meridiana.
Está atrás da cortina, 
de pijamas.

Cortinas que não o são tanto
(às vezes nem persianas...).
A escuridão só é possível
quando inteira se derrama.

Quando obsta,
frustra,
escurece.

(Nem se diz "escuridão"
se apenas entorpece).

Como o membro dormente
volta ao tônus,
o sonhador voltará ao sono.

E o sono é campo livre,
livre até do corpo!
Corpo ferrado no sono,
espírito revolto. 

Flashing lights
on the dark side of the moon.
Like kids that can't be seen
holding their breaths in the pool.

Mas o ar, de tanto, ameaça.
E ninguém perde um dia claro
com esquadrilhas da fumaça.

Acrobacias são coisa chata
depois de um ou dois minutos.
É mais feliz quem se grafa
pra entender seu tumulto.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

MILÉSIMO

Não tem como por de volta
o galho arrancado à árvore.
E fica a força bruta atônita
diante dessa simples verdade.

O tempo e a marcha.
A marcha e o detento.
Não se vê mesmo por fora
o quanto se passa por dentro.

As células, o baile.
Ou o quebra-quebra
quando o câncer invade.

(Ou 'aquela doença', nos termos de Minas,
que tenta impor silêncio ao que silêncio determina).

Até o náufrago tem a fé
da garrafa e do bilhete
As cinzas têm fé rediviva
no reflorestamento.

As freiras têm fé compungida
pelos cantos do convento.
Ou pedem com fervor
que a falta de fé se inverta.

Apenas eu,
trancafiado em minhas consequências,
não consigo provar que vivo.

E vão provar pela minha morte
o fato de eu ter vivido.
Até que sacramentado
o tão merecido olvido.

domingo, 24 de janeiro de 2021

ESTRELAS DO CENTAURO

A madrugada é do relaxado
como foi do aflito.
O amor, em albanês,
parece muito mais bonito.

Talvez porque intocável,
porque irreconhecível.
O que conquisto só vejo
bem depois de perdido.

Por isso o que seria do homem
sem o dom da lembrança?
Talvez se fizesse bem mais.
Talvez, se só visse adiante,
se se adiantasse aos percalços.

(Talvez, se adiantasse,
fosse bom negócio).

Mas dizem que de certo
só a hora de nascer e a da morte.
Metade só é certa se nos contam,
metade nem com sorte.

"Nem com sorte!"
O que haveria de bom
em chegar com a partida carimbada?

Só se à zona de guerra,
ou ao campo de concentração.
Essa barbaridade irreal de tão dura.

A nós resta aproveitar os tempos dados,
pois dizem que os há pra tudo!
Até  pro ódio, pra guerra, pra pragas.

(Isso tudo também dá e passa!)

Já dizia o poeta que toda guerra reviu paz.
Sejam as de 30 ou 100 anos,
entre ingleses e franceses,
ou entre gregos e troianos.

Eu não sei de nada!,
escrevo pro tempo ir passando.
Mas não gosto de matar o tempo
(, que na verdade estou namorando).

Até nos desentendermos 
e irmos cada um para um canto.
Eu pro campo do sonho,
ele pro Sol raiando.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

FLUXO

Vai o barquinho do que era
ganhando o horizonte.
E o que começou quimera
já não justifica pranto.

Os problemas não têm relevo.
As brigas me põem a pensar:
"Por quê entreguei-me a elas,
eu que já não era rapaz?"

Não era rapaz mas não jazem
o orgulho e o egoísmo.
Em tudo que agora repasso,
refaço o acerto comigo.

Puxo a voz da consciência,
respeitoso e pequeno nesse Tribunal.
E sei que a má insistência
me atrasa, tolo e banal.

Mas essa tapa tão merecido
é do tipo que é propulsão.
E já não sou o que tinha sido;
abandonei a contramão. 

"O Exército..." desenhado

 Disse (ou gritou?):

"- Não faz! Sentido!
 - Sim, senhor!"

Mas não faz sentido "Sim, Senhor!"

domingo, 17 de janeiro de 2021

URUTÚ-BRANCO

Dentro da situação corrente
não posso queixar nada!
Minhas únicas mazelas
são de amor
(autoprovocadas).

Como Diadorim condenado à tristeza
que não  quer ceder suas lágrimas.
Mas o dízimo do coração
nem podendo eu sonegava.

"O pássaro que se separa de outro
voa Adeus o tempo todo".
Mas também voa a Deus
(o que se pode sempre de novo).

Dê-se brado que o cego
tem direito a não tremer,
que o abundante que arromba a retina
nunca teve direito de ver.

Adormeço preste, se por hora e meia.
A sentinela da madrugada
assente nela
(que é postergada).

REM-REM-REM

Poverello, Chico-cisco, Pontífice Argentino.
E o rio é um Franciso a mais.
Na simplicidade que os animais ensinam.

"Essas estradas de chão branco
dão mais assunto à luz das estrelas".
Você vê o tamanho do mundo?
Pois vê o Lunar, e ao mar, e a fundo!

A fundo! 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Noturno em F#

A noite, imensa,
parece plena, parece que ocorre.
Mas só pra quem não se dá conta
que de saudades se morre. 

(em Gb)

sábado, 9 de janeiro de 2021

LUZES DE NAVEGAÇÃO

Exagerado por traçado astral.
Exagerado!, não faz mal...
Nada excede no dado para esplender
(O acertado ninguém pode deter).

Falta vê-lo!
Falta ver...

Um avião que não alça voo
move-se por ruas a que não se destina,
deixando em cada esquina um pedaço da asa.

Não repara no que é aerodinâmica
Não repara em hélices, motor.
Tem tanques enormes de combustível
e nunca notou.

Farois baixos,
prejudicado,
prejudica sem dar-se conta
tudo que está a seu lado.

Tudo se beneficiaria de sua mudança de curso.
Carros, casas, transeuntes.
Tudo melhoraria
se não destruísse as pontes.

Se decolasse intrépido,
deixada atrás e para a volta
a luz vermelha que o topo do prédio germinou.

Tudo mehoraria sem temer o voo,
sem temer alturas.
Tudo viria a bons termos
reconhecendo sua estatura.

E então poder instruir.
E então poder ajudar.
Então essa luz sobre a candeia
rasgando os céus a piscar. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

NOSSA

Saudade
palavra triste
quando se insiste
na versão sofrida.

Saudade
palavra nossa
e há quem possa
colori-la.

A saudade, engolida,
regurgita.
A saudade, bem dita,
é infinita.

Saudade dá e passa
por cima.
E se a embarcam
é deriva.

A saudade não tem norte,
nem sul, leste ou oeste.
A saudade dá em volta
(peste!)

E o que não mata
fortalece.
(ou engorda o que a saudade
tece).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

SEGUNDA

Na vida limpa-se e suja-se a louça.
Faz-se e desfaz-se a cama.
Toda energia é pouca.
Nenhuma esperança alcança.

Na vida suja-se e limpa-se a louça.
Desfaz-se e refaz-se a cama.
Toda inversão é louca.
Nenhuma Esperança cansa. 

domingo, 3 de janeiro de 2021

INSISTÊNCIA

Estou muitas vezes às portas do choro
como se o desconsolo
fosse a porta não se abrir.

Desamparado,
sem aldraba ou maçaneta,
sem campainha
e pior... sem voz!

Quisera lançar um grito atroz,
mas é interdito ao privilegiado.

Quem pode falar sem peias
não pode bradar "socorro!".
Então um pouco me morro,
num paradoxo crepuscular.

E nesse perdido solto
a nada me entrego
(desespero ou outro),
que conheço o sestro da aurora.

Se recolhe,
empurrado o dia,
mas horas depois que o Sol se retira
já é de novo sua hora.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

REVER

Os derrotados do parque, por serem tantos, com seus jornais a forrar os bancos, sabem o que é a derrota, não conhecem a solidão. O que os cobre já não cobre as notícias, que são adornos de telas, que surgem subreptícias, mas com brilho regulável. 

Eu, triunfante, não conheço pódio. Conheço as podas. A flora que quando vai florescer se acanha, adentra, encasmurra. Meus crimes não posso imputá-los a ninguém. Sou meu próprio refém, carcereiro, habeas corpus. Enquanto outros brandem copos e bridam, brindo-me com tempo para reflexão de uma luz que não é minha. Decerto me ilumina, mas é emprestada a juros, juras.

O filho que eu quero ter eu já tive, minha vida é declive. Não distingue planaltos de planícies. Ao nível do mar ou muito acima o Sol sempre me abrasa, queima, e não extingue o frio. Eu me rio. Sorriso de santo, riso de louco. Nada em mim é pouco! Tudo quer-se explodir.

Quisera espalhar-me em fagulhas. Incendiar a rua de um fogo purificador. Mas este tempo em que nascido macula a pureza. Todo tempo é incerteza. E se é incerto, nada é claro.

Não faz sentido fazer sentido. Basta verter e aliviar-se. E se alguém quiser esforçar-se, o jogo é bom e não dá azar. O que tenho é instrasmissível. Um dia foi falta de siso, ornada de falta de pudor.

Hoje tudo se mistura, a doença e a cura, a lucidez e a ilusão. Mas a desistência a Esperança a sobrepuja. Essa a verdadeira ventura, saber que sempre se pode mais. Daqui nunca se parte sem retorno e toda guerra reviu a paz.