sexta-feira, 7 de junho de 2013

FEITIO


                                                                                                  
Não me agrada gastar a sorte
com coisas tão rasas
quanto elevador parado no andar.

Quero gastá-la com coisas elevadas,
como na mais populosa rua
te esbarrar.

Te sortear entre tantos,
e sentir, entretanto,
que não faço mais que sonhar.

E a sorte sendo tanta
a realidade cede,
perde um a um seus contornos
(sorte é sempre coisa breve!).


Por isso é preciso munir-se do talento
de eternizar o fugaz;
de tornar longevos o sonho
ou alguma impressão que apraz.

(Imprimi-los fundo na alma,
pra de novo extraí-los, com calma,
quando sentir o chão me faltar.)

E assim não me ocupo de coisas chãs,
levo os dias alçado a sonhos,
perpassando o que foi, o que somos,
e é sempre melhor fazer que esperar.

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