quarta-feira, 5 de setembro de 2018

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Meu olfato busca em ti
o cheiro que é teu todo dia.
Entra banho,
sai banho.
Cubra-se e descubra-se das horas.

O cheiro que tua pele fala.
O cheiro que é sua língua,
pra língua minha.

Meu olfato reconstrói tua história,
onde houve perda,
onde houve glória.

O meu olfato só descansa
por gentileza.
Cede a vez a minha audição,
que quer ouvir tua voz de sussurro.
Essa voz de escuro.
Essa voz como se o mundo
não fosse senão madrugada.

Meu tato não sabia nada,
mas agora está mais sentido.
Entende o encanto do nariz,
entende o encanto do ouvido.

Entende sem olvidar
o que é tua carne em brasa.
Entende o que é o desespero
para trazer-te pra casa.

Só meus olhos padecem
a visão do teu afastamento.
Ver-te subir no trem,
fazer nada do meu empenho.

Ah, mas meu paladar
volta pra casa numinoso!
Sabe o que é a riqueza
de se banhar no teu gosto!

Trazer o sabor da nega,
coisa de perpétua duração.
Uma carne dura suave,
como suave a boca.
Como a suave boca,

e a felicidade... é rouca!

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