quarta-feira, 6 de junho de 2018

E HÁ CANÇÃO

Se vocês pelo menos pudessem ultrapassar
o limitadas que minhas palavras são...
Se elas me pudessem ultrapassar a mim.
Se eu, enfim, desconhecesse confins,
se não se me marcassem.

Mas a essência não se permite os graus últimos da expansão.
Tem medo de desnaturar-se.
Ah, se ela mais que se amasse!
Se se apercebesse!

O meu amor é desses!
Impõe-se ao espaço,
tributário da arrecadação de quanto afeto atravessa-lhe o caminho.
É robusto.
Escoa-se.
Não precisa de salvo-conduto.

Viver é de si perigoso,
legou-nos o Cordisburgo alemão.
O maior coração que aquelas terras já viram.
Qual Goethe!
Sem cacoetes de sofrimento.
É liberdade o firmamento!

Se eu também os pudesse libertar tanto quanto almejo
meu nome seria uma árvore no bosque de um vilarejo.
O desejo da alma é imenso!
Quer-se burilar.
Quer ensinar, inclusive, o que ainda tem fome de aprender.
Ou pelo menos essa fome,
que lhes cairia tão bem, 
erguendo-os.

Asas, asas, asas!
E haja tempo de adquiri-las
(e admirá-las!)
Quando me virá o costume de ser alado?
Eu que dispenso os fatos para trajar substâncias do Tejo,
ultrajar o tédio com tanta pujança,
tanta vibração!

Eu vou até que me detenham,
mas entendam: não vão!
O fim da estrada é o seu sonho menos são.
Apenas um subterfúgio a serviço da dilapidação.
Qual bruto diamante?
Bruto me fora o carvão!

Nenhum anel me prende.
Nenhuma jura de amor.
O amor não se promete,
conjura-se!
Amor é revolução!

Acabou o tirano,
já não tem razão!
Tudo já é tão etéreo!
Descortinou-se o mistério!

Só na união total tem-se o falanstério.
Só é possível quando desnecessário.
Entende?
Perdoa o ter eu sido arbitrário.
Eu te abandono ao descanso diário,
mas não descuro de ti.

Bem-te-vi e à canção!

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