quinta-feira, 8 de março de 2012

Uma Ideia Pangeia



Lá estávamos nós, na aurora dos anos 2000, matriculados em um curso de francês com ares de coisa oficial, todos animados e orgulhos do heroico esforço de nos despojarmos da cama, por conta própria, em plena manhã de sábado, para pagarmos tributo a Balzac, Voltaire, Descartes, Sartre, Rimbaud, Baudelaire, e companhia quase ilimitada, apesar de exclusiva, de um certo ponto de vista.

Sacrifício, sim, mas as aulas de sábado na Aliança, no entanto, têm um je ne sais quoi... Aliás, vírgula! Je sais! Têm um ponto social bacana, já que a aula é cindida, havendo um intervalo que superfavorece a socialização.E sempre me joguei...

E eu me apegara a isso! Tendo como tantos contemporâneos ido cedo bater à porta de um curso de inglês, adorava já esse tipo de ambiente. E já dali à Ibéria de Almodóvar e Cervantes para passar então a essa nossa boa empresa francófona.

E não era privilégio meu. Lembro-me bem desse cara, Juliano, que estudava por força do trabalho também o espanhol, e que não hesitava, muito positivo, a responder a todas as perguntas de Madame Suzana com um corajoso “Si!”. Só lhe faltava o “como no!?”. Tinha também a Grazi, que também cumpria pena em Faculdade de Direito (coisa endêmica naquela família) e que também já zanzara outras línguas.

Mas, como diria o Oswaldo, não era isso que queria falar!

Como bem mostrava meu exemplo, e o do tal Juliano, e tantos outros, lá estávamos nós, em meio à globalização feroz do virar do século, cumprindo uma sua suposta imposição, passo árduo-prazeroso do processo: a aquisição da língua do outro. Eu, já em vias de me tornar servidor público, não via utilidade imediata naquilo, privado que seria dos livres concorrentes, mas bem me aprazia então me lançar um dia ao em que agora me vejo metido, a leitura de originais.

O fato, cara, é que como sabemos, bem antes de aviões e internets e tais, já o povo perambulava por aí. E não pense o senhor que a Aliança veio dar aqui no navio que trouxe o Tomé de Souza. Atrevida gente zanzando o Globo!

E não é que já nas primeiras aulas lá estava o Flávio, primo do nosso bom Ronaldo, pedindo dicas turísticas parisienses à Madame? Assustado daquela aparente ousadia, indaguei:

-Mas Flávio, a gente ainda está no básico 1 e lá vai você sem par à França?
-Gabriel, Gabriel! E o senhor acha que mudos não viajam?
  
Atrevimento avança!
Fiquei mudo; besta já era, está visto.
Com ou sem visto, mundos viajam!

2 comentários:

  1. Confessa: você ficou blasè com a resposta do companheiro.

    ResponderExcluir
  2. Atrevimento de mudo é o que há ! fui muda e voltei tagarela, o que a França faz com as pessoas !

    ResponderExcluir