Para Fernando Grossi
Estou de frente pro analista,
que me olha, dedo no queixo,
por muito longos instantes.
Nunca minha vida me pareceu
mais desinteressante!
Escaneio, aflito, a semana,
e não vejo nada relevante.
Onde estão os conflitos
que me consumiram tanto antes?
Nada me ocorre,
ninguém me socorre,
o que faço aqui, afinal?
Vejo-o em seu semblante:
não lhe interessa minha vida banal!
Às vezes sinto que presto contas
ao oficial de condicional.
Mas eu mesmo pago a conta,
não me condenou nenhum tribunal.
Ele tem os "poderes do CRM",
mas não tem remédio pro meu mal.
Acho que não é embaixo o buraco,
é coisa espiritual.
Mas não sei se ele concorda
(essa gente é tão sexual...).
Mas não sei se tenho problema com sexo;
já não tive acesso,
e o excesso confesso não pega bem.
Então vou tratar de outros assuntos
(Entenderá muito deles também?).
Minha avó não entendia vergonhas:
"É tudo gente! O que tem?!"
E de mais a mais quem tem vergonha
acaba ficando seu próprio refém...
Então agora me desavergonho,
e até desfaço do encontro:
sei que vou ficar bem!
Um abraço, Dr. Fernando!
Acho que já não volto
semana que vem!
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