sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

REVER

Os derrotados do parque, por serem tantos, com seus jornais a forrar os bancos, sabem o que é a derrota, não conhecem a solidão. O que os cobre já não cobre as notícias, que são adornos de telas, que surgem subreptícias, mas com brilho regulável. 

Eu, triunfante, não conheço pódio. Conheço as podas. A flora que quando vai florescer se acanha, adentra, encasmurra. Meus crimes não posso imputá-los a ninguém. Sou meu próprio refém, carcereiro, habeas corpus. Enquanto outros brandem copos e bridam, brindo-me com tempo para reflexão de uma luz que não é minha. Decerto me ilumina, mas é emprestada a juros, juras.

O filho que eu quero ter eu já tive, minha vida é declive. Não distingue planaltos de planícies. Ao nível do mar ou muito acima o Sol sempre me abrasa, queima, e não extingue o frio. Eu me rio. Sorriso de santo, riso de louco. Nada em mim é pouco! Tudo quer-se explodir.

Quisera espalhar-me em fagulhas. Incendiar a rua de um fogo purificador. Mas este tempo em que nascido macula a pureza. Todo tempo é incerteza. E se é incerto, nada é claro.

Não faz sentido fazer sentido. Basta verter e aliviar-se. E se alguém quiser esforçar-se, o jogo é bom e não dá azar. O que tenho é instrasmissível. Um dia foi falta de siso, ornada de falta de pudor.

Hoje tudo se mistura, a doença e a cura, a lucidez e a ilusão. Mas a desistência a Esperança a sobrepuja. Essa a verdadeira ventura, saber que sempre se pode mais. Daqui nunca se parte sem retorno e toda guerra reviu a paz. 

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