terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MISERÁVEIS

Não sou nada!
Mas estou muita coisa...
Não entendo a obsessão 
com o que antes escrevi na lousa.

O quadro foi negro!
(eram os tempos...)
Hoje é branco mas manchado.
Mancha-se a cada vez
que se apaga algum recado.

E o recado dado
penetrou, absorveu-se.
E se não era nada importante,
garanto: esqueceu-se! 

Essa gente é tão Javert!
E eu me sinto tão Valjean...
São mais realistas que o rei,
e nem há reis onde estou.
Então aceitem e pratiquem:
aquele padre me perdoou!

E o perdão é uma semente
que tem de lançar-se ao chão.
Perdoado me fiz diferente,
e não enxergo nenhum aleijão. 

Adotei uma filha,
fiz-me prefeito.
Dos bons, aclamado.
Dos jardins aos becos!

Não tem "preto no branco",
nesta vida há matizes,
que, se bem empregados,
colorem tempos felizes.

Esqueçam então o passado profundo!
Não se restrinjam ao cinema mudo!
Há falas novas que elevam a arte.
Esqueçam a porfia, seus miseráveis!

Aos novos tempos!
(Já até memoráveis...)

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