segunda-feira, 8 de junho de 2020

BALANÇAR-SE

Como castigo por ter-te doído
estou preso, recolhido,
no preâmbulo da dor.


Como a expectativa é melhor que a festa,
também a angústia é maior que esse detestado furor.


O ponto de ônibus paralisa,
tão pior que caminhar ou balançar-se no lotação.
A Estação, onde nunca se está seguro
nem detrás da linha amarela,
onde o medo faz de tudo queda,
aquela de estranha fascinação.


"A noite tava fria".
"Era o meu corpo que caía".
De tudo soube antes,
mas o tempo não assegura prevenção.


Se a chuva for pouca tiram-se as roupas do varal.
Se há tempestade nem a casa é abrigo
e está-se melhor na rua.
Mas a rua está interditada
e não alcanço nenhum outro planeta,
embora Júpiter me faça muita falta.


Tanta falta!
Não se escreveu ali a "Ode à Alegria"
nem foi Jesus a alegria dos homens,
mas é aonde nos alça a flauta mágica.
Onde o réquiem não se perfaz.
Porque morrer a cada vez
é não morrer nunca mais!


O mais triste,
a dor em sua própria concepção,
é precaver-se da vida.
Um concepto do intelecto
de uma vida adoecida.


Mas eis que surge o Sol
e com ele mais um dia.
E vou tratar de tratar minha vida
como coisa luzidia.

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