quinta-feira, 30 de maio de 2019

PÚRPURA

A quem mais não sobrou
que o coração e o pensamento
sobrou muito!

Sobraram os instrumentos
para por-se a caminho.
Sobrou a forma de dar-se a ele
com a alegria que pede.

Sobrou a forma de aquecer-se por dentro.
De saber-se ao abrigo de um prolongamento
indefinido do frio.

Sobrou ritmo e a maneira de acompanhá-lo,
prestar-lhe atenção.
Sobrou a forma de exceder-se em sutileza
ou de entregar-se à emoção.

Sobrou a vela que a si mesma se sopra,
sem nem saber se há embarcação.
Saber da cor do dia se seu brilho
é de inverno ou de "verão!".

Sobrou como encantar-se da sucessão de cores das estações.
Sobrou sabê-las provisórias e de pronto retorno.

(Sobrou saber que à felicidade não a apanham engôdos).

Sobrou integrar-se
numa espiral de evolução.
Sobrou o decantado:
"Sentir com inteligência,
pensar com emoção".

Só não sobrou sobrar-se,
soçobrar-se.


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