domingo, 24 de maio de 2020

VERDE LUME (Dimensão)


"O que viesse, vinha;
Tudo não é sina?"
Tudo não era senão
aquilo que nos convinha.


Toleima insistir no "não!".
O "sim!" escorre fácil
bordado da minha mão.


Os tempos são de ser.
Perecer é pressa,
errada impressão. 


(O certo é dar-se aos céus,
como o mais inflado balão).


O dirigível sabe a chama.
O motor sabe a explosão.
A poesia até se não sabe
sabe a que dar expressão.


A quedar-se solta.
A roçar o céu da boca,
ou plantar as sementes do sonho.


(A poesia ceifa colheitas
de que ninguém será dono.)


O pensamento é livre.
A atmosfera é que dele se tinge.
E eu sou tinto, retinto,
sou delírio. 


Sou a matéria mais etérea
de que se não faz o siso.
Não tenho crivo,
navego.


Abro um verde lume
através das retinas do cego.
Sigo!
Alimento-me do meu pão.


E agora as linhas me faltam,
mas sigo em outra dimensão.

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