sábado, 29 de setembro de 2018

CORAção (29 de setembro)

Para Cora, Carla e Thiago.

Cora e Carla juntas.
O coração se dilata.
Nada impede essa luta.

A luta em muito é diária.
A luta reflete a vontade
de serem sempre justas.

Justas uma com a outra.
Justas com seu país.
Vê-las fortes e juntas
é o melhor do que sempre se quis.

Vejo de onde a vista alcança
e daqui me alcança o coração.
Esse alcançado verte esperança.
A isso chamo revolução.

Só o amor a opera.
Só o amor a sustenta.
O amor é da nossa esfera,
não o que outra gente inventa.

O amor foi reforçado
pelas crianças deste século.
São arautos da fraternidade.
(Ficou velho falar de impérios)

Dissolvam-se então as fronteiras.
Destruam-se as grades.
Hoje é dia do coração,
pra que deixar pra mais tarde?

INCARBONATO

Antidepressivo.
Antipsicótico.
Anticonvulsivante.

Sou antiaderente 
(Quem o garante?!)

O pacote está completo.

O corpo está selado.
Meus pensamentos, seletos.

(Já não posso ser deportado!)

Sou indoors.

Tudo se passa dentro.
Tristezas, alegrias.

(Estranho livramento!)

Estou controlado.

Não sei por quem.
Não sei pra quê!

Mas fica aqui registrado:
Nada me priva de escrever!

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

BANDEIRA-BRANCA-AMOR

O pior sentimento do mundo
é sentir-se injustiçado.
Seja na forma do nome,
seja na forma de fome,
seja nas fibras da carne.

Os clamores da alma
não podem ser negociados.
Seja com os homens,
seja com o que os tome,
seja porque nos ardem.

O futuro é a projeção do presente.
O hoje se estende até amanhã.
Pro seu signo e os outros onze.
Ressoem sinos de bronze,
reze-se mais cedo ou mais tarde.

O melhor vislumbre possível
é o das mãos enlaçadas.
Seja porque nos honre,
seja pra que nada nos dome,
e seja por fraternidade!

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

E LÁ SE VAI

Benzinho,
te convido,
vem morar no meu carinho!

O que fazes vida afora?
Sorrindo pelo caminho
ou só quando a foto aflora?

A foto, guarda-o a palavra,
é uma tentativa de luz.
Não vês que o esforço é fosco,
que nada nele seduz?

Guarda teu silêncio,
sem prejuízo da expressão da alegria.
Mas não espere que esperar a noite
seja a função precípua do dia.

Nos fizemos muito mais pro sol
do que pra qualquer holofote.
Bem mais pro que Deus nos deu
do que pro que o homem aporte.

Não poupe teu sorriso,
quem viu pérolas viu menos que teus dentes.
Teus dentes quando armam o sorriso
são brilho que comove a gente.

Repara nas flores do caminho,
que tentam cheirar como tu cheiras.
Repara no peixe do regato,
que ao te ver passar se abeira.

Todos querem a sorte
de parte de tua atenção.
Tantos cavalos de porte
e eu com a sorte de azarão.

Mas meu maior atributo
é render tributo à felicidade.
E me contento com apenas saber-te
sem que saibas minha identidade.

domingo, 23 de setembro de 2018

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

UMA CONCENTRAÇÃO

O bebê é índio,
ameríndio,
asíndio. 

O bebê é africano.
Ninguém decifra o bebê!
(O bebê é lituano?!)

O bebê é "o".
E que diferença se fosse "a"?
Nos dias que correm
(corre-se mais que nunca!)
diz-se que se pode optar.

O que muda do lado de dentro
com a mania de classificar?
John queria sem fronteiras
sem credos, sem limitações.

Joana queria a Humanidade inteira,
só uma prece toda oração.
Apenas o bem.
Apenas a paz.

Concórdia bem-vindo ao mundo
seja a-moça-ou-o-rapaz.
Temos todos todas as cores,
o que quer que transpareça.

Muita riqueza é oculta,
e muita vez frustra o que se apresenta.

Fica o convite para sermos essência,
baldo o esforço de aparentar.
Como inútil toda ciência
que não puder nos aproximar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

TEHURA GAUGUIN

D'aprés " GAUGUIN -Voyage de Tahiti", em cartaz.

A beleza existe.
A beleza insiste.
A beleza é bruta de tão delicada!
A beleza não pode ser desposada.

A beleza é alada, é o ar, 
é a lua!
A beleza aflora e aprofunda.
A beleza não pode ser minha,
não pode ser sua.
A beleza não se amesquinha,
não se dobra, não se curva!

A beleza é do mato e é da rua.
A beleza não é nunca novidade.
A beleza é inteira boa,
não pode ser maldade.
A beleza é animal, animada,
movimento!
A beleza lê-se no vento!

A beleza não é intento,
não é invento.
A beleza decorre!
A beleza quer que se prove,
e é no entanto evidente.
A beleza não está, é.
Não fica aos pés,
não depende de olhos.
A beleza não se socorre,
ela é uma salva de salvações.

A beleza não se restaura,
não a recria a ciência.
A beleza é a permanência
por entre a mutação do tempo.
A beleza só a soube Deus.
Ela nada prometeu,
ou é a própria divindade.
Pra beleza já é nunca estar tarde,
ela é de antes.

A beleza nada a garante.
Ela não está preocupada.
A beleza não pode ser devastada.
Nunca foi instaurada,
ela é imanência.
A beleza só é inocência.
A beleza é um eterno presente.
É nosso futuro e nossa ancestral.
A beleza só pode ser natural.

Seja a beleza toda a gente.
Nada que a engendrar,
nada que ser diferente.
Nada mais!
Gaya-Maya-Vem-tá-vai!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

LADOS

No Bosque vi extinguir-se 
a geração de minha avó.
A geração Fraga, isto é,
a de sua linhagem.

Lá como em muitas frentes
a batalha terminou antes para os homens,
que pereceram,
possantes.

Elas, flores do tempo,
deixaram-se estar na retaguarda,
ou nem tanto!
Porque a astúcia em que 
se deixaram estar no canto
projetava-as sobre os tabuleiros.

Conduziram todos os movimentos.
Ninguém sabia se passos,
se golpes.
Se dança, se luta.
A mulher sabe ser santa,
sabe ser puta.

Não existe fim da linha 
na esfera.
O saído por um lado
do outro se espera.

Lado escuro e lado claro
se revezam.
Só para o lunático, 
ideia fixa,
a coisa é outra.
(E outra porque sempre a mesma!)

Melhor é ter posto a mesa
sendo capaz de a projetar.
Rapaz, vou te confessar:
Mulher como minha avó
nunca vi em nenhum lugar.

(E estão por todos os lados).

domingo, 9 de setembro de 2018

CASUAL

Encontro casual,
ventos cibernéticos.
Quis pegar no meu pau
sabendo-me não atlético.

Apenas Galo doido,
pra cobrir sua porção galinha.
Gosta que lhe vá por baixo.
Gosta que lhe vá por cima.

Gosta que lhe puxe os cabelos
e faça o que der na veneta.
Eu não sei se lhe chupo os peitos
ou se lhe sorvo a buceta.

Minha vontade mais aferrada
é de lhe dar satisfação.
Enlouquecê-la sem palavras,
distribuir o tesão

que não me deixa trabalhar,
com aparência de estorvo.
Pra que portão se vou arrombar?
Cadeado se me faz ferrolho?

Não tenho trabalho,
tenho orifício.
Vendo a moça tão aberta,
levo  o rosado pincel
e a cubro com cores de festa. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

INDEPENDENTE DE QUÊ(?)

Para Rodrigo, em seu quarto,
fantasiado de homem.


Gosto de pensar alto
meu auto-baixo-pensar.
Mesmo quando não pensa nada.

Clarice tomava muita Coca-Cola
e fazia propaganda de graça.
Kurt se envergonhava muito
da carne que mastigava.

Mas os peixes não têm sentimentos,
ou não os sentimos.
(Então quem não os tem?)
Mas a sereia ninguém quer matar.
Seriam os ornamentos?

Já então dizia Moisés,
em meio a tanta brutalidade,
que não se deve dizer o nome de Deus em vão,
e é o que mais fazem!

E criam novos mitos,
vomitam-nos.
E nos vomitam também em nós,
e tudo se empesteia!

E os sofistas nunca deixaram de existir.
O papel aceita tudo!
E desde Gutemberg só aumenta
a velocidade do absurdo.

Homens de bem querem sangue!
Dão o cano em trabalhadores
e se permitem finas ironias.
Não percebem, insol(v)entes,
que já nasceram em seus estertores.

Independente de quê,
Deus que nos perdoe!

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

5

Meu olfato busca em ti
o cheiro que é teu todo dia.
Entra banho,
sai banho.
Cubra-se e descubra-se das horas.

O cheiro que tua pele fala.
O cheiro que é sua língua,
pra língua minha.

Meu olfato reconstrói tua história,
onde houve perda,
onde houve glória.

O meu olfato só descansa
por gentileza.
Cede a vez a minha audição,
que quer ouvir tua voz de sussurro.
Essa voz de escuro.
Essa voz como se o mundo
não fosse senão madrugada.

Meu tato não sabia nada,
mas agora está mais sentido.
Entende o encanto do nariz,
entende o encanto do ouvido.

Entende sem olvidar
o que é tua carne em brasa.
Entende o que é o desespero
para trazer-te pra casa.

Só meus olhos padecem
a visão do teu afastamento.
Ver-te subir no trem,
fazer nada do meu empenho.

Ah, mas meu paladar
volta pra casa numinoso!
Sabe o que é a riqueza
de se banhar no teu gosto!

Trazer o sabor da nega,
coisa de perpétua duração.
Uma carne dura suave,
como suave a boca.
Como a suave boca,

e a felicidade... é rouca!

domingo, 2 de setembro de 2018

COMUM

Sou menos estranho do que supunha.
Menos estranho do que expunha.
Vejo assomarem meus irmãos:
todos queremos vinho.
todos queremos pão.

É a comunhão o que buscamos,
riscando e arriscando a vida.

É de amor a nossa coragem.
Todo o demais é bobagem!