segunda-feira, 7 de maio de 2018

COMBUSTO

Quero ser ribeirinho.
Quero ser marítimo.
Quero mas sou terrestre
(não tenho outro tino).


Talvez mesmo nem a terra,
que me sinto desterrado.
Não sei se sou solar
ou se sou ensolarado.

Mas sei que queima.
Sei que ardo.
Sei que ilumino de longe,
mas de perto sou incendiário.

Contente-se com ver à distância
a variação, no durar do dia,
dos matizes com que me coloro
para à noite ter alforria.

Abandonar-te completamente,
inversar-me como em translação.
Fazendo-a sentir-se fixa,
o que é uma pura ilusão.

Então aceite que sou pra ti
o que sou pra todo o resto:
um lume tolo mas feliz
que se acende através do verso.


Cabedelo, 2/6/2017.

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