quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ANGÉLICA FLOR-ESSÊNCIA


Para a minha mãe Rosângela Magalhães.
(Sim, adjetiva restritiva.)


A senhora é a matriz,
colocou o trio em cena;
mas talvez seja má atriz,
quando finge só haver problemas.

Quando eu adentro o recinto,
algo a convida a narrar-se.
Talvez porque saiba o que eu sinto
(gosto do jeito das rosas de dar-se).

Gosto de saber da menina de Salinas
(jazida do que era doce),
como de saber das notícias
-Que notícias?
-As que pai trouxe!

De como ficava admirada
namorando a revista Life;
tramando talvez uma chance
de da vida enamorar-se.

Eu sempre estive bem ali,
lembro-me bem do que houve:
sabia que não era filho,
embora quisesse que eu fosse.

E de certa forma eu sou,
já que sou irmão dos outros.
Então sou um pouco seu filho,
este pouco meio torto.

Sempre que eu chegava ali,
havia uma espécie de alvoroço;
dizia linda a minha família,
e eu carregava o seu moço.

Era cabeludo então,
eu o passeava na Savassi;
e via que ela suspirava
(não queria que o tempo passasse).

Queria ter-nos no seu ninho,
aninhados, ternos, sob suas asas;
mas, para todo menino,
chega a hora de sair de casa.

Mas não da casa permanente,
que é o coração da mãe,
nossa caminha mais quente,
que dá aos sonhos vazão.

E a que mais dá razão a nossos sonhos,
razão de serem e de se exercerem;
mesmo que às vezes lhe doa
ver os filhos crescerem.

(jamais doeu-lhe doar-se!)

Uma casa, o outro viaja,
e o mais novo é um "vida-louca".
E o que pode dizer Rosângela?
(Anjos  não falam pela boca...).

Nem essa anja rosada,

rosa dos jardins de lá;
Lá-Salinas, Lá-Santo Antônio,
e lá-aqui, que é meu lar.

Seu menino vai andar longe,
e eu vou ficar de olho;
porque fico em Belo Horizonte,
e somos caneta e estojo.

Descansarei no seu regaço,
quando a vida me quiser bater.
E você vai-lhe opor o braço,
mesmo sabendo que irei aprender:

"Ah, sua vida bandida!
 Bata-lhe e vai-se arrepender!"

Então que ela não nos maltrate,
que eu faria o mesmo por si;
e vamos esperar o menino
crescido que nos vai vir.

Chegará aqui crescido,
já crescida Maria Izabel;
e já estará re-acontecido,
sob os olhos, milagre do céu.

Ficam aí, então, os versos,
vão-se compor com um abraço;
a qualquer tempo pode invocá-lo,
estará guardado no... quarto!

Esqueça a dor, esqueça o tormento,
ainda você não está só.
Vêm aí os meus rebentos,
vai ser de novo avó!



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