sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

SANGRIA (Primeiro de janeiro)


Não sei definir o que sinto. É híbrido. Sinto ao mesmo tempo uma saudade do passado e uma ânsia pelo a transcorrer. Meu coração se encolhe e se expande; é como se eu fosse morrer! Não que conheça a morte por dentro, já tive talvez o intento, mas sou detento da vida. E o passo sai-me lento e me incomodo: quero vê-la cumprida! Quero cumpri-la já! (Às vezes me dói esperar...) Sinto vontades de ubiquidade, quero por a bandeira na lua. Mas não tenho meios pra tanto, e me contento com a rua. Passam tantos que sou eu! "Eu é um outro". Qualquer um que pulse, desde que louco. Ganho léguas na cidade vazia, fito os destroços da alegria, no dia da fraternidade. E não sinto que a consigo. Às vezes acho um risco, e quero restar misantropo. Mas o tempo passa e não me ajusto a isso. É tão fácil convocar os amigos! E os quero comigo outro pouco. Mas não é o que se tem para o instante. Essa foto não capta gente, só mesmo os rastros. A velocidade com que iam não se adivinha. Por que se corria? Fugia-se?! Aonde? Ainda ontem era tanta folia; onde os confetes se escondem? Os papeis coloridos que grudam nos pés já não são isso, apenas poluem. Sim! Talvez sim! Talvez seja isso a alegria, sempre a matéria de outro dia, que escurece o presente, se cotejo. Ou talvez seja sempre atual, e apenas não me apercebo... Mas são só coisas vãs que me entretêm, distraem-me de mim. Tenho tanto receio disso... Por que dói pensar-se assim? Talvez pelo duro confronto com as minhas circunstâncias. Se aperto os olhos diviso tudo o que não realizo, o que não trago a lume, e não é tragado pelo real. Porque não sei se é real quando dentro, esfuma-se, é revezamento. Vejo num instante e no outro, não...

Esta caneta já me dói, é vermelha, eu me sangro. Esvaio-me, e me descontrolo. Só com largá-la me estanco. Sim! Dou-me conta! A confissão nunca está pronta! Basta proferir-se e se mentiu. Já não sou mais aquele; onde é que se viu?

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