quarta-feira, 2 de outubro de 2013

INDIGÊNCIA

Paris, 17 de setembro de 2013.

No meu dia de despedida da cidade passo, nas proximidades da Sorbonne, por um clochard que ignorava calmamente o seu copo de moedinhas, absorvido que estava pelo livro que parecia devorar. Nunca antes na vida pareceu-me tão próxima a indigência, nunca antes consegui ver-me tão bem num quadro tão supostamente distante. Ver-me bem? Mas é que não sei exatamente o que seja a indigência, e sei de grandes homens que investiram tanto tempo em integrar-se (entregar-se desintegrando-se em páginas) que não tiveram tempo de se locupletar. E o senhorzinho que lê diante do copo? Tão distraído que nem vê a indigência desfilar-lhe ante os olhos pejada de sacolas...

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