sexta-feira, 28 de junho de 2013

DE(s)FEITO

                    
Eu, moça, aqui lhe oferto
a maior parte do meu coração;
o pedaço que eu não divido
com o resto da população.
Mas saiba, no entanto,
que o amor dado (e é amor ganho)
não lhe diminui o quinhão.

Os tempos que correm são tempos tristes,
em que míngua a compreensão.
E não lhe quero um coração partido,
mas repartido coração.

Pode ver que de amor andam faltos
até mesmo os que nos veem do alto,
por não lhes faltarem haveres.
Mas nunca o tido completa,
que só o repartido faz festa,
e mais ganhavam em mais serem.

E mais serão se a mais seres
oferecerem a mão.
A mão e com ela a alma,
e eu, de cá, bato palmas
nesta estranha solidão.

Porque muito mais terei sido
ainda se jamais esquecido
por um rastro de incompreensão.

E que mal há em dar-se? Recreia!
Em dar-se mesmo, sem peias,
ao que de fato é a mais pura missão?

E assim já não me disfarço
e me desfaço
em doação.

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