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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

EMPREGO DE VERSO (Dia de feira)

Já está essa moça no tronco?
Ouço um ronco; são motores?
Queria um emprego de verso,
por que não nos fizeram escritores?

Talvez por faltar interesse
de toda a gente no que a gente diz.
(Se não somos mestres de nada,
por que nos dariam aprendiz?)

Mas não quero nada com o serviço,
é coisa que eu  nunca quis!
Melhor jogar milho aos pombos,
na praça, perto do chafariz.

Mas a vida reclama dinheiro...
(Aqui se paga pra ser feliz?!)
Esquece isto! Apaga!
Não é coisa que se diz!

Um beijo estalado e feliz!
=:*

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

AMPLIAÇÃO (IN UTERO)

Orly, 18 de setembro de 2013.

Às portas da volta, olho fixamente o guichê de check in da companhia aérea portuguesa, que não abrirá antes de escoada a madrugada. Vão-me atender em português? A esta altura já desejo que sim. A esta altura o português luso já me soa poético, de uma poesia já doméstica. Pouco me importa que seu fuso esteja mais perto deste, francês. Vou voltar no tempo. Voltar no tempo...

Esta semana exibi uma foto de um inopinado arco-íris na Champs-Élysées, o que levou uma amiga a comentar que queria estar ali, longe não sei de quê. Pareceu-me claro que não era o desejo do destino, mas uma refutação da origem. Não sei se algum dia alimentou-me uma tal ilusão. Gosto de ir e, no entanto, hesito sempre. Não. Não gosto de ir. Gosto de "estar ido". E talvez do que tenha medo é do que descubro sobre mim, a meu desrespeito, estando longe. É sempre muito. É sempre sobre o mais vulnerável de mim, o mais indefeso de mim. E lá pelas tanta, abatido por ter andado comigo, nasce-me um desejo urgente de regresso. E volto contra o fuso e confuso. E não era mesmo fuga. Volto com mais de mim do que parti, tudo ampliado, tudo às escâncaras. E preciso logo me esconder no diuturno. 

Eu fujo é de volta!


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

INDIGÊNCIA

Paris, 17 de setembro de 2013.

No meu dia de despedida da cidade passo, nas proximidades da Sorbonne, por um clochard que ignorava calmamente o seu copo de moedinhas, absorvido que estava pelo livro que parecia devorar. Nunca antes na vida pareceu-me tão próxima a indigência, nunca antes consegui ver-me tão bem num quadro tão supostamente distante. Ver-me bem? Mas é que não sei exatamente o que seja a indigência, e sei de grandes homens que investiram tanto tempo em integrar-se (entregar-se desintegrando-se em páginas) que não tiveram tempo de se locupletar. E o senhorzinho que lê diante do copo? Tão distraído que nem vê a indigência desfilar-lhe ante os olhos pejada de sacolas...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

TRIUNFO

Paris, 16 de setembro de 2013 - II

De onde estou sentado, só, vejo o Arco do Triunfo. Mas o que é isso? Não há na minha cidade, nunca se triunfou ali. Ou eu nunca me atrevi a vê-lo assim. Ali muito nos aturdimos, e memos quando sorrimos... Não sei o que há em mim que mesmo quando canta se molha e se salga. É coisa de dentro da alma, e não triunfo nem sobre mim! E o que importa? Do palhaço nunca se exigiu nada além de que estivesse alvi-rubro, estivesse de conluio ou não houvesse mais ninguém ali. Que riam os outros, que gargalhem mesmo se o desespero lhes chega a tanto! Eu nem seco o meu pranto, se for de tanto que me vou  nutrir. Mas do que lhes estou falando? Não se trabalha aqui!

domingo, 29 de setembro de 2013

Paris, 16 de setembro de 2013.

Calhou de eu estar sozinho em um café de Paris, esperando a sessão de cinema. É-se o mesmo em todo lugar. Pelo menos quando se está só de passagem. E onde é que se não está só de passagem? bom, pelo menos sou o mesmo em toda a parte, pelo menos se me grafo em português, e só me grafo em português, esta pátria portátil que nunca me abandonou nem me fez menos estrangeiro. As pessoas que passam são tão diversas quanto lá, mas de um diverso outro. Mas e o que comportam, importam-lhes os outros? Acho que Gessinger estava mesmo certo na cação: "O mundo é muito grande pra quem anda de avião, (mas) pra quem anda sem destino ele cabe na palma da mão".

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

METRÔ

Paris, 12 de setembro de 2013.

No metrô de todo o dia experimentei um inédito orgulho da diversidade  da terrinha, a partir da constatação boba de que todos ali, ou melhor, de que qualquer um ali poderia ser brasileiro. Depois, dentro disso, pareceu-me estranha, surpreendeu-me a dessemelhança que sentia em relação à porção do todo que mais me cativava a atenção. Não demorou muito para ter, num estalo, a percepção de que não era dos franceses que me distanciava, mas dos jovens.
E foi duro perceber que não duraria mesmo muito no chão duro do Champ de Mars, mesmo o vinho sendo francês, nem muito nos bancos duros da Savassi, mesmo muitos me tratando de "você".
É, envelhece-se!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

NO AEROPORTO II

Lisboa, 02 de setembro de 2013.

Gosto do acento luso, gosto mesmo. Gosto de como canta esta gente de que estivemos tão próximos e em que por ora escolhemos não nos reconhecer. Menos para a leitura de poemas. Não os de Pessoa, pelo menos. Machuca-me saber que o fingidor fingia assim e não como o fingimos nós. Mas não há problema! Cá nós é que estamos com a razão! Afinal, o jeito mais fingido de entoá-lo nós é que o temos! Fingidos...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

NO AEROPORTO

Mais uma vez no aeroporto.Comecei tarde na brincadeira e nunca é completo o conforto. Viagens. O Quintana dizia que eram mudar a roupa da alma. Não é  pura alegria, calma!Há um breve receio. Pra mudar a roupa da alma é preciso despir a que se leva, e eis a alma desnuda. Se eleva? Vejo agora que sempre houve dois dedos de medo em tudo que estimo. Adoro andar por outras partes, mas há um receio em alcançá-las, ou em tentar alcançá-las. Memórias de soçobrado? Pode ser... A alma mesmo desnuda tem aí alguma coisa que a distingue, algum sinal. E às vezes me sinto como intuindo sinais de mais daquilo que me marcou. Viajar é mesmo um pouco como amar. Vai-se tecendo a viagem e sem ter nunca estado pronta vê-se um dia terminada. Mas há um impulso,e tenho que me lançar. Até mais!Até muito mais!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

FAGULHA



Moro na canção. E aí tampouco me alcançam maldições. Aí estou protegido e o desespero só se apresenta para se dissolver. Com a mesma rapidez surge e é superado por uma irresistível alegria. É uma alegriazinha qualquer. A de saber que pássaros cantam e o sol irradia e que em algum lugar uma amiga me oferece balões coloridos. São pequenos e não me vão levar daqui  mas, arrebatado, me transporto.

E as estrelas eu as desenho pontudas, mas, se terem pontas não me ajuda, não estouram meus balões. E as nuvens são felpudas, são o espaço de aventuras, ou de uma travessura doce. Pirulitos, picolés e um carro em marcha-a-ré porque, sim, "lhe oferecemos carona". (Driver, follow no car!).



E o mundo é mesmo uma bola e quanto mais rápido me afastar pelo outro lado mais rápido retorno aqui. Mas o dia será já outro e passados os erros que cometi. E que miseráveis que nada! É pra frente que se anda, e tanto faz se na França que em Victor Hugo colhi.

Chorei, chorou e vamos sorrir! Eu me permito, eu me consinto, e me felicito assim. E o disco, de tão bom, acaba e começa de novo. Agulha, fagulha, e só som aqui!

domingo, 23 de junho de 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

No 8001


Esta cidade é um calvário!
Eu o penso, rodoviário.
Grafo em telefone meus poemas,
e porque perdê-los faz-me pena,
não hesito eu em enviá-los.

Envio-os a um amigo mais atento
e assim os protejo do larápio,
que talvez ande longe e infenso
a mesmo entrar no raio do astrolábio.

Mas que bom que a poesia é o tesouro
e que anda sempre nela, protegida,
minha vida de alegrias e desdouros!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

São Vicente



Entrar no mar de apenas
um santo vigente;

Entrar no mar distraído,
displicente;

Entrar no mar e cobrir
de marulhos a gente...

Entrar no mar é sentir-se maxima-mente mínimo!



São Vicente, 03 de janeiro de 2013

sábado, 28 de julho de 2012

Copas Subterrâneas


Queria folga.
Preciso inspiração.
Mas o trabalho assoma,
inundação.


Sei! Eu sei, Minas,
Beagá é o lugar!
Mas, ossos do ofício,
tenho andado Sabará.


Tudo cheira a mofo.
O gatilho soçobra.
Só sombra de alvoroço.
Liberdade 'inda demora.


Igrejas esquecidas,
arrefecido turismo.
Fé esmaecida, 
presente sem futurismo.


Aqui tudo é pretérito,
apetite esquálido.
Na maternidade não se dá à luz.


O vento não infla.
A pluma não apruma.
Lugar em que só se plantam
tumbas.


Fogo fátuo.
Falta de ar.
Raízes sem terra:
Sabará!




(146)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Balada do 404


                                           Ao que subjaz


Sabes quando falo
Sabes quando cozinho
Sabes quando me calo
Sabes porque me avizinho!


Sabes o que banho
Sabes o que limo
Sabes que não durmo
Ouves quando rimo!


Sabes que festejo
Sabes se lamento
Sabes perder a chance
De escutar o vento!


Sabes se sobem a mim
Sabes quando há carinho
E adivinhas se dos mais soltos
Pelas garrafas de vinho!


Sabes se sempre a mesma
Sabes se me vario
Sabes, mas sem certeza
Que vivo do desvario!


Sabes que saio à trabalho
Sabes que não o faço tanto
Porque bem melhor me ocupo
Com estudar esperanto!


Sabe?! Que te inspire!
O que faço, do que me espanto!
E faço trégua no condomínio
Com só reclamar neste canto!


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