segunda-feira, 29 de julho de 2019

NO PERTINHO

Para Fá.

"Há uma primeira vez pra tudo".
Isso diz o vulgo,
e eu apenas comento:
Estou enamorado do silêncio.
Não preciso de nenhuma nota
e nem de ouvir os pensamentos,
que assim se podem guardar
ou mesclar-se sem se saber. 

Estou em incongruências.
Não preciso de muito
e quero isso tudo!
Sinto falto daquilo de que sou o lar.
Quero rever o que habita em mim.

E não sou matéria de estudo,
que é tudo natural.
É tudo mesmo ao natural,
sobretudo a parte que não se conta.
A parte que se reserva.
A parte que é doce terra
só para os escolhidos.

Aprendi também o segredo
e trago comigo lições.
Mas é tudo tão bem aprendido
que se dispensam traduções.

Eu não tenho nada
(A vida estará curada?)
mas vou sendo com empenho.
(A vida está acontecendo!!!)

Só não me dispo do carinho.
Sou dispare mas com jeitinho.
E o futuro dirá,
apenas repetirá,
porque é o presente quem diz:

Sou no seu pertinho.
Sou com você e você comigo.
Que feliz!

domingo, 28 de julho de 2019

BEM!

Para Fá.

Só com vê-la me alteio.
Alturas insabidas.
Nem me recordo de um dia
ter experimentado feridas.

Tudo é frescor!
Creio mesmo que nasci no dia
em que te provei o sabor.
Fui concebido no dia
em que te pus os olhos,
que assim notaram que viam.

Vi-me em cores,
eu que nem me via.
Soube tudo,
eu que nem me sabia.

Agora sei que em algum ponto
dorme a moça,
ou sei que respira.
Sei que não faz esforço
e que só de ser me inspira.

E eu vivo bem inspirado.
Padeço do não me verter.
Mas seria me inverter ocultar
que acordo pra te rever.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

IPÊ

Os restos do ipê ainda comprovam
a beleza de há poucos dias.
O mundo se nos agita.
Despetala-nos.
É preciso a força de corroborá-lo.

Seu movimento nos quer melhorados,
o que quase nunca é tranquilo.
É preciso força pra galgar ao topo.
Força continuada.

A força que nos vem de dentro
não se pode desperdiçá-la,
desesperar-se dela.
Não se pode menosprezá-la,
tomá-la por menos do que é.

Vai-nos da ponta dos cabelos
até a planta dos pés.
Pés que nos sustentam,
que nos presenteiam a postura ereta.

Algo bate dentro do peito.
Algo se acende na testa.
É preciso calma para recebê-lo.
Depois é preciso paciência,
é preciso esmero.

Tudo reclama cuidado,
e cuidado para não reclamarmos
contra o que pode ser visto mais de perto.
Visto... melhor!

Sim! É tudo melhor,
apenas cifrado.
O mundo em parte é um poema,
e não é obra de um dementado.

O mundo foi feito com apuro.
O mundo dá-se aos poucos ao atento.
(Os distraídos em apuros...)
O mundo pro que se esforça,
pro que dou meus pulos.

Eras, décadas, anos.
Meses, dias e planos.
É tudo feito das horas.
E as horas te estão esperando.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

SE GARRO

Num garro no vício.
Sou livre.

Se garro no cigarro?
Garro não!

Só fumo quando bebo.
Só fumo quando transo.
Só fumo com café.
Só fumo se me dão.

Só fumo com mulher.
Só fumo se me der.
Só fumo se estiver
sozinho na estação.

Me perfumo se vier
e já tá bão!

Viciado?
Num sou não!

segunda-feira, 22 de julho de 2019

BOLSA-POESIA

Só quero estar impresso
Andar nas bolsas
Colher a impressão
De quem me ouça

É uma vaidade
Melhor que outras
E minha verdade
É lavar louças


#SafraDe2015

domingo, 21 de julho de 2019

NO TEMPO

Para Fafá. E para vocês.

Um domingo à noite não é um sábado de manhã.
Ninguém ilude o tempo.
Mas o tempo sendo o que for
nada justifica o tormento.

Nada importa o que passou.
O tempo da dor faz nada.
O que a dor deixa quando passou
é uma oportunidade rara.

Tá tudo escrito nos dias,
mas a lousa é pra quem encará-la.
A lousa é de outros tempos,
mas a verdade dá sempre na cara.

A verdade não se esconde,
ou não se esconde tanto,
mesmo quando se quer ocultá-la.
A verdade dá-se sempre à colheita,
basta querer alcançá-la.

O empecilho, às vezes, 
vem de dentro e tarda.
Porque é preciso conhecer-se
para poder notá-la.

Lemos a verdade conosco,
com tudo o que somos.
Então depende a verdade
do quanto nos trabalhamos.

Não dispense o concurso das horas.
Não as desperdice.
Nem desperdice nada
de tudo que se lhe disse.
Tudo que lhe mostraram
são exemplos do escuro
ou exemplos do claro.

E o amor não se solta no vento,
o amor é preciso plantá-lo.
É preciso que se tente
adivinhar o portento da planta
na humildade da semente.

O amor que tanto se canta
de perto nunca se mente.
É comum o olhar da esperança
ao destinatário e ao remetente.

O remetente é o destinatário.
É tudo correspectivo.
O amor vou alimentá-lo,
não vou guardá-lo comigo.

O amor é doido!
Pega o avião pra ver o trem.
O amor gosta de luz,
e eu gosto muito também!

O amor se faz no tempo,
e o tempo é sempre de amor!
O amor em tempo algum deixa
o que de verdade o experimentou.

Dê-se todo a quem é tão,
e os seus dias mais turvos
também serão dias de clarão!

sexta-feira, 19 de julho de 2019

CÁLICE DE MADEIRA

"Really want to see you,
 but it takes so long, my Lord!"


"Tenho muito mais dúvidas do que certezas".
Dica válida em diáfana clareza.

Mas a certeza que eu tenho,
mais do que mesa, põe casa.
A certeza que eu tenho abriga.
A certeza que eu tenho... salva!

VI VIDA

Deus escreve matemática e falamos música.
Descrevemos física e exprimimos dúvidas.
Não entendemos as harmonias.
Não sabemos de onde nos vêm.
Vasculhamos o céu
e está tudo além.

Está tudo ali, firmamento.
Está tudo claro em estrelas
quiçá já mortas.
O que são cava e aorta?
O que é venoso, arterial?
O que é a gota de um na metade do outro círculo,
o que é o mal no bem e o bem no mal?

O que é estar pronto
senão reconhecer-se incompleto?
E que o que ainda não se entendeu
é o que se deve sentir?

Eu já tenho rezado esse credo,
de tanto fogo a me escapulir do nariz.
E se tenho fogo a escapulir pela venta
tanto faz se o dragão do moinho se inventa.

Mas não queimo nenhuma vila.
O céu não despeja tormentas.
O céu despeja provas
(Tão mais claro quanto mais se tenta!).

Não deixar o cavalo passar selado.
É mau trato a sela ali.
O cavalo corre solto
até a majestade da Amazona
que o vê tão natural.

Quem quer aval?
O aval tá na sua natureza,
e a sabedoria possível...
em entendê-la.

Em fazê-la aceita de tão fluída.
De novo: aceita na forma sentida.

O mistério é da senda,
mas é tanta pista bonita!
Todo amor a quem se renda,
e que lhes renda vida fartamente vivida!

terça-feira, 16 de julho de 2019

CHAMA-ESTRADA




"Chama açoitada
 pela ventania das circunstâncias adversas".*
Segue em seu lume.
Segue em seu prumo.
Dá testemunho das coisas claras.

Como quem sabe
de que bifurcações se faz a estrada.
Como quem sabe que a estrada não erra.
A estrada só erra se se arreda.
Se se esquiva ao enredo.
Se está vista...
e finge que não veio.

Porque o próprio da estrada é dar passagem.
É abrir caminho,
por ser o caminho aberto.
A riqueza que veio 
pelo veio entesourado da construção.
A que deu guarida ao esforço,
premiou o empenho.

A estrada é de um otimismo ferrenho!

Suave se abre sem se impor.
A estrada não exige louvor,
nem sabe que é louvável.
A estrada leva, e isso a contenta!
E se outra estrada se lhe concatena
tudo progride a caminho.

E é a caminho que estamos,
meninos do entendimento
esperando a hora do anjo.

A harpa está dada desde tempo imemoriais.
E agora que a reconhece pode tocá-la.
E o mais...

A mais!

Sim, sim!
Há mais!




*Frase de Emmanuel pescada de "Tarefa Espírita", no livro "Seara dos Médiuns".

Para Fá, e para todos tocando-ouvindo a marcha estradeira.

QUASE MODO

Você tem quase tudo.
Tudo quanto é produto!
(o que é o eclipse do problema...)


Mas é quase mudo:
não sabe o modo de fazer poema.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

CLARO-ESCURO


Para Fá.


Meu amor,
o poema é seguro!
O poema é o claro-escuro
onde nada irá nos quebrar.

Não haverá análises,
hidrólises,
decomposições.

O poema está para as galerias
como o refúgio pras mansões.

Ninguém nos vê,
inveja,
aporrinha.
Do poema coisa alguma é vizinha.

O poema é sermos os colonizadores
de terra fértil e ganha.
O poema não é Brasil,
é Pindorama!

O poema é haver mata Atlântica.
Não ter havido extinções.
O desmatamento não se proibir
por não se ter inventado.

O poema é estarmos lado a lado
e ser o mais o que criarmos.

NO QUE SE CRIA

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, céu, flor, casamento, atividades ao ar livre e natureza


Era no que se cria:
"Deus fez primeiro o homem
e a mulher nasceu depois.
Por isso é que a mulher
trabalha sempre pelos dois".

Depois notou-se que,
o que se anotara,
a mulher ao homem lhe segredara.
Na calada da noite
em que supostamente calara.

Não era só ninho,
nem era bengala.
Era crescer-se em quem
o Criador confiara.

Fosse mulher ou homem
era tudo da mesma lavra
Que tudo meio que de barro viera,
e tudo se constelava.

Pouco a pouco,
com o leite da galáxia.
Essa mãe-pai de tudo-todos
que por destino os transportava.

Pede a sabedoria
que tudo se assimile.
Porque pro espírito homem e mulher
são coisa que não existe.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

TÃO ALÉM (Fragmento)

Para Fá.


Te vejo em cores
que você nem sabe que tem.
Não sabe!

Soubesse-as e o seu sorriso,
tão claro,
não poderia ser belo
tão simplesmente.

E elas,
as cores,
seriam outras
que não veria,
que não me viriam arrombar a retina.

Nada faz mais um poeta
do que ver a paz em fragmento.
E nunca será poeta o que se julgar
capaz de todo o entendimento.

De todo o entendimento a que me lancei
mais não retive do que a vontade
sincera,
viva,
pulsante,
de o conquistar,
de beneficiar-me.

Mas o que com isso ganharia o entendimento?

Por isso me alegro tanto de você
ser algo tão além do entendimento,
e de poder ver surgirem seus sorrisos e cores
deste que sou fragmento.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

ESTOU LIBRETO




"...but the book always burns,
 as the story takes its turn..."

Lê, atenta,
um poema
como quem se salva.

Os livros estão espalhados
por minha pequena casa.
Há livos na minha cama,
no escritório, e na sala.

(E livros com marcadores,
não terras inexploradas).

A poesia é o caminho mais belo
prum cara melhorar-se.
E só não deixo livros na rede
por medo de se molharem.

Mas tenho livros no prelo
(ou podem imaginar-se...).
Que o melhor que ligo ao livro
é o poder de sonhar-se.

terça-feira, 9 de julho de 2019

CORPO DE BAILE

Para Caíque e Junim.
Para Beta, Fá e pra mim.


Minha gata brinca
sozinha-comigo.
Só passo no corredor
e ela corre num pico.

Orelhas pra trás,  
postura de caçadora.
Pra ela a caça é veraz,
pra mim, gasta-se à toa.

Mas gosto de vê-la feliz.
Solo e vendo corpo de baile.
Apenas faz-me pena pensar
que fui eu mais cedo ou serei mais tarde.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

COM EDUCAÇÃO

Humberto de camisa do Sport.
Gil de camisa do Grêmio.
Eu com a bandeira de um país
perdido ao menino de engenho.

Perdido pelo engraxate
que tanto pai diz que foi.
E um falso comandante louvando
o trabalho a que não se dispôs.

Não lhe importa saberem.
Não lhe importam artes.
Não lhe importa colherem
a mínima liberdade.

Mais lhe importa lhes impor
sem crítica tudo desde o berço.
Desde os times pras taças
até qualquer dor como emprego.

Só importa que trabalhem,
mesmo se não não herdam os frutos.
Estão na chuva pra molhar-se
sob o céu de viaduto.

"Não têm a senha.
 Não têm acesso.
 E vivem do lado de fora
 da 'Ordem e Progresso'".

Mas nós não aceitamos.
E eles não passarão!
Digo-o porque amo,
e o digo com educação.

domingo, 7 de julho de 2019

YES!-SIM!

Para Fá.



Lume meu,
não ligue pra mínima estrela.
O Sol parece apagar-te
mas vem apenas entretê-la.

Pintar o quadro da aurora,
pintar o do arrebol.
Mas a hora é a tua:
A mesma!

Quem nunca?
Quem sempre?
Entre uma e outra
a hora é a da gente.

A de por a mesa.
A da lauta refeição.
Seja a de madeira,
o batistério,
ou o chão. 

Utiliza a velha coragem
que é tua de vocação.
Vê como os anos agem
nos tramando em expansão.

Tessitura de bela rede,
tão bela quanto consente
a atmosfera terrena.

(E todo o capaz de consentir
vai poder sentir com a gente).
O sim-yes já de antes.
O de sempre.
O de tudo!

(O sim sempre tão confiante
que revi ontem no teto escuro.)

Não tem flash que apague uma estrela,
nem Sol, nem susto, nem nada.
Até o cego sabe o que sente
quanto tateia uma ponta estrelada.

Deixo-te a tua ampulheta,
que escorre Israel ou escoa o Saara.
Que escoe tempo adentro
sem diminuir-me em nada!

Não é precisa a vida,
mas preciso seguir o que pulsa.
Até que entrevisto o paraíso
o mundo, feliz, nos expulsa.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

FOI TOM!


#meupequenopugilista
#meninotom

A coisa mais bonita que já me aconteceu
foi Tom me olhar nos olhos.
Foi nos termos no colo,
sem saber se o mais importante
era a lição ou a demonstração do Amor.

Porque o Amor é o que se 
dadá dadá dadá.
O Amor ninguém precisa interpretar.
É eflúvio.
Ou é fúlgido.

O Amor é o plenilúnio
ser dono de todas as noites.
É o Sol alcançar todo recanto.

O Amor é a compreensão
sem dúvida nem esforço.
É alvoroço.
É alegria e paz.

O Amor vi-O daqui.
O Amor vê-me de lá.
Veio-me de lá,
me convida.

É a maior investida
que já gozei dos céus.
O Amor é a abelha vir do mel.
O Amor antecede.

Por isso o Amor persiste.
Insiste.
Abarca.

O Amor é a sua casa!
Derrube Suas paredes.
O Amor é estar em rede.
Inexcedível.
Plena.
Total.

O Amor é que é o tal!
O tal do Amor!...





SAPOC, 5/7/2019.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

EM TEMPO (Profundis!...Clamavi!...)

Para Tom.


Deus é meu camarada!
Me deu o consolo bem antes da mágoa.

"NÃO SE FAÇA!" - e não se fez mágoa.

Não era pro afogamento
a água que me jorrava.
Era de se fazer o rebento
que Ele me preparava.

Foi envio bem antes do tempo,
e não despedida antecipada.
Foi exposição em gestos
do quanto eu desperdiçara.

(E sabia que com despedidas
bem mais eu elaborava.
E porque precisava eu não desistir
antes da hora tramada...)

Parecia que em parte me prendia
o que por toda parte me libertava.
E "amor" é palavra 'novantiga",
nunca demais praticada.