sexta-feira, 4 de outubro de 2013

AMPLIAÇÃO (IN UTERO)

Orly, 18 de setembro de 2013.

Às portas da volta, olho fixamente o guichê de check in da companhia aérea portuguesa, que não abrirá antes de escoada a madrugada. Vão-me atender em português? A esta altura já desejo que sim. A esta altura o português luso já me soa poético, de uma poesia já doméstica. Pouco me importa que seu fuso esteja mais perto deste, francês. Vou voltar no tempo. Voltar no tempo...

Esta semana exibi uma foto de um inopinado arco-íris na Champs-Élysées, o que levou uma amiga a comentar que queria estar ali, longe não sei de quê. Pareceu-me claro que não era o desejo do destino, mas uma refutação da origem. Não sei se algum dia alimentou-me uma tal ilusão. Gosto de ir e, no entanto, hesito sempre. Não. Não gosto de ir. Gosto de "estar ido". E talvez do que tenha medo é do que descubro sobre mim, a meu desrespeito, estando longe. É sempre muito. É sempre sobre o mais vulnerável de mim, o mais indefeso de mim. E lá pelas tanta, abatido por ter andado comigo, nasce-me um desejo urgente de regresso. E volto contra o fuso e confuso. E não era mesmo fuga. Volto com mais de mim do que parti, tudo ampliado, tudo às escâncaras. E preciso logo me esconder no diuturno. 

Eu fujo é de volta!


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